"Essa página é dedicada á todos aqueles que buscam a verdade , harmonia e o amor em suas vida por intermédio da Grande Mãe e seu Consorte".


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Leitura Virtual

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 A COZINHA DE AFRODITE
 Desde muito pequena, ouvi das feiticeiras de minha família que a sedução se inicia na
cozinha, que nela podemos enfeitiçar quem quer que seja, que podemos obter amor, saúde,
dinheiro e tudo mais que quisermos...
Desde então, a cozinha se transformou no mais mágico dos lugares que tenho
conhecimento. Como aprendi a respeitá-la como um lugar sagrado, posso hoje dizer que ela
é meu altar.
Quando me encontro na cozinha, tenho plena posse do feminino, reencontro minhas
antepassadas e com elas realizo os mais divertidos rituais. Dentro da cozinha encaminho
todos os meus sonhos e resolvo os mais intrincados problemas. É nela que deposito os meus
mais caros segredos, as minhas expectativas e os meus desejos. Com ela aprendi a não ter
medo de ser mulher e desvendei os mistérios de minha condição. Dentro dela depositei meu
tempo e juntas fomos criança, adolescente, jovem mulher e mulher madura.
Na cozinha compreendi o mistério do poder das fêmeas : o maravilhoso dom, que
possuímos, de nutrir o mundo e torná-lo um lugar onde todos desejam viver. Um lugar
pacífico, saudável e feliz. É bem verdade que nem sempre conseguimos realizar
completamente a magia, e ainda podemos encontrar no mundo muita infelicidade, doenças e
injustiças. Mas isso nunca nos fez desanimar, e, a cada dia, a cada amanhecer, preparamos
o café de nossa família como se fosse pela primeira vez, como se o mundo estivesse sendo
criado naquela hora...
Às vezes, até podemos nos decepcionar com a falta de resultados satisfatórios, mas
é uma decepção passageira, uma nuvem escura no meio de um céu azul. Assim como as
abelhas de uma colmeia ancestral, seguimos nosso destino de provedoras, sem nos
importarmos se esse trabalho mágico é reconhecido ou não. Seguimos nutrindo o mundo
com o nosso mel e nossos encantamentos. Com esse material desfazemos os nós da tristeza,
mandamos a doença embora, celebramos matrimônios e honramos os funerais.
Em cada momento da vida estamos lá, com um chá, com uma sopa quentinha, com
doces melados, com grãos e frutas de tirar o fôlego. Mesmo quando o dinheiro desaparece,
com todos na casa pensando que não terão mais guloseimas, sempre damos um jeito de
transformar leite, maizena e canela no mais saboroso néctar. Salpicamos no prato algumas
gotas de água de laranjeira e o mingau vira uma tarde inesquecível !
Lembro muito bem de uma história que minha avó contava sobre uma feiticeira muito
pobre, que ela havia conhecido. Era uma viúva com cinco filhos que trabalhava como
lavadeira. Como não tinha dinheiro suficiente para gastar no armazém, plantava no fundo do
seu quintal : inhame, cebola, beterraba, cenoura e muitos temperos. Tinha também duas
galinhas velhas que somente serviam para ciscar o terreno e nele depositar um maravilhoso
adubo, pois já não colocavam nenhum ovo. Mas a viúva era uma feiticeira e não se assustava
com isso que, para nós mulheres modernas acostumadas com o glamour das prateleiras dos
supermercados, poderia parecer o fim do mundo.
Assim, ao longo dos anos, ela transformou esses parcos ingredientes num cardápio
digno de um sofisticado restaurante. Vovó mesma dizia que o doce de beterraba, que a
feiticeira fazia, colocava o mais fino marrom glacê no chinelo...E que seu suflê de cebola
inibiria o mais esnobe chefe de cozinha!
Durante tanto tempo retive na memória essa história da feiticeira pobre, que com
poucos ingredientes desenvolveu um cardápio tão variado. Era uma história que de alguma
forma se chocava com tudo aquilo que se aprendia nos livros sobre as manifestações da
miséria. E lá no fundo da alma, quantas e quantas vezes duvidei da veracidade do relato de
minha avó! Sabendo de seu pendor para o romance, eu desconfiava que, em algum lugar da
narrativa, havia entrado o delírio de sua imaginação. Nessa época, encontrava-me em meio
ao mundo universitário, cercada de frias e lógicas teorias.
Até que um dia me chegou às mãos um livro sobre a Inquisição em Évora. Nele, havia o
relato das vítimas e os dados de sua condição social. Quase caí para trás, quando constatei
que a maioria das mulheres queimadas nas fogueiras vinha de uma classe mais pobre, e que
todas tinham em comum a cozinha!
Levando a pesquisa adiante, descobri que muitas foram denunciadas por elaborarem
comidas que sua condição social não permitia. Ou seja : como uma mulher paupérrima, sem
os ingredientes necessários, poderia fazer um bolo digno dos reis? ... Como?
Esta pesquisa redimiu, em minha cabeça, a história que vó Vitalina contava. Ela não
havia mentido, nem tampouco criado um romance. Sua história era verdadeira e a viúva era
mesmo uma feiticeira! Eu começava, então, a entender alguns testes aos quais vó Vitalina
me submetia. Tal como aquele em que me dava um limão e, olhando-me séria, perguntava o
que eu iria fazer com ele! Ou aquele outro teste terrível, quando numa tarde chuvosa me
presenteou com um quilo de açúcar, e depois esperou para ver o que eu ia fazer. Até hoje
tenho na boca o gosto das balas puxa - puxa que inventei naquela tarde.
Neste livro, desenvolveremos esta mágica capacidade de transformar ingredientes
corriqueiros em alimentos dignos das divindades. Nele nos deteremos no agrado de uma
divindade : a doce e sedutora Afrodite. Nossas receitas serão para ela, para que nos auxilie
nas manhas das seduções e nos presenteie com os mais loucos romances...Aqueles que um
dia poderão ser ouvidos entre suspiros e desejos daquelas que nos seguirão...
Como este é um livro de feiticeiras, deverá ficar muito bem guardado, num lugar onde
olhos alheios não o avistem. Utilize-o somente quando dele precisar e nunca passe adiante
uma de suas receitas, se não tiver certeza absoluta das intenções de quem a irá utilizar.

AFRODITE

" Refogado, pré - temperado,
assou em forno tépido.
Luzes nos olhos ligados,
aguardavam-no reluzir.
O paladar vinha de mãos dadas,
ao encontrar famintos,
esperando chegar
o ponto de degustá-lo.
Ao som de bachianas,
abriu-se a tampa,
ainda não era hora,
mais música!"
Todas as vezes em que escutamos falar de Afrodite, inevitavelmente nos vêm a
cabeça associações com misteriosos perfumes, tecidos diáfanos, sofisticados leitos, e um
milhão de detalhes típicos dos ambientes da sedução. Quase nunca nos vem à mente
qualquer imagem ligada à cozinha, a tal ponto que se chega a dizer que ela não pertence ao
universo de Afrodite!
Durante muito tempo, a cozinha esteve associada à mulheres que não possuem as
manhas da sedução e que transitam na esfera das divindades maternais, redondas e
desprovidas de atrativos físicos : tais como Deméter e Héstia.
Eu mesma, durante um bom tempo de minha vida, acreditei que a cozinha não era o
lugar de Afrodite e vesti outras deusas com trajes toscos, aventais sujos de ovos e aroma
de cebola como perfume. Como um ser apático e desprovido de paixões, deixei que meu
corpo crescesse como um bolo cheio de fermento, acreditando que estava em paz com
Deméter e Héstia. Afinal, os livros me diziam que elas eram exatamente como eu as havia
vestido : deusas "do lar" ! Ou seja, mulheres cujo desejo mais profundo era apenas a
satisfação da família e o reconhecimento do marido e dos filhos : a representação exata
daquilo que se costuma chamar por "dona de casa".
Assim, por uma boa dezena de anos, enterrei-me dentro da cozinha como a mais
genuína espécime "do lar". Adquiri um bom punhado de quilos, deformei meu corpo e, como
resultado desta nefasta metamorfose, passei a cobrar dos outros habitantes da casa um
comportamento que eu mesma, em sã consciência, não saberia desempenhar. Aos poucos fui
me transformando numa mulher amarga, sem qualquer otimismo, achando que a vida se
resumia naquele pequeno mundo que eu havia criado. Um mundo amorfo, repleto de
obrigações neuróticas, sem nenhum projeto de auto - satisfação e excedente de todo
prazer. Claro que vez por outra eu me enganava, atribuindo ao prazer o atributo do
sacrifício. Fingia que era feliz por estar desempenhando tão bem o papel da grande mártir
da família!
Dentro de mim, uma semente germinava sem que eu me desse conta. Uma semente
colocada por Héstia e Deméter, as deusas que eu pensava estar honrando. Estas,
preocupadas com o mal entendido que eu criei e já exaustas de enviar mensagens que eu
teimava em não querer compreender, optaram por plantar, em mim, uma deusa que eu havia
renegado há muito tempo : Afrodite, a Senhora que gerencia o pulsar do feminino!
Ao longo do período em que retive a pequena semente germinando, estranhos fatos
aconteceram. Fui irresistivelmente atraída para o universo estético de Afrodite. Passava
horas admirando uma roupa na vitrine, e, quando inalava algum perfume, elétricos arrepios
espalhavam-se por meu corpo. Meus sonhos me traziam de volta aquela Márcia que havia
sido um dia...Até as antigas fotos saiam de seus esconderijos e se revelavam outra vez aos
meus olhos!
Preocupada com esse repentino pipocar de inexplicáveis acontecimentos, recorri
mais uma vez à Lua : divina senhora que orienta as mulheres em toda e qualquer aflição. Me
preparei devidamente para um encontro íntimo com a lua, seguindo todos os ensinamentos
de minha avó.
Preparei um banho de lírios brancos, acendi quatro velas prateadas em meu altar e
queimei incenso de rosas brancas por toda a casa. Assim, depois de ter tomado o banho e
deixando-me secar sem o auxílio da toalha, finalizei os preparativos : ungindo óleo de
datura na região dos pulsos, nuca, atrás dos joelhos, virilha e umbigo. Depois, deitei-me na
cama e chamei pela Senhora.
Não passaram cinco minutos, quando percebi uma presença dentro do quarto.
Habituada com as inúmeras interrupções, a que toda dona de casa está sujeita, pensei que
Daniel, meu filho, tivesse entrado no quarto para me pedir qualquer coisa. Preparei - me
para uma possível pausa no meu ritual e abri os olhos, pronta para resolver mais um
problema. No instante em que abri os olhos, ouvi nitidamente o som de alguns risos. Nesse
instante, me dei conta de que não era meu filho que estava no quarto!
Mesmo acostumada ao estreito contato com seres de outras dimensões, minha
primeira reação é sempre de medo. Começo a sentir meus joelhos bambos e a voz
desaparece num piscar de olhos. Um frio intenso de mim se apodera e fico por algum tempo
tremendo e batendo o queixo. Depois, pouco a pouco, vou me recuperando e "desenrolo uma
prosa", como bem dizia minha avó.
Desta vez não foi diferente. Passei por todos os estágios do medo, e, após ter
cumprido este rosário de sintomas, procurei saber quem se encontrava no quarto. Abri bem
olhos e me deparei com quatro mulheres. Todas bonitas e incrivelmente serenas.
A primeira possuía a beleza selvagem das mulheres quando estão apaixonadas. A
segunda, uma beleza mais tranqüila, como aquela que as mulheres mostram quando tomam
os rebentos nos braços pela primeira vez. A terceira, exibia a beleza radiante das
mulheres quando colocam na mesa um alimento recém saído do fogão. E, por último, a quarta,
aquela que trazia em si todos os atributos das outras três mulheres.
Ainda tonta com aquelas presenças, fui subitamente levada a sair deste estado,
justamente no momento em que a primeira mulher de mim se aproximou e disse : " Por onde
tens andado? Que caminhos tortuosos te fizeram de mim se esquecer? Eu, Afrodite, aquela
que modelou teus desejos!".
Após ter pronunciado tais palavras, Afrodite desapareceu, envolta numa intensa
fumaça rosada. No quarto, só ficaram as outras mulheres. Um silêncio profundo perdurou
por um bom tempo, até que as três mulheres me conduziram ao centro do quarto e me
rodearam. Eu não sabia o que fazer, mas percebia que seria levada à realização de um ritual
sagrado. Por isso, purifiquei meu corpo, mentalizando um enorme ovo de prata, que
despejava uma chuva de partículas azuis sobre minha cabeça.
Quando já me encontrava devidamente purificada, a quarta mulher, aquela que
possuía a beleza das outras três, disse-me que havia gravado nas estrelas um outro
caminho para mim, e que eu não soube identificar seus sinais, tomando assim uma outra
direção. Após dizer isto, chamou com um delicado gesto a segunda mulher. Esta, ao mirar
meu rosto, trouxe-me a lembrança de Daniel aninhado, pela primeira vez, em meus braços.
Percebendo minha profunda emoção, a mulher me disse estas palavras : " Eu senti a mesma
coisa quando Perséfone me veio aos braços pela primeira vez!".
No momento em que escutei suas palavras, me dei conta que Deméter estava à minha
frente. Mas...não era possível! Não era a representação feminina que eu atribuía à Deméter!
Sua beleza nada tinha a ver com o "avental todo sujo de ovo", os olhos irritados pelas
cebolas e a lamúria solitária das mães! À minha frente, encontrava-se uma mulher centrada
e em perfeita harmonia com a sua condição.
Percebendo meu espanto, Deméter sorriu e me disse : " Eu já estou habituada com a
leitura equivocada da minha história. Você foi mais uma a interpretar de maneira errada.
Na história não está dito que eu sou descabelada, negligente com meu próprio corpo e
tampouco uma mãe possessiva e neurótica! Você leu a história e adequou-a aos seus
próprios problemas. Criou uma outra Deméter e passou a acreditar que ela era eu.".
Deméter estava com a razão. Não havia nada na história que afirmasse que ela era
desprovida de atrativos, que era uma mulher amargurada, chantagista e fechada em seu
próprio sofrimento. Decididamente, eu havia interpretado mal a história e criado um novo
arquétipo!
Ciente daquele momento em que me entregava à confirmação de meu engano, a outra
mulher se aproximou e disse : " Quem foi que lhe falou que sou apenas uma encarregada do
almoxerifado ?". Era Héstia, a deusa que eu pensava somente gerir as provisões da casa. A
constatação do terrível engano que cometi, levou-me à uma tristeza insuportável. Deparei -
me com os anos que desperdicei, representando um personagem que não tinha a menor
correspondência com as divindades que eu pensava estar honrando. Constatei o péssimo
estado em que me encontrava : fechada para os meus próprios desejos e necessidades de
mulher. Descobri que estava assassinando minha condição feminina, tornando-me um ser
amargo e sofredor. Vi, estampado em minha face, o futuro que me aguardava : eu seria uma
mulher que faria inumeráveis cobranças e exibiria o meu sofrimento sem o menor pudor,
esperando que o outro comigo resgatasse uma dívida que eu lhe havia imposto.
Mirei meu corpo e nele vi as mutilações que se acumularam ao longo de tanto tempo.
Cicatrizes acolchoadas por uma gordura doentia e patológica. Em meu corpo não mais havia
a presença da divindade, nele não existia o contorno sutil da Grande Mãe, e agora eu era
apenas uma massa de carne. Nada mais!
Sabedoras do meu desespero, Deméter e Héstia revelaram-me uma maneira de
reverter a maldição, aquela que eu mesma me lançara. Eu teria que chamar por Afrodite,
pois à ela pertenciam as palavras que reverteriam o tal malefício.
Seguindo o conselho das duas, concentrei meu coração na busca de Afrodite e roguei
para que ele a trouxesse até mim. Com a boa vontade própria dos corações, ele saiu
prontamente em busca da Deusa, deixando-me no sono que antecede os nascimentos.
Não sei, com certeza, quanto tempo se passou até o momento em que fui despertada
por um beijo de Afrodite. A Deusa estava outra vez no quarto, disposta a me dar mais uma
chance. Ao seu lado, estavam Deméter, Héstia e a quarta mulher, que até agora eu não
tinha a mínima idéia de quem era.
Falavam, entre si, uma língua desconhecida que imaginei ser o grego arcaico. Por
algum tempo fiquei excluída do grupo, impossibilitada pela língua, até que elas se deram
conta do que se passava. Héstia, de todas a mais polida, desculpou-se em nome do grupo.
Então, restabelecida a comunicação, Afrodite pediu-me para que eu me despisse.
O pedido da deusa deixou-me apavorada. Como eu poderia expor meu corpo mutilado
para mulheres tão belas? Como poderia expor a montanha de gordura que erigi no decorrer
dos anos? Não! Decididamente aquele era um pedido que eu não podia satisfazer!
Notando o meu constrangimento, Afrodite falou-me para que eu não tivesse vergonha,
pois meu corpo continuava sendo um templo e que ele ainda guardava todas as tatuagens
sagradas. Só que eu me esquecera de honrá-lo e nele já não mais me recolhia para extrair
equilíbrio. No entanto, se eu não me apavorasse, já que sempre existe um caminho de
retorno, este templo estaria aberto e ávido por me receber.
Tranqüilizada pelas sábias palavras de Afrodite, despi-me sem nenhum
constrangimento. Naquele instante, eu já não sentia vergonha do meu corpo, pois sabia que
tomara o caminho de volta ao meu espaço sagrado.
Já despida, Afrodite e as outras rodearam-me, entoando antigos cantos. À medida
em que cantavam, espalhou-se um delicioso aroma de rosas por todo ambiente. Senti uma
tonteira sutil e deixei-me com a sensação de que me transformara numa pluma, o que me
deu a impressão de que eu poderia alçar vôo, se assim o quisesse.
Algum tempo transcorreu, sem que me desse conta do quanto havia passado. Até que
fui retirada deste entorpecimento, sentindo um forte formigamento no corpo, como se
minúsculas descargas elétricas despejassem energia sobre a camada espessa das gorduras.
Enquanto sentia meu corpo bombardeado por tal acúmulo de energia, fui tomada por
um jato de resoluções que inundavam o meu cérebro insistentemente. Decidi, então, que
não mais abusaria do açúcar, daria um tempo nos carbohidratos e dedicaria uma parte do
dia para movimentar o meu corpo, tratando-o corretamente. Esqueceria, por uns tempos,
dos refrigerantes e me dedicaria aos sucos naturais.
Afrodite, como se estivesse lendo meus pensamentos, retribuiu-me com um riso
franco e malicioso. Por fim, disse-me ao pé do ouvido : " Estarei ao seu lado de hoje em
diante.".
Depois de se comprometer com minha jornada futura, Afrodite introduziu a quarta
mulher, apresentando-a da seguinte maneira : " Esta é a Lua, a Deusa que é feita de uma
célula de cada mulher. Ouça com atenção tudo aquilo que ela lhe falar, pois sua voz
representa a voz de todas nós. Seu canto é a melodia de todas as mulheres quando fazem
amor, quando limpam a casa, quando criam os filhos, quando trabalham, quando sonham,
quando brigam, quando blasfemam, quando perdoam e quando enfeitiçam com suas obras.
Nunca se esqueça de suas palavras e guarde-as bem guardadas no coração.".
A Lua, que até ali permanecera calada, aproximou-se com passos de bailarina e com
voz de oceano me disse as seguintes palavras :

Eu sou Senhora do sangue sagrado a meretriz dos sucos vaginais. Sou aquela que encarna o pecado e habita as grotas infernais. Fui eu que te dei o desejo que desenhei no teu corpo todos os riscos do sexo. Fui eu que te embalei nos braços e disse a todas que eras mulher. Sou eu que ainda te guio nos descaminhos que inventaste. Sou eu que sustento as violações de um corpo que mutilaste. Tu, que és parte de mim mesma
esqueceste o lugar que te gerou.
Tomaste um rumo avesso e contrário
e renegaste quem te criou.
Mas tu és lua, mulher e loba
e serás assim até o instante final.
Não serás ferida,
porque és cura.
Não serás dor,
porque és prazer.
Não serás culpa,
porque és vida.
Não serás certeza,
porque és abismo!

Quando a última palavra do poema foi enunciada, senti o chão se abrir aos meus pés e
numa fração ínfima de tempo me vi engolida por uma fenda. Estranhamente não senti medo
e deixei-me levar como uma pena é levada pelo vento.
À medida em que ia me precipitando no abismo, vi passar, à minha frente, os últimos
anos de minha vida. Me vi redonda e pesada, grávida de Daniel e amedrontada pelas
circunstâncias. Experimentei os sabores da geladeira noturna e afoguei minhas
preocupações em bons nacos de bolo. Depois, me vi na gélida sala da maternidade e tremi de
frio e chamei pelo calor das mulheres que não estavam presentes. Chamei por minha avó,
parteira desde os quinze anos...e não fui ouvida. Daniel nasceu cercado por médicos, num dia
em que os homens, aflitos, aprimoram sua condição masculina : o dia da decisão da Copa do
Mundo!
Lembrei-me do meu primeiro pedido depois de parir : um enorme sanduíche de queijo
e presunto! No instante em que me vi outra vez vivenciando as mordidas que dei no
sanduíche, percebi o que a comida havia representado por todos aqueles anos. Eu não queria
um parto assistido e realizado por homens! Como feiticeira, eu sabia muito bem que este
momento pertence somente às mulheres e só elas o podem compartilhar. Como feiticeira,
eu sabia perfeitamente que minha energia seria afetada, se me permitisse ser violada por
outras mãos que não o de outras mulheres. Compreendi, então, que a fome absurda que me
corroeu desde o período da gravidez, nada mais era do que uma forma do meu corpo
expressar o seu inconformismo. Assim, toda vez que comia, era como se eu dissesse que não
estava centrada e feliz!
Quando entendi esta lição, me vi outra vez em meu quarto, no solo. As quatro
mulheres sorriam entre si, como se estivessem cientes de tudo que se passara...
Afrodite, a deusa que reneguei por tanto tempo, veio ao meu encontro, dizendo que o
feitiço estava desfeito e que de agora em diante eu devia voltar ao meu verdadeiro caminho.
Tudo dependeria de mim mesma e daquilo que eu construísse. Elas estariam todas ao meu
lado, mas não poderiam interferir em meus atos. Acabando de dizer tudo isso, deu-me um
longo abraço e se retirou do quarto, seguida pelas outras.
No dia seguinte, ao acordar, tomei a primeira providência. Fui ao banheiro e, antes de
lavar o rosto, subi na balança que tanto evitava. Anotei o peso e fui para o café. Não o
adocei com açúcar e dispensei o pão habitual. Retomei os velhos hábitos da adolescência e
saí para uma longa volta de bicicleta.
Como as deusas estavam ao meu lado, pude sentir que mexiam os pauzinhos. Logo
encontrei Paula, uma amiga, dona de um restaurante macrobiótico. Conversamos por um
longo tempo sobre alimentação, obesidade e a condição feminina. Ao fim da conversa, eu já
havia me decidido : adotaria a macrobiótica como primeiro passo para a purificação de meu
corpo.
Desde então encontro-me outra vez no caminho. Nunca mais transferi meus
sofrimentos para a comida. Redescobri o encanto de seduzir e ser bela para mim mesma.
Reencontrei o equilíbrio perdido e hoje posso mesmo dizer que estou muito feliz!
Vez por outra, quando me encontro na frente do espelho, ouço a risada de Afrodite. E
parece que a escuto, dizendo, maliciosa : " Segue em frente, menina!".

AS ERVAS DE AFRODITEh

" Eu logo o esquecerei, meu bem, por isso deve
Gozar tudo isto ao máximo, seu breve dia,
Seu breve mês, sua metade – de - ano breve,
Antes que eu morra, esqueça, ou parta - o que seria
O fim para nós dois. Aos poucos, já lhe disse,
Hei de esquecê-lo, mas agora, me repita
Seu protesto mendaz com a maior meiguice,
Que eu lhe farei a minha jura favorita.
Eu gostaria de um amor mais prolongado
E com promessas menos frágeis do que são;
Mas, assim mesmo, a natureza tem logrado
Marchar avante sem qualquer interrupção...
Se é encontrável ou não o que se está buscando,
É vão, do prisma biológico falando."
Não sei porque todas as vezes em que leio este poema, me vem à lembrança a imagem
de minha avó, divertida, entregue à malícia de seus encantamentos, esfregando pétalas de
gardênia em meu corpo, quando vivenciei minha primeira paixão. Recordo seu sorriso
matreiro, murmurando palavras de poder que fariam corar a mocinha mais recatada. E
lembro de sua rebeldia que me respondia, sem nenhuma culpa, que no amor vale tudo.
Quantas vezes tremi de medo ao realizar certos feitiços que, aos risos, ela me
ensinava! Como aquele de conseguir chegar ao varal da casa do amado e nele procurar sua
cueca, e depois soprar um estranho pó feito de pétalas de rosas, sangue de minha
menstruação e canela. Até hoje tremo com a lembrança de um dia ter sido surpreendida, no
instante em que soprava o milagroso feitiço. Porém, o mais engraçado desta lembrança é o
sabor do beijo da presa, que não percebeu o que acontecia e muito menos entendeu a súbita
paixão que lhe arrebatou.
Nesta época, ainda me assustava com a feitiçaria. Eu vivia dividida entre a moral que
a escola pregava e a liberdade que as feiticeiras da família exerciam. Assim, como toda
adolescente ávida por respostas, bombardeava minha avó com perguntas. Mesmo tendo a
comprovação de que nada de nefasto aconteceria comigo e nem com aqueles que eram
atingidos pelos feitiços, minha cabeça martelava com os juízos emitidos pelos outros, tipo :
"isso é magia negra", "você vai se dar mal e ser punida", "você está interferindo no livre
arbítrio da outra pessoa", e mais uma série de sentenças assustadoras. Vovó ria largamente
quando eu relatava tudo isso que ouvia. Sacudia os ombros e saia resmungando, entre os
dentes, coisas como : " Que gente mais sem graça! Será que esse povo não aprendeu a
sonhar?".
Não sei se influenciada pelo humor de vovó ou entusiasmada pelos resultados
magníficos que vinha obtendo, acabei por optar pela liberdade da falta de regras no amor.
Feliz pela minha escolha, vovó me iniciou num longo aprendizado sobre "segredos" que
eu ainda não conhecia. Elegeu-me como sua mais dileta aprendiz e em mim depositou o
conhecimento ancestral que acompanhava nossa família por tantos séculos.
Honrada por tamanha consideração, tornei-me uma aluna exemplar e muitas vezes
abdiquei de uma ensolarada manhã na praia, em troca de algumas horas na feira, misturada
a couves e beterrabas. Outras vezes, preferi a caminhada árdua no mato do que uma sessão
de cinema. Assim, em alguns anos, aos poucos, fui me transformando e logo as
transformações seriam percebidas em outros setores de minha vida. Como eu não era
limitada pela divisão de uma cultura cerceada por tabus, ampliei minha liberdade e passei a
me permitir coisas que antes me fariam encolher de medo. Dessa forma, depois de
experimentar os feitiços mais exóticos, nada me impedia de questionar o sisudo professor
de matemática, ou de criar uma nova métrica para os poemas, ou mesmo desafiar a estúpida
professora de História!
Com o tempo, percebi que minha opção havia permitido o meu crescimento e a
ampliação dos meus horizontes. E pude entender que misturar um pouco do meu sangue
menstrual com o inofensivo brigadeiro que ofereceria ao amado, também proporcionava
maior criatividade e empenho em outras áreas de minha vida. Os feitiços não eram apenas
um punhado de crendices tolas, conforme repetia Dona Vera, a professora de História, ao
contrário, eles eram um poderoso instrumento que possibilitava o crescimento e a
libertação do homem.
Se não fosse a falta total de pudor nos meus primeiros feitiços, talvez eu não fosse
hoje o que sou. Foram eles que me mostraram que não se deve temer a audácia e o ímpeto,
pois, se assim não agimos, não seremos nunca alguém capaz de lutar por seus ideais e seus
direitos.
A iniciação, com minha avó, revelou-me aspectos inacreditáveis de determinados
elementos, principalmente das ervas. Gradualmente, aprendia a ver nelas algo mais do que
virtudes medicinais ou alimentícias. Uma erva, como bem dizia vó Vitalina, é um ser dotado
de alma e a representação própria de divindades. Ela ultrapassa o sentido da mera utilidade
doméstica e atinge pontos que nem de longe podemos vislumbrar. Com ajuda de uma erva,
podemos solucionar intrincados problemas ou mesmo conseguir coisas que pensávamos
impossíveis.
Como este é um livro que propõe pequenos truques para o êxito das seduções, neste
capítulo somente tratarei das ervas que a isso se propõem, no caso, as ervas que
representam Afrodite. Deixarei para um outro livro a exposição mais detalhada de outras
ervas e seus respectivos atributos.
Logo que comecei a aprender, com minha avó, os segredos da feitiçaria, recebi alguns
conselhos a respeito das ervas de Afrodite. Embora vovó não nomeasse Afrodite, já que a
tradição em sua família foi adulterada por séculos de perseguição da Igreja, ela dizia que
essas ervas pertenciam à "Lua Bonita". Um dia, essa lua tinha sido a moça mais bonita que
havia nascido no mar. Seu pai era um anjo que tinha a face de menino e adorava se divertir
entre os homens da Terra. Sua mãe era a mulher que fazia o dia nascer e anunciava a
chegada do sol. Como a Lua Bonita era muito cobiçada, ela não se dedicava a um só amor,
dividia-se entre muitos homens e também ajudava às outras moças a conseguirem um par. A
Lua Bonita tornou-se tão bonita que os homens começaram temê-la. Então, um dia, lá pelas
bandas do início, resolveram dela se livrar. Arremessaram-na de um precipício e a
pobrezinha caiu numa cova cheia de lama, cobras e insetos.
As moças, que foram ajudadas por ela, bem que tentaram socorrê-la, mas foi em vão.
Pediram, então, à lua, que lhes ajudasse a encontrar um bom lugar para enterrá-la. A lua, lá
no céu, ficou com pena das moças, daí, usando uns truques mágicos, construiu uma estrada
toda feita de luar e depois desceu até o lugar onde se encontrava a morta. Quando viu
tamanha formosura, resolveu levá-la para junto de si. Desde esse dia, as moças da Terra
sabem que sua deusa está viva, toda vez que um homem diz : " Olha como a lua está bonita!".
Mesmo após identificar os deuses originários de minha família, graças à uma
exaustiva busca genealógica e histórica, continuo chamando Afrodite de Lua Bonita...
Pois bem, vovó dizia que, tão logo a Lua Bonita caiu na cova, o seu sangue escorreu
para dentro da terra e algum tempo depois nasceram umas plantas, que ninguém jamais
olhara. As moças devotas de Lua Bonita desconfiaram que aquelas plantas eram um
pedacinho da deusa. Prontamente as recolheram, plantando-as pelo mundo afora, para que
outras moças pudessem receber os presentes da deusa. Desse jeito, espalharam-se pelo
planeta os pequenos pés das ervas de Afrodite.
Minha avó dizia que as ervas da Lua Bonita eram poderosíssimas, mas que também
eram perigosas, pois nasceram do sangue de uma violação, e, por isso, não permitiam que se
brincasse com elas. Para manipulá-las, a mulher deveria ter respeito por si própria e
respeito pelas outras. Da mesma maneira que as devotas respeitavam sua deusa, e, como ela,
nutriam um grande amor por suas companheiras. Assim como vovó dizia : " Mulher que não
tem orgulho das suas partes, pode desistir! As ervas da Lua Bonita não ajudam a mulher que
não se tem respeito!".
Portanto, antes de utilizar qualquer erva de Afrodite para o auxílio numa sedução, dê
uma checada em si mesma e veja o quanto você se submete à humilhações. Repare se a
maledicência fez lugar cativo em seus lábios e observe bem se o rancor se apropriou de seu
ser. Porém, no caso da constatação dessa feia realidade, não se aflija, peça à Afrodite para
lhe guiar no caminho de volta à sua condição de mulher bonita, centrada e orgulhosa de si e
de todas as mulheres do mundo.
Depois de dar essa checada em si mesma, use e abuse das ervas de Afrodite! Não se
acanhe e deixe que toda e qualquer fantasia de você se aproxime.
Violeta Africana ( Saintpaulia ionantha )
Erva que propicia a realização das fantasias amorosas. É muito potente para a expansão
do erotismo e da sensualidade. Em feitiços amorosos, apenas as flores são utilizadas.
Experimente acrescentar no bolo ou doce a ser oferecido ao amado, ou mesmo
acrescentar algumas flores no seu perfume preferido. Você verá a eficiência desta flor tão
pequena!
Alfafa ( Medicago sativa )
Erva eficaz para aquelas que almejam fisgar um marido rico. Seu efeito é rápido e na
maioria das vezes bem sucedido.
Experimente colocar alguns grãos na porta do amado numa noite de lua crescente. Você
ficará surpreendida com a eficiência desta erva!
Malvaísco ( Althaea officinalis )
Erva poderosa para quem quer recuperar um amor. Para tanto, basta rechear um
coração de veludo vermelho com suas flores, e também algum pequeno objeto que tenha
pertencido ao amado. Costura-se bem o coração de veludo, para que o recheio não se perca,
e, durante vinte oito dias, a começar na lua crescente, crava-se nele um alfinete virgem,
mentalizando o regresso do amante.
Anêmona ( Anemone pulsatilla )
Erva poderosíssima em toda e qualquer sedução. Suas flores devem ser acrescentadas
ao seu perfume preferido. Use este perfume toda vez que quiser atrair alguém especial.
Maçã ( Pyrus spp. )
De todas as ervas utilizadas em feitiços de sedução , talvez a maçã seja a mais popular
e a mais representativa de grandes paixões. É uma erva de coração intenso que nunca
admite envolvimentos mornos. Para utilizá-la, você deve estar apaixonada e desprovida de
sentimentos mesquinhos, como raiva, inveja e rancor. Portanto, pese bem o seu estado de
apaixonamento e reflita a respeito antes de utilizá-la.
Ao comer uma simples maçã, lembre-se de guardar a casca e o caroço, pois serão
importantes em feitiços futuros. Com a casca você pode confeccionar incensos e com o
caroço poderá criar receitas irresistíveis. Experimente colocar um punhado de sementes
moídas por cima do sorvete do amado ou mesmo misturadas ao alimento. O resultado será
surpreendente!
Experimente também dar ao amado uma maçã caramelada e acrescida de canela.
Dificilmente ele esquecerá de você e lhe dedicará eterna fidelidade.
Damasco ( Prunus armeniaca )
Ofereça ao amado um suco feito com damascos frescos e uma pitada de canela em pó.
Dificilmente você se esquecerá do resultado!
Uma outra receita com damasco é a utilização de três caroços dentro de um pequeno
saco de cetim vermelho : para atrair futuros romances.
Abacate ( Persea americana )
Os astecas utilizavam esta planta em rituais e encantamentos ligados ao amor e beleza.
Nos dias de hoje, ela continua sendo procurada para os mesmos fins e quase toda mulher
conhece os efeitos da máscara de abacate.
Se você quiser dar um toque extra de erotismo em sua relação, experimente uma
massagem relaxante com óleo de caroço de abacate. Os efeitos serão surpreendentes!
Escovinha ( Centaurea cyanus )
Esta é uma erva especialmente indicada para quem persegue um amor impossível. Para
tanto, toda vez que for ao encontro do amado, basta usar um raminho de escovinha dentro
do sutiã.
Se você for um pouco mais audaciosa, unte algumas flores desta erva com o seu líquido
vaginal e deposite-as no quarto do amado ( isto se você tiver acesso a este cômodo! ).
Banana ( Musa sapientum )
Se seu amado estiver sofrendo os efeitos da impotência, experimente colocar debaixo
da cama uma banana bem verde, e, antes do sexo, dê um pouco de doce de banana para ele,
acrescido por uma pitada de canela e uma gota de seu sangue menstrual.
Para aquelas que suspiram por um amor não correspondido, nada melhor do que procurar
uma bananeira na primeira noite da lua crescente, e gravar, em seu tronco, o nome do
amado dentro de um coração. O efeito é rápido.
Cevada ( Hordeum spp. )
Numa noite de lua crescente, de preferência quando a lua se encontrar no signo de
Escorpião, coloque nove grãos desta erva para germinar. Lembre-se que, no momento em
que estiver manipulando as sementes, deverá pensar no amado. Quando os grãos
germinarem, plante-os num vaso e também enterre na terra um papel onde esteja escrito o
nome dele. Com certeza, este feitiço fará com que seu par se decida e lhe peça em
casamento.
Bétula ( Betula alba )
Se você possui razões que indiquem que seu amado não lhe é fiel, salpique pó extraído
das folhas de bétula sobre a cueca dele. Se acaso a infidelidade persistir, costure uma
folha desta erva por dentro da bainha de suas calças.
Amora ( Rubus villosus )
Numa noite de lua cheia, ofereça ao amado um pedaço de torta de amora com uma taça
de vinho tinto. O efeito será logo sentido.
Se você necessita um novo amor, nada melhor do que tomar uma xícara de chá de amora,
durante vinte e oito dias, antes de se deitar.
Íris ( Iris versicolor )
Numa noite de lua crescente, à meia noite, dirija-se à um pé de Íris, levando consigo
algum objeto que pertença ao amado ( de preferência um objeto pessoal ). Chegando ao pé
dessa planta, enterre o objeto o mais próximo que puder das raízes, lembrando-se de pedir
à erva aquilo que deseja. Após ter enterrado o pertence do amado, retire uma flor e
carregue-a sempre que for encontrar-se com ele. Ao final de poucas semanas, você verá o
seu desejo realizado.
Bardana ( Arctium lappa )
Se o amado anda distante e não muito disposto ao amor, nada melhor do que duas raízes
trançadas desta erva, colocadas debaixo do colchão. Em poucos dias, você terá de volta o
antigo entusiasmo e seu par estará explodindo de paixão.
Alcaparra ( Capparis spinosa )
Para quem espera do amado um melhor desempenho sexual, nada melhor do que
oferecer três alcaparras ao parceiro, antes de ir para a cama. Se, apesar disso, o ato
permanecer insatisfatório, ofereça-lhe uma taça de vinho branco contendo três alcaparras
maceradas. Sem sombra de dúvida, sua relação transbordará erotismo!
Cardamomo ( Elettario cardamomum )
Para que seu amado lhe dedique eterna paixão, adicione uma colher de chá desta erva
na massa do bolo. Mas lembre-se : nunca revele para ele os ingredientes de sua receita.
Se a pessoa que você deseja não corresponde ao seu amor, experimente soprar três
pitadas de cardamomo em suas costas. O resultado logo será visível.
Mentrasto ( Nepeta cataria )
Para que você se torne irresistível aos olhos do amado, nada melhor do que
confeccionar um sache com pétalas de rosas secas e folhas de mentrasto. Carregue este
amuleto junto ao corpo e logo despertará o desejo de quem lhe ama. No caso de um amor
que se quer de volta, salpique a porta principal da casa do amado com folhas secas desta
erva. É infalível!
Cereja ( Prunus avium )
Para quem ainda não possui um amor, nada melhor do que comer nove cerejas na
primeira noite da lua crescente. Depois, reserve os caroços e coloque-os para secar.
Quando estiverem secos, perfure-os com uma agulha e passe-os com uma linha vermelha,
como se fizesse um colar de miçangas. Na hora em que for dormir, amarre o colar de
cerejas no tornozelo esquerdo e retire-o quando acordar. Durma durante quatorze dias
com esse amuleto. Ao final de poucos dias, você será presenteada com um novo amor.
Se o amado estiver lhe evitando, com o relacionamento enfraquecendo, prepare, para
ele, uma torta de cerejas acrescida por algumas gotas de seu líquido vaginal. Esta receita
costuma ser infalível!
Canela ( Cinnamomum zeylanicum )
De todas as ervas de Afrodite, a canela talvez seja a mais poderosa e a que traz
efeitos mais imediatos. Seus efeitos são tão avassaladores que por vezes trazem
contratempos, se não for utilizada na hora e dosagem certa. Digo isso porque tenho uma
amiga que resolveu usar uma receita que lhe ensinei, quando andava em baixa no seu poder
de sedução. O modo de uso consistia em esfregar um pouquinho de canela em pó no corpo.
Minha amiga não se contentou com a dose e passou uma grande quantidade da canela no seu
corpo. O resultado não lhe foi muito agradável, pois naquele dia foi assediada no elevador,
no metrô e até pelos funcionários do escritório. O seu poder de sedução ficou tão exaltado
que, ao final do dia, ela só queria tomar um banho e voltar à velha tranqüilidade.
Tussilagem ( Tussilago farfara )
Para aqueles que sofrem por um amor desfeito, as folhas de tussilagem são o melhor
remédio. Elas devolvem a paz e tranqüilidade necessárias para um novo amor. Para isso,
basta queimar algumas folhas secas e deixar que a fumaça envolva totalmente o seu corpo
despido. Depois, coloque umas tantas folhas num pequeno saco de cetim azul e carregue-o
consigo. Em pouco tempo haverá surpresas, com a chegada de um novo amor.
Milho ( Zea Mays )
Se você deseja que seu parceiro tenha olhos só para você, pegue uma espiga de milho
madura e realize o seguinte feitiço numa noite de lua crescente. Retire todas as folhas da
espiga e reserve-as. Retire também os fiapos e reserve-os. Por fim, debulhe todos os grãos,
reservando-os dentro de um recipiente de barro. Ao final do processo, restará somente o
miolo. Coloque nesse miolo dois caroços que representarão os olhos. Pinte a boca e o nariz.
Depois, pegue um punhado dos fiapos e cole no alto, confeccionando assim os cabelos. Com
uma folha improvise um traje. Mesmo que o boneco fique feio, não se preocupe, pois aqui
não está em jogo um campeonato artístico!
Quando o boneco estiver pronto, nomeie-o com o nome do amado por nove vezes. Depois,
pegue uma foto sua e coloque-a defronte aos olhos do boneco, prendendo-a com alfinetes.
A foto deverá ficar bem grudada no rosto do boneco. Pegue, então, as folhas separadas e
arrume-as dentro de uma caixa junto com os fiapos, como se fosse uma cama macia. Deite
o boneco e tampe a caixa. Guarde num lugar que ninguém veja ou toque.
Finalmente, pegue o recipiente com o milho e coloque de molho. Depois, cozinhe este
molho e sirva-o para o amado, misturado à salada ou ao arroz. Num tempo breve você verá
os resultados!
Ciclame ( Cyclamen spp. )
Se você deseja uma noite inesquecível com o amado, coloque folhas de ciclame
espalhadas na cama. O ardor desta noite ficará na história!
Para quem ainda não conseguiu um grande amor, nada melhor do que colocar pétalas
desta flor dentro de seu perfume preferido. Com certeza, e rapidamente, isto atrairá o
amor que lhe faltava.
Narciso ( Narcissus spp. )
Se o seu amor foi embora e você deseja ardentemente que ele retorne, pegue um bulbo
de narciso e nele crave treze alfinetes que nunca tenham sido usados, de preferência numa
noite de lua crescente, com a lua situada no signo de Aquário. Lembre-se que, a cada
alfinete cravado, deverá ser pedido o regresso de quem você ama.
Para que o amado lhe dedique todos os sonhos, confeccione para ele um travesseiro e
coloque pétalas secas desta erva misturadas ao recheio. Com certeza ele sonhará com você!
Língua de Tucano ( Eryngium spp. )
Se a relação está tomada por desavenças, coloque algumas folhas desta erva debaixo
da cama. O clima vai melhorar bastante.
Monsenhor ( Chrysanthemum parthenium )
Se algo lhe diz que seu amado pode estar lhe traindo, coloque pétalas secas desta flor
embutidas na bainha de suas calças. Em pouco tempo você verá seu amado dedicando-lhe a
mais forte fidelidade.
Betônica Aquática ( Scrophularia nodosa )
Para aquelas que procuram um marido, nada melhor do que utilizar esta planta. Numa
noite de lua nova, de preferência quando ela estiver sobre o signo de Escorpião, pegue nove
folhas de betônica e coloque-as debaixo de seu travesseiro. Peça à erva que lhe mostre, em
sonho, aquele que será seu marido. Com certeza a erva lhe indicará o futuro parceiro!
Dedaleira ( Digitalis purpurea )
Se você deseja que seu amado lhe devote eterna fidelidade, plante, num vaso, um pé
desta planta.
Gerânio ( Pelargonium spp. )
Para quem deseja uma noite inesquecível e uma performance memorável do amante,
recomenda-se enfeitar o quarto com buquês desta flor, depois de tomar um bom banho de
manjericão.
Arnica Silvestre ( Solidago odora )
Se você deseja despertar o desejo do sexo oposto, coloque um punhado desta flor
dentro de seu perfume preferido e use-o quando quiser provocar fantasias nos homens.
Quebra- Panelas ( Calluna spp. )
Se o relacionamento está desgastado e você deseja a separação, salpique folhas secas
desta erva na cama, ao longo de oito luas, a começar com a lua minguante. Certamente, ao
final de poucos dias, a separação se dará sem problemas.
Hibisco ( Hibiscus spp. )
O hibisco possui o poder de induzir o desejo e levar o parceiro ao apaixonamento. Para
tanto, colha nove hibiscos vermelhos na primeira noite de lua crescente e com elas faça um
chá forte. Deixe que ele amorne e, após o banho habitual, banhe-se com este chá. É certo
que você seduzirá o amado.
Jacinto ( Hyacinthus orientalis )
Se você se desiludiu com a perda de um amor e a depressão tem tomado conta de seus
dias, nada melhor do que colocar flores secas de jacinto debaixo do travesseiro. Em pouco
tempo você terá recuperada a sua velha disposição e estará pronta para vivenciar um novo
relacionamento.
Pé de Leão ( Alchemilla vulgaris )
Para quem sofre por um amor não correspondido, o melhor é depositar folhas desta
erva no caminho de entrada da casa do amado. Mas lembre-se, você deverá depositá-las
numa noite de lua nova, de preferência quando ela estiver em Escorpião.
Consólida ( Delphinium spp. )
Se você desconfia da fidelidade do amado, polvilhe uma pitada de pó de consólida sobre
as roupas do companheiro. Ele se revelará o mais fiel dos amantes!
Alcaçuz ( Glycyrrhiza glabra )
Para quem almeja um amor eterno, nada melhor do que oferecer balas de alcaçuz ao
amado!
Lilás ( Syringa vulgaris )
Se você deseja despertar uma violenta paixão no amado, colha flores de lilás numa
sexta feira de lua crescente e depois esfregue em seu corpo o sumo feito com as pétalas.
Você ficará irresistível !
Magnólia ( Magnolia grandifolia )
Para uma noite inesquecível ao lado do amado, espalhe as flores desta planta sobre a
cama. Com certeza você nunca se esquecerá dos resultados.
E se você ainda não tem um amado em vista, não se preocupe. Acrescente algumas
pétalas de magnólia ao seu perfume preferido e coloque algumas gotas quando sair. O
efeito poderá ser notado em poucos minutos.
Avenca ( Adiantum pedatim )
Um bom termômetro para avaliar a fidelidade do parceiro é ter plantada em casa uma
muda de avenca. Se ela estiver saudável, é sinal de que tudo corre bem, mas se ela
apresentar algum sinal de fraqueza, tome cuidado e precauções...enquanto é tempo!
Artemísia ( Artemisia vulgaris )
Se você deseja que seu amado dedique só à você o seu amor, faça, para ele, um
travesseiro recheado com essa erva e acrescente uma mecha de seu cabelo. Com toda
certeza ele lhe dedicará uma paixão sempre renovada.
Para aquelas que andam sem ânimo no amor, nada melhor do que um banho de artemísia
para acender o desejo e ampliar as fantasias.
Murta de Cheiro ( Myrtus communis )
Se você deseja que o relacionamento dure por muito tempo, coloque um raminho desta
erva dentro do travesseiro do amado. Carregue, junto ao seu corpo, um sache que deve
conter folhas secas de murta e a foto do parceiro. Você desfrutará de seu amor por um
longo tempo!
Aveia ( Avena sativa )
Aconselho esta erva para quem deseja um corpo saudável e sedutor. Ela possui o dom da
beleza e da regeneração. Durante séculos tem ajudado as mulheres na arte da sedução.
Experimente colocar, numa banheira com água bem quente, meio quilo de flocos de aveia e
trinta gramas de pétalas de rosa. Deixe que a água amorne e, antes de entrar no banho,
misture as ervas depositadas no fundo. Permaneça dentro da banheira por uns vinte
minutos e ao sair seque-se sem o auxílio da toalha. Depois de devidamente seca, passe óleo
de aveia por todo seu corpo. Você deve repetir este banho pelo menos de quinze em quinze
dias, mas o aconselhável é uma vez por semana, de preferência às sextas feiras.
Orquídea ( Orchis spp. )
Se você deseja que o amado lhe proporcione uma noite de inesquecíveis prazeres,
prepare um bom óleo de orquídea e com ele faça uma massagem no corpo do parceiro. Este
óleo é simples de fazer : você vai precisar de um recipiente de cerâmica com tampa, três ou
quatro orquídeas e um pouco de óleo mineral.
Numa noite de lua nova, pegue o recipiente e coloque, no seu interior, primeiro as
orquídeas e depois o óleo. Feche o recipiente e deixe-o na janela, no período noturno, ao
longo da lua nova e crescente. O óleo estará pronto no primeiro dia de lua cheia. Retire as
orquídeas e use este óleo à vontade.
Maracujá ( Passiflora incarnata )
Se o ciúme vem lhe causando problemas e a relação se encontra por um fio, tome, à cada
lua minguante, um suco extraído de um maracujá que tenha sido colhido por você mesma.
Esta erva tem o dom de apaziguar os desentendimentos e acalmar o coração.
A flor do maracujá possui o dom de despertar as paixões e deve ser utilizado com
cautela. Seu efeito é intenso e geralmente acaba trazendo paixões recheadas por ciúmes.
Ervilha ( Pisum sativum )
Para quem sofre por um amor não correspondido, esta erva se revela a maior aliada.
Para tanto, você deverá extrair nove grãos de algumas ervilhas.
Coloque-os para secar e depois deposite-os no caminho de entrada da casa do amado.
Os efeitos serão sentidos em pouco dias.
Pêra ( Pyrus communis )
Se você pretende a fidelidade de seu amor, experimente colher uma pêra numa noite
de lua cheia e sirva-a, caramelizada, para o seu companheiro. Com toda certeza ele só terá
os olhos voltados para você.
Pervinca ( Vinca minor )
Por ser extremamente venenosa, esta erva nunca deve ser ingerida. Porém, você pode
usar suas flores como um poderoso amuleto para atrair aquele que deseja, ou mesmo
colocá-las debaixo da cama para maior ardor no ato sexual.
Tanchagem ( Plantago spp. )
Se sua relação encontra-se ameaçada pela presença de uma outra pessoa, escreva o
nome dela numa folha de tanchagem, numa noite de lua minguante, e depois jogue-a num rio
ou no mar. As águas levarão o nome desta outra pessoa para bem longe!
Ameixa ( Prunus domestica )
Para manter acesa a chama da paixão, experimente colher uma ameixa todos os dias.
Com certeza o seu amor estará sempre renovado. Procure também ter esta fruta dentro de
casa, pois ela protegerá sua relação, não permitindo que a inveja adentre no seu espaço.
Prímula ( Primula vulgaris )
As flores desta erva possuem o dom de proporcionar o viço da juventude. Para tanto,
colha um punhado destas flores numa noite de lua nova e coloque-as dentro de um
recipiente contendo óleo de amêndoa. Deixe-as, em meio a este óleo, até que a lua cheia se
aproxime. Quando chegar o primeiro dia desta lua, recolha as flores e enterre-as no jardim.
Use este óleo como hidratante do corpo, sempre às sextas feiras.
Framboesa ( Rubus idaeus )
Para conquistar o seu amado, experimente servi-lo com uma torta de framboesa e
canela. O efeito será logo sentido e certamente você terá conquistado um grande amor.
A framboesa também é indicada para quem quer obter, da relação, o fogo sagrado de
Eros. Basta acrescentar algumas gotas do sumo desta fruta aos lábios e às zonas erógenas
do corpo. O efeito é inesquecível!
Rosa ( Rosa spp. )
Se o amado não corresponde o amor que você lhe dedica, coloque um punhado de pétalas
de rosa dentro da garrafa de um bom vinho e deixe-as macerando por alguns dias. Depois
coe e sirva uma taça ao objeto de seu desejo. Você não se arrependerá dos resultados.
Para aquela que está dividida entre alguns amores e deseja saber quem deverá escolher,
escreva, numa noite de lua minguante, os nomes dos pretendentes em pétalas separadas e
depois coloque-as no sereno. A pétala que, na manhã seguinte, apresentar-se mais viçosa,
indicará o escolhido.
Aleluia ( Oxalis acetosella )
Se a dor da separação está amargurando os seus dias, colha nove folhas desta erva
numa noite de lua minguante. Coloque-as para secar e depois carregue-as sempre consigo,
dentro de um pequeno saco de cetim azul. Em poucos dias você verá que a vida outra vez lhe
sorri.
Morango ( Fragaria vesca )
Das ervas de Afrodite, talvez seja o morango a que melhor represente esta deusa.
Seus efeitos são quase sempre surpreendentes e avassaladores. É uma erva caprichosa e
que requer cuidados especiais daquele que a utiliza. Nunca deve ser colhida
displicentemente e tampouco durante o dia. Sua colheita deve se dar ao anoitecer ou antes
que o sol surja no horizonte.
Seguindo estes cuidados, você obterá desta planta tudo aquilo que desejar em matéria
de conquista. Mas lembre-se : jamais a trate com desrespeito, pois dela poderá receber
surpresas desagradáveis!
Uma receita antiga e muito praticada pelas feiticeiras é o da utilização de suas flores
acrescentadas ao chá. Que pode ser de canela, morango ou rosa. O modo de fazer é bem
simples, mas requer que seja realizado na lua nova. Colha nove flores de morango e
coloque-as sobre uma concha molhada com o seu líquido vaginal. Deixe-as absorver o líquido
por alguns minutos, enquanto prepara o chá de sua preferência. Quando estiver pronto,
coloque as flores por cima e sirva este chá para o amado. O efeito é incrível!
Tasneira ( Tanacetum vulgare )
Quem deseja a fidelidade do amado, pode colocar três folhas desta erva debaixo da
palmilha do sapato dele. É certo que ele se transformará no mais fiel dos amantes.
Tomilho ( Thymus vulgaris )
Para dar maior ardor ao ato sexual, experimente enxaguar os lençóis de sua cama em
água misturada com chá bem forte de tomilho. Além de sua roupa de cama ficar
cheirosíssima, a performance amorosa crescerá consideravelmente em paixão.
Tomate ( Lycopersicom spp. )
Use e abuse desta erva em suas receitas. O tomate, além de ser um alimento saudável,
também é indicado para toda e qualquer sedução. Por tanto não se acanhe, sirva ao amado
deliciosos pratos sempre acompanhados por uma suculenta salada de tomate.
Valeriana ( Valeriana officinalis )
Para que seu amado sempre lhe tenha na lembrança, confeccione para ele um
travesseiro recheado com valeriana, pétalas de rosa e camomila. Você morará nos sonhos
dele, sem sombra de dúvida!
Baunilha ( Vannila aromatica )
Antes de beijar o amado, experimente espalhar uma gota de baunilha pelos lábios. Você
se surpreenderá com a intensidade dos beijos que se seguirão!
Verbena ( Verbena officinalis )
Para quem deseja atrair uma grande paixão, nada melhor do que aplicar óleo de verbena
por todo o corpo. Este óleo é poderoso e transmite à pele uma luminosidade mágica.
Portanto, para manter a pele saudável e sedutora, lance mão deste artifício sempre no
período que vai da lua nova à cheia.
Vetiver ( Vetiveria zizanioides )
Transforme o seu quarto no espaço sagrado do amor. Os resultados são incríveis ,
quando você coloca uma guirlanda confeccionada com vetiver e flores secas do campo sobre
a cabeceira da cama!
Se também quiser parecer sempre sedutora aos olhos do amado, veja só o efeito de um
punhado desta erva dentro de seu perfume preferido! Use-o quando desejar despertar
intensas fantasias.
Violeta ( Viola odorata )
Para quem deseja se transformar na representação de Afrodite, recomendo um antigo
banho que minha avó me ensinou. Você terá que encher a banheira com água bem quente. E
então adicione meio quilo de flocos de aveia, um litro de leite de cabra, trinta gramas de
pétalas secas de rosas, nove colheres de mel, cem gramas de amêndoas moídas e trinta
gramas de violetas. Deixe que a água esfrie um pouco e depois entre na banheira.
Permaneça pelo menos vinte minutos neste banho de imersão. Seque-se naturalmente, sem
o auxílio de toalha, e finalize passando óleo de rosas por todo o corpo. O efeito é logo
sentido!
Mil - Folhas ( Achillea millefolium )
Se você deseja o retorno de um amor, colha um punhado de flores desta erva numa
noite de lua nova. Coloque-as para secar e depois use-as sob a forma de um amuleto. Você
também pode depositá-las na porta de entrada do amado, mas usadas como amuleto é
melhor, pois se elas não trouxerem o amado de volta, com certeza atrairão um outro muito
melhor.
As flores de mil-folhas são recomendadas para afastar a infidelidade de sua casa. É só dependurar um
ramo desta erva atrás da porta de entrada.
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 A Dança Cósmica Das Feiticeiras
A DANÇA CÓSMICA DAS FEITICEIRAS
STARHAWK
Capitulo 2
A visão de Mundo da Feitiçaria
(scaneado por Laerte)
GRUPO DE ESTUDO VIRTUAL
Owner: Magali
Lista de Discussão – Empório Wicca
Entre os Mundos
CRIAÇÃO
Solitária, majestosa, plena em si Mesma, a Deusa, Ela, cujo nome não pode
ser dito, flutuava no abismo da escuridão, antes do início de todas as coisas. E
quando Ela mirou o espelho curvo do espaço negro, Ela viu com a sua luz o
seu reflexo radiante e apaixonou-se por ele. Ela induziu-o a se expandir devido
ao seu poder e fez amor consigo mesma e chamou Ela de "Miria, a Magnjica
O seu êxtase irrompeu na única canção de tudo que é, foi ou será, e com a
canção surgiu o movimento, ondas que jorravam para fora e se transformaram
em todas as esferas e círculos dos mundos. A Deusa encheu-se de amor, que
crescia, e deu à luz uma chuva de espíritos luminosos que ocuparam os
mundos e tornaram-se todos os seres.
Mas, naquele grande movimento, Miria foi levada embora, e enquanto Ela saía
da Deusa, tornava-se mais masculina. Primeiro, Ela tornou-se o Deus Azul, o
bondoso e risonho deus do amor. Então, transformou-se no Verde, coberto de
vinhas, enraizado na terra, o espírito de todas as coisas que crescem. Por fim,
tornou-se o Deus da Força, o Caçador, cujo rosto é o sol vermelho mas, no
entanto, escuro como a morte. Mas o desejo sempre o devolve à Deusa, de
modo que ele a Ela circula eternamente, buscando retornar em amor.
Tudo começou em amor; tudo busca retornar em amor. O amor é a lei,
mestre da sabedoria e o grande revelador dos mistérios.
"A idéia dos sioux sobre as criaturas vivas é a de que as
árvores, o búfalo e os homens são espirais de energia
temporária, padrões de turbulência... esse é um
reconhecimento intuitivo e primitivo da energia como uma
qualidade da matéria. Mas esse é um insight antigo, sabese
extremamente antigo - provavelmente o insight de um
xamã paleolítico. Essa percepção encontra-se registrada
de várias maneiras no saber primitivo e arcaico. Diria que
esta é, provavelmente, o insight fundamental da natureza
das coisas, e que a nossa visão ocidental, recente e mais
comum, sobre o universo como sendo constituído de coisas
fixas está fora da direção principal, um afastamento da
percepção humana fundamental."
Gary Snyder'
A mitologia e a cosmologia da Bruxaria estão enraizadas naquela "intuição de
um xamã paleolítico": a de que todas as coisas são espirais de energia,
vórtices de forças em movimento, correntes em um mar sempre em mutação.
Subjacente à aparência de isolamento, de objetos fixos em um curso linear de
tempo, a realidade é um campo de energias que se solidifica, temporariamente,
em formas. Com o tempo, todas as coisas "fixas" se dissolvem, apenas para
se fundirem novamente em novas formas, novos veículos.
Esta visão do universo como uma interação de forças em movimento - a qual,
incidentalmente, corresponde, em um grau surpreendente, aos pontos de vista
da física moderna - é o produto de um tipo muito especial de percepção. A
consciência comum que desperta vê o mundo como sendo fixo; ela focaliza
uma coisa de cada vez, isolando-a do entorno, um pouco como ver uma
floresta escura com o auxílio de um estreito raio de luz que ilumina uma só
folha ou uma pedra solitária. A consciência extraordinária, a outra modalidade
de percepção, é ampla, holística e indiferenciada, enxerga padrões e
relacionamentos no lugar de objetos fixos. É a modalidade da luz das estrelas:
pálida e prateada, revelando o jogo de rumos entre laçados e a dança das
sombras, sentindo caminhos coMo espaços no todo.
Os aspectos mágicos e psíquicos da Arte estão relacionados ao 1 espertar da
visão da luz das estrelas - como eu gosto de chamá-la - e em treiná-la para que
seja um instrumento útil. A mágica não é um assunto sobrenatural; é, na
definição de Dion Fortune, "a arte de mudar a consciência pela vontade", ligar e
desligar a lanterna, , selecionar detalhes, enxergar através das estrelas.
A consciência comum é altamente valorizada na Arte, mas as bruxas estão
cientes das suas limitações. Ela é, em um certo sentido, um padrão através do
qual enxergamos o universo, um sistema e classificação culturalmente
transmitida. Existem infinitas maneiras de encarar o mundo; a "outra visão"
nos liberta dos limites da nossa cultura.
"Nossos semelhantes são os magos negros", diz Dom Juan, o xamã iaqui, ao
seu discípulo Castaneda em Porta para o Infinito.
Pense um pouco. Você é capaz de desviar-se do caminho que eles traçaram
para você? Não. Seus atos e pensamentos estão para sempre fixos em suas
palavras. Eu, por outro lado, trouxe a liberdade até você. A liberdade é cara,
mas o preço não é impossível. Portanto, tema os seus captores, seus mestres.
Não perca seu tempo e poder temendo a mim."3
Em Feitiçaria, o "preço da liberdade" é, acima de tudo, disciplina e
responsabilidade. A visão da luz das estrelas é um potencial inerente a cada
um de nós, mas muito trabalho é necessário para desenvolvê-la e treiná-la.
Poderes e habilidades adquiridos através de uma percepção mais aguçada
também devem ser utilizados de maneira responsável; caso contrário, como o
anel de Sauron (em O Serihor dos Anéis, de Tolkien), eles destruirão os seus
possuidores, aqueles que desejam libertar-se devem também estar dispostos a
se afastarem ligeiramente dos ditames da sociedade, se necessário for. Na
cultura ocidental moderna, artistas, poetas e visionários, não levando em conta
bruxos, místicos e xamãs, encontram-se, com freqüência, um tanto alienados
de sua cultura, o que gera uma tendência a desvalorizar os bens incorpóreos
em favor dos frutos sólidos e monetários do sucesso.
Mas o preço fínal da liberdade é a disposição de encarar a mais assustadora
de todas as coisas - nós mesmos. A visão da luz das estrelas, "a outra
maneira de saber", é a modalidade de percepção do inconsciente, e não a da
mente consciente. As profundezas de nosso ser não são todas ensolaradas;
para enxergarmos claramente é preciso que estejamos dispostos a dar um
mergulho no abismo interior e escuro, e tomar conhecimento das criaturas que
porventura lá encontraremos. Pois, como explica a analista jungiana M. Esther
Harding, em Woman's Mysteries, "esses fatores subjetivos(...) são fortes
entidades psíquicas, pertencem à totalidade de nosso ser, não podem ser
destruidos. Enquanto permanecerem proscritos, não aceitos por parte de
nossa vida consciente, interferirão entre nós eos objetos que percebemos e
todo o nosso universo tornar-se-á ou distorcido ou iluminado. 1,4
Talvez a maneira mais convincente de apresentar a concepção do self da Arte
seja a de examinar alguns dos achados experimentais mais recentes de
biólogos e psicólogos.* Robert Ornstein, em The Psychology of Consciousness,
descreve experiências realizadas com indivíduos epilépticos e com danos
cerebrais, demonstrando que os dois hemisférios do cérebro parecem
especializar-se, precisamente, nos dois tipos de consciência acima discutidos.
"O hemisfério esquerdo (ligado ao lado direito do corpo) está envolvido,
predominantemente, com o pensamento lógico-analítico, em especial em
funções verbais e matemáticas. Sua modalidade de operação é basicamente
linear. Esse hemisfério aparenta processar informações em seqüência."' Tal
como o nosso raio de luz de lanterna, ele focaliza um assunto de cada vez,
excluindo os outros. Ele percebe o mundo como sendo composto de coisas
separadas, as quais podemos temer ou desejar e que podem ser manipuladas
para se adequarem aos nossos propósitos. "Parece que ele foi desenvolvido
com o propósito básico de garantir a sobrevivência biológica.
"O hemisfério direito (lembre-se, novamente, associado ao lado esquerdo do
corpo) parece especializado para a mentalização holista. Sua capacidade
lingüística é bastante limitada. Esse hemisfério é basicamente responsável
pela nossa orientação espacial, atividades artísticas, destreza, imagem
corporal e reconhecimento de rostos. Ele processa a informação de maneira
mais difusa que o hemisfério esquerdo e as suas responsabilidades exigem
imediata integração de várias energias ao mesmo tempo."' Esta é a visão da
luz das estrelas, a qual percebe o universo como uma dança de energia em
movimento, que "não postulam duração, um futuro ou um passado, uma causa
ou um efeito, mas um todo modelar, 'atemporal'."' Este tipo de percepção é vital
para a criatividade. Conforme afirma Anton Ehrenzweig em The Hidden Order
of Art, "a com-
Complexidade de qualquer obra de arte, por mais simples que seja, supera de
longe os poderes da atenção consciente que, com seu enfoque preciso,
consegue atender somente a uma coisa de cada vez. Apenas a extrema
indiferenciação da visão inconsciente é capaz de perceber essas
complexidades. Ela pode apreendê-las com um olharúnico e não concentrado
e tratar figura e fundo com a mesma imparcialidade".
O exercício a seguir, usado para treinar artistas, é útil para aprender a
experimentar o tipo de percepção acima descrito.
EXERCÍCIO 1: EXPERIÊNCIA DA SOMBRA
Pegue uma folha de papel em branco e um lápis macio ou um bastão de
carvão. Sente-se e observe uma cena que lhe pareça interessante. Esqueça
nomes, objetos e coisas, observe somente o jogo de luz e sombra sobre várias
formas. Cubra as sombras, não com linhas mas com traços largos. Não se
distraia com as cores presentes; não se preocupe em reproduzir "coisas".
Deixe que as partes ensombradas criem as formas. Utilize pelo menos dez
minutos neste exercício. lembre-se, o objetivo não é o de criar um "bom"
desenho ou constatar seu talento artístico (ou a sua ausência); a meta é
experimentar outra maneira de ver, na qual objetos separados desaparecem e
somente padrões permanecem.
Pessoas menos preparadas visualmente poderão sentir-se mais confortáveis
com o próximo exercício.
EXERCÍCIO 2: EXPERIÊNCIA DO RITMO
Feche os olhos. Ouça os sons ao redor, esquecendo-se daquilo que eles
representam. Torne-se consciente, apenas, do vasto ritmo que eles criam.
Mesmo na cidade, esqueça que is sons variados são carros que passam,
martelos de trabalhadores, passos, pardais, caminhões, portas batendo -
atenha-se somente ao padrão orgânico e intrincado no qual cada um é uma
batida separada.
Como já foi dito, ambas as modalidades de percepção são valorizadas na Arte,
mas a visão holística do hemisfério direito é considerada como estando mais
em contato com a realidade subjacente que a visão linear do hemisfério
esquerdo. Esta visão é produzida por experiências com biofeedback
(biorrealimentação) que propicia às pessoas informação visual sobre os seus
processos corporais involuntários, permitindo-lhes monitorá-los e, finalmente,
controlar funções como batidas cardíacas e ondas cerebrais. Barbara Brown,
em New Mind, New Body, descreve experimentos mostrando que muito antes
do reconhecimento consciente, o corpo e sua subestrutura subconsciente
reconhecem e avaliam o que ocorre no ambiente"." Indivíduos foram
monitorados enquanto palavras "impróprias" apareciam em flashes numa tela,
rápido o bastante para não serem reconhecidas conscientemente. A pele,
ritmo cardíaco, ondas cerebrais e músculos mostravam reações às palavras
"invisíveis". O subconsciente é capaz de responder corretamente à realidade
mesmo quando informações errôneas são fornecidas pela mente consciente.
Em um experimento, foi dito aos experimentados que eles receberiam uma
série de choques de intensidade variada. Conscientemente, eles perceberam
que os choques tornavam-se mais fracos; na realidade, os choques eram da
mesma intensidade. Reações na pele provaram que o subconsciente não se
enganara: os monitores registraram exatamente a mesma resposta da pele em
cada choque, mesmo quando a reação consciente era diferente' .
Na tradição das Fadas da Feitiçaria, a mente inconsciente é chamada de o self
mais jovem; a mente consciente é chamada de self discursivo. Visto que eles
funcionam através de diferentes tipos de percepção, a comunicação entre os
dois é difícil. É como se falassem línguas diferentes.*
É o self mais jovem que diretamente experimenta o mundo, através da
percepção holística do hemisfério direito. Sensações, emoções, energias
essenciais, memória de imagens, intuição e percepção difusa são funções do
self mais jovem. A sua compreensão verbal é limitada; ele se comunica
através de imagens, emoções, sensações, sonhos, visões e sintomas físicos.
A psicanálise clássica foi desenvolvida a partir das tentativas de interpretar o
discurso do self mais jovem. A Feitiçaria não só interpreta mas ensina como
devemos nos comunicar com o self mais jovem.
O self discursivo organiza as impressões do self mais jovem, nomeia-as e as
classifica em sistemas. Como seu nome implica, ele funciona através da
consciência analítica e verbal do hemisfério esquerdo. Nele também está
contido o conjunto de normas verbalmente compreendidas que nos estimulam
a fazer julgamentos sobre o que é certo e errado, O self discursivo comunicase
através de palavras, conceitos abstratos e números.
Na tradição das fadas, um terceiro self é reconhecido: o self profundo ou self
deus, que não encontra correspondência adequada em nenhum conceito
psicológico. O self profundo é o divino dentro de nós, a essência máxima e
original, o espírito que existe além do tempo, espaço e matéria. É nosso nível
mais profundo de sabedoria e compaixão e é concebido como masculino e
feminino, dois sentidos de consciência unidos como um. Ele é, com
freqüência, simbolizado como duas espirais unidas ou como o sinal da
infinidade, oito deitado. Na tradição das fadas, é chamado de Dian Y Glas, o
Deus Azul. Azul simboliza o espírito; dizia-se que o self profundo aparecia azul
quando psiquicamente visto". Os pictos pintavam-se de azul com anil, segundo
nossas tradições, a fim de se identifícarem com o self profundo. "Dian" está
relacionado tanto a Diana quanto a Tana, o nome das fadas para a Deusa;
também a Janicot, nome basco para o Deus da Força e aos nomes de batismo
João e Joana, que Margaret Murray documenta como sendo populares em
famílias de bruxos.
No judaísmo esotérico da cabala, o self profundo é conhecido somo
Neshamah, da raiz shmh, "escutar ou ouvir": Neshamah é Aquela Que Ouve, o
espírito que nos inspira e guia. No ocultismo moderno, o self profundo
freqüentemente aparece como o guia do espírito, às vezes de maneira dual,
como no relato de John C. Lilly suas experiências com LSD em um depósito
isolado, onde declara ter encontrado dois seres prestativos: "Eles dizem que
são meus guardiões, que já haviam estado comigo antes em momentos críticos
e que, na verdade, eles estão comigo sempre, mas que normalmente eu não
me encontro em situação de percebê-los. Estou em condições para percebêlos
quando próximo à morte do corpo. Nesse estado o tempo não existe. Há
uma percepção imediata do passa, presente e futuro, como se todos fizessem
parte do momento presente.
Lilly descreve a percepção holística do hemisfério direito, as, i;ida ao self mais
jovem. A tradição das fadas ensina que o self , profundo está ligado ao self
mais jovem e não diretamente associado ao self discursivo. Felizmente, não é
necessário que estejamos quase mortos para percebermos o self profundo,
uma vez que tenhamos aprendido o truque da comunicação. Não é a mente
consciente, com os seus conceitos abstratos, que se comunica com o divino; é
a mente inconsciente, o self mais jovem que responde somente às imagens,
desenhos, sensações e percepções. Para nos çomunicarmos com o self
profundo, a Deusa/Deus Dentro de Nós, recorremos aos símbolos, à arte,
poesia, música, mito e aos atos rituais que traduzem conceitos abstratos para
uma linguagem do inconsciente.
O self mais jovem - pode ser tão teimoso e obstinado quanto a mais
impertinente das crianças aos três anos de idade - não se impressiona pelas
palavras. Incrédulo como se diz dos naturais do ,Missouri, ele quer ser
mostrado. Para despertar o seu interesse, devemos seduzi-lo com bonitas
imagens e sensações prazerosas, como ,se fôssemos levá-lo para jantar e
dançar. Somente deste modo o self mais profundo pode ser alcançado. Por
essa razão, verdades religiosas não têm sido expressadas, através dos
tempos, como fórmulas matemáticas, mas na arte, música, dança, teatro,
poesia, narrativas e rituais. Como afirma Robert Graves: "Os princípios
religiosos, em uma sociedade saudável, são mais bem executados por
tambores, luar, jejum, dança, máscaras, flores, possessão divina. " "
A Feitiçaria não possui um livro sagrado. Seu compromisso não é com o verbo
do evangelho de João, mas com o poder da ação simbólica que revela a
percepção da luz das estrelas do self mais jovem e abre livre fluxo de
comunicação entre os três selves de uma só vez. Os mitos e narrativas que
nos foram passados não são dogmas para serem compreendidos literalmente,
do mesmo modo que não devemos tomar literalmente a declaração "meu amor
é como uma rosa vermelha". Eles são poesia, não teologia, destinados a se
comunicarem com o self jovem, conforme as palavras de Joseph Campbell, Cta
tocar e estimular centros vitais que estão além do alcance dos vocabulários da
razão e coerção"."
Aspectos dos rituais de bruxaria podem, por vezes, parecer absurdos a
pessoas muito sérias, que falham em perceber que o objetivo do ritual é o self
mais jovem. O senso de humor, de divertimento, são freqüentemente a chave
para desencadear os estados mais profundos da consciência. Parte do "preço
da liberdade", portanto, 'é a disposição para se divertir, libertarmo-nos de nossa
dignidade
de adultos, parecermos tolos, de rir por nada. A criança faz de conta que ela é
uma rainha; sua cadeira transforma-se em um trono. Uma feiticeira faz de
conta que a sua vara tem poderes mágicos e ela torna-se um canal de energia.
O equilíbrio, obviamente, é necessário. Há uma diferença entre magia e
psicose e essa diferença está em manter a capacidade de recuar, pela
vontade, para a consciência comum, de voltar à percepção, como costumava
afirmar meu professor de programa de saúde no curso secundário, no auge da
era psicodélica: "Realidade é quando você pula do telhado e quebra a perna."
As drogas podem proporcionar a percepção holística do self mais jovem, mas
muitas vezes à custa do julgamento de sobrevivência do self discursivo: se
'brincamos" de voar no corpo, podemos despedaçar o fêmur. Todavia, a
percepção treinada não se desentende com a realidade comum; ela vai mais
além, através do espírito, e ganha intuições e percepções que podem ser,
posteriormente, comprovados pelo self discursivo.
O humor e as brincadeiras despertam a sensação de encanto, a atitude
essencial da Feitiçaria para perceber o mundo. Por exemplo, ontem à noite
meu coven realizou um ritual na véspera de 1º de maio, o May Eve, onde a
principal ação consistia em enrolar as fitas em um maypole e tecer nelas
aquelas coisas que desejávamos tecer em nossas vidas. Em lugar do mastro,
usamos um cordão central e, ao invés de fitas, tínhamos fios de linhas
coloridas, presas por um gancho central no teto de nossa sala de reunião.
Também tínhamos onze pessoas no círculo. Sabíamos perfeitamente bem, é
claro, que é impossível entrelaçar um maypole com um número ímpar de
pessoas, mas não queríamos deixar ninguém de fora. Portanto, com jovial
pouco caso quanto à realidade comum, seguimos em frente.
O resultado, para início de conversa, foi de caos e confusão. rodos ríamos
enquanto rodávamos, criando um emaranhado com as linhas. Lembrava
pouco uma cena de poder místico; um mágico teria empalidecido e tomado de
sua vara imediatamente. Mas algo singular passou a acontecer quando
prosseguimos. O riso transformou-se em um estranho clima, como se a
realidade comum estivesse desaparecendo. Nada existia além da interação de
fios coloridos e corpos em movimento. Os sorrisos que apareciam e
esvaneciam começaram a se parecer com os misteriosos sorrisos das arcaicas
estátuas gregas, indicando o maior e mais engraçado dos mistérios.
Começamos a cantar; nos movimentávamos ritmicamente e um padrão
desenvolveu-se na dança, nada que pudesse ser traçado ou planejado
racionalmente; era um padrão com um elemento adicional que sempre, e
inevitavelmente, desafiaria uma explicação. O emaranhado de linhas virou um
cordão complexamente entrelaçado. A canção tornou-se um cântico; a sala
irradiava e o cordão pulsava com energia como se fosse vivo, um umbigo que
nos ligava a tudo o que está dentro de nós e além. Por fim, o cântico atingiu
um pico e morreu; caímos em transe. Quando acordamos, todos juntos,
simultaneamente, nos entreolhamos maravilhados.
O mito da criação que dá início a este capítulo claramente expressa a atitude
de encanto para com o mundo, que é divino e para o divino, que é o mundo.*
No princípio, a Deusa é Tudo, virgem, significando completa em si mesma.
Apesar de ser chamada de Deusa, Ela poderia, igualmente, ser chamada de
Deus - o sexo não tendo ainda existência. Assim sendo, não há separação,
não há divisão, nada a não ser a unidade primeira. No entanto, a natureza da
maneira de ser é enfatizada, pois o processo de criação que está prestes a
ocorrer é um processo de nascimento. O universo nasceu, não-feito e não
ordenado para ser.
A Deusa vê o seu reflexo no espelho curvo do espaço, que pode ser um insight
mágico na forma do universo, o espaço curvo da física moderna. O espelho é
um atributo antigo da Deusa, de acordo com Robert Graves, em sua forma
como a "antiga deusa pagã do mar, Marian... Miriam, Mariamne, Myrrhine,
Myrtea, Myrrha, Maria ou Marina, protetoras dos poetas e amantes e mãe
orgulhosa do Arqueiro do Amor... Um disfarce comum dessa mesma Marian é o
de "donzela feliz", como "sereia", conforme o uso - uma linda mulher com um
espelho redondo, um pente de ouro e rabo de peixe - expressa 'A Deusa do
Amor surge do mar'. Cada iniciado dos mistérios eleusínios que eram de
origem pelásgia (o povo matrial, 'do mar', nativo da Grécia), era submetido a
um ritual de amor com seu representante, após tomar um banho de caldeirão...
o espelho também fazia parte do mobiliário sagrado dos mistérios e,
provavelmente, era equivalente ao 'Conhece-te a ti mesmo"'." A mesma
sereia/mãe do oceano é chamada de Yemaya na Áftica ocidental e de lemanjá
no Brasil.
A água é o espelho original; a imagem é também aquela da lua flutuando sobre
o mar escuro, mirando seu reflexo nas ondas. Um eco débil pode ser ouvido
na abertura do gênese: "A terra era informe e vazia e o espírito de Deus
flutuava sobre a água."
Há ainda um outro aspecto referente ao espelho: uma imagem de espelho é
uma imagem ao contrário, a mesma, mas oposta, a polaridade inversa. A
imagem expressa o paradoxo: todas as coisas são uma só, no entanto cada
coisa é separada, individual, única. Religiões orientais tendem a enfocar a
primeira parte do paradoxo, mantendo o ponto de vista de que, na realidade,
todas as coisas são uma só e que separação e individualidade são ilusões.
Religiões ocidentais enfatizam a individualidade e tendem a perceber o
universo como composto de coisas fixas e separadas. O ponto de vista
ocidental I em a tendência a estimular o esforço e envolvimento individual COM
o mundo; a concepção oriental encoraja o recolhimento, a contemplação e a
compaixão. A feitiçaria sustenta a verdade do paradoxo e enxerga cada ponto
de vista como sendo igualmente válido. Eles %e refletem e se complementam;
não se contradizem. O universo das coisas separadas é o reflexo do único; o
único é o reflexo da miríade de coisas separadas do mundo. Somos todos
"espirais" da mesma energia; entretanto, cada espiral é única em sua forma e
padrão.
A deusa apaixona-se por si mesma, suscitando a sua própria emanação, que
passa a ter existência própria. O amor do "self pelo self é a força criativa do
universo. O desejo é a energia primordial esta energia é erótica: a atração
entre o amador e o amado, do luneta e a estrela, do elétron pelo próton. O
amor é o laço que mantem o mundo unido.
Eros cego, todavia, torna-se amor," o amor que, na terminologia de Joseph
Campbell, é pessoal, direcionado ao indivíduo, mais do que à caridade
assexuada e universal do agape ou desejo sexual indiscriminado. O reflexo da
Deusa toma o seu próprio ser e lhe dá um nome. Amor não é somente uma
força energizante, mas uma força individualizante. Ele dissolve a separação e,
no entanto, cria individualidade. Ele é, novamente, o paradoxo primordial.
Miria, "a admirável", é obviamente Marian-Miriam-Mariamne, ie é também Mari,
a forma de lua cheia da deusa na tradição das iras. A sensação de
encantamento, de alegria e deleite no mundo i ti ral é a essência da bruxaria.
O mundo não é uma criação imperfeita, algo do qual devemos escapar,
buscando salvação ou redençao. Independentemente de como ele se
apresenta dia-a-dia, pela natureza de seu ser mais profundo, ele nos enche de
maravilhamento.
O êxtase divino torna-se a fonte da criação, e a criação é um processo
orgásmico. Êxtase encontra-se no cerne da Feitiçaria: no ritual, revertemos o
paradoxo e tornamo-nos a Deusa, dividindo a alegria primitiva e pulsante da
união. "A característica fundamental do xamanismo é o êxtase", segundo
Mircea Eliade, e apesar de ele interpretar este estado um tanto limitadamente
como sendo "o espírito abandonando o corpo", admite que, "provavelmente, a
experiência extática em seus vários aspectos, é coexistente à condição
humana, no sentido de que é parte integral daquilo que é conhecido como a
aquisição da consciência do homem em sua maneira específica de ser no
mundo. O xamanismo não é somente uma técnica de êxtase; sua teologia e
filosofia dependem, enfim, do valor espiritual que é outorgado ao êxtase."" A
Feitiçaria é uma religião xamanística e o valor espiritual depositado no êxtase é
alto. É a fonte da união, da cura, da inspiração criativa e da comunhão com o
divino - independentemente se estas são encontradas no centro do círculo de
um coven, na cama com nosso amado ou no meio da floresta, reverentes e
maravilhados diante da beleza natural do mundo.
O êxtase proporciona harmonia, a "música das esferas". Música é uma
expressão simbólica da vibração, que é uma qualidade de todos seres. Físicos
informam que os átomos e moléculas de todas as coisas, desde um gás
instável até o rochedo de Gibraltar, estão em constante movimento.
Subjacentes a este movimento existe uma ordem, uma harmonia que é
inerente a todos os seres. A matéria canta por sua própria natureza.
A canção é conduzida por ondas que se tornam esferas. As ondas são as
ondas do orgasmo, ondas leves, ondas do oceano, elétrons pulsantes, ondas
de som. As ondas formam esferas assim como gases espiralados formam
estrelas. É um insight básico da Feitiçaria de que a energia, se física, psíquica
ou emocional, movimenta-se em ondas, em cicios que em si mesmos são
espirais. (Uma maneira fácil de visualizar isso é tomar emprestado de uma
criança um brinquedo conhecido como "moia" - uma espiral de metal muito fino.
Quando esticada e vista de lado, as espirais parecem-se muito claramente com
formas onduladas.)
A Deusa enche-se de amor e dá à luz uma chuva de espíritos brilhantes, uma
chuva que desperta a consciência para o mundo assim como a umidade
provoca o verdejar na terra. A chuva é o frutificante sangue menstrual, o
sangue da lua que alimenta a vida, assim como as águas rompantes anunciam
o nascimento, o extático dando lugar à vida.
O movimento e a vibração tornam-se tão intensos que Miria é levada para
longe. À medida que ela se distancia do ponto de união, torna-se mais
polarizada, mais diferençada, mais homem. A Deusa projetou-se; seu self
projetado torna-se o outro, seu oposto, que eternamente ansia por uma
conciliação. As diferenças despertam o desejo, que luta contra a força
centrífuga da projeção. O campo de energia do cosmos torna-se polarizado;
torna-se um condutor de forças que se manifestam em direções opostas.
A concepção do todo como um campo energético polarizado por duas grandes
forças, macho e fêmea, deusa e deus, que essencialmente são aspectos do
seu oposto, é comum a quase todas as tradições da Arte. A tradição diânica,
todavia, apesar de reconhecer o Princípio masculino, delega ao mesmo muito
menos importância que ao feminino. Algumas tradições modernas, criadas
individualmente, especialmente aquelas que surgem de uma orientação política
feminista-separatista, não reconhecem, de modo algum, o masculino. Se
trabalham com a polaridade, visualizam ambas as forças como estando
contidas na mulher. Esta é uma linha de experimentação que tem muito valor
para várias mulheres, particularmente como um antídoto em relação aos
milhares de anos de concentração exclusiva da cultura ocidental no Homem.
No entanto, este nunca foi o ponto de vista central da Arte. Pessoalmente,
acredito que, a longo prazo, um modelo de universo unicamente feminino
provaria ser limitante e opressivo tanto às mulheres quanto aos homens, assim
como o modelo patriarcal tem sido. Uma das tare1 i,, da religião é a de
orientar-nos, igualmente, no relacionamento com o que é parecido conosco e
com o que é diferente do que sois. O sexo é a diferença principal; não
podemos nos realizar fingindo que diferenças não existem ou através da
negação do homem da mulher.
É importante, no entanto, separarmos o conceito de polaridade das imagens
culturalmente condicionadas que temos sobre o masculino e o feminino. As
forças masculina e feminina representam a diferença, mas, em essência, não
são diferentes: são a mesma força i ido em direções opostas mas não
contrárias. O conceito chinês il, Yin e Yang é um pouco parecido, mas em
Feitiçaria a descrição í'orças é muito diferente. Nenhuma delas é "ativa" ou
"passiva ou clara, seca ou úmida; pelo contrário, cada qual participa de todas
estas qualidades. A mulher é vista como a força que dá a vida, o poder de
manifestação, de energia fluindo no mundo para transformar-se em matéria. O
homem é visto como a força da morte, em um sentido positivo, não negativo: a
força da limitação que é o equilíbrio necessário para criação descontrolada, o
poder da dissolução, do retorno à informidade. Cada princípio contém o outro:
a vida gera a morte, alimenta-se da morte; a morte sustenta a vida, torna
possível a evolução e uma nova criação. Ambas fazem parte de um ciclo, uma
dependente da outra.
A existência é mantida pela pulsação íntervalar, a corrente alternante das duas
forças em perfeito equilíbrio. Descontrolada, a força vital é um câncer;
desenfreada, a força da morte transformasse em guerra e genocídio. Unidas,
elas fundem-se na harmonia que sustenta a vida, na órbita perfeita que pode
ser observada no ciclo de mutação das estações, no equilíbrio ecológico do
mundo natural e no desenvolvimento da vida humana do nascimento à
realização e do declínio e à morte e, então, ao renascimento.
A morte não é um fim; é um estágio do ciclo que conduz ao renascimento.
Após a morte, é dito que a alma humana descansa na "Terra do Verão", a
Terra da Juventude Eterna, onde ela é revigorada, rejuvenesce e é preparada
para renascer. O renascimento não é considerado eterna condenação,
sombrio ciclo de sofrimento, como em algumas religiões orientais. Pelo
contrário, é visto como uma grande dádiva da Deusa, que está presente no
mundo físico. A vida e o universo não se encontram separados da deidade;
eles são a divindade imanente.
A Feitiçaria não afirma, como a primeira verdade do budismo, que "a vida é
sofrimento". Ao invés, a vida é algo de maravilhoso. Afirma-se que Buda teve
este insight após defrontar-se com a velhice, a doença e a morte. Na Arte, a
velhice é uma parte natural e altamente valorizada do ciclo da vida, a época de
maior sabedoria e compreensão. A doença, é claro, causa tristeza, mas não é
algo que, inevitavelmente, tem que ser sofrido: a prática da Arte sempre esteve
ligada às artes curativas, à botânica e à obstetrícia. Tampouco a morte é
assustadora: ela é, simplesmente, a dissolução da forma física que permite ao
espírito preparar-se para uma nova vida.
Certamente, o sofrimento existe na vida - é uma parte do aprendizado. Mas,
fugir da roda do nascimento e da morte não é a melhor cura, da mesma
maneira que o haraquiri não é a solução indicada para as cólicas menstruais.
Quando o sofrimento é o resultado de
regras sociais ou da injustiça humana, a Arte estimula um trabalho ativo para
aliviá-lo. Quando o sofrimento é uma parte natural do cicio do nascimento e
decadência, é amenizado através da aceitação e da compreensão, pelo desejo
de entregar-se tanto à escuridão quanto à luz.
A Polaridade dos princípios feminino e masculino não deve ser compreendida
como padrão genérico para o indivíduo feminino e os seres humanos. Cada
um de nós Possui ambos os princípios somos o feminino e o masculino. Ser
completo significa estar em contato com as duas forças: criação e
desintegração, crescimento e licitação. A energia criada pelo antagonismo das
forças flui dentro de nós. Ela pode ser vivida individualmente em rituais ou
meditações e pode ser harmonizada para ressoar com outras pessoas. O sexo
por exemplo, é muito mais que simples ato físico; é um polarizado fluxo de
poder entre duas pessoas.
O princípio masculino é visto, inicialmente, como uma figura ise andrógina: a
criança, o Deus Azul do amor tocando flauta. i imagem é conexa à do Deus
Azul Pessoal, o self profundo, que também andrógino. Jovem bondoso, filho
amado,. ele jamais é sacrificado.
O aspecto verde é o deus da vegetação - o espírito do milho,o grão que é
colhido e então replantado; a semente que morre a colheita e eternamente
renasce toda primavera.
O Deus Galhudo mais "masculino" no sentido convencional projeções da
Deusa, é o eterno caçador e, também, o animal é caçado. É a fera sacrificada
para que a vida humana possa continuar, assim como o sacrificador, aquele
que derrama sangue. Ele é também é visto como o sol, eternamente caçando a
lua no céu. Os períodos em que o sol aumenta e diminui através das estações
manifestam o ciclo do nascimento e da morte, criação e dissolução, separação
e retorno.
Deusa e deus, feminino e masculino, lua e sol, nascimento e , te movimentamse
em suas órbitas - eternos, mas sempre cambiantes. Polaridade, a força que
mantém o universo junto, é amor, transcendente e individual. A criação não
ocorreu só uma um ponto fixo da história; ela prossegue eternamente,
acontecendo a cada momento, revelada no ciclo do ano.
A Roda do Ano"
Apaixonado, o Deus Galhudo mudando deforma e mudando de rosto, busca
sempre a Deusa. Neste mundo, a procura e a busca surgem na Roda do Ano.
Ela é a Grande Mãe que dá à luz ele como a Divina Criança do Sol, no solstício
de inverno. Na primavera, ele é semeador e semente que germina com a luz
crescente, verde como os novos brotos. Ela é a iniciadora que ensina a ele os
mistérios. Ele é o jovem touro; ela a ninfa, sedutora. No verão, quando a luz é
mais duradoura, unem-se e a força de sua paixão sustenta o mundo. Mas a
face do deus escurece à medida que o sol enfraquece, até que, finalmente,
quando o grão é colhido ele também Se sacrifica ao self a fim de que todos
possam ser nutridos. Ela é a ceifeira, o túmulo da terra ao qual todos devem
retornar. Durante as longas noites e dias que escurecem, ele dorme em seu
ventre; em seus sonhos, ele é o Senhor da Morte que rege a Terra da
Juventude, além dos portais da noite e do dia. Sua sepultura escura torna-se o
útero do renascimento, pois no meio do inverno ela dá, novamente, à luz ele. O
ciclo termina e começa outra Vez e a Roda do Ano gira, ininterruptamente.
Os rituais dos oito dias solares e santificados, o sabbath (o sétimo dia da
semana), são derivados do mito da Roda do Ano. A Deusa revela o seu tríplice
aspecto: como donzela, ela é a virgem protetora do nascimento e da iniciação;
como ninfa, ela é a tentadora sexual, amante, sereia, sedutora; como anciã, ela
é a face obscura da vida, a qual exige morte e sacrifício. O deus é filho, irmão,
amante, que se torna seu próprio pai: o sacrifício eterno sempre renascido para
uma vida nova.
Sir James Frazer, em The Golden Bough, traça muitas variações deste mito. A
maioria, como a versão exposta por Robert Graves em The White Goddess,
apresenta o deus como dividido em gêmeos rivais, que corporificam seus dois
aspectos. O Filho da Estrela, Senhor do Ano vindouro, disputa com seu irmão,
a Serpente, o amor da Deusa. No solstício de verão, lutam e a Serpente
Escura derrota a luz e o suplanta em favor da Deusa, somente para ser, ele
próprio, derrotado em meio ao inverno, quando o ano vind ouro renasce.
Essa variante, em essência, não é diferente da que apresenta os, visto que os
gêmeos da luz e da escuridão são claramente compreendidos como sendo
aspectos da mesma divindade. Mas, quando vemos o deus dividido, corremos
o risco de sofrer uma divisão (]entro de nós: identificando-nos totalmente com a
luz e determinando a escuridão como sendo um agente do mau. O Filho da
Estrela e a Serpente muito facilmente tornam-se representações de Cristo-
Satã. Em Feitiçaria, o aspecto obscuro e decadente do deus não é mau - ele é
parte vital do ciclo natural.
O ensinamento essencial do mito está ligado ao conceito de sacrifício. Para os
bruxos, assim como para as pessoas íntimas com i , natureza, todas as coisas
- plantas, animais, pedras e estrelas são viventes, são, em algum nível, seres
conscientes. Todas as coisas são divinas, sendo manifestações da Deusa. A
morte do grão na colheita ou a morte de um alce na caçada, era considerada
como sacrifício divino, realizado espontaneamente por amor. Identificação
ritualística e mítica com o deus que sacrifica enobrece a centelha da vida,
mesmo na morte, e nos prepara para, dignamente, uma nova vida, quando
chegar a hora de cada um morrer. Crescimento decadência, nascimento e
morte, ocorrem na psique humana e no ciclo da vida. Cada um deve ser bemvindo
em seu tempo e estação adequados, pois a vida é um processo de
constante mudança.
O deus escolhe sacrificar a fim de permanecer na órbita da Deusa, dentro do
ciclo do mundo natural e da união primordial e extática que cria o mundo.
Prendendo-se a qualquer ponto da roda e recusando-se a dar lugar às
mudanças, o ciclo seria interrompido; ela cairia para fora da órbita e perderia
tudo. A harmonia seria destruída; a união seria rompida. Ele não estaria se
preservando, mas negando seu verdadeiro self, sua paixão mais profunda, sua
vera natureza.
É de vital importância não confundir essa concepção de sacrifício a abnegação
masoquista que é, freqüentemente, pregada ideal por religiões patriarcais. Na
Arte, o sacrifício da nossa natureza ou individualidade jamais é exigido. Pelo
contrário, oferecemos sacrifícios à natureza. Não há, na bruxaria, conflito entre
o espiritual e o material; não é necessário abrir mão de um para obter o outro.
O espírito manifesta-se na matéria: a Deusa é vista como provendo-nos de
abundância. Entretanto, o mais abundante dos é seguido pelo inverno, assim
como o dia mais longo termina e . Somente quando cedemos lugar ao outro é
que a vida pode continuar.
Em Feitiçaria, o sacrifício não é, definitivamente, submissão a um poder
externo mantido por outra pessoa ou instituição. Como também não
significa colocarmos de lado nossa vontade e respeito próprios. Seu tom
emocional não é de autopiedade, mas e orgu lho: é o sacrifício de Mettus
Curtius que, quando comunicado pelos adivinhos de que a fenda sem fundo
que havia repentinamente sur gido no fórum era um sinal de que os deuses
exigiam o sacrifício do melhor de Roma, sem hesitar saltou para o abismo, a
cavalo, totalmente paramentado. Nem por um instante sequer duvidou de
seu valor; ele sabia o que "o melhor de Roma" deveria fazer e agiu
condignamente, baseado em um sentimento interno quanto ao que
era correto.
A Feitiçaria não exige pobreza, castidade ou obediência, mas ela também
não é uma filosofia que "busca o número um". Ela desenvolveu-se a partir de
uma sociedade de clãs entrelaçada e fé chada, onde os recursos eram divididos
e a terra utilizada em co mum. "Caridade" era um conceito desconhecido,
pois a divisão era uma parte integral da sociedade, uma expectativa básica. O
"nú mero um" existia somente no tecido social e na trama de toda à vida. A
Feitiçaria reconhece que somos todos interdependentes e até mesmo o
mais ávido membro "geração egotista" deve, por fim, ser vir à força da vida,
mesmo que apenas como fertilizante. O sacrifício do deus era representado na
sociedade humana pe lo "rei sagrado" ou sacerdote, que servia como
consorte da suprema sacerdotisa, líder religioso e, às vezes, líder guerreiro do
clã.
Desde que Frazer compilou The Golden Bough, sua obra clássica de
folclore e antropologia publicada pela primeira vez em 1900, es critores que
se dedicam às religiões "primitivas", especialmente aquelas orientadas para
uma deusa, em geral têm aceito a sua tese de que o sacrifício humano
era uma instituição regular e vital na cultura femeocentrada. Até mesmo
pensadores sensíveis e bem intencionados - incluindo Robert Graves,* que,
provavelmente, foi o maior incentivador do renascimento do interesse pela
Deusa neste século - têm perpetuado esses mitos. Joseph Campbell, autor 1
da 1 primorosa coleção The Masks of God, vai mais longe ainda ao afirmar
que "o sacrifício humano... em toda parte é característica da veneração da
Deusa".'
A tradição da Arte e evidências arqueológicas não corroboram esse aspecto
da veneração à Deusa como sendo sangrento e bárbaro. Os vários sítios
paleolíticos associados a imagens da Deus a
Laussel, Angles-sur-Anglin, Cogul, La Magdaleine, Malta, só para citar alguns -
não apresentam nenhuma evidência de sacrifício humano. No período
neolítico, Catal Hüyük é um dos primeiros e mais claramente matriarcais sítios
(cerca de 6500-5700 a.C) escavados. Os vários santuários decorados com
figuras da deusa-mãe e seu filho amante não fornecem dados que apontem
para o sacrifício humano ou animal; não há altares, fossas para sangue e
depósitos secretos para ossos. Nem tampouco os templos da Deusa em Malta
e na Sardenha, as galerias escavadas e os círculos de pedras dos construtor, ,
megalíticos ou os sítios escavados de Creta, apresentam qualquer coincidência
de que seres humanos foram, em qualquer época, ritualmente assassinados.
Onde o sacrifício humano é claramente evidente - por exemplo, nos túmulos
sagrados da cidade suméria de Ur, onde cortejos inteiros acompanhavam o rei
para a morte - ele está associado a culturas já vinculadas ao patriarcado.
Reconstituir uma cultura a partir de pedras enterradas e artefatos é,
obviamente, difícil; a reconstituição que utiliza costumes folclóricos que
sobreviveram, com a qual Frazer fez freqüentes tentativas,as,é igualmente
suscetível de erro.Se camponeses queimam efígies de milho na fogueira da
colheita, não significa, necessariamente, que em algum tempo eles queimavam
seres vivos. Para o self mais jovem um boneco de milho é um símbolo
perfeitamente eficaz do sacrifício do Deus; não é preciso uma vítima viva.
Relatos históricos de culturas femeocentradas originam-se, na maior parte das
vezes de seus inimigos e conquistadores, que muito provavelmente pintavam
quadro negativo dos costumes religiosos de seus adversários Se nosso
conhecimento do judaísmo medieval fosse limitados os relatos históricos de
sacerdotes católicos, seriamos forçados a concluir que o sangue dos cristão
fazia-se necessário para assar os matzohs rituais. Hoje reconhecemos a
calúnia ìnsita na ficção, mas críticas contra religiões femeocentradas tronaramse
profundamente integradas à religião e à mitilogia e, com freqüência, são
dificies de serem indentificadas. Acreditava-se por exemplo, que o mito grego
de Teseu e o minotauro representasse o sacrefício cretense de prisioneiros ao
seu deus-touro. Mas, afrescos descobertos no palácio de Minos revelam, pelo
contra´rio, a prática de saltar touros: sem dúvida um esporte perigoso, mas que
dificilmente poderia ser classificado como sacrifício humano, do mesmo mode
de seu descendente moderno, a tourada.
Na tradição das fadas, ensinamentos orais afirmam que, em tempos primitivos,
o rei ou sacerdote sagrado mantinha seu ofício por nove anos, após o que era
submetido a um ritual de morte simulada, abdicava e unia-se ao conselho dos
dignitários. O ritual de morte simulada pode ter dado origem a vários costumes
folclóricos envolvendo sacrifícios simbólicos. Em períodos de grande
necessidade ou desastre, um rei poderia, se se sentisse intimamente inclinado,
sacrificar-se. O voluntarismo em dar a existência pessoal a fim de servir o
povo era o verdadeiro teste de dignidade real e essa exigência reduzia a
atração pelo poder de indivíduos corruptos e egoístas. A realeza não era,
originalmente, uma oportunidade para matanças no mercado de bronze ou
colecionar escravos; era uma identificação mística e ritual com as forças
essenciais da morte e da vida.
Mulheres nunca foram sacrificadas em Feitiçaria. As mulheres vertiam o seu
próprio sangue mensalmente e arriscavam a morte a serviço da força vital a
cada gravidez e parto. Por esta razão, seus corpos eram considerados
sagrados e mantidos inviolados.
Infelizmente, jornais, filmes e televisão continuam até hoje perpetuando a
associação da Feitiçaria e a religião da Deusa com o terror e o sacrifício
humano. Cada assassino do tipo de Charles Manson é chamado de "bruxo" .
Psicopatas declaram praticar Feitiçaria com ritos degradantes e, às vezes,
conduzem pessoas ingênuas a acreditarem neles. A Feitiçaria, vista como uma
religião, pode não possuir um credo universal ou uma liturgia definida, mas em
alguns pontos há unanimidade. Nenhum bruxo verdadeiro pratica atualmente
sacrifício humano, tortura ou alguma forma de assassinato ritual. Qualquer um
que o faça não é um bruxo e, sim, um psicopata. A visão de mundo da
Feitiçaria é, sobretudo, aquela que valoriza a vida. O cosmos é um campo de
forças polarizadas no constante e rotativo processo de criação e dissolução de
pura energia. A polaridade, a qual denominamos de deusa e deus, cria o ciclo
que sustenta os movimentos das estrelas e a mudanças das estações, a
harmonia do mundo natural e a evolução em nossas vidas humanas.
Percebemos a inter-relação destas forças de duas maneiras básicas: o modo
holístico e intuitivo da "luz das estrelas" do hemisfério direito e do inconsciente,
e o modo linear, analítico e consciente do hemisfério esquerdo. A
comunicação entre o consciente e o inconsciente, entre o self discursivo e o
self mais jovem e, deste último, para o self profundo, o espírito, depende de
uma abertura em relação a ambas as maneiras de percepção.
Conceitos verbais devem ser trazidos em símbolos e imagens; imagens
inconscientes devem ser trazidas para a luz da consciência. Através de uma
comunicação aberta podemos nos harmonizar com os ciclos da natureza, com
a união , extática, original, que é a força da criação. A harmonização exige
ascrifício, disposição para mudar, abrir mão de qualquer ponto na e seguir em
frente. Mas sacrifício não é sofrimento e a vida, ç)dos seus aspectos,
iluminados e obscuros, de crescimento e decadência, é uma grande dádiva.
Em um universo onde a dança infinitamente transformadora e erótica do deus e
da deusa baila radiante és de todas as coisas, nós, que entramos em seu
ritmo, nos arrebatemos com o encanto e o mistério de ser.
A DANÇA COSMICA DAS FEITICEIRAS
CAPITULO TRES.
O COVEN
ENTRE OS MUNDOS
LUA NOVA
“Encontramo-nos esta noite em frente à loja alugada. Durante longo
tempo, simplesmente conversamos, a respeito de nossos temores e dúvidas
sobre magia e nós mesmos: que isto não é verdade, que isto é de verdade, que
isto vai parar, que é uma viagem do ego, que somos malucos, que o que
realmente queremos é o poder, que perderemos nosso senso de humor e nos
tornaremos arrogantes a esse respeito, que não seremos capazes de levar isso
a sério, que isto não dará certo, que dará certo...
A certa altura, demo-nos as mãos e começamos a respirar juntos.
Repentinamente, percebemos que um círculo havia sido organizado.
Passamos o óleo para todos, a fim de sermos ungidos e nos beijamos. Alguém
começou a cantarolar baixinho e Pat a batucar levemente um ritmo no tambor.
E estávamos todos cantando, entrelaçando vozes e melodias, como se
palavras diferentes chegassem através de cada um de nós:
Ísis... Astartéia... Ishtar...
Luz e escuridão... luz e escuridão...
Lu-uu-a, Lu-uu-a Crescente...
Derrame sua luz e brilho sobre nós...
Brilhe! Brilhe! Brilhe! Brilhe! Brilhe!
E através e por trás delas, Beth gemia com seu instrumento e ele soava
como uma canção árabe ou como o lamento de um saxofonista de jazz, mas
nós sorríamos com a graça de tudo...
Simultaneamente, ficamos todos em silêncio. Então dividimos frutas,
rimos e falamos a respeito de humor. Estávamos tentando pensar em um nome
para a assembléia e alguém sugeriu Compost (adubo, fertilizante). Era perfeito!
Da terra, orgânico e nutritivo – e desestimulante em relação à arrogância.
A partir de agora somos o coven de Compost!
O ritual funcionou. Seja o que for que a magia traga, ela não afasta a
capacidade de rirmos de nós mesmos. E os temores diminuem cada vez mais.”
Do meu Livro das Sombras (Diário onde a feiticeira anota todas as suas
atividades).
O coven é um grupo de apoio da bruxa, um grupo que desperta a
consciência, um centro de estudos psíquicos, um programa de treinamento de
sacerdotes, escola de mistérios, o substituto de um clã e uma congregação
religiosa, todos em uma só instância. Num coven forte, o liame é, por tradição,
“mais forte que o de família”: a partilha espiritual, emocional e imaginativa.
“Perfeito amor e perfeita confiança” são as metas.
A estrutura de um coven torna a organização da Feitiçaria muito
diferente da maioria das outras religiões. A Arte não está alicerçada sobre
grandes e heterogêneas massas que se conhecem somente superficialmente:
nem tampouco baseia-se em gurus individuais com seus devotos e discípulos.
Não existe uma autoridade hierárquica, nenhum Dalai Lama, nenhum papa. A
estrutura da bruxaria é celular, baseada em pequenos círculos cujos membros
compartilham profunda, mútua confiança entre si e a Arte.
A Feitiçaria tem a tendência a atrair pessoas que, por sua natureza, não
gostam de se unir a grupos. A estrutura do coven torna possível que
individualistas fanáticos experimentem profunda sensação de comunidade sem
que percam a sua independência de espírito. O segredo é o seu tamanho
reduzido. Um coven, tradicionalmente, nunca abriga mais do que treze
membros. Em um grupo tão pequeno, a presença ou ausência de uma pessoa
afeta o restante. O grupo torna-se vário pelas predileções, aversões, crenças e
gostos de cada individuo.
Ao mesmo tempo, o coven torna-se uma entidade em si mesma, com
personalidade própria. Ela gera uma forma raith1, uma espiral de energia que
existe acima e além de seus membros. Há uma qualidade sinérgica que
envolve um coven forte. É mais do que a soma das partes; é um poço de
energia onde seus membros podem saciar sua sede.
Para tornar-se membro de um coven, o bruxo deve ser iniciado, deve
submeter-se a um ritual de comprometimento, no qual os ensinamentos e
segredos internos do grupo são revelados. A iniciação é seguida de um longo
período de treinamento, durante o qual a confiança e a segurança do grupo são
paulatinamente construídas. Quando sua duração é adequada, o ritual torna-se
também um rito de passagem que´marca um novo estágio de crescimento
pessoal. A Feitiçaria desenvolve-se lentamente; jamais poderá ser uma religião
de massas, propagada pelas esquinas ou entre os vôos no aeroporto.
Feiticeiras não fazem proselitismo. Espera-se que possíveis membros
busquem os covens e demonstrem profundo nível de interesse. A força da Arte
é sentida na qualidade e não na quantidade.
Originalmente, os líderes de covens eram professores e
sacerdotisas/sacerdotes de uma grande população pagã e não iniciados. Eles
constituíam os conselhos de dignitários dentro de cada clã, as mulheres e
homens cuja sabedoria fê-los ir além da superfície dos ritos e buscar
significados mais profundos. Nos grandes festivais solares, os sabás, eles
conduziam os rituais, organizavam as reuniões e explicavam os significados
das cerimônias. Cada coven possuía seu território próprio que, por tradição,
estendia-se por uma légua. Covens vizinhos podiam juntar-se por ocasião dos
grandes sabás, a fim de dividirem conhecimentos, ervas, feitiços e, é claro,
tagarelar. Grupos de covens juntavam-se, às vezes , sob o comando de uma
feiticeira “rainha” ou grã-mestra. Em luas cheias, covens encontravam-se
sozinhos para os Esbats, quando estudavam os ensinamentos internos e
praticavam magia.
Durante a época das fogueiras, os grandes festivais foram banidos ou
cristianizados. A perseguição era mais intensamente direcionada contra
membros de covens, encarados como os verdadeiros perpetuadores da
religião. O sigilo mais absoluto tornou-se necessário. Qualquer membro de um
coven poderia trair os demais e leva-los à tortura e à morte, portanto, “perfeito
amor e perfeita confiança” eram mais que palavras vazias. Os covens foram
isolados uns dos outros, as tradições fragmentaram-se, os ensinamentos foram
esquicidos.
Presentemente, há um crescente esforço em toda a Arte para
restabelecer a comunicação entre os covens e dividir conhecimentos. Mas,
muitos bruxos ainda não podem se dar ao luxo de “saírem do armário”. O
reconhecimento público pode significar a perda de seus empregos e meios de
ganhar a vida. Feiticeiros conhecidos são alvos fáceis para malucos violentos:
um casal do sul da Califórnia teve a sua casa bombardeada após ter
participado de um programa de entrevistas na televisão. Outros são
1 “raith”, a energia elemental do corpo, também é chamada de corpo etéreo e corpo vital, pois
através dela recebemos a vitalidade, energia emocional e física.
molestados pelas autoridades por causa de práticas tradicionais como a
predição ou tornam-se bodes expiatórios de crimes locais. O preconceito,
infelizmente, é comum. Pessoas sensatas jamais identificam alguém como um
feiticeiro/feiticeira sem, de antemão, pedirem permissão de maneira reservada.
Neste livro, meus amigos e membros de covens foram genericamente tratados
por seus nomes utilizados nos covens, a fim de preservar a privacidade dos
mesmos.
Todo coven é autônomo. Cada um possui autoridade própria em
assuntos relativos a rituais, thealogia e treinamento. Grupos de covens, que
seguem os mesmos ritos, podem se considerar parte da mesma tradição. Para
garantir proteção legal a seus membros, muitos covens associam-se e se
incorporam como igreja, mas os direitos de covens autônomos são sempre
zelosamente resguardados.
Covens geralmente desenvolvem enfoque e orientação específicos.
Existem covens que se concentram na cura e nos ensinamentos; outros podem
ter inclinações para o trabalho psíquico, estados de transe, ação social ou
criatividade e inspiração. Alguns parecem dedicar-se, simplesmente, a darem
boas festas; afinal, “todos os atos de amor e prazer” são rituais da deusa. Os
covens podem ser compostos de homens e mulheres ou se limitarem,
somente, às mulheres. (Existem poucas assembléias só de homens, por
motivos que serão discutidos no capitulo 6.)
Um coven é um grupo de pessoas consideradas como iguais, mas não é
um “grupo acéfalo”. A autoridade e o poder, no entanto, estão baseados em
princípios muito diferente daqueles predominantes no mundo em geral. O
poder, em um coven, nunca é o poder sobre o outro. É o poder que vem de
dentro.
Em Feitiçaria, poder é outra palavra para energia, a corrente de forças
que molda a realidade. Uma pessoa poderosa é aquela que atrai energia para
o grupo. A capacidade para canalizar poder depende da integridade, coragem
e individualidade pessoais. Ele não pode ser presumido, herdado, nomeado ou
tido como certo. O poder interior advém da capacidade de autocontrole, de
encarar medos e limitações, de manter compromissos e de ser honesto. As
fontes de poder interior são ilimitadas. O poder de uma pessoa não diminui o
poder de outra; pelo contrário, à medida que um membro do coven entra em
contato com seu próprio poder, o poder do grupo torna-se mais forte.
Em termos ideais, um coven serve como campo de treinamento onde
cada membro desenvolve o seu poder pessoal. O apoio e a segurança do
grupo reforçam a confiança de cada membro em si mesmo. O treinamento
psíquico desperta novas percepções e capacidades, e a realimentação do
grupo torna-se o espelho sempiterno no qual nos “vemos como os outros nos
vêem”. O objetivo de um coven não é o de abolir os líderes, mas treinar cada
bruxo para ser um líder, uma sacerdotisa ou um sacerdote.
A questão da liderança tem incomodado o movimento feminista e a nova
esquerda. O cenário político americano está, infelizmente, carente de modelos
de poder interior. O poder sobre os outros é corretamente percebido como
sendo opressivo, mas, com muita freqüência, o “ideal coletivo” é utilizado de
maneira errônea, para destruir os fortes em lugar de inserir força nos fracos.
Mulheres poderosas são combatidas ao invés de serem apoiadas: “Serei uma
traidora? Eles deviam me matar. Tornaram-me uma líder. Não devíamos ter
líderes. Serei julgada por algum papel oculto, minha reputação assassinada
secretamente.”
O conceito de poder interior estimula o orgulho saudável, não o
anonimato recatado; a alegria em relação à nossa força, não vergonha e culpa.
Em bruxaria, autoridade significa responsabilidade. O líder do coven deve
possuir sensibilidade e poder interior para canalizar a energia do grupo, para
dar início e interromper cada fase do ritual, ajustando a duração de acordo com
o ânimo do círculo. Um ritual, assim como uma produção teatral, precisa de um
diretor.
Na prática, a liderança é passada de um líder para outro em um grupo
totalmente amadurecido. O bastão representando a autoridade do líder pode
ser passado para cada membro da assembléia. Diferentes partes do ritual
podem ser conduzidas por diferentes pessoas.
Por exemplo, nosso último ritual do Equinócio de Outono foi inspirado
por Alan, que é um aprendiz, mas não ainda um iniciado no Coven Compost.
Alan está muito envolvido com o movimento de liberação masculino e desejava
um ritual centrado na mudança do condicionamento do papel sexual que cada
um recebera. Oito de nós, de Compost e Honeysuckle, meu coven de
mulheres, e do grupo de homens de Alan, planejamos o ritual. A seguir está o
meu relato.
“ Equinócio de Outono, 1978.
Uma noite quente. Dezessete de nós encontramo-nos na casa de
Guidot, nove mulheres e oito homens. Depois de conversarmos um pouco,
subimos para o aposento do ritual.
Alan, auxiliado por Guidot e Paul, organizou o círculo, utilizando belas
invocações, que acredito terem sido improvisadas na hora. Três ou quatro de
nós haviam explicado o ritual para o restante das pessoas e elas estavam
prontas. Conduzi a invocação para a Deusa, usando o cântico Kore. Comecei
falando e quando passei a cantá-lo foi como se algo tivesse vindo por trás e me
transportasse para fora de mim. Minha voz alterou-se fisicamente, tornou-se
uma vibração baixa e profunda, injetando poder no círculo; então, quando
todas as pessoas assimilaram o cântico, que perpassava por todos nós, a
melancólica lamentação pelo fim do verão, triste mas bela...
Mudança é... toque é...
Toque-nos... mude-nos...
Alan, Paul e Guidot invocaram o deus, Alan chamando-o de Bondoso
Irmão, combatente da violação. Ele escreveu uma vigorosa invocação (incluída
no capitulo 6).
Começamos uma dança da expulsão, girando pelo círculo em
movimentos contrários ao sol. Enquanto nos movimentávamos, cada pessoa
lançava uma frase – o grupo a captava e a repetia, cantando-a ritmicamente,
elevando-a, gritando-a, depois deixando que se dissipasse até que o seu poder
em controlar-nos com ela esmaecesse. Alan foi o primeiro:
- Você deve ser bem-sucedido!
- Você deve ser bem-sucedido! Você deve ser bem sucedido! Deve
ser! Deve ser! Deve ser! Deve!
- Meninas bonitas não fazem aquilo! Meninas bonitas não fazem
aquilo! Meninos não choram! Você não é uma mulher de verdade!
Maricas! Maricas! Maricas!
Dezesseis uivos ressonantes absorviam cada brado, vozes exaltadas de
escárnio que se transformaram, sob a luz fraca, nas atormentadas Fúrias de
nossas mentes, mordazes, gozadoras, gritantes – que então desapareceram
como fumaça no ar. Por fim, estávamos batendo os pés e gritando – dezessete
adultos completamente nus, pulando para cima e para baixo, urrando:
“Não!Não!Não!Não!Não!”
O SELF mais jovem havia sido despertado, sem dúvida, em sua glória
plena e original.
Val penetrara em si mesma, em seu poder como a anciã. Ela
desempenhou o mistério (que é secreto), auxiliada, acredito, por Alan e Paul.
Não posso afirmar, pois nada vi. Laurel, Brook e eu conduzimos o transe, uma
indução suave, sussurrada a três vozes:
Seus dedos estão se dissolvendo em...
Sonhe profundamente, e durma o sono mágico...
Dissolvendo-se em água, e seus dedos do pé são...
Valerie nos animou. Formamos dois grupos, para os mistérios
masculinos e femininos. Os homens demoraram algum tempo – acho que se
envolveram em uma discussão histórica sobre os ritos de Dionísio. Quando
terminaram, um por um voltamos ao círculo, sentando alternadamente homens
e mulheres. Seguimos o círculo, dizendo como cada um de nós havia se
tornado forte.
“Fortaleci-me através do enfrentamento dos meus medos.”
“Fortaleci-me através de meus amigos.”
“Fortaleci-me através dos meus erros.”
“Fortaleci-me através da assunção de posições.”
“Fortaleci-me através de sonhos.”
Então cantamos, elevando o poder para efetivar as visões que havíamos
tido no transe de nós mesmos, livres e verdadeiros. O cântico continuou – era
fisicamente tão aprazível – sentindo o fluxo de poder, a ressonância baixa das
vozes masculinas, as notas altas das mulheres – ele nos envolvia como uma
grande e aconchegante onda.
A seguir, Alan e eu abençoamos o vinho e os alimentos. Enquanto a
taça passava pelo círculo, cada um depunha sobre o que se sentia grato. A
taça passou várias vezes. Então relaxamos, comemos, rimos, conversamos
como sempre. Alan encerrou o ritual e abriu o círculo.
Depois, fiquei surpresa sobre como tudo havia transcorrido calmamente,
cada um desempenhando papéis diferentes. É uma boa sensação poder recuar
e permitir que outras pessoas assumam o centro e vê-las desenvolvendo seu
poder.”
Atualmente, tanto Compost quanto o coven de mulheres, conhecido
como Honeysuckle, são covens de dignatários. Cada iniciado é capaz de
conduzir rituais, direcionando a energia e treinando os novatos. O processo de
desenvolvimento em cada grupo, todavia, era muito diferente.
Compost era típico, tal como vários covens novos e auto-iniciatórios que
estão surgindo hoje, sem a vantagem do treinamento formal da Arte. Eu havia
sido ensinada por bruxas, há muitos anos, quando estudava na universidade,
mas nunca realmente havia me iniciado. Grande parte do meu conhecimento é
produto de figuras de sonhos e experiências de transe. Fui incapaz de
encontrar um coven que sentisse ser compatível comigo e, durante muitos
anos, trabalhei sozinha. Finalmente, decidi tentar iniciar meu próprio coven,
independentemente de estar “autorizada” a faze-lo. Comecei dando aulas de
Feitiçaria no Centro de Educação Alternativa de Bay Área.
Em poucas semanas, um grupo de indivíduos interessados começou a
encontrar-se semanalmente. Nossos rituais eram coletivos e espontâneos,
como o descrito na abertura deste capitulo. Éramos resistentes quanto a
formas e palavras determinadas.
Decorridos alguns meses, um grupo dotado de núcleo forte havia se
desenvolvido e, então, realizamos uma iniciação formal. Nossos rituais haviam
adquirido um padrão regular e decidimos fixar a base dos ritos, a fim de que
tivéssemos uma estrutura coletiva, na qual todos pudéssemos ser espontâneos
e abertos. Anteriormente, o líder – geralmente eu – decidia o que iria acontecer
a qualquer momento e todos seguiam a sua determinação.
Conhecemos muitas feiticeiras de outros covens e iniciei meus estudos
com uma professora da tradição das fadas. Comecei a ter contato com meu
próprio poder. Como grupo, também percebíamos que as energias que
estávamos suscitando eram reais, não meramente simbólicas. O grupo sentiu
necessidade de um líder reconhecido; ao mesmo tempo, senti a necessidade
de ter o meu recém-descoberto poder reconhecido. O coven confirmou-me
como sacerdotisa.
Como a maioria das pessoas, cuja sensação de poder interior está se
desenvolvendo rapidamente, eu, ocasionalmente, agia de maneira extremada.
De não-lider coletivista tornava-me, às vezes, sacerdotisa um tanto
desajeitada. Existem dias em que os registros de rituais são bem diferentes dos
que foram apresentados neste capítulo: “Organizei o círculo... Invoquei a
Deusa... conduzi o cântico... direcionei o cone de poder...”. Felizmente, os
membros do meu coven eram tolerantes o suficiente, permitindo que eu
cometesse erros, e honestos o bastante para dizer que não gostavam do que
eu estava fazendo. Começamos a dividir responsabilidades: um membro trazia
sal e água e purificava o círculo, outro trazia incenso e carregava o espaço de
energia. Os homens invocavam o Deus Galhudo e dividíamos as tarefas de
invocar a Deusa e direcionar o cone de poder. Tornei-me mais relaxada no
papel de líder.
À medida que outros membros da assembléia desenvolviam as suas
próprias forças, decidimos “passar o bastão”. Diane, uma pessoa incrivelmente
terna, que irradia uma sensação de carinho, foi nossa escolha unânime. Ela
sempre gostara mais de nossos rituais simples e espontâneos, e sob a sua
liderança abrimos mão de parte significativa da estrutura e começamos a
experimentar. “Esta noite não sinto vontade de dispor o círculo formalmente”,
ela poderia dizer, “vamos simplesmente bater levemente nas quatro paredes e
cantar. Por que não cantamos os nomes de cada um?” E então cantávamos, às
vezes durante horas, num processo que redundou em um dos mais simples e
mais belos rituais que atualmente utilizamos.
Diane partiu no verão e passamos o bastão para Amber, o membro mais
jovem de nosso coven. Diane aquecera o círculo com um brilho forte; Amber
acendeu-o com foguetes, fogos de artifício e chamas coloridas. Talentosa,
encantadora, amável e inconstante, ela é excelente musicista, com voz de
cantora lírica e inclinação para o teatro. Ela inspirou-nos na criação de rituais
mais teatrais, como muitos daqueles apresentados no capitulo 12. Amber,
entretanto, tinha dificuldades em funcionar no alto nível de responsabilidade
que a liderança de um coven exige. Ela estava atravessando um período tenso
em sua vida pessoal e, apesar de geralmente cumprir seus compromissos, isso
gerava nela muita ansiedade e estresse. Retrospectivamente, prestamo-lhe um
desserviço não lhe permitindo período maior de treinamento.
Honeysuckle passou por diferente processo de formação. Ela começou
como uma aula na Grande Deusa, numa época que eu já havia sido
sacerdotisa de Compost durante vários meses e era uma iniciada na tradição
das fadas. Vinha de uma posição mais forte como líder e levou muito tempo até
que alguém questionasse a minha autoridade. Eu estava determinada quanto a
não apressar o treinamento desse grupo e quase um ano havia se passado
quando mencionei a palavra iniciação. Quando cada mulher, por sua vez,
sentia-se pronta para arcar com mais responsabilidades, fosse capaz de
questionar a minha autoridade e mostrava-se disposta a abandonar o papel de
estudante, ela estava iniciada. Um novo ritual era criado para cada membro e
cada rito cristalizava um período de crescimento.
Encontrar um coven para dele fazer parte pode ser difícil. Feiticeiras não
são encontradas no catálogo telefônico e, raramente, fazem uso de anúncios
classificados. Com freqüência, no entanto, ministram aulas em universidades
abertas ou em livrarias metafísicas. Algumas universidades estão começando a
oferecer cursos de bruxaria em seus departamentos de estudos religiosos.
Lojas de ocultismo algumas vezes fornecem indicações. O melhor caminho, é
claro, é através de contatos pessoais. Bruxos sentem que, quando uma pessoa
está interiormente preparada para fazer parte da Arte, ela será conduzida às
pessoas certas.
Várias pessoas afirmam, infelizmente, serem bruxas e não passam de
tipos repugnantes. Quando você encontrar-se com alguém que se intitula
feiticeira, preste muita atenção aos seus sentimentos íntimos e percepções. Os
rituais de vários covens são secretos, mas você deve ser esclarecido e ver o
suficiente para que possa formar um quadro razoavelmente claro sobre eles.
Um verdadeiro coven jamais lhe pedirá que faça algo que você acredite ser
errado. Qualquer forma de força, coerção ou pressão como tática de
abordagem é contrária ao espírito da Feitiçaria. Bruxas de verdade permitirão
que você tome a iniciativa de encontra-las.
A bruxaria não trabalha por dinheiro. Não há taxas para iniciação e é
considerada transgressão ética cobrar dinheiro para treinamento em covens.
Obviamente, é permitido aos bruxos que são professores, ou que trabalham
como conselheiros psíquicos, cobrar honorário justo, por seu tempo e trabalho.
No entanto, não lhe venderão velas “abençoadas” por elevadas quantias de
dinheiro ou pedirão que lhes entregue as suas economias a fim de retirar uma
praga: estes são os truques favoritos de trapaceiros que fazem vitimas entre o
público ingênuo. Um coven pode cobrar taxas para cobrir gastos com velas,
incenso e outras despesas, mas a sacerdotisa não estará dirigindo um
Mercedes adquirido por meio das contribuições de seus fiéis seguidores.
Em um coven forte, membros sentem-se próximos a outros e, em
momentos de dificuldade, naturalmente procuram ajuda entre si. Em geral
encontram-se socialmente, fora das reuniões do grupo, e desfrutam-se
mutuamente a companhia. Mas também têm amigos diferentes e interesses
vários, fora do grupo, e não passam todo o tempo juntos. Um coven não deve
ser um refúgio do mundo, mas uma estrutura de apoio que ajuda cada membro
a funcionar melhor e mais plenamente no mundo.
Atualmente, há muito mais pessoas querendo aderir a covens do que
grupos capazes de acolher os recém-chegados. Se você não consegue
encontrar um coven adequado, pode praticar a Arte sozinho ou dar inicio ao
seu próprio coven.
Trabalhar sozinho não é o ideal. Despertar a visão de luz da estrelas é
muito mais difícil sem o apoio de um grupo. Aqueles que viajam pelos
caminhos inexplorados da mente correm maior risco de ficarem presos à
subjetividade. Além disso, trabalhar com outras pessoas é muito mais divertido.
Mas, como afirma uma bruxa que praticou a Arte sozinha por muitos
anos:”Trabalhar sozinho tem seus pontos positivos, assim como negativos. Seu
treinamento é um tanto errático, mas de qualquer maneira, é assim também em
várias assembléias. A vantagem está em que se aprende a depender de si
mesmo e se conhece as suas limitações. Quando se entra para um coven, já
se sabe o que se quer e o que é melhor para você.”
A meditação solitária e a prática da visualização fazem parte do
treinamento de todas as bruxas. A maioria dos exercícios deste livro podem ser
feitos sozinhos e até os rituais podem ser adaptados. O culto solitário é muito
mais preferível do que associar-se ao grupo errado.
Não é necessário que você seja um feiticeiro hereditário ou iniciado para
dar início ao seu próprio coven. O treinamento, naturalmente, ajuda. Mas a
escola da tentativa e erro é também muito boa.
Quando um grupo de pessoas interessadas, mas sem experiência, se
forma, a primeira tarefa é estabelecer uma sensação de segurança. A
receptividade e a confiança desenvolvem-se paulatinamente, através do
compartilhar emoções de maneira verbal e não-verbal. As pessoas precisam de
tempo para conversar, bem como para trabalhar a magia. Freqüentemente,
começo grupos com jantares simples, a fim de que as pessoas possam dividir
uma forma muito palpável de energia: a comida. Técnicas de despertar a
consciência também podem ser muito eficazes. Podemos deixar a palavra livre
e permitir que cada pessoa diga por que buscou o grupo e o que dele espera.
Todos podem falar durante limitado período de tempo, sem serem
interrompidos, a fim de que os indivíduos mais tímidos sintam-se estimulados a
falar e os mais loquazes não dominem a conversa. Perguntas e comentários
são feitos depois que cada um tenha falado.
O compartilhar não-verbal de sentimentos também é importante para
criar confiança no grupo. Os exercícios que se seguem ensinam a percepção e
a divisão de energia, que é a base dos rituais da Arte. Eles podem ser
realizados separadamente ou fluírem através de uma seqüência tranqüila. Fiz
anotações sobre o que digo quando conduzo um grupo ao logo do exercício.
Ao orientar um grupo, as palavras em si são menos importantes do que o ritmo
da voz e a duração das pausas. A única maneira de aprender isso é através da
prática. Leia os exercícios, familiarize-se com eles e então improvise com seus
próprios padrões naturais de fala.
EXERCÍCIO 3: SENTINDO A ENERGIA DO GRUPO
“ A energia a que nos referimos em Feitiçaria é real, uma força sutil que
todos podemos aprender a perceber. Neste momento, enquanto nos
encontramos sentados no círculo, sinta o nível de energia do grupo. Sente-se
alerta? Consciente? Excitado? Tranqüilo ou ansioso? Tenso ou relaxado?
(Pausa)
“ A energia sobe e desce por sua espinha dorsal. Agora, sente-se da
maneira mais ereta possível sem tensões. Ótimo. Observe como o nível de
energia mudou. Sente-se mais alerta? Mais consciente? (Pausa)
“ Sua respiração transporta energia para dentro e para fora do seu
corpo. Ela desperta os centros de poder do seu corpo. Portanto, respire até o
fim. Respire com o seu diafragma... sua barriga... seu útero. Seu estômago
deve contrair-se e descontrair-se à medida que você respira ... afrouxe suas
calças se for necessário. Encha sua barriga de ar. Sinta-se relaxando,
recarregando. Agora, observe como a energia do grupo mudou. (Pausa)
“Agora, vamos nos dar as mãos,unindo-nos ao redor do círculo.
Continue respirando profundamente, Sinta a energia movimentar-se pelo
círculo.Pode parecer como tênue formigar ou ligeiro calor ou, até mesmo,
sensação de frio. Todos podemos percebe-la de maneira diferente. Alguns de
nós poderemos vê-la, dançando como centelhas no centro do círculo. (Pausa
longa)
(Para terminar aqui: “Agora, respire fundo e sorva todo o poder, como se
o estivesse sorvendo cum um canudinho. Sinta a respiração descer pela
espinha e fluir para a terra. Relaxe.”
(Ou passe para o próximo exercício.)
EXERCÍCIO 4: RESPIRAÇÃO EM GRUPO
(Para começar aqui, diga: “ Vamos nos dar as mãos ao redor do círculo
e nos sentarmos (ou ficarmos de pé) de maneira ereta.
“E agora, fechando os olhos, vamos respirar juntos – respirando
profundamente pela barriga, útero. Aspire... (lentamente),
expire...aspire...expire...aspire...expire...sinta-se relaxar enquanto respira. Sinta
como você está se tornando mais forte...a cada respirar...mais revigorado...a
cada respirar... sinta suas preocupações se dissipando... a cada
respiração...mais revitalizado...enquanto respiramos
juntos...aspire...expire...aspire...expire...
“ E sinta nossa respiração à medida que elas se encontram no entro do
círculo... que respiramos como uma só pessoa...uma só
respiração...aspire...expire...respirando um círculo...respirando um único
organismo vivo...em cada respiração...transformando-se em um só círculo...em
cada respiração...tornando-se um...” (pausa longa).
( Termine como no exercício 3 ou prossiga.)
EXERCÍCIO 5: ÁRVORE DA VIDA
( Esta é uma das meditações mais importantes, que é praticada
individualmente, assim como em grupo. Na prática solitária, comece sentando
ou ficando de pé de maneira ereta, e respirando profunda e ritmicamente.)
“Enquanto respiramos, lembre-se de sentar de maneira ereta e à medida
que sua coluna fica reta, sinta a energia surgindo...(pausa).
“Agora, imagine que sua espinha é o tronco de uma árvore...e de sua
base raízes estiram-se profundamente para dentro da terra...para o centro da
própria terra...(pausa).
“ E você pode retirar poder da terra a cada respiração... sinta a energia
desabrochando...como a seiva que surge no tronco da árvore...
“E sinta o poder subindo por sua espinha...sinta como você está se
tornando mais vivo...a cada respiração...
“E no alto de sua cabeça existem galhos que se movimentam para cima
e de novo para baixo para tocar a terra... e sinta o poder irrompendo do topo da
sua cabeça... e sinta-o movimentando-se através dos galhos até que
novamente toque a terra... fazendo um círculo... formando um círculo...
retornando as suas origens...
(Em um grupo: ) “ E respirem profundamente, sintam como todos os
nossos falhos se entrelaçam... e o pode se faz sentir através deles... e dança
entre eles, como o vento... sinta-o se movendo...” (pausa longa).
(Termine como no exercício 3 ou prossiga.)
EXERCÍCIO 6: CÂNTICO DE PODER
(Este deve sempre começar com a respiração em grupo, exercício 4.)
“Agora, deixe que a sua respiração se transforme em um som... qualquer
som que você queira...um lamento...um suspirro...uma risada...um zunido
baixo...um gemido...uma melodia...conte os sons das vogais...”
( Aguarde. Num grupo novo, pode haver silêncio durante certo tempo.
Lentamente, alguém começará a suspirar ou a catarolar muito baixinho. Aos
poucos, outros se unirão ao grupo. O cântico pode crescer num forte cantarolar
ou numa onda crescente de notas guturais abertas. As pessoas podem
começar a rir, a laltir ou a uivar como animais, se se sentirem inclinadas a fazêlo.
O cântico pode alcançar subitamente seu auge e, então, cair em silêncio ou,
ainda, poderá subir e descer em várias correntes de poder. Permita que ele se
direcione.
Quando todos estiverem em silêncio, conceda um período de
relaxamento. Antes que o grupo tenha tempo de ficar irriquieto, ligue à terra o
poder, como no exercício 7.)
EXERCÍCIO 7: ENCERRANDO O PODER
(Também chamado de concentrando o poder. Encerrar o poder é uma
das técnicas básicas da magia. O poder deve ser encerrado toda vez que for
despertado. Caso contrário, a força que sentimos como sendo uma energia
vitalizante degenera-se em tensão nervosa e irritabilidade. Nos exercícios
anteriores, concentramos a energia sorvendo-a e deixando que flua através de

nós para dentro da terra. Esta técnica, com frequência, é útil quando estamos
trabalhando sozinhos.
“Agora, deite-se no chão e relaxe. Coloque as palmas de suas mãos no
chão ou estire-se por inteiro. Deixe que o poder entre na terra através de você.”
(Mesmo se o encontro for em uma cobertura a quinze andares do solo,
visualize a energia fluindo para a terra em si.) “Relaxe e deixe que a força flua
atraves de você... deixe que ela flua profundamente em direção à terra... onde
ela será purificada e renovada. Relaxe e permita-se vagar tranquilamente.”
Esses cinco exercícios contêm a essência de um ritual da Arte. O círculo
é disposto quando se dão as mãos; o poder é despertado, dividido e encerrado.
Geralmente, a divisão de alimentos e bebidas vem em seguida; o trabalho de
magia estimula a fome! Enquanto a taça circula pelas pessoas, brindes são
feitos e elas agradecem à deusa as coisas boas que receberam. Esta parte da
reunião é descontraída e informal, uma boa hora para partilhar impressões e
discutir o ocorrido. Neste momento, as pessoas podem sair do círculo, mas a
reunião deve ser formalmente finalizada antes que qualquer um vá para casa.
As reuniões que se dissipam ao fim deixam as pessoas sem a sensação de
fechamento e conclusão. Se a magia foi trabalhada, a energia absorvida tende
a transformar-se em ansiedade e irritação em lugar de paz e vitalidade. Uma
reunião pode ser encerrada de maneira bastante simples, onde as pessoas se
dão as mãos e juntas dizem:
O círculo está aberto, mas não rompido,
Que a paz da Deusa esteja em seus corações;
Feliz encontro e feliz partida.
E feliz reunião novamente. Abençoados sejam.
Então, um beijo é passado ao redor do círculo (em sentido horário).
Dividir poemas, canções, histórias, quadros e trabalho criativo no círculo
também ajuda a construir uma sensação de proximidade. Em Honeysuckle,
quando recebemos membros de um grupo novo, dedicamos uma noite para
partilharmos nossas histórias de vida no círculo. Também corremos juntos
regularmente e já viajamos em grupo. Ocasionalmente, Compost faz
“excursões”, por exemplo, ao desfile do festival chinês da lua. Dedicamos uma
reunião para assistirmos O Mágico de Oz na televisão e para sairmos
saltitando pela rua cantando “Follow the Yellow Brick Road.”
À medida que o grupo torna-se mais unido, alguns conflitos
interpessoais, inevitavelmente, surgem. A própria coesão do grupo, em si, fará
com que alguns membros sintam-se deixados de fora. Cada pessoa é parte do
todo, mas, também, um indivíduo parcialmente separado do resto. Algumas
pessoas tendem a perceber o grupo como uma entidade sólida que acolhe a
todos, enquanto somente elas são, em parte, esquecidas. A atração sexual
ocorre, freqüentemente, entre membros do coven e, enquanto o primeiro
momento de felicidade no amor trará poder para o grupo, a discórdia entre um
casal provocará desintegração. Se os dois rompem e sentem que não são mais
capazes de trabalhar no mesmo grupo, juntos, um verdadeiro problema se
instala. A líder de um coven que seja forte e carismática, com freqüência, tornase
o alvo das projeções de outros membros. Ela poderá ser vista como a mãeterra
que tudo dá, a eternamente desejável mas inatingível mulher ou a
profetisa que tudo sabe. É sempre uma tentação para ela acreditar nessas
lisonjeiras imagens e alimentar-se psiquicamente da força energética nelas
contidas, mas, se assim o fizer, interromperá seu próprio crescimento como
verdadeiro ser humano. Mais cedo ou mais tarde, ela se atrapalhará e a
imagem será destruída; os resultados poderão ser explosivos.
Uma certa quantidade de tempo e energia do grupo reservados para a
resolução de conflitos interpessoais é necessária e desejável, como parte do
processo de crescimento que ocorre em um coven saudável. Mas, é muito fácil
para um grupo degenerar numa espécie de sessão de encontro amador ou de
gritos. Uma assembléia não pode funcionar como grupo terapêutico. Problemas
entre membros podem, às vezes, ser resolvidos com maior eficácia pela magia
do que por discussões intermináveis. Por exemplo, em lugar de tranqüilizar um
membro inseguro do coven coloque-o no centro do círculo e cante seu nome.
Se dois membros não conseguem trabalhar juntos, mas nenhum quer deixar o
grupo, o restante dos membros talvez tenha que se fiar em tirar a sorte,
passando a decisão para a Deusa. E, se uma sacerdotisa parece correr o risco
de ser seduzida por sua própria campanha de relações públicas, os membros
menos desavisados do grupo devem delicadamente adverti-la. A crítica objetiva
e construtiva é um dos grandes benefícios da estrutura de um coven.
Um coven passa a ser um espaço seguro no qual os membros sentemse
livres para liberar as suas inibições: rir, dançar, ser tolo, sair cantando,
declamar uma poesia espontânea, fazer trocadilhos sem graça e permitir que o
self mais jovem desperte e saia para brincar. Somente, então, é que estados
mais elevados de consciência podem ser alcançados. Muitas técnicas foram
desenvolvidas para eliminar o “censor” do self discursivo e para deixar que a
voz interior se expresse livremente.
A nudez é uma dessas técnicas. Quando tiramos nossas roupas,
despimo-nos de nossas máscaras sociais, de nossas auto-imagens bemcuidadas.
Tornamo-nos abertos. O significado místico do corpo humano nu é a
“verdade”. Diferentes pessoas necessitam de diferentes níveis de espaço
íntimo; enquanto algumas brincam alegremente em praias de nudismo, outras
não se sentem confortáveis nuas até que a confiança seja trabalhada durante
um longo período de tempo. Em nossos covens, rituais públicos são sempre
realizados com todas as pessoas vestidas. Se pessoas convidadas para
cerimônias reservadas, onde todos ficarão nus, sentirem-se desconfortáveis se
despindo, estão livre para usarem o que melhor lhes satisfizer. Não se pode
forçar a vulnerabilidade em qualquer pessoa, exceto destrutivamente.
A seguir, um dos exercícios que utilizamos para começar a soltar a voz
interior e a trabalhar os bloqueios que impedem a expressão:
EXERCÍCIO 8: TRANSE DE ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS
(Todos devem se deitar e se posicionar de maneira confortável. Apague
as luzes. Comece com a respiração em grupo, exercício 4. Quando todos
estiverem relaxados, prossiga:)
“Agora, vamos passar pelo círculo, em sentido horário. Começarei
dizendo uma palavra e a próxima pessoa dirá a primeira palavra que lhe vier à
mente. Então a próxima pessoa responderá à sua palavra, e assim por diante,
girando pelo círculo. Não pense sobre a palavra, somente relaxe, respire
profundamente e deixe que ela brote.”
(Início. A seqüência pode ser como esta: )
“Verde/Ervilha/Sopa/Quente/Frio/Gelo/Neve/Branco/Preto/Pássaro/Céu/
Estrelado/Noite/Escuro.”
(Após algumas rodadas: )
“Agora, cada um de nós irá repetir a palavra da última pessoa antes de
dizermos a nossa.”
(A seqüência pode ser como esta: )
“Escura Caverna/Caverna Sepultura/Sepultura Profunda/Profundo
Mar/Mar Onda/Onda Bandeira/Bandeira Estrela/Estrela Luz/Luz Raio/Raio Sol.”
(Após algumas rodadas: )
“Agora, cada um de nós irá repetir as duas últimas palavras antes de
dizermos a nossa.”
(A seqüência pode ser como esta: )
“Raio Brilho Sol/Dia Brilho Sol/Brilho Dia Sempre/Dia Sempre
Noite/Sempre Noite Céu/Estrela Noite Céu/Céu Estrela Luz.”
( Esta é uma invocação que usamos, criada por um grupo durante esse
exercício. À medida que o transe prossegue, as palavras transformam-se em
entidades próprias. As combinações formam cenas em constante mudança,
que surgem em lampejos vigorosos diante do olho interior. Gradualmente, o
círculo se desmancha e as pessoas descrevem, simplesmente, aquilo que
viram: )
“Vi um céu escuro, pontilhado com milhões de estrelas...uma delas cruza
o céu...”
“Vi um cometa brilhante com uma cauda dourada atrás dele...”
“Vi uma cauda de pavão com olhos iridescentes...”
“Vi um olho me fitando...”
“Vi um rosto, o rosto escuro de uma linda mulher...”
( As descrições podem ser elaboradas ou simples. Alguns podem ter
visões surpreendentes, outros ouvem sons ou vozes ou sentem novas
sensações. Algumas pessoas até dormem. Passado um tempo, o grupo ficará
em silêncio, cada membro imerso em sua própria visão. Conceda tempo
suficiente para que todos experimentem plenamente seu universo interior e
então diga : )
“Agora, respire profundamente e despeça-se de suas visões. Em breve,
vamos abrir nossos olhos e despertar, total e completamente, sentindo-nos
revigorados e renovados. Quando eu contar até três, abriremos nossos olhos e
acordaremos. Agora respire fundo...aspire...expire...um...dois...três...Abra seus
olhos e desperte, revigorado e renovado.”
É extremamente importante trazer todos de volta para a consciência
normal. Acenda as luzes e mude o clima completamente. Partilhe alimentos e
bebidas (mas não álcool); vá até as pessoas e converse com elas. Caso
contrário, os participantes podem permanecer ligeiramente em transe, um
estado que se torna extenuante e deprimente.
Esse exercício é especialmente indicado para permitir que a imaginação
criativa se manifeste e pode ser utilizado em arte ou aulas de redação, como
também em covens.
Um ritual é, em parte, uma questão de representação teatral. Algumas
pessoas apreciam muito esse aspecto da Feitiçaria;outras tornam-se tímidas e
rígidas diante de um grupo. Os membros mais retraídos, todavia, podem
canalizar o poder de outras maneiras. Brook, por exemplo, raramente deseja
organizar o círculo ou invocar a Deusa, mas, quando canta, sua voz que
normalmente é agradável porém não extraordinária transforma-se em um canal
para o poder, misteriosa e sobrenatural.
O treinamento mágico varia muito de um coven para outro, mas seu
objetivo é sempre o mesmo: revelar a consciência da luz das estrelas, a outra
maneira de saber que pertence ao hemisfério direito e permite que entremos
em contato com o Divino que existe dentro de nós. O iniciante deve
desenvolver quatro habilidades básicas: relaxamento, concentração,
visualização e projeção.
O relaxamento é importante pois qualquer forma de tensão obstrui a
energia. A tensão muscular é sentida sob a forma de estresse mental e
emocional, e estresses emocionais causam tensão física e muscular e
doenças. O poder que tenta movimentar-se por um corpo tenso é como uma
corrente elétrica tentando abrir caminho através de uma séria de resistências.
Grande parte da essência é perdida ao longo do trajeto. O relaxamento físico
parece alterar também o padrão das ondas cerebrais e ativa centros que,
normalmente, não são utilizados.
EXERCÍCIO 9: RELAXAMENTO
(Este pode ser feito sozinho, em grupo ou com um parceiro. Comece
deitando de costas. Não cruze os braços ou pernas. Afrouxe qualquer roupa
que estiver causando algum tipo de compressão.)
“ A fim de conhecermos o relaxamento, em primeiro lugar, devemos
experimentar a tensão. Vamos tensionar todos os músculos do corpo, um por
um, e mente-los tensos até relaxarmos todo o nosso corpo em uma só
respiração. Não aperte os músculos para que não tenha cãibra, somente
retese-os ligeiramente.
“Comece com os dedos do pé. Tensione os dedos do pé direito... e,
agora do pé esquerdo. Tensione o pé direito... e o pé esquerdo. O calcanhar
direito...e o calcanhar esquerdo...
(Continue passando por todo o corpo, parte por parte. De vez em
quando, relembre o grupo para que tensione quaisquer músculos que deixaram
soltos. )
“Agora tensione seu couro cabeludo. Todo seu corpo está tenso... sinta
a tensão em cada parte. Tensione quaisquer músculos que estejam
afrouxados. Agora respire fundo... aspire...(pausa)...expire...e relaxe!
“ Relaxe completamente. Você está completa e totalmente relaxado.” (
Em tom de melopéia: ) “ Os dedos de sua mão estão relaxados e os dedos do
seu pé estão relaxados. Suas mãos estão relaxadas e seus pés estão
relaxados. Seus pulsos estão relaxados e seus calcanhares estão relaxados.”
( E, assim por diante, por todo o corpo. Periodicamente, pare e diga: )
“Você está completa e totalmente relaxado. Completa e totalmente
relaxado. Seu corpo está leve; como se fosse água, como se estivesse
desmanchando na terra.
“Permita-se ser levado e vagar tranqüilamente em seu estado de
relaxamento. Se quaisquer preocupações ou ansiedades perturbarem a sua
paz, imagine-as escoando de seu corpo como água e fundindo-se à terra.
Sinta-se sendo purificado e renovado.”
( Permaneça em estado de relaxamento profundo por uns dez ou quinze
minutos. É bom praticar esse exercício diariamente, até que seja capaz de
relaxar completamente pela só razão de deitar-se e soltar-se, sem necessidade
de passar por todo o processo. Pessoas que têm dificuldades para dormir
verificarão a eficácia desse exercício. No entanto, não se permita adormecer, A
sua mente está sendo treinada para ficar relaxada mas alerta. Posteriormente,
você utilizará esse estado para trabalhos de transe, que é muito mais difícil se
você não tem o hábito de permanecer acordado. Se você pratica à noite, antes
de dormir, sente-se, abra os olhos e, conscientemente, termine o exercício
antes de dormir.
Vários dos outros exercícios podem ser mais eficazmente praticados em
um estado de relaxamento profundo. Experimente-os, a fim de descobrir o que
funciona melhor para você.)
Visualização é a capacidade de ver, ouvir, sentir, tocar e sentir o sabor
com os sentidos internos. Nossos olhos físicos não vêem; eles meramente
transmitem impulsos através da estimulação da luz para o cérebro. É o cérebro
que vê, e ele é capaz de ver imagens internas tão nitidamente quanto as do
mundo externo. Nos sonhos, todos os cinco sentidos são intensos. Através da
prática, a maioria das pessoas pode desenvolver a capacidade de usar
ativamente os sentidos internos quando acordados.
Algumas pessoas naturalmente vêem imagens; outras podem ouvir ou
sentir impressões. Algumas poucas pessoas têm dificuldades ou acham
impossível visualizar, mas a maioria descobre que se torna fácil através da
prática.
A visualização é importante porque é através das imagens e sensações
internas que nos comunicamos com o self mais jovem e o self profundo.
Quando os sentidos internos estão totalmente despertados, podemos ter visões
de extraordinária beleza, sentir o perfume das flores da ilha das Maçãs, provar
ambrósia e ouvir as canções dos deuses.
EXERCÍCIO 10 : CONCENTRAÇÃO E CENTRALIZAÇÃO
Antes de dar início à pratica da visualização, devemos nos concentrar e
centrar. Esta é, novamente, uma das técnicas básicas do trabalho mágico.
Concentração significa estabelecer uma ligação energética com a terra. O
exercício da Árvore da Vida é um dos métodos de concentração. O outro é
visualizar uma corda ou um mastro que se estende da base de sua espinha
dorsal até o centro da terra. Centre-se alinhando o corpo ao longo de seu
centro de gravidade. Respire a partir de seus centro – do seu diafragma e
abdome. Sinta a energia fluir da terra e ocupar você.
A concentração é importante pois permite que você sorva a vitalidade da
terra, em lugar de esgotar a sua. Quando canaliza energia, ela serve como um
pára-raios psíquico: as forças atravessam você em direção à terra, ao invés de
lhe “queimarem” mente e corpo.
EXERCÍCIO 11: VISUALIZAÇÕES ELEMENTARES
Este exercício é para os que têm dificuldades em visualizar. Concentrese
e centre-se. Feche os olhos e imagine que está olhando para uma parede
branca ou uma tela vazia. Pratique visualizar formas geométricas simples: uma
linha, um ponto, um círculo, um triângulo, uma elipse e assim por diante.
Quando você for capaz de ver nitidamente as formas, visualize a tela em
cores: vermelha, amarela, azul, alaranjada, violeta e preta, uma de cada vez.
Pode ajudar se você olhar para um objeto colorido, antes, com os olhos
abertos; a seguir, feche os olhos e mentalmente veja a cor.
Finalmente, pratique visualizar as formas geométrica em várias cores.
Altere as cores e formas até que, com espontaneidade, possa faze-lo
mentalmente.
EXERCICIO 12: A MAÇÃ
Visualize uma maçã. Segure-a em suas mãos; vire-a; sinta-a Sinta a
forma, o tamanho, o peso, a textura. Repare a cor, o reflexo da luz em sua
casca. Traga-a para junto de seu nariz e cheire-a; De uma mordida e prove-a;
ouça o som feito por seus dentes ao morde-la. Coma a maçã; sinta-a descendo
por sua garganta. Veja-a tornando-se menor. Quando você tiver comido ela até
o caroço, deixe-a desaparecer.
Repita com outros alimentos. Casquinhas de sorvetes são materiais
excelentes.
EXERCICIO 13:O PENTAGRAMA
Visualize uma linha de chamas azuis tremeluzente, como a chama de
gás de um maçarico. Agora, mentalmente desenhe um pentagrama, uma
estrela de cinco pontas, com uma ponta para cima, na direção da invocação,
começando por cima e movimentando para baixo para a esquerda. (Ver
ilustração). Veja-o formando-se a partir da chama azul. Retenha a imagem em
sua mente por alguns momentos.
Agora, trace-o novamente na direção da expulsão, começando pelo
canto esquerdo de baixo e movimentando-se para cima. Ao faze-lo veja-o
desaparecendo.
Pratique até que a imagem venha para você facilmente. Essa
visualização faz parte da disposição de um círculo.
PENTAGRAMA DE INVOCAÇÃO
PENTRAGRAMA DE EXPULSÃO
EXERCÍCIO 14: O NÓ
Visualize-se dando um nó, qualquer nó que, com facilidade, na
realidade, consiga dar. Tente não ver um retrato mental de si do lado de fora;
pelo contrário, coloque-se no retrato. Veja as suas mãos se mexendo e sinta a
linha. Sinta cada movimento que faz, finalize o nó e sinta a linha retesando-se.
Esta visualização é utilizada para encerrar um feitiço.
Visualizações mais complexas são fornecidas em capítulos posteriores.
A concentração é a capacidade de enfocar uma imagem, pensamento
ou tarefa, de limitar nosso campo de percepção e expulsar distrações. Como
um músculo, ela se fortalece com o exercício.
Atualmente, muitas pessoas praticam formas de meditação oriental –
ioga, zen, meditação transcendental – que são excelentes para o
desenvolvimento da concentração. Quanto mais forem exercitadas as
visualizações, mais fácil se torna a concentração nas imagens. Os próximos
três exercícios ajudarão a melhorar a focalização interna.
EXERCÍCIO 15: CONTEMPLAÇÃO DE VELAS
Em um quarto escurecido e silencioso, acenda uma vela. Concentre-se e
centre-se e contemple quietamente a vela. Respire profundamente e sinta-se
aquecido pela luz da vela. Deixe que seu brilho tranqüilo preencha você
completamente. A medida que pensamentos surgem em sua mente
experimente-os como se viessem de fora. Não deixe que a chama se divida em
uma imagem dupla; mantenha seus olhos focalizados. Permaneça assim por,
pelo menos cinco ou dez minutos e, então, relaxe.
EXERCÍCIO 16: O DIAMANTE
Novamente, acenda uma vela em um quarto quieto e pouco iluminado.
Concentre-se e centre-se. Contemple a vela e visualize um diamante no centro
de sua testa, entre e acima de suas sobrancelhas. O diamante reflete a luz da
vela e a vela reflete a luz do diamante. Sinta a reverberação da energia.
Mantenha a imagem por, no mínimo, cinco ou dez minutos; relaxe,
EXERCICIO 17: ESPELHO, ESPELHO
Concentre-se e centre-se. Em um espelho, mire para dentro de seus
olhos. Focalize sua atenção no espaço entre eles. Repita seu nome para você
mesmo, várias vezes. Novamente, quando pensamentos surgirem,
experimente-os como se estivessem fora de você. Depois de cinco ou dez
minutos; relaxe.
A projeção é a capacidade de emitir energia. Ela surge muito
naturalmente para a maioria das pessoas, uma vez que estejam cônscias de
sua “sensação”. A projeção também é utilizada em um outro sentido,
significando a capacidade de viajar para “fora do corpo”; esta forma de
projeção será discutida no capítulo 9. No exercício da Árvore da Vida e durante
a Respiração em Grupo e Cântico do Poder, já experimentamos o que vem a
ser emitir energia. A seguir, mais dois exercícios.;
EXERCÍCIO 18: A PEDRA
Concentre-se e centre-se. Imagine que você está na praia, olhando para
as ondas. Em sua mão mais forte, você segura uma pedra pesada. Pegue-a,
inspire e quando você expirar, deixe-a voar! Veja-a mergulhar no mar, pouco
abaixo da linha do horizonte.
Agora, olhe novamente. Perceba que pode ver um horizonte duas vezes
mais longe. Mentalmente, faça um esforço para vê-lo. Em sua mão, segure
uma pedra duas vezes maior que a primeira. Mais uma vez, inspire
profundamente e, ao expirar, jogue-a com toda a sua força. Acompanhe-a
mergulhando nas ondas longínquas.
Outra vez, olhe e perceba que pode ver um horizonte duas vezes mais
longe. Em sua mão, segure uma pedra duas vezes mais pesada. Inspire mais
uma vez profundamente, e, ao expirar, jogue-a com força! Veja-a cair.
Pratique este exercício até que sinta a liberação de poder que
acompanha a pedra.
EXERCÍCIO 19: O MARTELO
Concentre-se e centre-se. Visualize um martelo pesado em sua mão.
Um prego teimoso está para fora em uma tábua à sua frente. Com toda sua
força, martele o prego na tábua. Repita, num total de três vezes.
Os covens possuem muitas maneiras diferentes de admitir novos
membros. Alguns oferecem aulas ou grupos de estudos abertos. Nós
preferimos que iniciados se encarreguem de aprendizes individualmente. Cada
novato recebe instruções individualizadas, sob medida para as suas
necessidades particulares. E cada membro do coven tem a chance de ser uma
autoridade e é forçado a conceituar seu próprio conhecimento a respeito da
Arte a fim de poder ensina-la. Aprendizes e seus professores desenvolvem
fortes laços, de tal maneira que cada novato sente que tem relacionamento
especial com um membro do grupo. Os aprendizes também desenvolvem laços
entre si como grupo. Eles assistem aos rituais juntos, para que ninguém tenha
que ser “ a única pessoa nova no pedaço”.
Quando treino um aprendiz, penso que sou algo como uma professora
de dança. Sugiro normas regulares, inclusive vários dos exercícios
apresentados neste capitulo, o “trabalho de barra básico” da magia.
Adicionalmente, tento identificar áreas de fraquezas e desequilíbrio e prescrevo
exercícios corretivos. Por exemplo, para um estudante cuja mente
continuamente perambula, sugiro exercícios de concentração. Para Paul, por
outro lado, que estuda há anos com uma seita budista e consegue, de acordo
com as suas próprias palavras, “atravessar paredes”, sugeri correr diariamente.
Durante os rituais, aprendizes têm a chance de combinar habilidades
aprendidas através da prática solitária em uma complexa dança de poder com
o coven e entre si.
Como procedimento básico e diário, recomendo três coisas. Primeiro,
exercício físico regular. A importância desse item não pode ser menosprezada.
Infelizmente, é das coisas mais difíceis conseguir que as pessoas o façam. A
Arte tem a tendência a atrair tipos mentais e espirituais, ao invés de atletas
vigorosos. Mas, o trabalho psíquico e mágico exige uma vitalidade tremenda –
literalmente, a energia do raith,do self mais jovem. Essa vitalidade é
reabastecida e renovada através da atividade física, um pouco como o
movimento das rodas de um automóvel que ativa o dínamo, que recarrega as
baterias. Trabalho mental e espiritual excessivos, que não for equilibrado com
exercícios físicos, esgota nossas baterias etéreas. Às vezes, ioga é adequada,
mas geralmente é ensinada como uma disciplina espiritual que abre os centros
psíquicos, em vez de aumentar a vitalidade física. Para os nossos objetivos,
correr, nadar, andar de bicicleta, jogar tênis ou andar de patins é melhor, algo
ativo e agradável e que nos põe em contato com a natureza. Bruxos
fisicamente incapacitados podem encontrar um regime apropriado para as suas
necessidades e capacidades. Se se pode passar algum tempo, todos os dias,
ao ar livre, num gramado ou sob uma arvore, onde se possa embeber-se das
energias elementares, colher-se-á muitos dos mesmos benefícios que os
corredores de maratonas.
A segunda coisa que recomendo aos estudantes são os exercícios de
relaxamento diários e o exercício diário de meditação, visualização ou
concentração. Estes, mudam, freqüentemente, à medida que o estudante
evolui. Algumas pessoas praticam vários ao mesmo tempo, mas um já é o
suficiente. Ficamos sobrecarregados quando há excesso. Certa vez, durante
meu próprio treinamento, acordei pela manhã e fiz um exercício de transe
sentada diante da máquina de escrever por uma hora, depois vinte minutos de
ioga, incluindo as meditações dos quatro elementos e a Visualização do Círculo
do capitulo 4. Mais tarde, neste mesmo dia, pratiquei o relaxamento profundo e
um transe deitada. À noite, realizei a contemplação de velas, uma purificação
pela água e uma variedade de feitiços pessoais. Infelizmente, dispunha de
muito pouco tempo para viver de verdade. Após algumas semanas, decidi que
a moderação era a essência da sabedoria, na magia, assim como em outras
coisas.
A terceira prática que sugiro é a manutenção de um diário mágico,
chamado Livro das Sombras. Tradicionalmente, era um “livro de receitas” de
rituais, feitiços, cânticos e encantamentos que cada bruxa copiava a mão sob a
orientação de seu professor. Atualmente, apesar de enrubescer ao admiti-lo, tal
informação é geralmente xerocada para a distribuição pelo coven. O Livro das
Sombras é mais do que um diário pessoal. Ele pode incluir descrições de
rituais, registros de sonhos, reações a exercícios, poemas, histórias e viagens
em transe. Bruxos solitários podem fazer uso de seu livro das sombras para
desenvolverem um pouco de objetividade que, normalmente, advém do
trabalho em um coven. Tristine Rainer, em The New Diary, descreve até
mesmo técnicas de utilização de anotações em diários para a recordação de
vidas passadas.
Útero, grupo de apoio, escola de treinamento mágico e comunidade de
amigos – o coven é o coração da Arte. Dentro do círculo, cada feiticeira é
treinada para desenvolver seu poder interior, sua integridade mental, corporal e
espiritual. Como em uma família, as assembléias, às vezes, têm suas querelas.
Mas, quando o círculo está organizado, quando o cone é elevado e, juntas, as
pessoas invocam os deuses, reconhecem em cada uma a deusa, o deus, o
espírito da vida em todos. E, deste modo, quando cada iniciado é desafiado a
entrar no círculo, ele diz a única senha: “perfeito amor e perfeita confiança”.
A DANÇA COSMICA DAS FEITICEIRAS
CAPITULO QUATRO
CRIANDO O ESPAÇO SAGRADO
ENTRE OS MUNDOS
A ORGANIZAÇÃO DO CIRCULO
O quarto está iluminado somente por velas tremeluzentes em
cada um dos pontos cardeais. Os membros do coven estão de pé,
formando um círculo, as mãos unidas. Com sua athame, a faca
consagrada desembainhada, a sacerdotisa1 dirige-se ao altar e
saúda o céu e a terra. Ela se vira e caminha até o canto leste,
acompanhada de dois membros, um conduzindo o cálice de água
salgada, o outro o incenso fumegante. Eles estão de frente para o
leste. A sacerdotisa eleva sua faca e brada:
Salve, guardiões das Torres de Observação do Oriente,
Poderes do ar!
Invocamos você e chamamos você,
Águia dourada do amanhecer,
Caçadoras de estrelas,
Turbilhão,
Sol nascente,
Vinde!
Pelo ar que é o seu sopro,
Envie sua luz,
Faça-se presente agora!
Enquanto fala, traça no ar o pentagrama de invocação com
sua faca. Ela o vê, brilhando com pálida chama azul, e através dele
sente forte lufada de vento, varrendo uma planície iluminada pelos
primeiros raios do amanhecer. Ela respira profundamente, atraindo o
poder, e então canaliza-o para a faca, que aponta para o chão.
Ao borrifar a água três vezes, o primeiro membro exclama,
“com sal e água eu purifico o leste!” O segundo membro desenha o
pentagrama de invocação com incenso, dizendo, “Com fogo e ar, eu
exorto o leste!”.
A sacerdotisa, com a faca apontada para fora, traça os limites
do círculo. Ela o vê tomar forma através do olho de sua mente,
enquanto os demais continuam, para cada uma das quatro direções,
repetindo a invocação, a purificação e a exortação:
Salve, guardiões das torres de observação do sul,
Poderes do fogo!
Invocamos você e chamamos você,
Leão vermelho do calor do meio-dia,
Ser Flamejante!
Quentura de verão,
Fagulha de vida,
1 Por conveniência literária, designei a sacerdotisa como a organizadora do círculo. Mas qualquer
membro qualificado, homem ou mulher, pode desempenhar esse papel.
Vinde!
Pelo fogo que é o seu espírito,
Envie a sua chama,
Faça-se presente agora!
Salve, guardiões das torres de observação do oeste,
Poderes da Água!
Invocamos você e chamamos você,
Serpente das profundezas do mar,
Fazedor de chuvas,
Crepúsculo cinéreo,
Estrela do anoitecer!
Pelas águas de seu útero vivo,
Envie sua abundância,
Faça-se presente agora!
Salve, guardiões das torres de observação do norte,
Poderes da terra,
Pedra angular de todos os poderes.
Invocamos você e chamamos você,
Senhora da escuridão interior,
Touro negro da meia-noite,
Estrela do norte,
Centro da espiral celeste,
Rocha,
Montanha,
Campo fértil,
Vinde!
Pela terra que é o seu corpo,
Envie a sua força
Faça-se presente agora!
A sacerdotisa traça o último elo do círculo, terminando no
leste. Novamente, ela saúda o céu e a terra, volta-se e toca a ponta
de sua athame no caldeirão central e diz,
O círculo está montado.
Estamos entre os mundos,
Além dos limites do tempo,
Onde noite e dia,
Nascimento e morte,
Alegria e tristeza
Tornam-se uma só coisa.
O segundo membro conduz um círio para a vela do ponto sul
e com ele acende as que se encontram ao redor do caldeirão central
e no altar, dizendo,
O fogo está aceso,
O ritual começou.
Retornam ao círculo. O primeiro membro sorri para a pessoa
à esquerda e a beija, dizendo,
“Em perfeito amor e perfeita confiança.”
O beijo percorre o círculo.
“ A manifestação de Deus... envolve a criação de um novo
espaço, no qual as mulheres são livres para serem o que são... Seu
centro é o limite das instituições patriarcais... seu centro é a vida das
mulheres que começam a se libertar rumo à totalidade.”
“ O ingresso em um novo espaço... também envolve entrar em
um novo tempo... O centro do novo tempo está no limite do tempo
patriarcal... É a nossa vida. É qualquer momento que estejamos
vivendo fora de nossa sensação de realidade, recusando-nos a
sermos possuídos, dominados e alienados pelo sistema patriarcal de
tempo linear, delimitado e quantitativo.”
Mary Daly
Em Feitiçaria, definimos um novo espaço e um novo tempo
toda vez que organizamos um círculo para um ritual. O círculo existe
nos limites do espaço e tempo comuns; encontra-se “entre os
mundos” daquilo que é visível e invisível, da consciência da luz das
estrelas e da luz fugidia, um espaço onde as realidades alternativas
se encontram, onde passado e futuro estão abertos para nós. O
tempo não é mais delimitado; torna-se elástico, fluido, o redemoinho
em uma lagoa na qual mergulhamos e nadamos. As restrições e
distinções de nossos papéis socialmente definidos não têm mais
valor; somente as normas da natureza é que dominam, a regra de
Ísis, que afirma: “Aquilo que transformei em lei não pode ser desfeito
pelo homem.” No círculo, no poder existente dentro de nós, a Deusa
e deuses antigos são revelados.
A disposição de um círculo é uma meditação representativa.
Cada gesto que fazemos, cada instrumento que utilizamos, cada
poder que invocamos, ressoa através de camadas de significados a
fim de despertar um aspecto de nós mesmos. As formas exteriores
acobertam visualizações interiores, de tal maneira que o círculo
transforma-se numa mandala viva, na qual encontramo-nos
centrados.
Quando organizamos um círculo, criamos uma forma
energética, uma fronteira que limita e contém os movimentos das
forças sutis. Em bruxaria, a função do círculo não é, essencialmente,
a de manter afastadas as energias negativas, mas guardar o poder,
a fim de que ele possa atingir a plenitude. Não se pode ferver água
sem colocá-la em uma chaleira, assim como não se evoca o poder
efetivamente, a menos que ele esteja contido. Desestimula-se o
abandono do círculo durante o ritual, pois, desse modo, há uma
tendência para a dissipação da energia, apesar de que gatos e
crianças muito pequenas parecem passar por ele sem causarem
perturbações em seu campo de forças. Os adultos geralmente
traçam um “portão”, através de uma pantomima com uma athame,
no caso de precisarem sair do círculo antes do término do ritual.
A disposição do círculo marca o início formal do ritual, a
“informação” complexa que nos indica quando alterar nossa
percepção para uma modalidade mais profunda. No ritual,
“suspendemos a dúvida”, da mesma maneira que o fazemos quando
assistimos a uma peça; permitimos que as funções críticas e
analíticas do self mais jovem possa responder completa e
emocionalmente em relação ao que está acontecendo. O self mais
jovem, conforme já foi visto, responde melhor diante de atos,
símbolos e coisas palpáveis, portanto essa alteração na consciência
é representada pelo uso de uma rica coleção de símbolos e
ferramentas.
Nos círculos permanentes de pedra da era megalítica, onde
rituais foram montados durante centenas de anos, grandes
reservatórios de poder eram construídos. Visto que as pedras
definiam o espaço sagrado, não havia a necessidade de traçar o
círculo como o fazemos. A forma circular utilizada pela maioria dos
bruxos atualmente originou-se, provavelmente, à época das
fogueiras, quando reuniões eram mantidas em segredo, dentro das
casas, e tornou-se necessário criar um templo em uma cabana
simples. Pode ser que as bruxas tenham se apoderado de algumas
formas dos cabalistas. Diz-se que, freqüentemente, as bruxas
acolhiam judeus perseguidos por cristãos e que trocavam
conhecimentos. (Devo admitir que, enquanto os bruxos em geral
gostam de acreditar que isso seja verdade, os judeus parecem não
ter dado atenção ao assunto ou, se a deram, não estão alardeando o
fato.)
Antes de qualquer ritual há sempre um período de purificação,
durante o qual participantes livram-se de preocupações,
inquietações e ansiedades que podem dificultar a sua concentração.
Alguns covens simplesmente aspergem (borrifam) cada membro
com água salgada à medida que o círculo se organiza. Em rituais
muito grandes, este é o único método prático. Mas, para pequenos
grupos e trabalhos importantes, usamos um exercício de meditação
mais intenso, conhecido como Purificação com Água Salgada.
Sal e água são elementos purificadores. A água, obviamente,
lava. O sal preserva da decadência e é um desinfetante natural. O
oceano, o útero da vida, é água salgada, como o são as lágrimas
que nos ajudam a purificar o coração de suas tristezas.
EXERCÍCIO 20: PURIFICAÇÃO COM ÁGUA SALGADA
(Esta é uma das meditações individuais básicas que deve ser
praticada regularmente. Durante períodos de muita ansiedade ou
depressão ou quando assumindo pesadas responsabilidades, é de
grande auxílio exercitá-la diariamente.)
Encha uma taça com água. (Utilize seu cálice ritual, caso você
o tenha.) Com sua athame (ou outro implemento), adicione três
porções de sal e mexa em sentido horário.
Sente-se com a taça em seu colo. Deixe que seus temores,
preocupações, dúvidas, ódios e decepções venham à sua mente.
Veja-os como uma correnteza lamacenta que flui para fora de você
enquanto você respira e é dissolvida pelo sal na taça. Conceda-se
tempo para se sentir profundamente purificado.
Agora, eleve a taça. Respire profundamente e sinta-se
sorvendo poder da terra (como no exercício da Árvore da Vida).
Deixe o poder fluir para a água salgada, até que você seja capaz de
visualizá-lo brilhando com luz.
Tome um gole de água. Enquanto você a sente em sua
língua, saiba que recebeu o poder da purificação, da cura. Medo e
infelicidade transformam-se no poder da mudança.
Esvazie o restante da água em um córrego. (Infelizmente,
nestes tempos de decadência, a água corrente mais próxima
geralmente é a que desce pelo ralo da pia da cozinha.)
EXERCÍCIO 21: PURIFICAÇÃO EM GRUPO COM ÁGUA
SALGADA
Membros do coven se reúnem em grupo, com incenso e as
velas acesas. A sacerdotisa vai até o altar, concentra-se e centra-se.
Ela toma a taça de água em sua mão direita, dizendo “abençoada
seja, criatura da água”. Ela toma o prato com sal em sua mão
esquerda e diz “abençoada seja, criatura da terra”. Ela eleva ambos
para o céu, com os braços esticados, e deixa que o poder flua para
dentro deles, dizendo,
Sal e água,
Dentro e fora,
Espírito e corpo,
Sejam purificados!
Eliminem tudo que seja prejudicial
Absorvam tudo que é bom e saudável!
Pelos poderes da vida, morte e renascimento
Que assim seja feito!
Ela os coloca no altar e empunhando a athame na sua mão
mais forte, dizendo “abençoada seja, criatura da arte”. Ela despeja
três porções de sal na água e mistura-as no sentido anti-horário,
dizendo
Que esta athame seja purificada,
E que estes instrumentos e este altar sejam purificados,
Enquanto borrifa o altar com algumas gotas e a seguir saúda
céu e terra:
Em nome da vida e da morte, que assim seja feito!
Ela, então, segura o cálice próximo a seu coração e carrega a
água com poder. Quando sentí-lo irradiante, retorna ao círculo. O
cálice é passado ao redor do círculo e cada pessoa realiza a sua
purificação particular. Algumas talvez cantem suavemente enquanto
o cálice estiver sendo passado. Em um grupo grande, três ou quatro
cálices são carregados ao mesmo tempo; caso contrário, o cálice
pode levar horas para percorrer o círculo.
Quando o cálice volta para a sacerdotisa, ela envia um beijo
para ser passado pelo círculo. Se o espaço da reunião for
considerado como carente de purificação especial, a seguinte
expulsão pode ser realizada.
EXERCÍCIO 22: EXPULSÃO
Após a purificação, a sacerdotisa toma a espada ou athame e
dirige-se ao centro do círculo. Ela aponta a lâmina para a terra e
para o céu e, vigorosamente, diz,
Espíritos do mal,
Seres hostis,
Convidados indesejados,
Fora!
Abandonem-nos, abandonem este lugar, abandonem este
círculo,
Para que os deuses possam entrar.
Ide ou lancem-se na escuridão!
Ide ou lancem-se nas profundezas do mar!
Ide ou ardam nas chamas!
Ide ou sejam arrastados pelo redemoinho!
Pelos poderes da vida, da morte e do renascimento.
Todo o coven em uníssono grita:
Nós expulsamos você! Nós expulsamos você! Nós
expulsamos você!
Ide!
Todos berram, gritam, batem palmas, tocam sinos e fazem
barulho para expulsar as forças negativas.
A água do banho pode ser “carregada” 2 e alguns cristais de
sal adicionados; os membros do coven podem tomar um banho ritual
antes de entrar no círculo. Isto será descrito, em maiores detalhes,
no capítulo 10, sobre a iniciação. Devido às limitações de tempo e
água quente, é melhor fazê-lo em casa.
O conceito de círculo quaternário é básico para Feitiçaria,
assim como para várias culturas e religiões. As quatro direções e a
Quinta, o centro, correspondem e refletem uma qualidade do ser, de
um elemento, uma parte do dia ou ano, aos instrumentos da Arte,
animais simbólicos e formas de poder pessoal. A visualização
constante destas conexões cria ligações internas profundas, de tal
maneira que a ação física desencadeia estados interiores. A
disposição de um círculo desperta, então, todas as partes do ser e
nos coloca em contato com a mente, a energia, as emoções, o corpo
e o espírito, para que constantemente tornemo-nos um todo.
Os “guardiões das torres de observação” são formas de
energia, os raiths ou espíritos dos quatro elementos. Trazem a
energia elemental da terra, ar, fogo e água para dentro do círculo,
para aumentar nosso poder humano. A voragem de poder criada
quando invocamos as quatro direções protege o círculo de intrusões
e atrai os altos poderes da Deusa e do Deus.
Cada movimento em um ritual é dotado de significado.
Quando nos movimentamos no sentido do sol ou do relógio, “deosil”,
acompanhamos a direção que o sol aparenta movimentar-se no
hemisfério norte e aspiramos o poder. “Deosil” é a direção do
aumento, da prosperidade, da benevolência e da bênção. Quando
nos movimentamos em direção contrária ao sol ou em sentido antihorário,
estamos indo contra o sol e essa direção é utilizada para a
diminuição e expulsões.
Os instrumentos, os objetos físicos que utilizamos em
Feitiçaria, são os representantes palpáveis das forças invisíveis. A
mente trabalha a magia e nenhuma faca cuidadosamente forjada ou
bastão elegante pode fazer mais do que o poder de uma mente
treinada. Os instrumentos simplesmente auxiliam na comunicação
com o self mais jovem, que responde muito melhor a coisas
perceptíveis do que abstratas.
Existem duas escolas de pensamento básicas na Arte: a
escola de cerimonial mágico e aquilo que chamo de escola da
cozinha mágica. Cerimonialistas são puristas, que consideram que
instrumentos mágicos jamais devem ser manuseados por terceiros
ou utilizados para quaisquer propósitos que não os do ritual. Objetos
podem tornar-se reservatórios de poder psíquico, o qual pode ser
desperdiçado, por exemplo, cortando fruta com sua athame. Bruxas
de cozinha mágica, por outro lado, sentem que a Deusa manifestase
tanto em tarefas comuns como em círculos mágicos. Quando se
corta uma fruta com a athame, consagra-se a fruta e uma tarefa
doméstica torna-se uma tarefa sagrada. Qualquer que seja a escola
2 “Carregar” magicamente um objeto significa imbuí-lo de energia.
que se siga, é considerado desrespeitoso manusear os instrumentos
de outra bruxa sem pedir permissão.
Ferramentas pode ser compradas, feitas a mão por você
mesmo, dadas como presentes ou encontradas em circunstâncias,
às vezes, pouco comuns. Mother Moth, de Compost, encontrou sua
athame jogada na linha branca divisória de uma auto-estrada,
quando se dirigia para casa, tarde da noite. Um conjunto de
ferramentas, às vezes, é dado para um novo iniciado pelo coven. Ao
comprar ferramentas mágicas, jamais pechinche.
As relações podem diferir em variadas tradições e as
interpretações de simbolismos nem sempre são consonantes. As
seguintes correlações são utilizadas na tradição das fadas (tabelas
completas são fornecidas nas que têm início à página 315).3
O LESTE
O leste corresponde ao elemento ar, à mente, ao amanhecer,
primavera, cores pálidas e translúcidas, branco e violeta, à águia e
pássaros que voam alto, e ao poder de saber. Seus instrumentos
são a athame e a espada, usadas intercaladamente. A athame é,
tradicionalmente, uma faca de lâmina dupla com um cabo preto, mas
as pessoas usam de facas de cozinha a canivetes do exército suíço,
completos, com saca-rolhas, tão indispensável para abrir o vinho do
ritual. Muitos bruxos não têm uma espada; elas são teatrais em
rituais grandes e abertos, mas incômodas em espaços reduzidos.
EXERCÍCIO 23: MEDITAÇÃO DO AR
Fique de frente para o leste. Concentre-se e centre-se.
Respire profundamente e torne-se consciente do ar enquanto ele flui
para dentro e para fora de seus pulmões. Sinta-o como o sopro da
Deusa e absorva a força vital, a inspiração, do universo. Deixe que a
sua própria respiração incorpore-se ao vento, às nuvens, às grandes
correntes que varrem o campo e o oceano com o movimento da
terra. Diga “salve, Arida, iluminada senhora do ar!”
EXERCÍCIO 23: ATHAME OU MEDITAÇÃO DA ESPADA
Concentre-se e centre-se. Segure sua athame ou espada em
sua mão mais forte. Respire profundamente e absorva o poder do
Ar, o poder da mente. O poder deste instrumento é o da
discriminação, traçar linhas, determinar limites, fazer escolhas e
executá-las. Lembre-se de escolhas que fez e levou adiante apesar
das dificuldades. Sinta o poder de sua mente para influenciar ou
3 Essas tabelas de correlações são as que passei para a lista.
outros e a força de sua responsabilidade para não fazer mau uso
deste poder. Você tem a força para agir eticamente, de acordo com
aquilo que acredita ser correto. Deixe o poder de sua inteligência,
sua sabedoria, sua coragem moral, fluírem para o seu instrumento.
O SUL
O sul corresponde ao elemento fogo, à energia ou espírito, ao
meio-dia, ao verão, alaranjados e vermelhos fogosos, ao leão solar e
à qualidade da vontade. Seu instrumento é o bastão, que pode ser
um ramo delgado de uma avelãzeira, um forte cajado de carvalho ou
um pedaço magicamente trabalhado de madeira. O bastão é
utilizado para canalizar energia, para direcionar um cone de poder e
para invocar deus ou deusa.
EXERCÍCIO 25: MEDITAÇÃO DO FOGO
Fique de frente para o sul. Concentre-se e centre-se. Tornese
consciente da fagulha elétrica dentro de cada nervo enquanto
impulsos pulam de sinapse para sinapse. Conscientize-se da
combustão dentro de cada célula, enquanto o alimento é queimado
para liberar energia. Deixe seu fogo unir-se à chama da vela, à
fogueira, ao fogo da lareira, ao raio, à luz das estrelas e do sol, unido
ao espírito resplandecente da deusa. Diga “salve, Tana, deusa do
fogo!”
EXERCÍCIO 26: MEDITAÇÃO DO BASTÃO
Concentre-se e centre-se. Segure seu bastão em sua mão
mais forte. Respire profundamente e sinta o poder do fogo, da
energia. Esteja consciente de si como um canal de energia. Você
pode transformar espírito em matéria, idéia em realidade, conceito
em forma. Sinta o seu próprio poder para criar, para realizar, para
ser um agente de mudanças. Entre em contato com sua vontade,
seu poder para fazer o que deve ser feito, de determinar uma meta e
trabalhar para alcançá-la. Deixe sua vontade fluir para o bastão.
O OESTE
O oeste corresponde ao elemento água, às emoções, ao
crepúsculo, outono, aos azuis, cinza, roxos profundos e verde dos
mares, às serpentes do mar, golfinhos, peixes, ao poder de ousar.
Do oeste vem a coragem de encarar nossos sentimentos mais
profundos. Seu instrumento é a taça ou cálice, que contém a água
salgada ou bebida do ritual.
EXERCÍCIO 27: MEDITAÇÃO DA ÁGUA
Fique de frente para o oeste. Concentre-se e centre-se. Sinta
o sangue fluindo através dos rios de suas veias, as marés líquidas
dentro de cada célula do seu corpo. Você é líquido, uma gota
congelada do oceano original que é o útero da Grande Mãe.
Descubra os calmos lagos de tranqüilidade dentro de você, os rios
de sentimentos, as correntes de poder. Afunde profundamente no
poço de sua mente interior, abaixo do nível de sua consciência. Diga
“salve, Tiamat, serpente das profundezas do mar!”
EXERCÍCIO 28: MEDITAÇÃO DA TAÇA
Concentre-se e centre-se. Segure sua taça com ambas as
mãos. Respire profundamente e sinta o poder da água, do
sentimento e da emoção. Entre em contato com o fluxo de suas
emoções: amor, raiva, tristeza, alegria. A taça é o símbolo da
nutrição, o seio abundante da Deusa que alimenta toda a vida.
Esteja consciente de como você é nutrido, de como você alimenta os
outros. O poder de sentir é o poder de ser humano, de ser
verdadeiro, de ser inteiro. Deixe a força de suas emoções inundarem
a taça.
O NORTE
O norte é considerado como a direção mais poderosa. Sendo que o sol
jamais alcança o hemisfério norte, ele é a direção do mistério, do invisível. A
estrela do norte é o centro, ao redor da qual os céus giram. Os altares são
posicionados para o norte na Arte. O norte corresponde à Terra, ao corpo, à
meia-noite, inverno, marrom, preto e o verde da vegetação. Do norte vem o
poder de permanecer em silêncio, de ouvir assim como falar, de guardar
segredos, de saber aquilo que não deve ser dito. A Deusa como a donzela da
escuridão, a lua nova que ainda não é visível e o deus como o touro sagrado,
são os tótemes do norte, e seu instrumento é o pentagrama, o principal símbolo
da Arte. Uma estrela de cinco pontas, com uma ponta para cima, assentada no
círculo da lua cheia, o pentagrama pode ser gravado em uma placa, vitrificado
em um prato de cerâmica ou moldado com o “barro do padeiro”, a massa de
pão e sal. Ele é usado para concentrar energia ou como uma travessa para
servir os bolos sagrados.

EXERCÍCIO 29: MEDITAÇÃO DA TERRA
Fique de frente para o norte. Concentre-se e centre-se. Sinta
seus ossos, seu esqueleto, a solidez de seu corpo. Conscientize-se
de seu corpo, de tudo o que possa ser tocado e sentido. Sinta a
força da gravidade, seu próprio peso, sua atração para a terra, que é
o corpo da Deusa. Você é um traço natural, uma montanha em
movimento. Una-se a tudo que vem da terra: grama, árvores, grãos,
frutas, flores, animais, metais e pedras preciosas. Retorne ao pó, à
matéria orgânica, à lama. Diga “salve, Belili, mãe das montanhas!”
EXERCÍCIO 30: MEDITAÇÃO DO PENTAGRAMA – OS
CINCO ESTÁGIOS DA VIDA
Concentre-se e centre-se. Segure seu pentagrama com
ambas as mãos. Respire profundamente e sinta o poder da terra, do
seu corpo. O pentagrama é o seu próprio corpo, quatro membros e
cabeça. Ele é os cinco sentidos, tanto interiores quanto exteriores.
Entre em contato com seu próprio poder de ver, ouvir, cheirar,
provar, tocar. O pentagrama são os quatro elementos, mais o quinto,
a essência. E significa os cinco estágios da vida, cada qual um
aspecto da Deusa:
1. Nascimento: o início, o tempo de vir a ser
2. Iniciação: adolescência, o tempo da individuação
3. Amor: o tempo da união com o outro, da plena maturidade,
sexualidade, responsabilidade.
4. Repouso: o tempo da idade que avança, da reflexão,
integração, sabedoria
5. Morte: o tempo de terminar, de soltar-se, de movimentarse
em direção ao renascimento.
Olhe para o seu pentagrama ou o desenhe em uma
folha de papel. Marque as cinco estações, em sentido horário
pelos pontos e experimente cada estágio individualmente, como
ele ocorre em um tempo de vida e dentro do breve espaço de
cada nova atividade ou relacionamento. Trace as linhas
interligadas e reflita sobre os seus significados. O amor está
ligado ao nascimento e à morte. A morte está ligada ao amor e à
iniciação.
No alfabeto da árvore genealógica goidélica4, cada um dos
cinco estágios era simbolizado por uma árvore, cujo nome
começava com uma das cinco vogais:
4 Goidélico refere-se aos celtas gaélicos (irlandeses, escoceses, habitantes da ilha de Man) como opostos
aos celtas bretônicos ( galeses, córnicos e bretões ).
A: Nascimento: ailm, abeto prateado
O: Iniciação: onn, tojo
U: Amor: ura, urze
E: Repouso: eadha, faia preta
I: Morte: idho, teixo
Cante os sons das vogais e sinta o poder de cada estágio,
um por um. Toque seu corpo com o pentagrama e deixe que a
força vital de seu corpo flua para ele.
EXERCÍCIO 31: O PENTAGRAMA DE FERRO
(Um pentagrama é um pentáculo desenhado ou escrito. É
um instrumento de meditação da tradição das fadas e um
importante exercício de treinamento.)
Concentre-se e centre-se. Em seu Livro das Sombras,
desenhe um pentagrama com linhas interligadas e marque os
pontos, em ordem, no sentido horário: “Sexo”, “Self”, “Paixão”,
“Orgulho” e “Poder”.
Sexo é a manifestação do impulso da energia da força vital
do universo. É a polaridade, a atração de Deus e Deusa, o vaivém
da pulsação que sustenta o universo, a harmonia orgástica e
extática que canta dentro de cada ser.
Self é identidade, individualidade. Cada um de nós é uma
manifestação única da Deusa e esta individualidade é altamente
valorizada na Arte. O amor-próprio é a fundação de todo o amor.
“Louve a si próprio e você verá que o self está em toda parte.”
Paixão é a força da emoção que dá cor, profundidade e
vitalidade à vida. Alegria, tristeza, êxtase, raiva, medo, dor, amor:
A Deusa manifesta-se em todas as emoções humanas. Não
somos capazes de sentir nenhuma delas, em sua total
intensidade, a menos que estejamos dispostos a enfrentá-las.
Orgulho estimula-nos a criar, fazer, crescer e de gozar-mos
os frutos legítimos de nossas realizações. O verdadeiro orgulho
não se baseia em comparações ou na competição; é uma
sensação absoluta de nosso valor interior. O orgulho traz consigo
a responsabilidade de agirmos de acordo com nosso amor-próprio
e respeito pelo self presente nos outros.
Poder é energia, poder interior, não poder sobre os outros.
Quando as cinco pontas estão em equilíbrio, a força vital flui
livremente, enchendo-nos de vitalidade. Poder é integridade,
criatividade, coragem: a marca de uma pessoa que é um todo.
Medite sobre cada uma das pontas individualmente e,
então, explore as ligações e conexões: “Sexo-Paixão”, “Self-
Orgulho”, “Paixão-Poder”, e assim por diante. Deite-se com
braços e pernas esticadas, de tal maneira que você forme uma
estrela. Deixe que a sua cabeça e cada um dos membros do seu
corpo seja uma ponta do pentagrama. Quando você estiver “nas
pontas”, todas estarão em equilíbrio. Sentindo que alguma ponta
está fraca, trabalhe no sentido de desenvolver aquelas
qualidades. Absorva a força do pentagrama de ferro,
EXERCÍCIO 32: O PENTAGRAMA DE PÉROLA
O pentagrama de pérola é um instrumento de meditação,
como o pentagrama de ferro. Suas pontas são o amor, sabedoria,
conhecimento, lei e poder.
Comece como no exercício de pentagrama de ferro.
O Amor é a energia que move a vida. Ele é tanto
cegamente erótico, como profundamente pessoal, apaixonado,
orgulhoso e poderoso para conosco e os outros. Ele é a lei da
Deusa e a essência da magia.
Sabedoria e Conhecimento são mais bem compreendidos
em conjunto. Conhecimento é aprendizagem, o poder da mente
para compreender e descrever o universo. Sabedoria é saber
como utilizar o conhecimento e como não utilizá-lo. Conhecimento
é saber o que dizer; sabedoria é saber calar. O conhecimento
fornece as respostas. A sabedoria faz as perguntas. O
conhecimento pode ser ensinado; a sabedoria advém da
experiência, de ter cometido erro.
Lei é a lei natural, não a lei dos homens. Quando
infringimos as leis naturais, sofremos as conseqüências como
resultado natural de nossos atos, não como um castigo. Se
alguém contraria a lei da gravidade, cai. A magia funciona dentro
dos parâmetros da lei natural, não fora deles. Mas a lei natural
pode ter um alcance maior e ser mais complexa do que
imaginamos.
Poder, novamente, é o poder que brota de dentro quando o
amor, conhecimento, sabedoria e lei encontram-se unidos. O
poder, enraizado no amor e equilibrado pelo conhecimento, lei e
sabedoria, propicia o crescimento e a cura.
Novamente, medite sobre as pontas e as ligações entre as
mesmas. Deite-se na posição do pentagrama, sinta as pontas
como parte de você e conscientize-se de seus próprios
desequilíbrios. Absorva a beleza do pentagrama de pérola.
CENTRO
O centro do círculo é o ponto de transformação. Ele
corresponde à essência pura, à atemporalidade, à luz
transparente, ao poder de ir, de movimentar, de mudar,
transformar. Seu instrumento mágico é o caldeirão, que pode ser
a tradicional panela de três pernas ou uma tigela de barro ou
metal. O caldeirão contém o fogo, a vela, o incenso, ervas
fumegantes ou uma fogueira. Ele também pode ser uma caçarola
de cozinha, na qual o fogo transforma o alimento que iremos
comer.
EXERCÍCIO 33: MEDITAÇÃO TRANSFORMADORA
Concentre-se e centre-se. Sussurre suavemente, várias
vezes: “Ela transforma tudo o que toca e tudo o que ela toca,
transforma-se.” Sinta os constantes processos de mudanças
dentro de você, em seu corpo, suas idéias e emoções, seu
trabalho e relacionamentos. Dentro de cada pedra imóvel, os
átomos encontram-se em movimento constante. Sinta as
mudanças ao seu redor, mudança que você conduziu e as que
você está prestes a realizar. Até mesmo o encerramento da
meditação faz parte do processo de transformação que é a vida.
Diga “salve, Kore, cujo nome não pode ser dito, ser eternamente
mutável!”
EXERCÍCIO 34: MEDITAÇÃO DO CALDEIRÃO
Concentre-se e centre-se. Segure o caldeirão com ambas
as mãos. Respire profundamente e sinta o poder da
transformação. Você segura o caldeirão de Ceridwen, onde os
mortos voltam à vida. Você segura o caldeirão no qual foi
preparada a essência que confere todo o conhecimento e
compreensão. O caldeirão é o útero da Deusa, o terreno de
gestação de tudo o que nasce. Pense nas transformações que
você sofre todos os dias. Em um átimo de segundo, você morre e
renasce mil vezes. Sinta seu poder de terminar e começar
novamente, sua capacidade de gerar, de criar, de dar vida a
coisas novas e deixe que este poder flua para o caldeirão.
Meditações sobre os elementos fazem parte do
treinamento de todo bruxo. Após experimentar a energia de cada
elemento mágico em separado, o aprendiz é ensinado a combinálas,
preparando-se para o aprendizado da disposição do círculo.
EXERCÍCIO 35: EXERCÍCIO DE VISUALIZAÇÃO DO
CÍRCULO
(Você pode deitar-se, sentar-se confortavelmente ou ficar
de pé e desenvolver esse exercício. Fique de frente para cada
direção, física ou mentalmente.)
Concentre-se e centre-se. Fique de frente para o leste.
Visualize sua athame em sua mão mais forte e trace o
pentagrama da invocação (como no exercício 13). Veja-o ardendo
com uma chama pálida e azul. Diga “salve, guardiões das torres
de observação do leste, poderes do ar.”
Ande pela pentagrama e veja o forte vento varrendo uma
vasta planície de capim ondulante. Respire profundamente e sinta
o ar em seu rosto, em seus pulmões, em seus cabelos. O sol está
nascendo e em seus raios brilha uma águia dourada, que voa em
sua direção. Quando você estiver repleto com o poder do ar, diga
“salve e adeus, seres brilhantes”. Ande de volta pelo pentagrama.
Volte-se e fique de frente para o sul. Novamente, desenhe
o pentagrama de invocação. Diga “salve, guardiões das torres de
observação do sul, poderes do fogo.”
Ande pelo pentagrama. Você está em uma savana ardente,
sob o sol quente. É meio-dia. Sinta o fogo do sol em sua pele e
absorva seu poder. A distância, leões vermelho-dourados
banham-se de sol. Quando você sentir-se em harmonia com o
fogo, diga “salve e adeus, seres luminosos”. Ande de volta pelo
pentagrama.
Volte-se e fique de frente para o oeste e, novamente,
desenhe o pentagrama. Diga, “salve, guardiões das torres de
observação do oeste, poderes da água”.
Ande pelo pentagrama. Você se encontra em um penhasco
escarpado acima de um mar revolto. Sinta a espuma do mar e a
força das ondas. O crepúsculo cai e as ondas verde-azuladas
tingem-se de violeta à medida que o sol desaparece. Golfinhos e
serpentes do mar mergulham e brincam na espuma. Quando você
sentir-se em harmonia com o poder da água, diga “salve e adeus,
seres melífluos” e ande pelo pentagrama.
Volte-se e fique de frente para o norte. Desenhe o
pentagrama e diga “salve, guardiões das torres de observação do
norte, poderes da terra.”
Ande pelo pentagrama. Você se encontra no coração de
uma paisagem exuberante e fértil, na encosta de uma montanha.
Ao seu redor existem plantas verdejantes em crescimento,
alimentadas por nascentes e árvores delgadas e silenciosas
alimentadas pelos minerais e nutrientes da terra. À distância,
cereais ondulam nos campos férteis. Cabras selvagens
equilibram-se nas alturas escarpadas acima de você, enquanto
que, abaixo, rebanhos de gado selvagem cruzam a planície. É
meia-noite; a lua está escondida, mas as estrelas brilham. A Ursa
Maior e Ursa Menor circulam a Estrela do Norte, o sereno ponto
central da roda em espiral do céu. Diga “salve e adeus, seres
silenciosos”.
Visualize os quatro pentagramas ao seu redor em um
círculo de chama azul. Acima de sua cabeça está uma estrela de
oito raios. Respire profundamente e absorva o poder da estrela.
Deixe que ele lhe preencha; sinta-o inundando todas as células de
seu corpo com luz, um cone de luz que alcança as profundezas
da terra que cerca você. Agradeça à estrela e deixe que a luz
retorne para a sua fonte. Abra o círculo visualizando os
pentagramas voando para o espaço.
Instrumentos adicionais utilizados na maioria dos covens
incluem um cordão, um colar, um turíbulo e um Livro das
Sombras, o qual já foi discutido no capítulo 3. O cordão é o
símbolo da união, de pertencer a um determinado coven. Em
algumas tradições, a cor do cordão significa o grau de
desenvolvimento na Arte de seu portador. O incensário é utilizado
para segurar o incenso e é identificado com o leste ou o sul, ar ou
fogo. O colar é o círculo do renascimento, o sinal da Deusa. Ele
pode ser de qualquer modelo que seja pessoalmente agradável.
Obviamente, velas, ervas, óleos e incensos também são
utilizados em Feitiçaria. Infelizmente, não disponho de espaço
para entrar em uma discussão detalhada de seus usos e
correspondências, especialmente considerando que essas
informações são fornecidas nas tabelas de correlações, além de
estarem disponíveis através de outras fontes. Uma bruxa, em
geral, depende mais de sua própria intuição do que das
associações tradicionais de ervas, odores e cores. Se os
materiais “adequados” não estão disponíveis, improvisamos.
Os instrumentos normalmente são mantidos em um altar, o
qual pode ser qualquer coisa desde uma cômoda antiga
entalhada a mão até uma caixa coberta por um pano. Quando
usado para meditações regulares e práticas mágicas, o altar
torna-se carregado de energia, um vórtice de poder. Geralmente,
o altar de uma bruxa fica de frente para o norte e os instrumentos
são dispostos em suas direções correspondentes. Imagens da
deusa e do deus – estátuas, conchas, sementes, flores – são
colocadas em uma posição central.
EXERCÍCIO 36: A CONSAGRAÇÃO DE UM
INSTRUMENTO
(Os instrumentos podem ser carregados – imbuídos de
energia psíquica – e consagrados dentro do ritual em grupo,
durante uma iniciação ou individualmente. Descreverei o rito para
uma athame; para outros instrumentos faça, simplesmente, as
adaptações necessárias.)
Monte o altar como achar melhor e acenda as velas e o
incenso. Realize a Purificação da Água Salgada e organize o
círculo através da Visualização do Círculo. Peça à Deusa que
esteja com você.
Segure sua athame em sua mão mais forte e diga
“abençoada seja, criatura da Arte”. Faça a meditação da athame
ou da espada.
Toque com ela os símbolos de cada um dos quatro
elementos, alternadamente: incenso para o ar, bastão para o
fogo, taça para a água e o pentagrama para a terra. Medite sobre
o poder de cada um dos elementos e visualize esses poderes
fluindo para a athame. Diga: “Que você seja carregada pelos
poderes do (ar,fogo,etc.) e sirva-me bem no (leste,sul,etc.), entre
os mundos, em todos os mundos. Que assim seja feito.”
Passe sua athame pela chama da vela e, com ela, toque o
caldeirão central. Visualize uma luz branca enchendo-a e
carregando-a, Diga: “Que você seja carregada pelo centro de
tudo, acima e abaixo, através e ao redor, dentro e fora, para
servir-me bem entre os mundos, em todos os mundos. Que assim
seja feito.”
Desenhe ou grave os seus símbolos pessoais na lâmina ou
no punho. Percorra-os com sua própria saliva, suor, sangue
menstrual, ou outras secreções, para criar um elo com o seu
instrumento. Respire sobre ele e imagine seu próprio poder
pessoal fluindo para ele.
Toque seu coração e seus lábios com ele. Levante-o para o
céu e aponte-o para a terra. Enrole seu cordão em volta dele (ou
imagine faze-lo, caso não tenha um cordão) e visualize um
escudo de luz recebendo o poder. Diga: “Cordão envolva, poder
encerre-se, luz revele-se, sejam agora todos selados.”
Encerre o poder, agradeça à Deusa e abra o círculo
agradecendo a cada uma das direções e visualizando os
pentagramas se dissolvendo.
Na disposição de um círculo, as formas externas utilizadas
são menos importantes que a força da visualização interior.
Quando a sacerdotisa invoca os guardiões do leste, por exemplo,
ela sente o vento e vê o sol nascendo com sua visão interior. Ela
também visualiza os pentagramas ardentes e o círculo de luz
rodeando o coven. Num coven forte, uma pessoa pode
desempenhar os atos dirigidos para fora, mas todos estarão
visualizando internamente o círculo e harmonizando-se aos
elementos.
As formas externas podem ser muito simples. Estando só,
pode ser suficiente simplesmente visualizar um anel de luz branca
em volta do quarto ou voltar para cada direção alternadamente e
dar batidas leves na parede. Um grupo pode dar-se as mãos e
imaginar o círculo ou um membro pode andar ao redor dos outros.
O círculo pode ser determinado antecipadamente com marcações
a giz, pedras, fios, flores, folhas ou conchas, ou desenhado
invisivelmente com a athame quando for organizado.
Este capítulo foi aberto com a descrição da organização
formal de um círculo. De início, ao tentar lembrar as palavras e os
atos, a visualização dos elementos e a sensação dos poderes
será bem mais difícil do que tentar passar a mão na cabeça e
esfregar o estômago ao mesmo tempo. Mas, com a prática, sua
concentração se aprimorará até que a seqüência completa
transcorra fácil e naturalmente. Você talvez deseje criar as suas
próprias invocações, em lugar de utilizar as que foram fornecidas.
A seguir, alguns outros exemplos:
UM CÍRCULO PARA O ALÍVIO DE DIFICULDADES
Por Alan Acacia
Salve, guardiões das torres do leste, poderes do ar:
Soprem a fadiga para longe, encham nossos pulmões.
Ajudem-nos a trazer o frescor
Para nossas vidas.
Que hajam céus claros, mentes claras
Para que possamos enxergar nosso caminho.
Permitam que nossas palavras criem um espaço seguro.
Abençoados sejam.
Salve, guardiões das torres de observação do sul, poderes
do fogo:
Penetrem em nossos corações, aqueçam-nos
Ajudem-nos a sair da hibernação, do isolamento
Para nos saudarmos uns aos outros
Deixem que a paixão ilumine nosso direito inato
Enquanto lutamos contra a injustiça.
Permitam que as nossas emoções saiam
De todos os seus esconderijos
Abençoados sejam.
Salve, guardiões das torres de observação oeste, poderes
da água:
Chovam sobre nós, saciem nossa sede.
Ajudem-nos a lembrar
Do oceano que é o útero de onde viemos.
Que todos agora estejamos unidos.
Permita que nossos humores fluam
Até que todos sejam um.
Dêem fim à seca da separação
Abençoados sejam.
Salve, guardiões das torres de observação do norte,
poderes da terra:
Fortaleçam nossas decisões, mantenham-nos centrados.
Ajudem-nos aqui, agora.
Permitam que nossos corpos sejam fortes
Para que nos amemos uns aos outros.
Deixem passar o atordoamento do cotidiano,
E todos nos encontraremos unidos
Em um só planeta.
Por causa de nossas lutas e magia
Que um círculo maior seja organizado
De amor e harmonia social.
Abençoados sejam.
INVOCAÇÕES RÍTMICAS DE VALERIE AOS QUATRO
CANTOS
Leste:
Mensageiro vivaz
Mestre das encruzilhadas
Primavera penetre suavemente
Em minha mente
Ser dourado sussurre
Navegante etéreo
Navegue do leste nas asas do vento.
Sul:
Flor do deserto, vontade ardente
Crepite com energia sob minha pele
Leão vermelho rugindo
Pulsos acelerados
Vagando pelo sul
Estou aberta: venha.
Oeste:
Guerreiro cinza pérola
Jornada espectral
Príncipe do crepúsculo
Navegando para oeste
Intuição, senhora do poente
Serpente ancestral do mar
Rainha perdida das águas crepusculares
Pés de prata venha silenciosamente.
Norte:
Mãe das montanhas, mãe das árvores,
Mãe da meia-noite, mãe da terra.
Raiz e folha e flor e espinho,
Venha até nós, venha até nós, dê-nos seu norte.
INVOCAÇÕES DO RITUAL DE SOLSTÍCIO DE VERÃO
(STARHAWK)
(Com estas, inicie pelo norte)
Meus ossos, meu corpo, como a terra sejam
Montanhas os meus seios
Grama fresca e folhagem abundante
Meus cabelos ao vento,
Pó escuro e rico, leito de lama
Semente lançando branca raiz profunda,
Tapete de folhas moldura natural
Nossa cama seja!
Pela terra que é o seu corpo,
Poderes do norte enviem sua força.
Ar, meu fôlego, brisa da manhã,
Garanhão da estrela do amanhecer,
Redemoinho, carregando todos os que nas alturas planam,
Abelha e pássaro,
Doce aroma,
Lamento da tempestade,
Transporte-nos!
Pelo ar que é seu fôlego,
Poderes do leste enviem sua luz.
Acenda meu coração, queime brilhante!
Meu espírito é uma chama,
Meu olhar nada perde.
Uma flama salta de nervo em nervo
Fagulha do fogo solar!
Desperta o calor replicante, deleite insuportável!
As chamas cantam, consuma-nos!
Pelo fogo que é seu espírito,
Poderes do sul, envie sua chama.
Irrigue meu útero, meu sangue,
Lave-nos, refresque-nos,
Ondas desembarcam na praia em asas brancas,
A corredeira, o sibilar, o ribombar das pedras
Enquanto a maré recua,
Esse ritmo, meu pulso,
Inunde, fonte esguichante,
Para que possamos nos derramar,
Leve-nos daqui!
Pelas águas do seu útero vivo,
Poderes do oeste, enviem seu fluxo.
O campo de energia criado por um círculo também pode
ser usado como proteção. Isto pode ser feito de maneira muito
simples.
EXERCÍCIO 37: CÍRCULO PROTETOR
Visualize um círculo ou uma bolha de luz branca ao redor
de si mesmo, com a energia correndo em sentido horário. Diga
para si mesmo que esta é uma barreira impenetrável a qual
nenhuma força prejudicial poderá atravessar. Se tiver tempo, faça
a visualização do círculo ou rapidamente invoque cada um dos
quatro elementos alternadamente.
EXERCÍCIO 38: CÍRCULO PROTETOR PERMANENTE
( Um círculo protetor permanente pode ser estabelecido em
volta de sua casa ou local de trabalho. O seguinte ritual pode ser
realizado sozinho ou em grupo, com cada uma das pessoas
carregando um dos objetos.)
Concentre-se e centre-se. Circule a casa em sentido
contrário ao movimento do sol com um sino, uma vassoura e água
salgada carregada. Toque o sino para espantar energias
negativas. Varra forças indesejadas com a vassoura ou use um
bastão para mandá-las embora. Borrife cada entrada – cada
janela, porta, espelho e principais saídas de água – com água
salgada. Também borrife todos os cantos dos quartos. Caso seja
necessário, faça a expulsão como no exercício 22. Realiza a
Purificação de Água Salgada.
Agora, dê uma volta pela casa em sentido horário, com
água salgada, athame e incenso. Desenhe um pentagrama de
invocação em cada entrada com a athame e, então, borrife com
água salgada. Concentre-se em formar uma barreira protetora
que não possa ser quebrada.
Finalmente, com o incenso, carregue cada entrada e canto,
convidando para entrar as forças positivas. Diga,
Sal e mar,
Do mar estejam libertos.
Fogo e ar,
Tragam tudo o que é propício.
Em todos os lados,
O círculo está fechado.
Formalmente organize o círculo no quarto que voce usará
para os rituais. Cante e eleve o poder a fim de encher a casa de
proteção. Agradeça, então, à Deusa, encerre o poder e abra o
círculo.
O círculo está organizado; o ritual teve início. Criamos o
espaço sagrado, um espaço à altura de receber os deuses. Nós
nos purificamos e nos centramos; nossas restrições mentais
foram abandonadas. Livres do medo, podemos nos abrir para a
luz das estrelas. Em perfeito amor e perfeita confiança, estamos
preparados para invocar a Deusa.

A DANÇA CÓSMICA DAS FEITICEIRAS
Autora: Starhawk
CAPÍTULO CINCO
A DEUSA
Entre os Mundos
Os encargos da Deusa 1,
Ouça as palavras da grande mãe, que, em tempos idos, era
chamada de Ártemis, Dione, Melusina, Afrodite, Ceridwen, Diana,
Arionrhod, Brígida e por muitos outros nomes:
“ Quando necessitar de alguma coisa, uma vez no mês, e é
melhor que seja quando a lua estiver cheira, deverá reunir-se em
algum local secreto e adorar o meu espírito que é a rainha de todos
os sábios. Você estará livre da escravidão e, como um sinal de sua
liberdade, apresentar-se-á nu em seus ritos. Cante, festeje, dance,
faça música e amor, todos em minha presença, pois meu é o êxtase
do espírito e minha também é a alegria sobre a terra. Pois minha lei é
a do amor para todos os seres. Meu é o segredo que abre a porta da
juventude e minha é a taça do vinho da vida, que é o caldeirão de
Ceridwen, que é o gral sagrado da imortalidade. Eu concedo a
sabedoria do espírito eterno e, além da morte, dou a paz e a liberdade
e o reencontro com aqueles que se foram antes. Nem tampouco exijo
algum tipo de sacrifício, pois saiba, eu sou a mãe de todas as coisas e
meu amor é derramado sobre a terra.”
Atente para as palavras da deusa estelar, o pó de cujos pés
abrigam-se o sol, a lua, as estrelas, os anjos, e cujo corpo envolve o
universo:
“ Eu que sou a beleza da terra verde e da lua branca entre as
estrelas e os mistérios da água, invoco seu espírito para que desperte
e venha até a mim. Pois eu sou o espírito da natureza que dá vida ao
universo. De mim todas as coisas vêm e para mim todas devem
retornar. Que a adoração a mim esteja no coração que rejubila, pois,
saiba, todos os atos de amor e prazer são meus rituais. Que haja
beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade, júbilo e
reverência, dentro de você. E você que busca conhecer-me, saiba
que a sua procura e ânsia serão em vão, a menos que você conheça
o mistério: pois se aquilo que busca, não se encontrar dentro de você,
nunca o achará fora de si. Saiba, pois, eu estou com você desde o
início dos tempos, e eu sou aquela que é alcançada ao fim do desejo.”
O simbolismo da Deusa tem assumido um poder eletrizante
para as mulheres modernas. A redescoberta de uma antiga civilização
femeocentrada trouxe profundo sentido de orgulho na capacidade de
a mulher criar e sustentar uma cultura. Ela expôs as falsidades da
história patriarcal e propiciou modelos de força e autoridade
femininas. Novamente, no mundo atual, reconhecemos a Deusa,
antiga e primitiva: a primeira das deidades; padroeira da Idade da
Pedra e suas caçadas e dos primeiros semeadores; sob cuja
orientação os rebanhos foram domesticados, as ervas curativas logo
descobertas; a partir de cuja imagem as primeiras obras de arte foram
criadas; para quem as pedras foram levantadas; que era a inspiração
para canções e poesia. Ela é a ponte, pela qual podemos cruzar os
abismos dentro de nós mesmos, que foram criados pelo
condicionamento social, e nos colocar em contato, novamente, com
os nossos potenciais perdidos. Ela é o navio, no qual navegamos nas
águas do self profundo, explorando os mares desconhecidos dentro
de nós. Ela é a porta, através da qual passamos para o futuro. Ela é o
caldeirão, no qual, os que fomos puxados de um lado para outro,
podemos cozinhar em fogo brando, até que sejamos novamente um
todo. Ela é a passagem vaginal, através da qual renascemos.
Uma análise comparativa geral, histórica e/ou cultural, da
deusa e de seus símbolos exigiria, por si só, vários volumes e eu não
farei tal tentativa no espaço limitado deste livro, tendo em vista,
especialmente, que muito material de boa qualidade já é disponível.2
Pelo contrário, limitar-me-ei a debater a deusa como é vista na
Feitiçaria e concentrar-me em sua função e significado para as
mulheres e homens da atualidade.
As pessoas, com freqüência, perguntam-me se eu acredito na
Deusa. Eu respondo: “Você acredita em pedras?” É extremamente
difícil, para a maioria dos ocidentais, captar o conceito de uma
deidade manifesta. A frase “acreditar em” implica que não podemos
conhecer a Deusa, que ela é, de alguma maneira, inalcançável,
incompreensível. Mas, nós não acreditamos em pedras, podemos
vê-las, tocá-las, cavá-las de nosso jardim ou impedir que crianças
atirem-nas umas nas outras. Nós as conhecemos; ligamo-nos a elas!
Na Arte, não acreditamos na Deusa: ligamo-nos a Ela, através da
lua, das estrelas, do mar, da terra, das árvores, animais e outros
seres humanos, através de nós mesmos. Ela está aqui. Ela está
dentro de todos nós. Ela é o círculo pleno: terra, ar, fogo, água e
essência; corpo, mente, espírito, emoções, transformações.
A Deusa é a primeira em toda a terra, o mistério, a mãe que
alimenta e dá toda a vida. Ela é o poder da fertilidade e geração; o
útero e também a sepultura que recebe, o poder da morte. Tudo vem
dela, tudo retorna para ela. Sendo terra, também é a vida vegetal; as
árvores, as ervas e os grãos que sustentam a vida. Ela é o corpo e o
corpo é sagrado. Útero, seios, barriga, boca, vagina, pênis, osso e
sangue; nenhuma parte do corpo é impura, nenhum aspecto dos
processos vitais é maculado por qualquer conceito de pecado.
Nascimento, morte e decadência, são partes igualmente sagradas do
ciclo. Se estamos comendo, dormindo, fazendo amor ou eliminando
excessos do corpo, estamos manifestando a deusa.
A Deusa da Terra é também o ar e o céu, a celestial Rainha do
Céu, A Deusa Estelar, regente de todas as coisas sensíveis mas
invisíveis: do conhecimento, da mente e da intuição. Ela é a musa,
que desperta todas as criações do espírito humano. Ela é a amante
cósmica, a estrela da manhã e do entardecer, Vênus que surge nos
momentos de amor. Bela e irradiante, ela jamais pode ser dominada
ou penetrada; a mente é conduzida cada vez mais adiante na ânsia
de conhecer o desconhecido, de falar o inexprimível. Ela é a
inspiração que vem no momento da introspecção.
A Deusa Celestial é vista como a lua, que está associada aos
ciclos mensais de sangramento e fertilidade das mulheres. A mulher é a
lua terrena; a lua é o ovo celestial, vagando no útero do céu, cujo sangue
menstrual é a chuva que fertiliza e o orvalho que refresca; aquela que
governa as marés dos oceanos, o primeiro ventre da vida na terra.
Portanto, a lua é também a Senhora das Águas: das ondas do mar,
correntes, nascentes, dos rios que são as artérias da Mãe Terra; dos
lagos, poços profundos e lagoas escondidas, dos sentimentos e emoções,
que nos tomam como ondas do mar.
A Deusa da Lua possui três aspectos: crescente é a donzela;
cheia, é a Mãe; minguante, é a anciã. Parte do treinamento de cada
iniciado implica períodos de meditação sobre a Deusa em seus vários
aspectos. Não disponho de espaço para incluir todos eles, mas
exemplificarei aqui com as meditações dos três aspectos da lua:
EXERCÍCIO 39: MEDITAÇÃO DA LUA CRESCENTE
Concentre-se e centre-se. Visualize uma lua crescente cor de
prata, que se curva para a direita. Ela é o poder daquilo que inicia, do
crescimento e geração. Ela é tempestuosa e indomada, como as
idéias e planos antes de serem equilibrados pela realidade. Ela é a
página em branco, o campo não semeado. Sinta as suas próprias
possibilidades escondidas e potenciais latentes; seu poder para iniciar
e crescer. Veja-a como uma menina de cabelos prateados correndo
livremente pela floresta sob a lua delgada. Ela é virgem, eternamente
não penetrada, a ninguém pertencendo, exceto ela mesma. Invoque
seu nome, “Nimuë!”, e sinta o seu poder dentro de você.
EXERCÍCIO 40: MEDITAÇÃO DA LUA CHEIA
Concentre-se e centre-se e visualize uma lua cheia. Ela é a
mãe, o poder da realização e de todos os aspectos da criatividade.
Ela nutre aquilo que foi iniciado pela lua nova. Veja-a abrindo os
braços, os seios abundantes, o ventre desabrochando em vida. Sinta
seu próprio poder de nutrir, dar, tornar manifesto o que é possível. Ela
é a mulher sexual; seu prazer na união é a força motriz que sustenta
toda a vida. Sinta o poder em seu próprio prazer, no orgasmo. Sua cor
é o vermelho do sangue, que é vida. Invoque seu nome “Mari!” e sinta
sua própria capacidade de amar.
EXERCÍCIO 41: MEDITAÇÃO DA LUA MINGUANTE
Concentre-se e centre-se. Visualize uma lua minguante, que se
curva para a esquerda, envolta na céu escuro. Ela é a anciã, a velha
que ultrapassou a menopausa, o poder de terminar, da morte. Todas
as coisas devem terminar a fim de suprir os seus inícios. O grão que
foi plantado deve ser cortado. A página em branco deve ser destruída,
para que a obra seja escrita. A vida se alimenta da morte; a morte
conduz à vida e, nesse conhecimento, encontra-se a sabedoria. A
velha é a mulher sábia, infinitamente velha. Sinta a sua própria idade,
a sabedoria da evolução armazenada em cada célula do seu corpo.
Conheça o seu próprio poder para terminar, para perder assim como
ganhar, para destruir aquilo que está estagnado e decadente. Veja a
velha em seu manto negro sob a lua minguante: invoque seu nome
“Anu!” e sinta seu poder em sua própria morte.
A tríade da lua transforma-se na estrela quíntupla do
nascimento, iniciação, amor, paz e morte. A Deusa manifesta-se no
ciclo total da vida. As mulheres são valorizadas e respeitadas na
idade avançada, assim como na juventude.
Nascimento e infância, obviamente, são comuns a todas as
culturas. Mas, até muito recentemente, nossa sociedade não
conceituou o estágio da iniciação, da exploração pessoal e
autodescoberta, como sendo necessário para as mulheres. Esperavase
que as meninas passassem diretamente da infância para o
casamento e maternidade, do controle de seus pais para o controle de
seus maridos. Uma iniciação exige coragem e autoconfiança,
características que as meninas não eram estimuladas a desenvolver.
Atualmente, o estágio de iniciação pode implicar em estabelecimento
de uma carreira, na exploração de relacionamentos ou no
desenvolvimento de nossa própria criatividade. Mulheres que pularam
esse estágio em suas juventudes, com freqüência acham necessário
retornar a ele mais adiante. Os estágios posteriores da vida só podem
ser plenamente vividos após a completitude da iniciação e da
formação de um self individualizado.
O estágio do amor também é chamado de consumação e é o
estágio da criatividade plena. Relacionamentos se aprofundam e
ocorrem como um ato de entrega. Uma mulher pode escolher ser mãe
ou cuidar de uma carreira, um projeto ou uma causa. Um artista ou
escritor atinge seu estilo maduro.
Criações, independentemente de serem crianças, poemas ou
organizações, assumem vida própria. À medida que se tornam
autônomas e as exigências diminuem, o estágio de tranqüilidade é
alcançado. Com a idade vem uma nova iniciação, reflexiva, menos
ativa fisicamente porém mais profunda devido aos insights da
experiência. A idade avançada, em Feitiçaria, é visto muito
positivamente, como o tempo em que a atividade evolui para a
sabedoria. Esta conduz à iniciação final, que é a morte.
Esses cinco estágios estão incorporados a nossas vidas, mas
também podem ser percebidos em cada novo empreendimento ou
projeto criativo. Cada livro, cada pintura, cada novo trabalho nasce
como idéia. Ela é submetida a um período iniciatório de exploração
que, às vezes, é assustador, pois somos obrigados a aprender coisas
novas. À medida que nos sentimos confortáveis diante de uma nova
habilidade ou conceito, o projeto pode ser consumado. Ele existe
independentemente; enquanto o deixamos em suspenso, outras
pessoas podem ler o livro, apreciar o quadro, saborear a comida ou
aplicar o conhecimento que ensinamos. Finalmente, ele termina; ele
morre e nós passamos para algo novo.
O pentagrama, todas as folhas de cinco lóbulos e flores de
cinco pétalas são sagrados para a Deusa como uma estrela quíntupla.
A maçã é especialmente seu emblema, pois quando é partida no
sentido de uma cruz, suas sementes formam um pentagrama.
A natureza da Deusa jamais é uma coisa só. Onde quer que
ela apareça, corporifica ambos os pólos da dualidade – vida na morte,
morte na vida. Ela possui mil nomes, mil aspectos. Ela é a vaca
leiteira, a aranha que tece, a abelha com penetrante picada. Ela é o
pássaro do espírito e a porca que come o próprio filhote. A cobra que
troca sua pele e se renova; o gato que enxerga no escuro; o cão que
uiva para a lua. Ela é todos. Ela é a luz e a escuridão, a padroeira do
amor e da morte, que manifesta todas as possibilidades. Ela tanto
traz conforto quanto dor.
É mais fácil responder ao conceito da Deusa enquanto musa
ou mãe, inspiração, alimento e poder curativo. É mais difícil
compreender a Deusa como destruidora. A dualidade judeu-cristã
condicionou-nos a pensar sobre a destruição como sinônimo do mal.
(Apesar de que, a Deusa sabe, o Jeová do Antigo Testamento estava
longe de ser suave e arauto da luz.) A maioria de nós vive afastada da
natureza, isolada das experiências que constantemente lembram às
pessoas mais “primitivas” que todo ato de criação é um ato de
agressão. Para plantar um jardim, você deve retirar as ervas
daninhas, eliminar as lesmas, podar as plantas à medida que se
esticam em direção à luz. Para escrever um livro, você deve destruir
rascunho após rascunho de seu próprio trabalho, dividindo parágrafos
e retirando palavras das frases. A criação postula transformação;
qualquer mudança destrói aquilo que veio antes.
A criadora-destruidora manifesta-se no fogo, que destrói tudo
aquilo que o alimenta a fim de produzir calor e luz. Fogo é a lareira
aconchegante, o fogo criativo da forja, a alegre fogueira da
celebração. Mas a deusa é também o fogo furioso da ira.
O poder da ira é difícil de ser encarado. Identificamos a ira com
violência e as mulheres foram condicionadas a sentir que sua raiva é
errada e inaceitável. No entanto, a raiva é uma manifestação de força
vital. É uma emoção de sobrevivência, um sinal de alerta de que algo
em nosso ambiente é ameaçador. O perigo desencadeia uma
resposta física, psíquica e emocional, que mobiliza nossa energia
para mudar a situação. Sendo humanos, respondemos a ataques
verbais e emocionais como se fossem ameaças, que suscitam a raiva.
Mas, quando não somos capazes de admitir a nossa própria raiva, ao
invés de reconhecermos a ameaça do ambiente, vemo-nos como
errados. Em lugar de fluir para fora, a fim de mudar o ambiente, nossa
energia fica presa em esforços internos, como a repressão e o
controle.
A Deusa liberta a energia de nossa ira. Ela é vista como
sagrada e seu poder é purificado. Como o fogo numa floresta na
imensidão imperturbável, ela varre para longe a vegetação rasteira
para que os brotos de nossa criatividade possam receber a luz do sol
que os alimenta. Controlamos nossas ações; não tentamos controlar
nossos sentimentos. A raiva torna-se uma força de ligação que incita
confrontações e comunicações honestas com os outros.
Referi-me à Deusa como símbolo psicológico e, também, como
realidade manifesta. Ela é ambos. Ela existe e nós a criamos. Os
símbolos e atributos associados à Deusa falam com o self mais jovem
e, através dele, com o self profundo. Eles nos ocupam
emocionalmente. Sabemos que a Deusa não é a lua, mas ainda nos
maravilhamos com a sua luz brilhando através dos ramos das
árvores. Sabemos que a Deusa não é uma mulher, mas respondemos
com amor como se ela o fosse e, portanto, associamo-nos
emocionalmente a todas as qualidades abstratas por trás do símbolo.
Várias formas e símbolos representam a Deusa. Olhos que
esquematicamente são também seios, simbolizam seus poderes
nutrientes e o dom da visão interior. O crescente representa a lua:
uma meia-lua que cresce e míngua, costas contra costas, torna-se a
acha-d’armas, a arma das culturas da Deusa. Triângulos, ovais e
losangos, as formas dos órgãos genitais femininos, são também seus
símbolos. Como parte do treinamento de um iniciado, ele é ensinado
a visualizar símbolos, a meditar e brincar sobre e com eles, em sua
imaginação, até que revelem seus significados diretamente. Qualquer
símbolo ou aspecto da deusa pode ser a base para a meditação, mas
como tenho espaço para somente um exemplo, escolhi a espiral
dupla:
EXERCÍCIO 42: A ESPIRAL DUPLA
Concentre-se e centre-se. Visualize uma espiral dupla. Ao vê-la
nitidamente, deixe-a crescer até que possa ficar de pé nela e siga-a
para dentro, movimentando-se para a esquerda. Ela se transforma em
um caminho confuso de altas cercas vivas e, então, um labirinto com
paredes de pedra; suas curvas sinuosas são a passagem para um
segredo escondido. À medida que você se movimenta pela espiral, o
mundo se dissolve, a forma se dissolve, até que você se encontra no
cerne recôndito onde nascimento e morte formam uma só coisa. O
centro da espiral brilha; é a Estrela do Norte e os braços da espiral
são a Via Láctea, uma miríade de estrelas girando lentamente ao
redor do ponto central imóvel. Você está no Castelo da Espiral, às
costas do Vento Norte. Explore-o em sua imaginação. Veja as
pessoas que você encontra, aquilo que você aprende. Você está no
ventre da Deusa, flutuando livremente. Agora, sinta-se sendo
empurrado e apertado, movendo-se para fora da espiral, que agora é
a passagem vaginal do renascimento. Movimente-se em sentido
horário através da espiral dupla do seu ADN (ácido
desoxirribonucléico, DNA em inglês). Agora ela se transforma em um
redemoinho; voe com ela. Deixe que ela se torne a gavinha
entrelaçada de uma planta – um cristal – uma concha – elétron em
órbita. O tempo é uma espiral – os ciclos se repetindo eternamente,
mas, no entanto, sempre em movimento. Conheça a espiral como a
forma fundamental de toda energia. Enquanto você volta, deixe que
ela retorne para a sua forma pequena, abstrata e simbólica. Agradeça
e deixe que ela desapareça.
Os Encargos da Deusa, apresentado na abertura deste
capítulo, reflete a interpretação da Arte da Deusa. Começa com uma
longa lista de nomes da Deusa, retirados de várias culturas, os quais
não são entendidos como seres isolados, mas como diferentes
aspectos do mesmo ser, que é todos os seres. Os nomes usados
podem mudar de acordo com as estações ou preferências do orador:
por exemplo, a Deusa pode se chamar “Kore” na primavera, em
virtude do aspecto de donzela da Deusa grega. Uma bruxa de origem
judaica poderá chamar a antiga Deusa hebraica de Ashimah ou
Asherah; uma bruxa afro-americana poderá preferir Iemanjá, a deusa
da África Ocidental, do mar e do amor.3 Na maioria das tradições da
Arte, o nome interno da Deusa é reconhecido por incorporar maior
poder e, portanto, é mantido em segredo, revelado somente para
iniciados. Os nomes externos freqüentemente utilizados são Diana,
para a deusa da lua e Aradia, sua filha, que, segundo as lendas, foi
enviada à terra para libertar as pessoas através dos ensinamentos
das artes da magia.4
“Necessidade de alguma coisa” refere-se tanto às
necessidades espirituais quanto materiais. Em bruxaria não há essa
separação. A Deusa manifesta-se na comida que comemos, nas
pessoas que amamos, no trabalho que realizamos, nas casas onde
moramos. Não é considerado ignóbil pedir por bens ou confortos
necessitados. “Trabalhe para si e verá que o self está em toda parte”,
é um ditado da tradição da fadas. É através do mundo material que
nos abrimos para a Deusa. Mas, a Feitiçaria também reconhece que
quando as necessidades materiais são atendidas, necessidades e
anseios mais profundos podem permanecer. Estes somente podem
ser satisfeitos através da associação com as forças interiores, que
alimentam e dão a vida, a que chamamos de Deusa.
O coven encontra-se na lua cheia, em homenagem à Deusa
que está no auge de sua glória. As marés de poder sutil são
consideradas como sendo as mais fortes quando a lua está cheia. A
Deusa é identificada à frutificante energia lunar que ilumina a
escuridão secreta; o poder feminino, pulsante e mareante, que
aumente e diminui em harmonia com o fluxo menstrual da mulher. O
sol é identificado aos self masculino e polar, o deus, cujos festivais
são celebrados em oito pontos de poder no ciclo solar.
A Deusa é a libertadora e já foi dito que o “seu ofício é a
liberdade total”,5 Ela é a libertadora, pois manifesta-se em nossos
anseios e emoções mais profundos que, sempre e inevitavelmente ,
ameaçam sistemas elaborados para contê-los. Ela é amor e ira, os
quais recusam adaptação confortável à ordem social. Ser “livre da
escravidão” significava, anteriormente, que dentro do círculo ritual
todos eram iguais, independentemente de serem camponeses, servos
ou nobres no mundo exterior. Escravidão, hoje, pode ser mental e
emocional, como também física: a escravidão das percepções fixas,
das idéias condicionadas, de crenças cegas, do medo. A Feitiçaria
requer liberdade intelectual e coragem para confrontarmos nossas
próprias suposições. Ela não é um sistema de crenças; é uma atitude
de constante auto-renovação de alegria e encanto para com o
universo.
O corpo nu representa a verdade, a verdade que é mais
profunda que os costumes sociais. As bruxas realizam seus cultos
nuas por várias razões: como uma maneira de estabelecer intimidade
e de deixar cair as máscaras sociais, pois o poder é mais facilmente
evocado deste modo e porque o corpo humano, em si, é sagrado. A
nudez é um sinal de que a lealdade de uma bruxa é para com a
verdade, antecedendo qualquer ideologia ou quaisquer ilusões
reconfortantes.
Rituais são alegres e prazerosos. Bruxos cantam, festejam,
dançam, riem, brincam e divertem-se no decorrer dos rituais. A
Feitiçaria é séria, mas não é, no entanto, pomposa e solene. Como no
judaísmo hassidim ou na bhakti yoga, alegria e êxtase são percebidos
como caminhos para o divino. O “êxtase do espírito” não é separado
da “alegria na terra”. Um leva ao outro; um não pode ser
verdadeiramente concebido sem o outro. Alegrias terrenas, não
vinculadas ao profundo e sensível poder da Deusa, tornam-se
mecânicas, sem sentido, meras sensações que, em pouco tempo,
perdem seu encanto. Mas êxtases espirituais que tentam fugir dos
sentidos e do corpo tornam-se igualmente áridos e sem fundamentos,
sugando a vitalidade em lugar de alimentá-la.
A lei da Deusa é o amor: o apaixonado amor sexual, a
carinhosa afeição entre amigos, o feroz e protetor amor da mãe pelo
filho, o profundo companheirismo do coven. Não há nada amorfo ou
superficial em relação ao amor da religião da Deusa; ele é sempre
específico, direcionado a indivíduos reais e não a um vago conceito
de humanidade. O amor inclui os animais, plantas, a terra, “todos os
seres”, não somente os humanos. Ele inclui a nós mesmos, assim
como todas as nossas falíveis qualidades humanas.
Ceridwen é uma das formas da Deusa celta e seu caldeirão é o
caldeirão-útero do renascimento e da inspiração. Na mitologia celta
primitiva, o caldeirão da Deusa revivia guerreiros mortos. Ele foi
roubado e levado para o inferno e os heróis que guerrearam, a fim de
que fosse recuperado e retornasse, foram os cavaleiros originais do
rei Artur e sua Távola Redonda, que buscavam sua encarnação
posterior, o Santo Gral. O outro mundo celta é denominado de Terra
da Juventude e o segredo que abre a sua porta é encontrado no
caldeirão: o segredo da imortalidade reside no fato de perceber a
morte como parte integral da ciclo da vida. Nada, jamais, se perde no
universo: o renascimento pode ser compreendido na própria vida,
onde todo fim conduz a um novo início. A maioria das bruxas
acreditam, de fato, em alguma forma de reencarnação. Isto não de
deve à doutrina, mas ao entranhado sentimento que cresce a partir de
uma visão de mundo que percebe todos os eventos como sendo
processos contínuos. A morte é entendida como uma das pontas da
roda em constante movimento e não o derradeiro final.
Continuamente nos renovamos e renascemos toda vez que bebemos
plena e destemidamente da “taça do vinho da vida.”
O amor da Deusa é incondicional. Ela não exige sacrifícios –
humano ou animal – nem tampouco é sua vontade que sacrifique-mos
nossos desejos e necessidades normais e humanos. A Feitiçaria é
inerente à vida, que sofre mudanças constantes que geram perdas
constantes. Oferendas: um poema, uma pintura, uma pitada de algum
grão, podem expressar nossa gratidão por suas dádivas, mas
somente quando estas são realizadas espontaneamente e não como
uma espécie de obrigação.
Na passagem da Deusa Estelar, percebemos as imagens do
entorno celestial, a lua, as águas, a terra verde, de onde tudo vem e
para onde tudo retornará. Ela é o “espírito da natureza”, que vivifica
todas as coisas.
Qualquer ato baseado no amor e no prazer é um ritual da
Deusa. Seu culto pode tomar qualquer forma e ocorrer em qualquer
lugar; não exige liturgia, catedrais ou confissões. Sua essência é a
identificação, no cerne do prazer, de sua fonte mais profunda. O
prazer, deste modo, não é superficial e transforma-se em uma
expressão profunda da força vital; um poder de ligação que nos une
aos outros, não a mera sensação de satisfazer nossas necessidades
isoladas.
A Feitiçaria reconhece que qualquer virtude torna-se um vício a
menos que seja contrabalançada por seu oposto. A beleza, quando
não sustentada pela força, é insípida, sem vida. O poder é intolerável
quando não mediado pela compaixão. A honra, enquanto não
equilibrada pela humildade, transforma-se em arrogância; e a alegria,
quando não colorida pela reverência, torna-se mera superficialidade.
Finalmente, compreendemos o mistério: a não ser que
busquemos a Deusa dentro de nós, jamais a encontraremos no lado
de fora. Ela é interior e exterior; sólida como uma rocha, mutável
como a imagem interna que dela fazemos. Ela é manifesta em cada
um de nós. Portanto, por que procurar em outros lugares?
A Deusa é o “fim do desejo”, sua meta e sua realização. Em
bruxaria, o desejo é visto como uma manifestação da Deusa. Não
tentamos dominar ou fugir de nossos desejos: buscamos realizá-los.
O desejo é a ligadura do universo; une o elétron ao núcleo, o planeta
ao sol e, desta maneira, cria a forma, cria o mundo. Realizar o desejo
significa unir-se ao que é desejado, tornar-se uno, unido à Deusa. Já
estamos unidos à Deusa, ela está conosco desde o início. Portanto, a
satisfação não é auto-indulgência, mas autopercepção.
Para as mulheres, a Deusa é o símbolo daquilo que é mais
íntimo nas pessoas e o poder benéfico, nutritivo e libertador que
existe dentro de cada uma. O cosmos é modelado conforme o corpo
feminino, que é sagrado. Todas as fases da vida são sagradas: a
idade é uma benção, não uma praga. A Deusa não limita as mulheres
ao seu corpo; ela desperta a mente, o espírito e as emoções. Através
dela, podemos conhecer o poder de nossa raiva e agressividade,
assim como o poder do nosso amor.
Para um homem, a Deusa, além de ser a força da vida
universal, é o seu próprio e recluso self feminino. Ela incorpora todas
as qualidade que a sociedade lhe ensina a não reconhecer em si
mesmo. Sua primeira experiência com a Deusa pode,
consequentemente, ser um tanto estereotipada; ela será a amante
cósmica, o ser que alimenta, o outro eternamente desejado, a musa,
tudo aquilo que ele não é. À medida que ele se torna um todo e se
conscientiza de suas própria qualidades “femininas”, ela parece
mudar, mostrando-lhe uma nova face, sempre segurando o espelho
que reflete para ele aquilo que ainda é inalcançável. Ele pode
persegui-la para sempre e ela o iludirá, mas através desta tentativa
ele crescerá, até que também aprenda a encontrá-la dentro de si.
Invocar a Deusa é despertar a Deusa que existe dentro de nós,
é tornarmo-nos, durante um período, aquele aspecto da Deusa que
invocamos. Uma invocação canaliza poder através da visualização de
uma imagem da divindade. Em alguns covens, uma sacerdotisa é
escolhida para representar a Deus manifesta para o restante. Em
nossas assembléias, ela é invocada para estar presente em cada
membro do círculo.
Uma invocação pode ser um determinado trecho de poesia ou
música, cantada ou falada por um indivíduo ou pelo grupo. Em nossos
covens, normalmente cantamos em grupo, algumas vezes sem
palavras e espontaneamente, outras usando uma frase específica que
é repetida várias vezes. Um cântico interpretado por múltiplas vozes
em algumas ocasiões envolve uma sacerdotisa, que repete uma linha
simples em surdina. “Tudo que é destemido é livre”, por exemplo,
enquanto outra canta um ciclo repetitivo – “ Verde folha do broto/Folha
do broto brilhante”, e assim por diante (veja a seguir) – e uma terceira
declama um longo trecho poético, enquanto que todo o coven
suavemente entoa os sons das vogais. É impossível reproduzir o
efeito em uma folha de papel, mas as palavras são fornecidas, a
seguir. Quando você fizer uso das invocações dadas aqui, por favor
brinque com elas, experimente-as com melodias e encantamentos
simples, rearrume-as, combine-as, misture-as, transforme-as e
inspire-se nelas para criar as suas próprias:
CÂNTICOS DE REPETIÇÃO (À DEUSA)
LUA Mãe Brilho Luz de Todos Terra Céu INVOCAMOS Você.
LUNA Mamãe Luz Irradiante VENHA.
SALVE Velha Lua SÁBIA SALVE Velha Lua SÁBIA.
Ela BRILHA Para Todos Ela FLUI Através de Todos.
Tudo Que é DESTEMIDO e Livre Tudo Que é DESTEMIDO é Livre.
CICLO DE REPETIÇÃO: “ O DESABROCHAR”
(Este desenvolveu-se a partir de um transe de associação de
palavras, como no exercício 8. As palavras devem ser enfatizadas de
maneira uniforme, sem quebras entre os grupos, que são separados
para facilitar a memorização. Todo o ciclo é repetido várias vezes.)
Verde Broto Folha/Broto Folha Brilhante/Folha Brilhante Flor/
Brilhante Flor Cresça/Flor Cresça Fruta/Cresça Fruta Madura/
Fruta Madura Semente/Madura Semente Morra/Semente Morra Terra/
Morra Terra Escura/Terra Escura Desperte/Escura Desperte Verde/
Desperte Verde Broto...
CÂNTICO SUMERIANO
(Metade é cantada em duas ou três notas – repita todo o cântico)
NAMmu NAMmu O NamMU AE EE AE EE O NamMU
NINmah NUNmah O NinMAH AE EE AE EE O NinMAH
MAmi MAmi O MaMI AE EE AE EE O MaMI
MAma MAma O MaMA AE EE AE EE O MaMA
MAH MAH O MAH MAH AE EE AE EE O MAH MAH...
INVOCAÇÃO À LUA ORVALHADA
Ó pregnante, orvalhada lua a navegar pelos céus,
Que brilha para todos,
Que flui através de todos.
Luz do mundo.
Donzela, mãe, anciã,
Ser Criativo Ser Refrescante
Ísis Astartéia Ishtar
Aradia Diana Cibele
Kore Ceridwen Levanah
Luna Mari Ana
Rhiannon Selena Demeter Mah
Olhe com nossos olhos, ouça com nossos ouvidos,
Toque com nossas mãos, respire com nossas narinas,
Beije com nossos lábios, abra nossos corações,
Penetre em nós!
Toque-nos, transforme-nos, faça-nos um todo.
HOMENAGEM À DEUSA, SENHORA DE MUITOS NOMES
À DEMETER, SER INCOMENSURÁVEL, E À DONZELA
Por KAREN LYND CUSHEN
‘ Tome, coma, este é o meu corpo
Que ascenderá em Você
Em toda a sua plenitude’
‘Tome, beba, este é o meu sangue
A taça vazia será
Reenchida’
Deusa da Colheita,
O fruto de cuja alegria no retorno de sua filha,
Sustenta-nos mesmo quando Você torna árida a terra
Em sua partida.
A terra em fendas se abre
E Perséfone
A donzela cujo nome não pode ser dito
É engolida pela terra dos mortos.
Ela retornará,
Em cujas pegadas brotam flores e grãos
Levando para ela
Memórias misteriosas de onde ela veio
Deméter
Conhecedora de nosso sofrimento
Pois todos os anos vemos a sua própria tristeza
Assolar a face da terra
E a Sua Filha
Próxima à hora de nossa morte
Pois todos os anos a morte a invoca
Conhecemos a esperança porque lembramos
Vez após outra
Perséfone curando-Se
E você com ela, subindo
Deméter, mãe
Nós que já descansamos em seus joelhos
E adormecemos em seus braços, reverenciamos você,
Unja-nos e coloque-nos à noite
No coração vermelho do seu fogo;
Nós não recuaremos
E jamais diante do medo
Fugiremos do seu aconchego.
Fortaleça-nos em inegável calor
E conceda-nos o suave frescor
Para que amorosos retornemos
Sempre vivos com a primavera
Nós, seu grão sagrado,
Reverenciamos você não no abate
Mas ao semearmos, plantarmos nossos pés, espalhando sua semente
Nos passos de sua filha que retorna
E na colheita.
Nós a eira
Solo de seu ser
Onde você sorri com feixes e papoulas em sua mão
Observando o joeirar
No calor da manhã acordamos
Nossas gargantas secas sedentas pela taça de Eleusis
Brisa refrescante do ceifeiro
Nossos membros ansiosos por balouçar novamente ao vento
Em sua antigas danças
Dos nossos sonhos, nossos mitos, nossos contos infantis
Dos guetos onde sobrevive a sua memória
Nós contemplamos você
Conhecemos a canção por você cantada,
Canção do corpo sagrado
Seu e nosso
E homenageamos você, senhora de muitos nomes,
Donzela e Ser Incomensurável.
CÂNTICO KORE: EQUINÓCIO DA PRIMAVERA E DO OUTONO
Seu nome não pode ser dito,
Sua face jamais esquecida,
Seu poder está prestes a desabrochar,
Sua promessa jamais rompida.
(Primavera)
Todas as sementes adormecidas ela desperta,
O arco-íris é o seu símbolo,
Agora o poder do inverno se encerra
No amor, todas as correntes são desfeitas.
(Outono)
Todas as sementes ela profundamente enterra,
Ela tece o fio das estações.
Seu segredo, a escuridão carrega,
Ela ama acima das razões.
Ela transforma tudo o que toca, e
Tudo o que ela toca, transforma-se. (Repetir – cantar.)
Transformação é, tocar é; Tocar é, transformação é.
Transforme-nos! Toque-nos! Toque-nos! Toque-nos!
Tudo que é perdido novamente é encontrado
Em uma nova forma, em uma nova maneira.
Todo mal é novamente curado,
Em uma nova vida, em um novo dia.
(Repita quaisquer e todos os versos.)
INVOCAÇÃO À DEUSA COMO MÃE por SUSAN STERN
Mama!
Do meu coração,
Do meu sangue, mama
Eu invoco você...
Meu coração do seu calor
Membro do seu vento norte
Água de sua água
Gruta de sua colina
Broto de sua primavera
Olhos de suas estrelas
Mama
Olhos do se sol,
Mama
Do seu sol, mama
Meu espírito do seu sol
Mama
Venha, mama!
Venha para o nosso círculo
Nosso ventre
Esteja conosco agora, mama
Faça-se presente agora!
MÃE LUA por LAUREL
Mãe lua
Sou seu fruto da inocência
Seu filho natural
Nenhuma lei somente a sua pode me dominar
Nenhum amor a não ser o seu
Infinito
Sempre mutável
Multifacetado
Seus olhos são asas tremeluzentes
Seu pé é espuma dançante
Sou seu dançarino
Você é a dança
Canção sem fim
Música e melodia
Toda a orquestra
Do seu amor
Eu poderia seguir
Seu caminho dourado
Direto para o sol
Dançando pelo caminho
Para o seu coração
Ó leve-me para longe
Deixe-me balançar em sua estrela
Murmúrio inconstante
Correnteza lago lagoa
Oceano
Remoinho
Ó estrondoroza
Ser que alimenta
O único e verdadeira amor
Por onde passa deixa tesouros
Dólares de areia
Pedras lisas
Seu comestível cabelo verde
Esta é a nossa vida mama
Sua e minha
Todos os poderes vibrantes
Todas as luzes brilhantes
Correntes alternadas
E diretas
Eu posso Ter o refreio
Mas você é a corrente
O circuito
O interruptor
A célula de reserva
Loucura a meia-noite
Orações ao amanhecer
Êxtase ao calor do meio-dia
Miragem que aponta
Para o real esplendor
Ouro e açafrão
Rubi e vermelho
Nascente
Pôr-da-lua
A única canção entre todas
Que é
Foi
E sempre será
Abençoada seja.
INVOCAÇÃO À RAINHA DO VERÃO
Rainha do Verão
Abelha Rainha
Doce perfumada
Florescente
Néctar do Mel
Fonte transbordante
Rosa desabrochada
Dançarina inebriante
Vento murmurante
Cantora
Ser encantado
Flor e espinho
Rhianon
Arianrhod
Afrodite
Ishtar
Cibele
Penetre-nos
Leve-nos daqui!
1, O Papel da Deusa foi escrito por Doreen Valiente. Ele aparece sob diversas formas; nesta versão, fiz
alterações ligeiras na linguagem. Ele é muitissimo apreciado pelos bruxos por expressar perfeitamente
nosso conceito da Deusa.
2 Uma das melhores fontes históricas recentes sobre a Deusa é Marlin Stone, When God Was a Woman
(Nova York, Dial Press, 1976). Ver também a bibliografia atualizada de estudos publicados nos dez anos
após a primeira edição deste livro.
3 Existem muitos livros disponíveis que exploram a religião da Deusa historicamente e através de
comparações culturais. A obra clássica ainda é a de Robert Graves, The White Goddess (Nova York:
Farrar, Straus & Giroux, 1066).
4 Charles Leland, Aradia, Gospel of the Witches (Nova York: Weiser, 1974).
5 “Era dito da Deusa coroada de lótus nos mistérios coríntios, muito antes de a expressão ser aplicada ao
idealmente benigno Deus-Pai: ‘ Seu ofício é a liberdade total’” (Graves, p. 484).
A DANÇA CÓSMICA DAS FEITICEIRAS
CAPÍTULO VI
AUTORA: STARHAWK
O DEUS
ENTRE OS MUNDOS
Invocação ao Deus
O sacerdote se dirige para o centro do círculo e toma o tambor. Batendo forte e
ritmicamente, ele inicia o cântico:
Semeador, grão que renasce,
Galhudo, Vinde!
Outras vozes unem-se à dele. Com as mãos, que bate em suas coxas nuas,
ele define o ritmo; pés acompanham com batidas no chão. Há um forte grito:
"Io! Evoé!"
Silêncio. Um suave tenor começa a cantar:
Sol brilhante, morte escura,
Senhor dos ventos, senhor da dança,
Filho do Sol, rei nascido no inverno,
Ser suspenso,
Indômito! Indômito!
Veado e garanhão, bode e touro,
Navegante do último mar, guardião do portal,
Senhor das duas terras,
Sempre morrendo, sempre vivendo, esplendor!
Dioniso, Osíris, Pã, Dumuzi, Artur,
Robin, Janicot, Hou!
Movimente-nos! Toque-nos! Sacuda-nos!
Salve-nos!
Tudo está quieto. O sacerdote deita o tambor ao chão e diz simplesmente: "Ele
está aqui". O coven ecoa: "Ele está aqui!" "Abençoado seja!"
Envelheci... Envelheci...
Vestirei calças com os fundilhos amassados.
Repartirei meus cabelos ao meio? Ousarei comer um pêssego?
Vestirei brancas calças de flanela e pelas praias andarei.
Ouvi as sereias cantarem, umas para as outras.
Não creio que cantarão um dia para mim.
T.S.Eliot[1]
"Está muito em voga, atualmente, incitar os homens a sentir. Todavia, esta
ânsia é parcialmente uma reminiscência da provocação de colocar um homem
aleijado para correr."
Herb Goldberg[2]
A imagem do Deus Galhudo em Feitiçaria é radicalmente diferente de qualquer
outra imagem de masculinidade em nossa cultura. Ela é difícil de ser
compreendida, pois ele não se encaixa em nenhum dos estereótipos
esperados, nem aqueles referentes ao homem "macho" nem às imagens
invertidas daqueles que, deliberadamente, buscam a efeminação.[3] Ele é
suave, carinhoso e encorajador, mas é também o Caçador. Ele é o Deus
Moribundo, mas a sua morte está sempre a serviço da força vital. Ele é
sexualidade indomada, mas sexualidade como um poder profundo, sagrado e
unificador. Ele é o poder do sentimento e a imagem do que os homens
poderiam ser, se estivessem libertos das correntes da cultura patriarcal.
A imagem do Deus Galhudo foi deliberadamente pervertida pela igreja
medieval para a imagem do diabo cristão. As bruxas não acreditam ou cultuam
o diabo - elas o consideram como um conceito próprio do cristianismo. O Deus
das Bruxas é sexual, mas a sexualidade é percebida como sagrada, não como
obscena ou blasfema. Nosso deus possui chifres, mas estes são as meias-luas
que crescem e minguam da Deusa da Lua e o símbolo da vitalidade animal.
Em alguns aspectos, ele é negro, não por ser horrendo ou assustador, mas
porque a escuridão e a noite são períodos de poder e parte dos ciclos
temporais.[4]
Sempre existiram tradições da Arte nas quais ao deus é concedido
reconhecimento limitado.[5] Na Arte, os mistérios femininos e os mistérios
masculinos podem ser desempenhados separadamente.[6] Mas, na maioria
das tradições de bruxas, o Deus é visto como a outra metade da Deusa e
muitos dos ritos e festividades são dedicados a ele e a ela.
No culto medieval das bruxas, o Deus alcançou maior proeminência que a
Deusa durante certo período. Grande parte das confissões das bruxas falam
"do diabo", segundo a transcrição das palavras das bruxas realizadas pelos
padres cristãos, que se referiam ao seu deus não cristão. Poucas fazem
menção à Deusa, que geralmente era chamada Rainha de Elfame. Todavia, os
interrogadores das bruxas buscavam indícios do culto ao diabo e não do culto à
Deusa. Eles registravam aqueles que sustentavam suas acusações relativas a
satanismo e ignoravam ou torciam outro indicio. Suspeitos que eram
torturados, e que chegavam ao limite de sua resistência, freqüentemente
recebiam declarações já prontas para assinarem, as quais expressavam aquilo
que os padres cristãos desejavam acreditar, em lugar da verdade.
Uma prática comum na Arte medieval era o sacerdote e a sacerdotisa
representarem os papéis do Deus e da Deusa, os quais, acreditava-se,
encarnavam fisicamente durante os ritos. Uma antiga passagem citada por
Margaret Murray expressa a importância desse costume para camponeses
analfabetos, para os quais ver era crer: o sacerdote zombava daqueles que
"escolhiam crer em Deus, o que os deixava infelizes no mundo, e nem ele ou
seu filho, Jesus Cristo, jamais apareciam para quando invocados, como ele
havia feito, ele que jamais os enganaria."[7] Para a maioria das bruxas, "aquele
sabá terreno era o verdadeiro paraíso, o qual continha mais prazer do que lhe
era possível expressar; ela acreditava, também, que a alegria por ele
proporcionado era somente o prelúdio de uma glória muito maior, pois seu
deus penetrara de tal maneira em seu coração que nenhum outro
desejo encontraria ressonância".[8]
No movimento feminino, a Feitiçaria diânica/separatista[9] tornou-se moda e
algumas mulheres podem ter dificuldades em compreender porque uma
feminista se preocuparia com o Deus Galhudo. No entanto, existem poucas
mulheres - se, de fato, existem - cujas vidas não estão ligadas aos homens,
senão sexual e emocionalmente, então economicamente. O Deus Galhudo
representa qualidades masculinas poderosas e positivas que derivam de fontes
mais profundas que estereótipos e o aleijamento emocional e violento dos
homens em nossa sociedade.
Se o homem tivesse sido criado à imagem do Deus Galhudo, estaria livre para
ser indomado sem ser cruel, irado sem ser violento, sexual sem ser coercivo,
espiritual sem ser assexuado e capaz de amar verdadeiramente. As sereias,
que são a Deusa, cantariam para ele.
A Deusa é aquela que tudo envolve, o solo do ser; o Deus é aquele que é dado
à luz, a sua imagem espelhada, o seu outro pólo. Ela é a terra; ele é o grão. Ela
é o céu que tudo abarca; ele é o sol, sua bola de fogo. Ela é a Roda; ele o
Viajante. Dele é o sacrifício da vida pela morte, a fim de que a vida possa
continuar. Ela é a mãe e Destruidora; ele é tudo que nasce e é destruído.
Para os homens, o Deus é a imagem do poder interior e da potência que vai
além do sexual. Ele é o self não dividido, no qual a mente não é cindida do
corpo, nem o espírito da carne. Unidos, ambos podem funcionar ao máximo do
poder criativo e emocional.
Em nossa cultura, ensina-se aos homens que a masculinidade exige ausência
de sentimentos. Eles são condicionados a agir de maneira militar; a castrar as
emoções e ignorar a mensagem de seus corpos; a negar o desconforto físico, a
dor e o medo, a fim de lutar e dominar com maior eficácia. Isso assume foros
de verdade independentemente de o campo de batalha ser o da guerra, um
quarto ou um escritório.
Tornou-se uma espécie de clichê afirmar que os homens foram treinados para
serem agressivos e dominadores, e as mulheres ensinadas a serem passivas e
submissas, que aos homens é permitido demonstrar sua raiva e às mulheres
não. Na cultura patriarcal, ambos, homens e mulheres, aprendem a funcionar
dentro de uma hierarquia, onde aqueles que se encontram no topo dominam os
que estão abaixo.
Um aspecto dessa dominância é o privilégio de expressar a raiva. O general
repreende o sargento; ao soldado não é permitido fazer a mesma coisa. O
chefe é livre para ficar furioso, mas não o seu assistente. A mulher do chefe
grita com sua empregada, mas não vice-versa. Visto que as mulheres têm,
geralmente, estado na parte inferior das hierarquias, do mundo dos negócios à
família tradicional, elas vêm suportando o ímpeto de uma grande quantidade de
fúria masculina e têm sido as principais vítimas da violência. A raiva pode ser
vista como resposta a um ataque; poucos homens encontram-se em posições
onde podem se dar ao luxo de confrontar diretamente seus atacantes.
A raiva masculina, portanto, torna-se distorcida e pervertida. É ameaçador
reconhecer a fonte verdadeira de sua ira, pois, deste modo, ele seria obrigado
a reconhecer o desamparo, a impotência e a humilhação de sua posição. Ao
invés disso, ele pode voltar a sua raiva para alvos mais seguros, mulheres,
crianças ou, até mesmo, homens menos poderosos. Ou sua raiva pode
transformar-se em autodestruição: doenças, depressão, alcoolismo ou qualquer
variedade de vícios disponíveis.
Patriarcado significa, literalmente, "lei dos pais", mas em um patriarcado, a
poucos homens é permitido desempenhar o papel de "pai" fora da esfera
limitada da família. A estrutura de instituições hierárquicas é piramidal: um
homem ao alto controla muitos abaixo. Os homens competem por dinheiro e
pelo poder sobre os outros; a maioria, que não alcança o topo da corrente de
comando, é forçada a permanecer imatura, desempenhando o papel de filho
rebelde ou cumpridor de seus deveres. Os filhos zelosos buscam agradar
eternamente ao pai através da obediência; os maus filhos buscam derruba-lo e
tomar o seu lugar. De qualquer maneira, eles não estão em contato com seus
próprios desejos e sentimentos.
Nossas religiões, portanto, refletem um cosmos no qual o Deus-Pai exorta seus
"filhos" a obedecer às normas e a fazer aquilo que lhes é pedido, a menos que
queiram tomar o partido do grande rebelde. Nossa psicologia é a da guerra
entre pais e filhos, que constantemente disputam a posse exclusiva da mãe,
que, como todas as mulheres sob o patriarcado, é o prêmio máximo do
sucesso. E a política progressista reduz-se às atitudes de filhos rebeldes, os
quais destronam o pai somente para instituir as suas próprias hierarquias.
O Deus Galhudo, todavia, nasce de uma mãe virgem. Ele é um modelo de
poder masculino que está livre da rivalidade entre pai e filho e dos conflitos
edipianos. Ele não tem pai; é o seu próprio pai. À medida que cresce e
atravessa as mudanças da Roda, permanece relacionado à força nutriente
primordial. Seu poder é extraído diretamente da Deusa: ele é parte dela.
O Deus incorpora o poder do sentimento. Seus chifres animais representam a
verdade da emoção não mascarada, a qual não busca agradar a nenhum
senhor. Ele é indômito. Mas, sentimentos indomados são muito diferentes de
violência sancionada. O deus é a força da vida, o ciclo da vida. Ele permanece
dentro da órbita da deusa; seu poder está sempre a serviço da vida.
O Deus das Bruxas é o Deus do amor. Esse amor inclui a sexualidade, que
também é plenamente selvagem e indomada, assim como suave e carinhosa.
Sua sexualidade é plenamente sentida, em um contexto onde o desejo sexual
é sagrado, não somente por ser o meio pelo qual a vida é procriada mas,
também, porque ele é o meio através do qual nossas próprias vidas são mais
profundas e extaticamente realizadas. Em Feitiçaria, o sexo é um sacramento,
sinal externo de uma graça interior. Essa graça é a profunda ligação e o
reconhecimento da totalidade da outra pessoa. Em essência, não se limita ao
ato físico, é uma troca de energia, um alimentar sutil entre as pessoas. Através
da ligação com o outro, ligamo-nos ao todo.
Na Arte, o corpo masculino, como o corpo feminino, é tido como sagrado, que
não deve ser violado. É violação do corpo masculino utiliza-lo como arma, do
mesmo modo que é uma violação do corpo feminino usa-lo como objeto ou
campo de experimentação à serviço da virilidade do homem. Fingir desejo,
quando inexistente, viola a verdade do corpo, assim como a repressão do
desejo, o qual é totalmente sentido mesmo quando não satisfeito. Mas, sentir
desejos e anseios é admitir a necessidade, o que é ameaçador para muitos
homens em nossa cultura.
Sob o patriarcado, os homens, enquanto estimulados a esperar muitos
cuidados por parte das mulheres, também são ensinados a não admitir a
necessidade de serem alimentados, a necessidade de, às vezes, serem
passivos, fracos, de se apoiar em outra pessoa. O Deus, em Feitiçaria,
personifica o anseio e o desejo pela união com a força primordial e nutriente.
Em lugar de buscar cuidados maternos ilimitados de mulheres reais e vivas, os
homens, na Feitiçaria, são encorajados a se identificarem com o Deus e,
através dele, atingirem a união com a Deusa, cujo amor de mãe não tem
limites. A Deusa é tanto uma força externa quanto interna: quando sua imagem
penetra a mente e o coração de um homem, torna-se parte dele. Ele pode aliarse
às suas próprias qualidades nutritivas, com a Musa interior, que é uma fonte
de inspiração indelével.
O Deus é Eros, mas também é logos, o poder da mente. Em bruxaria, não
existe oposição entre estes. O desejo corporal pela união e o desejo emocional
pela ligação são transmutados no desejo intelectual pelo conhecimento, que
também é uma forma de união. O conhecimento pode ser tanto analítico
quanto sintético; pode separar as coisas e observar as diferenças ou formar um
padrão a partir de partes não integradas e enxergar o todo.
Para as mulheres educadas em nossa cultura, o deus começa como símbolo
de todas as qualidades que foram identificadas como masculinas e que não
fomos estimulados a possuir. O símbolo do Deus, como o da Deusa, é interno
e externo.
Através da meditação e do ritual, a mulher que invoca o Deus cria a sua
imagem dentro de si e liga-se às qualidades das quais carece. Uma vez que a
sua compreensão vai além das limitações culturalmente impostas, sua imagem
do Deus transforma-se, aprofunda-se. Ele é a criação, que não é simplesmente
uma réplica de nós mesmos, mas algo diferente, de natureza diferente.A
verdadeira criação implica a separação, visto que o próprio ato de nascimento
é de renúncia, de abandono. Através do Deus a mulher conhece este poder em
si mesma. Seu amor e desejo distendem-se através do abismo da separação,
retesados como a corda de uma harpa, cantarolando uma nota que se
transforma na única canção - o universo - de todos. Essa vibração é energia, a
verdadeira fonte do poder interior. E, portanto, o Deus, como a Deusa, dá
poderes à mulher.
Para ambos, homens e mulheres, o Deus é também o Deus Moribundo. Como
tal, ele representa o cessar que sustenta a vida: morte a serviço da força da
vida. A vida é caracterizada por muitas perdas e, a menos que a dor de cada
uma seja plenamente sentida e trabalhada, ela permanece enterrada na
psique, onde como uma ferida purulenta que nunca sara, ela exsuda o veneno
emocional.[10] O Deus Moribundo incorpora o conceito de perda. Nos rituais,
quando representamos a sua morte repetidas vezes, liberamos as emoções
que cercam as nossas próprias perdas, lancetamos as feridas e vencemos as

dificuldades em direção à cura prometida pelo renascimento. Essa purificação
psicológica era o verdadeiro objetivo da tragédia teatral, que se originou na
Grécia, a partir dos ritos do agonizante deus Dioniso.
Em Feitiçaria, a morte é sempre seguida do renascimento, a perda pela
restituição. Após a escuridão da lua, o novo crescente surge. A primavera vem
após o inverno; o dia depois da noite. Nem todos os bruxos crêem na
reencarnação literal; muitos, como Robin Morgan, percebem-na como " uma
metáfora daquela transição misticamente celular, na qual os dançarinos ADN e
ARN (ácido ribonucléico) entrelaçam-se imortalmente".[11] Mas, em uma visão
de mundo que compreende tudo como sendo cíclico, a morte em si não pode
ser o derradeiro final, mas um tipo de transformação desconhecida para
alguma nova forma de ser.
Na encenação e reencenação da morte do Deus, preparamo-nos para
enfrentar essa transformação, para vivermos o último estágio da vida. O Deus
transforma-se no confortador e consolador de corações, ensinando-nos a
compreender a morte através de seu exemplo. Ele personifica o carinho, o
aconchego e a compaixão que são os verdadeiros complementos da
agressividade masculina.
O Deus Moribundo adquire chifres e torna-se o Caçador, que paulatinamente
acerca-se da morte. Poucos de nós, atualmente, participamos dos processos
vitais; não criamos ou caçamos nossa própria carne, mas a adquirimos
plasticamente embalada no supermercado. É difícil, para nós, compreender o
conceito de Caçador Divino. Mas, em uma cultura de caçadores, a caçada
significava vida, e o caçador era o propiciador da vida da tribo. A tribo
identificava-se com seus alimentos animais; caçar exigia tremenda habilidade e
conhecimento dos hábitos e psicologia da presa. Animais nunca eram abatidos
desnecessariamente e nenhuma parte era desperdiçada. A vida jamais era
tomada sem reconhecimento e reverência para com o espírito da presa.
Hoje, a única coisa que a maioria de nós caça regularmente são vagas para
estacionar. Mas, o caçador possui outro aspecto: de buscar, de procurar. Ele
personifica todas as jornadas, sejam elas físicas, espirituais, artísticas,
científicas ou sociais. Sua imagem é poemagógica: ela tanto simboliza como
desencadeia o processo criativo, que é em si uma jornada. O Deus busca a
Deusa, como o rei Artur buscou o Santo Graal, como cada um de nós busca
aquilo que perdemos e tudo o que ainda não foi encontrado.
Como a Deusa, o Deus une todos os opostos. Como na invocação no início
deste capítulo, ele tanto é o sol brilhante, a força energizante e fornecedora da
lua, como a escuridão da noite e da morte. Ambos os aspectos, como disse
anteriormente, são complementares, não contraditórios. Não podem ser
identificados como "bons" ou "maus": ambos fazem parte do ciclo, o equilíbrio
necessário da vida.
Como Senhor dos Ventos, o Deus é identificado com os elementos e o mundo
natural. Como Deus da Dança, ele simboliza a dança espiral da vida, as
energias rodopiantes que unem a existência em eterno movimento. Ele
personifica o movimento e a mudança.
A Criança do Sol nasce no solstício de inverno quando, após o triunfo da
escuridão da noite mais longa do ano, o sol levanta-se novamente. Em
bruxaria, as celebrações da Deusa são lunares; as do Deus acompanham o
padrão mitológico da Roda do Ano.
No solstício de inverno, ele nasce como a encarnação da inocência e da
alegria, de um prazer infantil pelas coisas. Dele é o triunfo da luz que retorna.
Na celebração de Brígida ou Candelária (2 de fevereiro)[12] seu crescimento é
festejado, à medida que os dias se tornam visivelmente mais longos. No
equinócio da primavera, ele é o jovem, viçoso e florescente, que dança com a
Deusa em sua forma de donzela. Nos festejos de Beltane (1º de maio, o antigo
dia dos celtas para a festa da primavera), seu casamento é celebrado com
paus-de-fita enfeitados e fogueiras e no solstício de verão ele é consumado,
em uma união tão completa que ela se transforma em morte. Ele é nomeado
rei coroado do verão, em lugar de nascido inverno e a coroa é de rosas: a
perfeição da culminância casada com os espinhos pontiagudos. Ele é velado
em Lughnasad (1º de agosto) e, no equinócio de outono, adormece no útero da
Deusa, navegando através do mar sem sol, que é o seu ventre. Na celebração
Samhain (Dia das Bruxas, 31 de outubro), ele chega à Terra da Juventude, a
Terra Brilhante onde os espíritos dos mortos tornam-se jovens novamente,
enquanto esperam pelo renascimento. Ele abre os portões para que possam
retornar e visitar os seus bem-amados e reina ma Terra dos Sonhos à medida
que se torna mais jovem, até que no solstício de inverno novamente
renasce.[13]
Este é o mito: a afirmação poética de um processo que é sazonal, celestial e
psicológico. Ao encenarmos o mito no ritual, representamos nossas próprias
transformações, o constante nascimento, crescimento, culminância e
transmissão de nossas idéias, planos, trabalho, relacionamentos. Cada perda,
cada mudança, mesmo uma que seja feliz, representa uma reviravolta na vida.
Cada um de nós transforma-se no Ser Suspenso: a erva pendurada para secar,
a carne secando ao sol, o Enforcado do Tarô, cujo significado é o sacrifício que
nos permite passar para um novo nível de ser.
A associação de amor e morte é muito forte na mitologia de várias culturas. Em
Feitiçaria, o amor nunca é associado à violência física real e nada poderia ser
mais antiético ao espírito da Arte que a atual febre de pornografia violenta. O
Deus não perpetra atos de sadomasoquismo com a Deusa ou prega para ela o
"poder da renúncia sexual". É Ele que se abandona ao poder de seu próprio
sentimento.
Em nenhuma parte, a não ser no amor, vivemos tão completamente no
presente que se consome; e em nenhum outro período, a não ser quando
estamos apaixonados, tornamo-nos tão marcadamente conscientes de nossa
própria mortalidade. Pois, mesmo que o amor seja duradouro - e ambas, as
canções populares e a experiência pessoal, asseguram-nos o contrário - ou se
transforme em uma forma mais doce e profunda, e menos fogosa, mais cedo
ou mais tarde um dos amantes morrerá e o outro ficará só. A Arte não busca
resolver esse dilema, mas intensifica-lo, pois somente através da compreensão
do agridoce, pelo abraço de Pã, cujas coxas cabeludas, ao se esfregarem
contra as nossas deixam-nas em carne viva, mesmo ao levar-nos ao êxtase,
podemos aprender a ser plenamente viventes.
E, portanto. O Deus é o veado orgulhoso que habita o coração da floresta mais
profunda, a do self. Ele é o garanhão, veloz como o pensamento, cujas patas
em meia-lua deixam marcas lunares mesmo quando lançam fagulhas do fogo
solar. Ele é o bode-Pã, luxúria e medo, as emoções animais que são também
os poderes estimuladores da vida humana; ele é a lua-touro, com seus chifres
em meia-lua, sua força e suas patas que retumbam sobre a terra. Estes são
apenas alguns dos seus aspectos animais.
No entanto, ele é indomado. Ele é tudo aquilo dentro de nós que jamais será
domesticado, que se recusa a fazer concessões, ser moderado, tornar-se
seguro, moldado ou adulterado. Ele é livre.
Como deus do ano que se extingue, ele navega o último mar da terra dos
sonhos, o outro mundo, o espaço interno no qual a criatividade é gerada. A
mítica ilha Brilhante é a nossa própria fonte interna de inspiração. Ele é o self
viajando pelas águas escuras da mente inconsciente. Os portões por ele
guardados são os portais que dividem o inconsciente do consciente, os portões
da noite e do dia os quais atravessamos para irmos além da ilusão da
dualidade, os portões da forma através dos quais entramos e saímos da vida.
Enquanto ele é o eterno moribundo, também é o que eternamente renasce. No
momento da sua transformação, torna-se imortal, como o amor é imortal
mesmo que os seus objetos possam esmaecer. Ele brilha com o esplendor que
irradia a vida.
O Deus, assim como a Deusa, possui muitos nomes. Ele surge, ligado a ela,
através dos tempos, das cavernas paleolíticas aos touros de Creta antiga, aos
contos medievais de Robin Hood e seus homens.[14] Qualquer um de seus
nomes ou aspectos pode ser utilizado como um enfoque para a meditação.
Apesar de existirem muitos homens na Feitiçaria moderna, em geral, eles são
menos imediatamente atraídos para a Arte, como o são as mulheres. À parte
de quão simplista ou supersticiosamente a Arte seja compreendida, ela oferece
às mulheres um modelo de força feminina e poder criativo; nesse ponto,
notadamente ela sofre pouca competição por parte de outras religiões. Mas,
para os homens, ela exige que abram mão de formas tradicionais de poder e
conceitos tradicionais de religião. O que ela oferece aos homens é algo mais
sutil e, nem sempre, fácil de ser compreendido.
Os homens não são subservientes ou relegados a uma cidadania espiritual de
segunda classe em bruxaria.[15] Mas, tampouco são imediatamente elevados a
um status mais alto que o das mulheres, como ocorre em outras religiões.
Homens na Arte devem interagir com mulheres fortes e poderosas que não
fingem ser nada menos do que são. Muitos homens acham essa perspectiva
desconcertante.
A Arte exige, também, novo relacionamento em relação ao corpo feminino. Ele
não pode mais ser entendido como um objeto ou difamado como algo sujo. O
corpo de uma mulher, seus cheiros, secreções e sangue menstrual, é sagrado,
digno de reverência e celebração. Os corpos das mulheres pertencem somente
a elas; nenhuma autoridade espiritual apoiará a tentativa de um homem em
possuí-lo ou controla-lo.
O corpo não é para ser festejado em isolamento. Os homens na Arte devem
entrar em um acordo quanto ao poder da mulher: o poder de uma mulher
completa, a mulher realizada, cuja mente, espírito e emoções estão
plenamente despertados. O homem também deve conhecer e aceitar o poder
do seu próprio self feminino interno; saber gerar uma fonte de alimentação e
inspiração dentro de si, em lugar de busca-la exclusivamente no exterior.
Feitiçaria significa, também, perder o modelo de espiritualidade do "grande
homem". Jesus, Buda, Krishna, Moisés e toda a horda de pregadores, profetas,
gurus e líderes grupais que afirmam ensinar em seus nomes ou em nome de
seus descendentes seculares, perdem as suas auréolas. Em bruxaria, não
existem figuras paternas reconfortantes e que tudo sabem, que prometem
respostas para tudo ao preço de nossa própria autonomia pessoal. A Arte
exorta cada um de nós para que sejamos nossa própria autoridade, e esta
pode ser uma posição desconfortável.
Na realidade, não existe mais um Deus, o Pai. Na Arte, o cosmo não é mais
modelado a partir do controle masculino externo. A hierarquia é dissolvida; a
cadeia celestial de comando é rompida; os textos divinamente revelados são
vistos como poesia, não verdades. Em vez disso, o homem deve entrar em
contato com a Deusa, que é imanente ao mundo, na natureza, na mulher, em
seus próprios sentimentos, em tudo aquilo que as religiões de sua infância
ensinaram-no como sendo necessário superar, transcender, dominar, a fim de
ser amado por Deus.
Mas, os próprios aspectos da Feitiçaria que parecem ameaçadores também
oferecem aos homens uma nova e vibrante possibilidade espiritual: a da
totalidade, união e liberdade. Homens corajosos acham estimulantes os
relacionamentos com mulheres poderosas. Eles acolhem a chance de
conhecerem o feminino dentro de si, de crescerem para além das limitações
culturalmente impostas e tornarem-se um todo.
Tentativas para viver o modelo do Deus-Pai isolam os homens em situações de
vida emocionalmente rígidas. Muitos homens recebem com alegria a liberdade
do fim do eterno conflito pai-filho do patriarcado. Eles se comprazem em um
modelo de poder masculino que é não hierárquico, em que não é nem escravo
e nem senhor.
Enquanto alguns indivíduos talvez não escapem da autoridade externa em
suas próprias vidas, eles as vêem como são: um conjunto arbitrário de regras
de um jogo complexo. Eles podem jogar ou recuar, mas suas identidades e
auto-estima não dependem mais do lugar que ocupam na pirâmide do poder.
Na Arte, a cisão entre mente e corpo, carne e espírito, é curada. Os homens
são livres para serem espirituais sem serem assexuados, pois Deus e Deusa
incorporam a força profundamente tocante da sexualidade apaixonadamente
vivida. Eles podem unir-se a seus sentimentos verdadeiros, suas
necessidades, suas fraquezas, assim como a suas forças. Os rituais são
vigorosos, físicos, energéticos e catárticos.
O êxtase e a energia selvagem e indomada são revestidos de um valor
espiritual, não relegados ao campo de futebol ou ao bar da esquina.
É incômodo ser a nossa própria autoridade, mas é o único estado sob o qual o
verdadeiro poder pessoal pode desenvolver-se. Homens e mulheres não se
contentam mais em serem submissos ou bodes expiatórios, de colocarem
decisões de vida e morte nas mãos de um "líder destemido", um papa ou um
Jim Jones. A autoridade pessoal exige integridade e responsabilidade, mas
sem ela não podemos ser livres.
Nos covens, os homens podem ter apoio do grupo e a afeição de outros
homens, bem como das mulheres. Eles podem interagir em situações que não
são competitivas ou antagônicas. Homens em covens podem tornar-se amigos
de outros homens.
Finalmente, a Feitiçaria é divertida. Ela oferece aos homens uma oportunidade
para brincar, agir totalmente, de deixar a criança que existe dentro de nós
sair. Não existem posições a serem sustentadas, nenhuma dignidade
masculina que deva permanecer intacta. Através de tolices e brincadeiras
nasce a criatividade.
O Deus está dentro e fora. Como a Deusa, ele é invocado de várias maneiras:
com canções, cânticos, tambores, danças, um poema sussurrado, um grito
selvagem. De qualquer maneira que o invocamos, ele desperta dentro de nós:
CÂNTICOS DE REPETIÇÃO (AO DEUS)
Semente Semeador GRÃO Renasce GALHUDO VINDE!
BRILHANTE Sol ESCURO Morte Senhor dos Ventos VINDE
HAR HAR HOU HOU
DANCE Ici DANCE Lá!
JOUE Ici JOUE Lá!
HAR HAR HOU HOU!
DANCE Aqui DANCE Lá![16]
O SOL Filho do REI Nascido no Inverno
(ou) O SOL Filho do REI Coroado do Verão
IO! EVOÉ IO! EVOÉ!
Evoé é um dos nomes do Deus, derivado de um antigo nome de Dioniso e
citado como um brado das bruxas nos registros da época das fogueiras.[17]
CICLO DE REPETIÇÃO
Sol Brilhante Dia/ Brilhante Dia Sempre/ Dia Sempre Noite/ Sempre Noturno
Céu/ Noturno Céu Estrela/ Céu Estrela Luz/ Estrela Luz Sol/ Luz Sol Brilhante/
INVOCAÇÃO DO EQUINÓCIO DE ASPECTO MASCULINO
Por ALAN ACACIA
Deus galhudo, domado pelo amor, feroz com paixão.
Esteja conosco agora
Ser suave, partilhador, sem posses.
Esteja conosco agora
Amante dos homens e das mulheres, criança, ancião.
Esteja conosco agora
Forte na luta, orgulhoso da terra da qual você brota,
E para onde você quedará
Esteja conosco agora
Filho leal, pai carinhoso, irmão amoroso, lutador contra as violações
Esteja conosco agora
Rebelde, semeador, tímido, aquele que nos dá apoio,
Precisamos de sua energia, invocamos sua presença
Esteja conosco agora.
INVOCAÇÃO AO DEUS DO VERÃO
Senhor das cores do dia
Despertador indômito dos corações
Consolador das tristezas
Aquele que nomeia
Dançarino clarividente
Filho da manhã
Semente amadurecida da videira
Ser de muitas jóias
Caçador besta selvagem
Guie-nos
Venha
Você é a bebida que sacia a nossa sede!
Nós somos as flores orvalhadas
Que se abrem para o seu feixe dourado de luz.
I
NVOCAÇÃO À DEUSA E AO DEUS
Por VALERIE
Semeador de Kouros, Kore subterrâneo,
Brilho das folhas, sanguinária, grão renascido,
Girando a Roda não esquecemos de você,
Luz do amor, esplendor da vida, flor e espinho.
Tecendo a teia invocamos você,
Girando a Roda com amor perene.
Terra seu corpo, ar seu fôlego,
Fogo seu espírito, água seu fluxo,
Transformados nos corredores da morte,
Vida contínua vida nós chegamos e partimos.
Tecendo a teia nós invocamos você,
Girando a Roda com amor sempre renovado.
Kouros galhudo, Kore acima,
Luz das estrelas, alegria do coração, júbilo original,
Tecendo a teia nós invocamos você,
Girando a Roda com amor sempre renovado.
INVOCAÇÃO AO FUNDAMENTO DO SER
Inefável de muitos nomes
Eterno e sempre mutável
Que não é encontrado nenhures mas que está em toda parte
Além e dentro de tudo
Atemporal círculo das estações,
Mistério incognoscível conhecido por todos.
Senhor da Dança,
Mãe de toda a vida,
Seja feliz dentro de nós,
Envolva-nos com o seu amor,
Veja com nossos olhos, ouça com nossos ouvidos, respire com nossas narinas,
toque com nossas mãos, beije com nossos lábios,
Abra nossos corações!
Que possamos viver, enfim, livres,
Alegremente na única canção
De tudo que é, foi ou sempre será!
INVOCAÇÃO A PÃ
Por MARK SIMOS
Se o corvo seus cabelos tingir
E sentar-se um rei escarlate
Na escada inclinada do coração
Então, oh, os espetáculos que lá você verá...
O cristal se quebrando
Sob um penetrante olhar verde-escuro,
Um penetrante olhar verde-escuro, de olhos fogosos,
De lagoas do mais profundo âmbar...
Cerque seu castelo de urze branca,
Ainda assim Pã encontrará seus aposentos.
Encha-o até a borda, não diga quando,
Beba até fartar-se e beba novamente,
Ouça o mar tonitruando.
Encha-o até a borda, não diga quando,
É Pã que continua servindo...
Mãos de nozes, os olhos de um urso...
Aquele que busca as suas tristezas
Poderá achar a parte do leão.
Com o mesmo fôlego ele atrai e avisa...
O fogo que mantém o frio à distância
É o mesmo fogo que queima.
A chama que arde, a canção que mata,
Quando você ouve o que ela está dizendo...
Deixe o pânico perseguir-vos no labirinto,
Pois Pã está somente se divertindo.
Encha-o até a borda, não diga quando,
Beba até fartar-se e beba novamente,
Ouça o mar tonitruando.
Encha-o até a borda, não diga quando,
É Pã que continua servindo.
Observador misterioso com sobrancelhas emaranhadas
Põe seu dedo em seus lábios,
Não mais ouviremos juras,
De promessas que jamais guardaremos,
Nem do sonho secreto
Que foge quando despertamos do sono.
Quando do sono despertamos,
E os nossos olhos esfregamos,
Para impedir que as lágrimas salgadas escorram,
Você pode cobrir os seus ouvidos para abafar os seus brados...
Entretanto é Pã que continua simplesmente chamando.

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O GUIA ESSENCIAL DA BRUXA SOLITÁRIA

Scott Cunningham

Este livro, resultado de dezesseis anos de experiência prática e pesquisas, é um guia que descreve os aspectos básicos da teoria e da prática em Wicca. Foi escrito tendo em mente o estudante ou praticante solitário; portanto, não contém descrições de rituais para coven ou dinâmicas de grupo em magia.

A Wicca aqui descrita é "nova". Não há revelações sobre antigos rituais zelosamente transmitidos através dos séculos. Isso, entretanto, não diminui sua eficácia, pois ela se baseia em práticas testadas pelo tempo. Um encantamento a Innana de três mil anos não é necessariamente mais poderoso ou eficaz do que outro improvisado durante um ritual privado. A pessoa que executa o ritual é que determina seu sucesso. Se, para você, encantamentos seculares são nada mais que tagarelices sem sentido, é bem provável que o ritual não surta efeito, do mesmo modo que não surtiria efeito uma cerimônia Shintoísta nas mãos de um Metodista. Para Ter efeito, os rituais devem falar ao seu coração. Para alguns, os rituais são a essência da Wicca, enquanto para outros representam complementos prazerosos à filosofia e modo de vida da Wicca. Na Wicca, como de resto em qualquer outra religião, os rituais funcionam como um meio de contatar o Divino.

Rituais bem-sucedidos unem o adorador à Deidade. Rituais ineficazes matam a espiritualidade. Há, sim, rituais neste livro, mas são apenas diretrizes, não escrituras sagradas. Escrevi-os para que outros, utilizando-os como orientação, possam criar os seus próprios rituais.

Algumas pessoas podem dizer: "Mas este é o seu ponto de vista. Nós queremos a verdadeira Wicca! Conte-nos seus segredos!" Não há, como jamais haverá, uma forma "pura", "verdadeira" ou "genuína" de Wicca. Não existem agências governamentais centrais, líderes físicos, profetas ou mensageiros universalmente reconhecidos. Apesar de certamente existirem formas específicas e estruturadas de Wicca, elas nem sempre concordam no que diz respeito a rituais, simbolismo ou teologia. Devido a esse individualismo saudável, nenhum sistema ritual ou filosófico surgiu para consumir os demais.

A Wicca é diversificada e multifacetada. Como em todas as religiões, a experiência ritual Wiccana é compartilhada com a deidade apenas. Este livro é somente um dos modos, baseado em minhas experiências e na instrução que recebi, de se praticar Wicca.

Apesar de tê-lo escrito, este livro não surgiu do nada. O joalheiro que lapida esmeraldas brutas não criou as gemas; tampouco o artesão criou a argila. Tento aqui apresentar uma amálgama dos' principais temas e estruturas rituais da Wicca; não criar uma nova forma, mas sim apresentar uma para que outros possam desenvolver suas próprias práticas de Wicca.

Quando comecei a aprender sobre Wicca, havia poucos livros sobre o assunto, e certamente nenhum Livro das Sombras publicado. Os rituais e textos mágicos são mantidos em segredo em várias correntes da Wicca, e só há pouco tempo alguns sistemas foram.tornados "públicos". Devido a este fato, poucos praticantes escreveram livros descrevendo os rituais e os ensinamentos internos da Wicca. Os que estão de fora da Wicca (ou A Arte, como também é conhecida), e sobre ela escreveram, forneceram forçosamente informações truncadas ou incompletas.

Poucos anos após meu ingresso na Wicca, no entanto, muitos livros autênticos e informativos começaram a ser publicados. À medida que prosseguia em meus estudos, tanto independentemente como junto aos professores que encontrei, percebi que alguém que tentasse aprender e praticar a Wicca com base apenas nas fontes publicadas adquiriria uma visão tristemente tendenciosa.

Grande parte dos autores Wiccanos transmitia sua própria forma de Wicca. Faz sentido: escreva sobre aquilo que sabe. Infelizmente, muitos dos principais autores da área possuem pontos de vista similares, fazendo, assim, com que a maioria do material publicado seja repetitiva.

Ademais, a maior parte dessas obras está voltada à Wicca de covens (grupos). Isso constitui-se num grande problema para os que não consigam encontrar um mínimo de quatro ou cinco pessoas interessadas e compatíveis para a criação de um coven. Também lança um fardo nos que desejem uma prática religiosa privada. Possivelmente, a verdadeira causa que me levou a escrever este livro - além de inúmeros pedidos - seja estritamente pessoal. Não apenas desejo apresentar uma alternativa aos livros sóbrios e estruturados sobre Wicca, como também quero retribuir com algo pelo treinamento que recebi nesta religião contemporânea.

Apesar de eu eventualmente ministrar aulas, e de a Wicca sempre atrair um grande público, prefiro a palavra impressa quando quero ressaltar algumas das coisas que aprendi. Apesar de que nada pode.substituir o ensino direto e individual, não é um método muito prático para todos os que desejam aprender.

E foi assim que, muitos anos atrás, comecei a fazer anotações e capítulos que finalmente se transformariam neste livro. A fim de não me tornar muito obtuso (Sybil Leek disse uma vez que é perigoso escrever sobre sua própria religião - estamos muito próximos a ela), pedi a amigos Wiccanos para que lessem e comentassem sobre os primeiros rascunhos para assegurar que a visão da Wicca aqui apresentada não fosse excessivamente limitada ou dogmática.

Peço que não me interpretem errado. Apesar de o objetivo deste livro ser uma melhor apreciação e compreensão da Wicca, não quero fazer nenhum proselitismo. Como muitos Wiccanos, não tenciono mudar suas crenças religiosas e espirituais; isso não é da minha conta.

Entretanto, com o crescente interesse em religiões não-tradicionais, preocupações com a destruição ambiental e um vasto interesse na religião da Wicca, espero que este livro responda parcialmente a uma das mais recorrentes questões: "O que é Wicca?".


Wicca, a religião das "Bruxas", há muito está encoberta em segredos. Aqueles interessados em aprender "A Arte" deviam contentar-se com informações fragmentadas provenientes de livros e artigos. Os Wiccanos não revelavam muito, a não ser que não estavam buscando novos seguidores.

Atualmente, um número crescente de pessoas anda insatisfeito com a estrutura das religiões tradicionais. Muitos buscam uma religião de apelo pessoal, uma que celebre tanto a realidade física como a espiritual, na qual a sintonia com a deidade seja complementada pela prática da magia.

A Wicca é exatamente assim, centrada em torno da reverência à Natureza na forma da Deusa e do Deus. Suas antigas raízes espirituais, a aceitação da magia e de sua natureza misteriosa tornam-na especialmente atraente. Até há pouco tempo, a falta de informação pública acerca da Wicca e sua aparente exclusividade causaram muita frustração aos estudantes interessados.

A Wicca não busca novos membros. Esta tem sido uma das maiores pedras no caminho dos que desejam aprender seus rituais e sua magia. A Wicca não tenta seduzir porque, ao contrário da maioria das religiões ocidentais, ela não alega ser o único e verdadeiro caminho para o Divino..Com o número crescente de interessados em praticar Wicca, talvez seja a hora de permitir que toda a luz da Aurora da Era de Aquário ilumine-a. Ao fazer isso, não estou declarando ser a Wicca a salvação de nosso planeta, mas sim apresentá-la aos que desejem aprendê-la.

Muitos obstáculos têm surgido. Até recentemente, a única maneira de ingressar na Wicca era a. contatar um iniciado em Wicca, normalmente membro de um coven, e b. ser convidado.

Se não conhecesse nenhum bruxo, não teria muita sorte, pois a iniciação era um pré-requisito indispensável.

Atualmente, os tempos estão mudando. Estamos amadurecendo, talvez até rápido demais. Isto é necessário para que essa procura não seja apenas uma curiosidade pueril. Os herdeiros da Wicca devem projetar firmemente sua religião para o futuro se quiserem que ela tenha algo a oferecer às gerações futuras.

Uma vez que chegamos ao ponto onde um simples mal-entendido pode acabar com nosso planeta como o conhecemos, pode-se dizer que jamais houve um período no qual a Wicca, sendo uma religião voltada à natureza, tivesse mais para oferecer.

Este livro rompe com muitas convenções da Wicca. Foi estruturado para que qualquer um, em qualquer lugar do mundo, possa praticar a Wicca. Nenhuma iniciação é necessária. É voltado ao praticante solitário, dada a dificuldade em se encontrar outros com interesses similares, especialmente em áreas rurais.

A Wicca é uma religião festiva que brota de nossa união com a natureza. Ela nos une às Deusas e aos Deuses, as energias.universais que criaram toda a existência. É uma celebração da vida, positiva e pessoal.

E agora está à disposição de todos.

Nota do tradutor. Esta obra contém repetidas vezes o termo "Wicca", designando a antiga religião celta. Tal termo, de origem obscura, como o próprio autor atesta em sua Nota lingüística, não possui equivalente exato na língua portuguesa. Uma vez que "paganismo" possui um sentido muito amplo, assim como "bruxaria" (sem contar a possível conotação negativa a eles imputada), optei por manter a terminologia original, a exemplo da língua inglesa (segundo alguns estudos lingüísticos, a palavra "Wicca" tem origem.no idioma galês), fazendo uma concessão apenas ao derivado "wiccan", indicando um praticante da Wicca ou assuntos a ela correlatos, aqui adaptado como "wiccano". Não se trata, no entanto, de um excesso de liberdade deste tradutor, já que essa expressão é amplamente utilizada pelos praticantes e estudiosos de tal religião no Brasil - entre os quais orgulhosamente me incluo.

Nota lingüística: Existe atualmente muita controvérsia acerca do significado exato (e original) da palavra "Wicca". Não é meu desejo ingressar ou acrescentar novas questões a tais discussões, mas não creio que possa utilizar o termo sem defini-lo. Assim, "Wicca" será utilizada neste livro para descrever tanto a religião em si (uma ampla religião Pagã baseada na reverência às forças criativas da Natureza, normalmente simbolizadas por uma deusa e por um deus), como também seus praticantes de ambos os sexos. O termo "warlock" feiticeiro, Bruxo, Mago, apesar de eventualmente utilizado para descrever os praticantes do sexo masculino, é virtualmente evitado pelos próprios Wiccanos; portanto, não o utilizo aqui. Apesar de alguns usarem "Wicca" e "Witch" (Bruxa, feiticeira, ídem - 1969, n. do T.) quase como sinônimos, prefiro a mais antiga e menos embaraçosa palavra Wicca, e deste modo uso-a quase com exclusividade.



Todas as religiões são estruturas embasadas na reverência ao Divino, e a Wicca não é exceção. A Wicca reconhece a existência de uma força divina suprema, inestimável, absoluta, de onde surgiu todo o universo.

O conceito de tal força, muito além de nossa compreensão, quase foi perdido na Wicca devido à dificuldade que temos em nos relacionarmos a ela. Entretanto, os Wiccanos acessam essa força por intermédio de suas deidades. Conforme os princípios da natureza, a força suprema foi personificada em dois seres básicos: a Deusa e o Deus.

Toda deidade cultuada neste planeta existe como arquétipo do Deus e da Deusa. Os complexos panteões de deidades surgidos em muitas partes do mundo são simplesmente aspectos desses dois. Toda deusa reside no conceito da Deusa. Todo deus, no do Deus.

A Wicca reverencia essas duas deidades por seus elos com a natureza. Uma vez que a maior parte (mas certamente não toda) da natureza está dividida em gênero, as deidades que a simbolizam foram concebidas de modo similar.

No passado, quando a Deusa e o Deus eram tão reais como a Lua e o Sol, os ritos de culto e adoração eram desestruturados uma união espontânea e prazerosa com o Divino. Posteriormente, os rituais passaram a seguir o curso do Sol através do ano astronômico (daí as estações) assim como o crescer e o minguar mensal da Lua..Atualmente, ritos similares são observados na Wicca, e sua execução regular de fato cria uma intimidade mágica com essas deidades e com as forças por trás dela.

Felizmente, não precisamos aguardar pela época dos rituais para lembrarmos da presença dos Deuses. A visão de uma flor perfeita num campo árido pode suscitar sentimentos tão fortes quanto os originados pelo mais poderoso dos ritos formais. Viver em contato com a natureza torna cada momento um ritual. Os Wiccanos sentem-se à vontade ao comunicar-se com animais, plantas e árvores. Eles sentem a energia contida em pedras e na areia e fazem que fósseis falem sobre suas origens primitivas. Para alguns Wiccanos, observar o nascer e o pôr-do-Sol e da Lua diariamente é um ritual em si só, pois estes são os símbolos celestes do Deus e da Deusa.

Uma vez que a Wicca vê o Divino inerente à natureza, muitos de nós envolvem-se com a ecologia - salvar a Terra de uma maior destruição por nossas próprias mãos. A Deusa e o Deus ainda existem, como sempre existiram, e para honrá-los nós honramos e preservamos nosso precioso planeta.

Segundo o pensamento Wicca, as deidades não existiam antes que nossos ancestrais espirituais tomassem ciência delas. Entretanto, a energia por trás delas já existia; fomos por ela criados. Os antigos cultuadores reconheciam essa energia na forma da Deusa e do Deus, personificando-os numa tentativa de melhor entendê-los.

Os Antigos não morreram quando as antigas religiões pagãs cederam ao surgimento do cristianismo na Europa. Muitos dos ritos desapareceram, mas não eram os únicos eficazes. A Wicca está viva e bem, e as Deidades respondem a nossos chamados e invocações.

Ao visualizar a Deusa e o Deus, muitos dos Wiccanos os vêem como conhecidas deidades de religiões antigas. Diana, Pã, Ísis, Hermes,.Hina, Tammuz, Hécate, Ishtar, Cerridwen, Thoth, Tara, Aradia, Ártemis, Pele, Apolo, Kanaloa, Bridget, Hélios, Bran, Lugh, Hera, Cibele, Iranna, Maui, Ea, Atena, Lono, Marduk - a lista é literalmente inesgotável. Muitas dessas deidades, com sua história, ritos e mitos correspondentes, fornecem o conceito de deidade aos Wiccanos.

Alguns sentem-se bem ao associar esses nomes e formas à Deusa e ao Deus, sentindo que possivelmente não seriam capazes de reverenciar seres divinos desprovidos de nome. Outros crêem que a falta de nomes e indumentárias representa uma confortável ausência de limitações.

Como já dito anteriormente, a Wicca descrita neste livro é "nova", apesar de construída sobre ritos e mitos estabelecidos, profundamente arraigada nos mais antigos sentimentos religiosos que a natureza fez aflorar em nossa espécie. Nestes rituais utilizo as palavras "o Deus" e "a Deusa" em vez de nomes específicos como Diana e Pã. Qualquer pessoa com uma afinidade especial com deidades em particular deve sentir-se livre para adaptar os rituais da Sessão III - O Livro de Sombras das Pedras Erguidas e incluí-las.

Caso não esteja familiarizado com as religiões politeístas não ocidentais ou não tenha desenvolvido afinidade com outras divindades que não aquelas com as quais foi educado, comece por aceitar a seguinte premissa (pelo menos no momento): o Divino é gêmeo, consistindo na Deusa e no Deus.

Eles receberam tantos nomes que passaram a ser chamados de Os Sem Nome. Sua aparência é exatamente a que desejamos que tenham, pois eles são todas as deidades que já existiram. A Deusa e o Deus são todo-poderosos, pois são os criadores de toda a existência manifesta ou não. Podemos contatá-los e comunicarmo-.nos com eles pois uma parte de nós está neles, assim como eles estão em nós.

A Deusa e o Deus são iguais; nenhum deles é mais alto ou mais reverenciável. Apesar de alguns Wiccanos centralizarem seus rituais na Deusa em completo detrimento do Deus, isto é apenas uma reação aos séculos sob sufocante religião patriarcal e à negligência ao aspecto feminino do Divino. A religião baseada apenas na energia feminina, entretanto, é tão desequilibrada e desnatural quanto outra totalmente voltada ao masculino. Um equilíbrio perfeito entre ambas é o ideal. A Deusa e o Deus são iguais, e complementares.
A Deusa

A Deusa é a Mãe universal. É a fonte da fertilidade, da infinita sabedoria e dos cuidados amorosos. Segundo a Wicca, Ela possui três aspectos: a Donzela, a Mãe e a Anciã, que simbolizam as Luas Crescente, Cheia e Minguante. Ela é a um só tempo o campo não arado, a plena colheita e a Terra dormente, coberta de neve. Ela dá à luz abundância. Mas, uma vez que a vida é um presente Seu, ela a empresta com a promessa da morte. Esta não representa as trevas e o esquecimento, mas sim um repouso pela fadiga da existência física. É uma existência humana entre duas encarnações.

Uma vez que a Deusa é a natureza, toda a natureza, Ela é tanto a tentadora como a Velha; o tornado e a chuva fresca de primavera; o berço e o túmulo.

Porém, apesar de Ela ser feita de ambas as naturezas, a Wicca a reverencia como a doadora da fertilidade, do amor e da abundância, se bem que seu lado obscuro também é reconhecido. Nós A vemos na Lua, no silencioso e fluente oceano, e no primeiro verdejar da primavera. Ela é a incorporação da fertilidade e do amor. A Deusa é conhecida como a Rainha do paraíso, Mãe dos Deuses que criaram os Deuses, a Fonte Divina, A Matriz Universal, A Grande Mãe e incontáveis outros títulos.

Muitos símbolos são utilizados na Wicca para honrá-la, como o caldeirão, a taça, o machado, flores de cinco pétalas, o espelho, colares, conchas do mar, pérolas, prata, esmeralda... para citar uns poucos.

Por governar a Terra, o mar e a Lua, muitas e variadas são suas criaturas. Algumas incluiriam o coelho, o urso, a coruja, o gato, o cão, o morcego, o ganso, a vaca, o golfinho, o leão, o cavalo, a corruíra, o escorpião, a aranha e a abelha. Todos são sagrados à Deusa.

A Deusa já foi representada como uma caçadora correndo com seus cães de caça; uma deidade celestial caminhando pelos céus com pó de estrelas saindo de seus pés; a eterna Mãe com o peso da criança; a tecelã de nossas vidas e mortes; uma Anciã caminhando sob o luar buscando os fracos e esquecidos, assim como muitos outros seres.

Mas, independentemente de como A vemos, Ela é onipresente, imutável, eterna.
O Deus

O Deus tem sido reverenciado há eras. Ele não é a deidade rígida, o todo-poderoso do cristianismo ou do judaísmo, tampouco um simples consorte da Deusa. Deus ou Deusa, eles são iguais, unidos. Vemos o Deus no Sol, brilhando sobre nossas cabeças durante o dia, nascendo e pondo-se no ciclo infinito que governa nossas vidas. Sem o Sol, não poderíamos existir; portanto, ele tem sido cultuado como a fonte de toda a vida, o calor que rompe as sementes adormecidas, trazendo-as para a vida, e instiga o verdejar da terra após a fria neve do inverno..O Deus é também gentil com os animais silvestres. Na forma do Deus Cornudo, Ele é por vezes representado com chifres em Sua cabeça, que simbolizam Sua conexão com tais bestas. Em tempos mais antigos, acreditava-se que a caça era uma das atividades regidas pelo Deus, enquanto a domesticação dos animais era vista como voltada à Deusa.

Os domínios do Deus incluíam as florestas intocadas pelas mãos humanas, os desertos escaldantes e as altas montanhas. As estrelas, por serem na verdade sóis distantes, são por vezes associadas a Seu domínio.

O ciclo anual do verdejar, amadurecer e da colheita vem há muito sendo associado ao Sol, daí os festivais Solares da Europa (discutidos mais profundamente no Capítulo 8. Dias de Poder), os
quais são ainda observados na Wicca. O Deus é a colheita plenamente madura, o vinho inebriante extraído das uvas, o grão dourado que balança num campo, as maçãs vicejantes que pendem de galhos verdejantes nas tardes de outono.

Em conjunto com a Deusa, também Ele celebra e rege o sexo. A Wicca não evita o sexo ou fala sobre ele por palavras sussurradas. É uma parte da natureza e assim é aceito. Por trazer prazer, desviar nossa consciência do mundo cotidiano e perpetuar nossa espécie, é considerado um ato sagrado. O Deus nos imbui vigorosamente no desejo que assegura o futuro biológico de nossa espécie.

Símbolos normalmente utilizados para representar ou cultuar o Deus incluem a espada, chifres, a lança, a vela, ouro, bronze, diamante, a foice, a flecha, o bastão mágico, o tridente, facas e outros. Criaturas a Ele sagradas incluem o touro, o cão, a cobra, o peixe, o gamo, o dragão, o lobo, o javali, a águia, o falcão, o tubarão, os lagartos e muitos mais..Desde sempre, o Deus é o Pai Céu, e a Deusa a Mãe Terra. O Deus é o céu, da chuva e do relâmpago, que desce sobre a Deusa e une-se a ela, espalhando as sementes sobre a terra, celebrando a fertilidade da Deusa.

Ainda hoje, as deidades da Wicca estão firmemente associadas à fertilidade, mas cada aspecto da existência humana pode ser associado à Deusa e ao Deus. Podem ser chamados para nos auxiliar a atravessar as vicissitudes de nossas existências e trazer prazer a nossas vidas normalmente carentes de espiritualidade.

Isto não significa que quando ocorrerem problemas devamos deixá-los nas mãos dos deuses. Esta é uma manobra de fuga, ao evitarmos lidar com os buracos no caminho da vida. Contudo, como Wiccanos nós chamamos pela Deusa e pelo Deus para limpar nossas mentes e ajudar-nos a nos ajudar. A magia é um excelente meio para tanto.

Após sintonizar-se com a Deusa e com o Deus, os Wiccanos pedem Seu auxílio durante o rito mágico que normalmente se segue.

Além disso, a Deusa e o Deus podem nos ajudar a mudar nossas vidas. Uma vez que as Deidades são as forças criativas do universo (e não apenas símbolos), podemos chamá-las para fortalecer nossos ritos e abençoar nossa magia. Novamente, isto vai contra a maioria das religiões. O poder está nas mãos de cada praticante, e não com sacerdotes ou sacerdotisas especializados que celebram tais feitos para as massas. Isto é o que torna a Wicca um meio de vida realmente satisfatório. Temos vínculos diretos com as Deidades.

Não precisamos de intermediários - sacerdotes, confessores ou xamãs. Nós somos os xamãs. Para desenvolver um relacionamento com a Deusa e com o Deus, uma necessidade para os praticantes de Wicca, podemos seguir estes rituais simples..À noite, sente-se ou permaneça de pé olhando para a Lua, se estiver visível. Se não, imagine a Lua mais cheia que já tenha visto com seu brilho branco-prateado na escuridão, diretamente acima e diante de você.

Sinta a suave luz lunar beijando sua pele. Sinta-a tocando e misturando-se a suas próprias energias, mesclando-se e formando novos padrões. Veja a Deusa em qualquer forma que desejar. Chame-a, entoando antigos nomes, se desejar: Diana, Lucina, Selena. Abra seu coração e sua mente para o aspecto da energia da Deusa manifestado na luz da Lua.

Repita este processo diariamente por uma semana, de preferência no mesmo horário da noite. Concomitantemente a este exercício, sintonize-se com o Deus. Ao levantar-se pela manhã, não importa o quão tarde seja, fique de pé diante do Sol (através de uma janela se necessário, ou ao ar livre se possível) e mergulhe em sua energia. Pense no Deus. Visualize-o como quiser. Pode ser um poderoso guerreiro musculoso, erguendo uma lança em uma das mãos enquanto a outra segura uma criança ou um cacho de uvas coberto de orvalho.

Pode desejar entoar nomes do Deus, como Cernunnos, Osiris, Apolo, assim como com a Deusa.

Se não desejar visualizar o Deus (pois a visualização pode impor limitações), simplesmente entre em harmonia com as energias que emanam do Sol. Mesmo se nuvens bloqueiam o céu, ainda assim as energias do Deus lhe alcançarão. Sinta-as com toda a sua imaginação mágica (veja Capítulo 11. Exercícios e Técnicas de Magia). Impeça que quaisquer outros pensamentos diferentes perturbem sua reverência ao Deus. Libere seus sentimentos; abra sua consciência para coisas mais elevadas. Chame pelo Deus com quaisquer palavras. Exprima seu desejo de sintonizar-se com Ele.

Pratique estes exercícios diariamente por uma semana. Se desejar explorar os conceitos da Deusa e do Deus, leia livros sobre mitologia de qualquer povo do mundo. Leia os mitos mas procure pelos temas fundamentais. Quanto mais você ler, mais informações terá em suas mãos; no final, você mergulhará num banco de conhecimento desestruturado mas extremamente complexo sobre as deidades. Em outras palavras, passará a conhecê-las.

Se após sete dias sentir necessidade (ou desejo), prossiga com estes exercícios até sentir-se confortável com a Deusa e com o Deus. Eles têm sempre estado em nós e ao nosso redor; precisamos apenas abrir-nos para tal consciência. Este é um dos segredos da Wicca - O Divino habita em nós. Em sua busca pelo conhecimento dos Deuses, passeie longamente sob as árvores. Estude as flores e as plantas. Visite locais silvestres, naturais e sinta a energia da Deusa e do Deus diretamente - por meio do correr de um regato, pelo pulsar de energia proveniente do tronco de um velho carvalho, do calor de uma pedra aquecida pelo sol. Familiarizar-se com a existência das Deidades fica mais fácil pelo contato real com tais fontes de energia.

A seguir, após ter atingido tal estado, pode ser que deseje estabelecer um altar ou santuário, permanente ou temporário, para a Deusa e para o Deus. Não precisa ser mais do que uma pequena mesa, duas velas, um incensário e um prato ou tigela com frutas, grãos, sementes, vinho ou leite.

VELA DA DEUSA.......... FLORES..........VELA DO DEUS

INCENSÁRIO

PRATO DE OFERENDAS
Disposição de um altar simples

Posicione duas velas em seus suportes na parte de trás do altar. A vela da esquerda representa a Deusa; a da direita, o Deus. Cores são normalmente utilizadas para distingui-los; uma vela vermelha para o Deus e uma verde para honrar a Deusa. Isto confere com as associações naturais da Wicca, pois o verde e o vermelho são antigas cores mágicas ligadas à vida e à morte. Outras cores podem ser utilizadas - amarelo ou ouro para honrar o Deus, branco ou prata para a Deusa.

Posicione o incensário diante e entre essas velas, e diante deste o prato ou a tigela de oferendas. Um vaso com flores da estação pode também ser acrescentado, assim como quaisquer objetos pessoais, como cristais, fósseis e emas secas.

Para iniciar um ritual simples aos Deuses em seu altar, fique de pé diante dele com uma oferenda de alguma espécie em sua mão. Acenda as velas e o incenso, posicionando a oferenda dentro do prato ou da tigela, e profira palavras como estas:

Senhora da Lua, dos mares incessantes e da verdejante terra,
Senhor do Sol e das criaturas silvestres,
Aceitem esta oferenda que aqui deposito em sua homenagem.
Concedam-me a sabedoria para perceber sua presença em toda a natureza,
Oh antigos

Depois, sentado ou ainda de pé, permaneça por alguns minutos mentalizando as deidades e pensando em seu crescente relacionamento com elas. Sinta-as dentro e ao redor de você. A seguir, extinga as chamas (use seus dedos, um abafador de velas ou a lâmina de uma vela. Assoprar é uma afronta ao elemento do Fogo). Deixe que o incenso queime até o fim, e volte a suas atividades normais.

Se desejar, vá até o altar uma vez por dia em um horário determinado. Pode ser ao levantar-se, pouco antes de ir dormir, ou após o almoço. Acenda as velas, entre em sintonia e em comunhão com a Deusa e com o Deus. Isto não é necessário, mas o ritmo constante criado por este ciclo é benéfico e melhorará seu relacionamento com as deidades.

Devolva à Terra as oferendas deixadas no altar ao final de cada dia ou quando trouxer mais para lá deixar.

Se não puder montar um altar permanente, ajuste-o a cada vez que sentir a necessidade de usá-lo, guardando a seguir os instrumentos.

Faça da montagem do altar uma parte do ritual.

Estes ritos simples escondem sua força. A Deusa e o Deus são entidades reais, possuidoras da força que criou o universo.

Harmonizar-se com elas faz com que nossas vidas mudem para sempre. Também lança nova esperança para nosso planeta e para a continuidade de nossa existência nele.

Se este rito é formal demais para seu gosto, altere-o ou crie o seu próprio. Este é o escopo básico deste livro: faça as coisas a seu modo e não do meu, apenas porque as passei para o papel. É.impossível ajustar meu pé dentro da pegada de alguém na areia. Não existe um modo único e correto na Wicca; tal pensamento pertence às religiões monoteísticas que em sua maioria se tornaram instituições políticas e mercantis.

Descobrir as deidades da Wicca é uma experiência sem fim. Elas normalmente se apresentam por conta própria. Como dizem os xamãs, "esteja atento". Toda a natureza está-nos cantando Seus segredos. A Deusa constantemente afasta Seu véu; o Deus ilumina com inspiração e esclarecimento. Nós é que não percebemos. Não se preocupe com o que os outros possam pensar se souberem que você esteve harmonizando-se com uma Deusa de 20.000 anos. Os sentimentos e pensamentos deles acerca de sua religião não acarretam conseqüências. Se sentir a necessidade de ocultar suas experiências dos outros, simplesmente faça-o, não por medo ou vergonha, mas porque realmente trilhamos caminhos diferentes.
Nem todos estão prontos para a Wicca.

Alguns dirão que nós (e quaisquer outros que não sigam seus rituais ou abracem sua religião) estamos cultuando Satã. Não que nos demos conta disso, é claro, pois Satã, segundo tais peritos, é muito hábil para que percebamos.

Tais pessoas não conseguem acreditar que qualquer religião, além de sua própria, possa ser profunda, gratificante e verdadeira para aquele que nela acredita. Assim, se cultuamos o Deus e a Deusa, eles dizem, estamos negando todo o bem e cultuando Satã, a encarnação de toda a negatividade e do mal.

Os Wiccanos não são tão radicais. Presumir que uma dada religião é o único caminho para se acessar o Divino é talvez a maior das vaidades humanas. Tais crenças causaram incalculáveis derramamentos de sangue e o surgimento do odioso conceito das guerras santas..A base de tal erro parece ser o conceito de um ser incorrupto, puro e positivo - Deus. Se essa deidade é a soma de todo o bem, seus seguidores acreditam que também deva haver um ser correspondente negativo. Temos, assim, Satã.

A Wicca não corrobora com tais idéias. Reconhecemos os aspectos obscuros da Deusa e do Deus do mesmo modo como reconhecemos os claros. Tudo na natureza é composto de opostos, e esta polaridade reside também em nós mesmos. As mais obscuras características humanas, assim como as mais brilhantes, estão guardadas em nossos inconscientes. Somente nossa capacidade de superar os desejos destrutivos, canalizando tais energias para pensamentos e atos positivos, é capaz de nos separar dos assassinos em massa e dos sociopatas.

Sim, o Deus e a Deusa tem aspectos obscuros, mas não devemos temê-los. Analise algumas manifestações de Seus poderes. Uma enchente devastadora traz solo rico no qual florescerão novas plantas. A morte traz uma maior apreciação da vida para os que ficam e repouso para o que parte. "Bem" e "mal" são geralmente idênticos em sua natureza, dependendo do ponto de vista adotado.

Ademais, de todo mal sempre surgirá um bem.

Para seus praticantes, toda e qualquer religião é real, o artigo original. Jamais haverá uma religião, um profeta ou um salvador que satisfará a todos os cinco bilhões de humanos. Cada um de nós deve encontrar nosso modo ideal para harmonizar-se com o Divino. Para alguns, este modo é a Wicca.

Os Wiccanos enfatizam os aspectos brilhantes das deidades porque isto nos dá um propósito para crescer e evoluir aos aspectos mais elevados da existência. Quando a morte, a destruição, a dor e a ira surgem em nossas vidas (o que é normal), podemo-nos voltar para a Deusa e para o Deus e saber que isso é também uma faceta deles..Não precisamos atribuir a um demônio esses aspectos naturais da vida e apelar a um deus puro e casto que nos livre deles.

Ao compreender de fato a Deusa e o Deus, passamos a entender a vida, pois ambos estão intrinsecamente ligados. Viva sua vida terrena plenamente, mas tente também ver os aspectos espirituais de suas atividades. Lembre-se, o físico e o espiritual nada mais são do que reflexos um do outro. Quando ministro cursos, uma questão costuma surgir com freqüência: "Qual é o sentido da vida?" Pode vir acompanhada de uma risada, mas esta é uma questão que, se respondida, satisfaz todas as outras que possamos ter. É o problema que todas as religiões e sistemas filosóficos têm lutado para resolver.

Qualquer um pode encontrar a resposta com a simples técnica de viver e observar a vida. Apesar de cada pessoa encontrar uma resposta diferente, podemos encontrar nossas respostas juntos. A Deusa e o Deus são tanto o belo e o obscuro da natureza. Não cultuamos a natureza desse modo; alguns Wiccanos provavelmente diriam que nem sequer cultuam a Deusa e o Deus. Nós não nos curvamos para as deidades; nós trabalhamos com Eles para criar um mundo melhor.

Isto é o que faz da Wicca uma religião verdadeiramente participativa.

Este é um artigo sobre Magia , após sua leitura conheça nossa loja virtual.

É do conhecimento comum, mesmo entre as massas, que as Bruxas praticam magia. Pode haver idéias distorcidas acerca do tipo de magia praticado, mas a Bruxa é firmemente associada, na cultura popular, às artes mágicas.

A Wicca é, como já vimos, uma religião que engloba a magia como um de seus conceitos básicos. Isto não é estranho. Na verdade, é normalmente difícil distinguir onde termina a religião e onde começa a magia, em qualquer fé.

Ainda assim, a magia tem papel especial na Wicca. Ela nos permite melhorar nossas vidas e devolver energia ao nosso tão maltratado planeta. Os Wiccanos também estabelecem relações especiais com a Deusa e com o Deus por meio da magia. Isto não quer dizer que todo encantamento é uma oração, nem são as invocações encantamentos com palavras diferentes. Ao trabalharmos com as.forças que o Deus e a Deusa encarnam, nós nos aproximamos deles.

O ato de chamarmos por seus nomes e visualizarmos sua presença durante os encantamentos e ritos cria um elo entre o Divino e os humanos. Assim, na Wicca, a magia é uma prática religiosa. Defini a magia um sem-número de vezes em meus livros. Surpreendentemente, esta é uma tarefa difícil. A minha mais recente e mais refinada definição é:

A magia é a projeção das forças naturais para gerar efeitos necessários.

Há três fontes principais de tal energia - o poder pessoal, o poder da Terra e o poder divino.

O poder pessoal é a força vital que sustenta nossas existências terrenas. Ela move nossos corpos. Nós absorvemos energia da Lua e do Sol, da água e dos alimentos. Liberamos essa energia durante os movimentos, os exercícios, o sexo e o parto. Até mesmo respirar libera energia, apesar de recuperarmos o que foi perdido com a inspiração.

Na magia, o poder pessoal é gerado, imbuído de um propósito específico, liberado e direcionado ao seu objetivo.

O poder da Terra é o que reside no interior de nosso planeta e em seus produtos naturais. Pedras, árvores, o vento, as chamas, a água, cristais e aromas possuem poderes únicos, específicos, que podem ser utilizados durante rituais de magia.

Um Wiccano pode mergulhar um cristal de quartzo em água salgada para limpá-lo e em seguida pressioná-lo contra o corpo de uma pessoa doente para enviar suas energias curativas. Ou, ainda, ervas podem ser espargidas ao redor de uma vela acesa para produzir um efeito mágico específico. Óleos são aplicados no corpo para efetivar alterações internas..Tanto o poder pessoal como o da Terra são manifestações do poder divino. Esta é a energia existente na Deusa e no Deus - a força vital, a fonte do poder universal que criou tudo aquilo que existe.

Os Wiccanos invocam a Deusa e o Deus para abençoar sua magia com poder. Durante os rituais eles podem direcionar o poder pessoal às deidades, pedindo para que uma determinada necessidade seja atendida. Isto é magia verdadeiramente religiosa.

Portanto, a magia é um processo pelo qual os Wiccanos operam em harmonia com a fonte do poder universal, a qual visualizamos como a Deusa e o Deus, assim como com as energias pessoal e da terra, para que melhoremos nossas vidas e para levar energia à Terra. Magia é um método pelo qual os indivíduos, sob predestino nenhum que não o por eles mesmo determinado, assumem o controle de suas vidas.

Ao contrário do que reza a crença popular, a magia não é sobrenatural. Na verdade, é uma prática oculta (escondida) imbuída em milênios de segredos, calúnias e desinformação, mas é uma prática natural que se utiliza de poderes genuínos ainda não descobertos ou catalogados pela ciência.

Isto não invalida a magia. Nem mesmo cientistas declaram saber tudo sobre nosso universo. Se assim o fizessem, o campo da investigação científica simplesmente não existiria. Os poderes que
os Wiccanos utilizam um dia serão documentados e assim perderão seu mistério. Tal já ocorreu, em parte, com a hipnose e a psicologia, e pode em breve acontecer com a percepção extra-sensorial. O magnetismo, sem dúvida, era um aspecto firmemente estabelecido da magia até ser "descoberto" pela ciência. Mas, ainda hoje, ímãs são utilizados em encantamentos e talismãs, e tais forças despertam antigos sentimentos estranhos..Brinque com dois ímãs. Veja as forças invisíveis resistindo-se e atraindo-se de uma maneira aparentemente sobrenatural.

A magia é similar. Apesar de aparentar ser completamente ilógica, sem embasamento em fatos, ela funciona de acordo com suas próprias regras e lógica. Só porque não é plenamente compreendida não quer dizer que ela não exista. A magia é eficaz para causar manifestações de mudanças necessárias.

Isto não é enganar-se a si mesmo. A magia praticada de modo correto funciona, e nenhuma tentativa de explicação alterará este fato.

Eis aqui a descrição de um típico ritual de velas. Usarei a mim mesmo como exemplo. Digamos que preciso pagar uma conta de telefone de cem dólares, mas não tenho dinheiro. Meu objetivo mágico: meios para pagar a conta.

Decido utilizar um ritual para ajudar a direcionar minha concentração e visualização. (Veja Capítulo 11. Exercícios e Técnicas de Magia.) Ao checar meu material de magia, percebo que tenho velas verdes, óleo de patchuli, uma boa quantidade de ervas que atraem dinheiro, papel-pergaminho e tinta verde.

Em meu altar, acendo as velas que representam a Deusa e o Deus, enquanto silenciosamente invoco sua presença. A seguir, ateio fogo a um pedaço de carvão e esparjo sobre ele canela e sálvia como um incenso mágico de prosperidade.

Faço um desenho da conta de telefone no papel, marcando claramente o total em números. Enquanto desenho, visualizo o papel não mais como um simples papel; é a própria conta.

A seguir, desenho um quadrado em torno da conta, que simboliza meu controle sobre ela, e faço um grande "x" em torno dela,.cancelando efetivamente sua existência (o que de fato ocorrerá quando eu a pagar).

Agora passo a visualizar a conta sendo paga em sua totalidade.

Posso escrever isto sobre o desenho, fazendo com que pareça ser um carimbo com essas palavras. Visualizo-me olhando para meu talão de cheques, vendo que o saldo será suficiente para cobrir o cheque, e a seguir preencho o cheque.

Então, unto uma vela verde com óleo de patchuli, das extremidades para o centro, enquanto digo algo como o que se segue: Chamo pelas forças da Deusa Mães e do Deus Pai, chamo pelas forças da Terra, do Ar do Fogo e da Água, chamo pelo Sol, pela Lua e pelas estrelas para que me tragam os fundos para pagar essa conta.

Ainda visualizando, posiciono a vela em seu suporte diretamente em cima do desenho da conta. Esparjo ervas ao redor da base da vela, declarando (e visualizando) que cada uma delas está enviando sua energia para meu objetivo:

Sálvia, erva de Júpiter, envie seus poderes para meu encantamento.

Canela, erva do Sol, envie seus poderes para meu encantamento.

Feito isto, ainda visualizando minha conta como paga em seu total, acendo a vela e, enquanto a chama brilha, libero a energia que concentrei no desenho.

Deixo que a vela se queime por dez, quinze minutos ou mais, dependendo de minha habilidade em manter a visualização. Vejo a vela absorvendo a energia que concentrei no desenho. Vejo as ervas canalizando sua energia para a chama da vela, e as energias combinadas das ervas, da vela, do óleo de patchuli e do desenho -.somadas ao meu poder pessoal - fluem da chama e partem para fazer com que meu objetivo mágico se manifeste.

Quando não puder mais manter a concentração, retiro o desenho, ateio-lhe fogo com a vela, seguro-a por alguns instantes enquanto queima e em seguida atiro-a no pequeno caldeirão que fica ao lado de meu altar.

Isto feito, permito que a vela se consuma, ciente de que o ritual surtirá efeito.

Após um dia ou dois, talvez uma semana, poderei receber um dinheiro inesperado (ou atrasado), ou conseguirei saldar outras obrigações financeiras de modo que possa pagar a conta de telefone.

Como isso funciona? A partir do momento que decido praticar um ato de magia, estou operando magia. Pensar sobre magia põe o poder pessoal em movimento. Durante todo o processo - agrupar o material, desenhar a conta, acender a vela, visualizar - estou despertando e imbuindo o meu poder pessoal com minha necessidade mágica. Durante o próprio ritual, libero esse poder na
vela. Quando finalmente queimo o desenho, a última dessas energias é liberada e inicia o trabalho para que me seja possível pagar a conta.

Posso não ser capaz de dizer exatamente como a magia funciona, mas apenas que ela de fato funciona. Felizmente, não precisamos saber disso; basta sabermos como fazê-la funcionar.

Não sou perito em eletricidade, mas posso ligar minha torradeira na tomada e torrar meu pão integral. Do mesmo modo, na magia nós nos "ligamos" a energias que nos circundam e nos rodeiam. Há muitos modos de se praticar magia. Os Wiccanos geralmente escolhem formas simples e naturais, apesar de alguns preferirem.cerimoniais elaborados, emprestados de clássicos como Key of Solomon ("Chave de Salomão", ver Bibliografia). Normalmente, entretanto, envolvem ervas, cristais e pedras; a utilização de símbolos e cores; gestos mágicos, música, voz, dança e transe; projeção astral, meditação, concentração e visualização.

Há, literalmente, milhares de sistemas de magia, mesmo entre os próprios Wiccanos. Por exemplo, existem inúmeros modos mágicos de trabalhar com cristais, ervas ou símbolos, e combinando-os criam-se ainda mais sistemas.

Foram publicados muitos e muitos livros sobre sistemas de magia, alguns deles listados na Bibliografia. Em meus livros, já discuti os poderes dos elementos, dos cristais e das ervas. Nesta obra, o tema da magia de runas é explorado como um exemplo de um sistema mágico em si só, com dicas de como combiná-los com outros sistemas.

Tais sistemas não são necessários para a prática bem-sucedida de magia. Praticar magia com a mera manipulação de instrumentos como eras e cristais é ineficaz, pois o verdadeiro poder da magia está dentro de nós mesmos - o dom do Divino.

Portanto, não importa qual seja o sistema de magia, devemos infundir o poder pessoal à necessidade, e em seguida liberá-lo. Na magia Wiccana, o poder pessoal é reconhecido como uma ligação direta com a Deusa e com o Deus. A Magia, portanto, é um ato religioso com os quais os Wiccanos se unem a suas deidades para melhorarem a si mesmos e ao seu mundo.

Isto é relevante - a magia é uma prática positiva. Os Wiccanos não praticam magia destrutiva, manipulativa ou exploratória. Uma vez que reconhecem que o poder atuante na magia é, em sua essência, proveniente da Deusa e do Deus, práticas negativas constituem um verdadeiro tabu. Magia "maléfica" é um insulto a si mesmo, à raça.humana, à Terra, à Deusa e ao Deus, e ao próprio universo. As conseqüências podem ser imaginadas.

A energia da magia é a própria energia da vida.

Qualquer um pode praticar magia - dentro de um contexto religioso ou não. Se certas palavras ou gestos surgem em sua mente durante um encantamento e parecem adequados, use-os. Se não conseguir encontrar um ritual que lhe agrade ou que seja apropriado para suas necessidades, crie um. Não é necessário escrever belas poesias ou criar coreografias para trinta dançarinos portando incenso e treze sacerdotisas cantantes.

Pelo menos, acenda uma vela, acomode-se diante dela e concentre-se em sua necessidade mágica. Confie em si mesmo. Se realmente desejar conhecer a natureza da magia, pratique-a! Muitos temem a magia. Aprenderam (com não-praticantes) que ela é perigosa. Não tema. Atravessar a rua também é perigoso. Mas, se fizer do jeito certo, tudo bem.

Certamente, o único meio de descobrir isso é atravessando a rua. Se sua magia possuir amor, não correrá nenhum risco. Chame pela Deusa e pelo Deus para protegê-lo e ensinar-lhe os segredos da magia. Peça a pedras e plantas que lhe revelem seus poderes - e preste-lhes atenção. Leia o quanto puder, descartando informações negativas ou perturbadoras.

Aprenda pela prática, e a Deusa e o Deus o abençoarão com tudo aquilo de que realmente necessita.



Assim como em outras religiões, alguns objetos são utilizados em Wicca com finalidades ritualísticas. Tais instrumentos são utilizados para evocar as Deidades, afastar a negatividade, direcionar energia por meio do toque e da intenção.

Alguns instrumentos da Bruxa (a vassoura, o caldeirão e o bastão mágico) assumiram papéis importantes no folclore e na mitologia contemporâneos. Graças à popularização das fábulas e ao trabalho dos estúdios Disney, milhões de pessoas sabem hoje que se utilizam caldeirões para preparar poções e para transformar o feio em belo.

A maioria das pessoas, no entanto, ignora a poderosa magia por trás desses instrumentos e seu simbolismo dentro da Wicca..Para praticar Wicca, devemos possuir ao menos alguns desses instrumentos. Procure tais tesouros em antiquários, lojas de bugigangas, feiras de trocas e mercados de pulgas. Ou então escreva para fornecedores de artigos para ocultismo. Apesar de difíceis de ser encontrados, qualquer esforço é válido para a obtenção de seus instrumentos rituais.

Tais instrumentos não são necessários para a prática da Wicca. Ainda assim, eles enriquecem os rituais e simbolizam energias complexas. Os instrumentos não possuem poderes outros que não os que nós mesmos lhes conferimos.

Alguns dizem que devemos utilizar instrumentos mágicos até que não sejam mais necessários. Talvez seja melhor usá-los enquanto nos sentimos confortáveis com isso.
A Vassoura

As Bruxas usam vassouras em magia e em rituais. É um instrumento sagrado tanto à Deusa como ao Deus. Isto não constitui novidade; no México pré-colombiano uma espécie de deidade bruxa, Tlazelteotl, era representada voando nua sobre uma vassoura. Os chineses cultuam uma deusa das vassouras que é invocada para trazer bom tempo em períodos de chuva.

Além disso, provavelmente devido a seu formato fálico, a vassoura se tornou um instrumento poderoso contra pragas e praticantes de magia negra. Quando colocada no chão transversalmente à entrada da casa, a vassoura barra quaisquer encantamentos lançados contra a casa ou seus ocupantes. Uma vassoura sob o travesseiro traz sonhos agradáveis e protege a pessoa.

As Bruxas européias passaram a ser identificadas com as vassouras porque ambas eram associadas à magia pelo conhecimento popular e religioso. As Bruxas eram acusadas de voar em cabos de vassoura, e isso era considerado uma aliança com as "forças obscuras". Tal.ação, se pudesse ser praticada, seria realmente sobrenatural, e assim, demoníaca a seus olhos, contrastando com as simples curas e encantos de amor realmente praticados pelas Bruxas. Obviamente, o mito foi criado pelos perseguidores de Bruxas.Alguns Wiccanos afirmam que bruxas "voavam" em vassouras pulando no solo, do mesmo modo como crianças em cavalinhos de pau, para promover a fertilidade dos campos. Acredita-se, ainda, que as lendas de bruxas voando em vassouras eram uma explicação pouco sofisticada para a projeção astral.

Ainda hoje a vassoura é utilizada na Wicca. Um Wiccano pode iniciar um ritual varrendo levemente a área (dentro ou fora de casa) com sua vassoura mágica. Após isso, o altar é preparado, os instrumentos são nele arrumados e o ritual pode assim ser iniciado. (Veja Capítulo 13. Planejamento de Rituais.)

Este ato de varrer é mais do que uma limpeza física. Na verdade, os pêlos da vassoura nem precisam tocar o chão. Enquanto varre, o Wiccano pode visualizar a vassoura eliminando os excessos astrais que surgem onde humanos vivem. Isto purifica a área, permitindo assim melhores trabalhos rituais.

Sendo a vassoura um purificador, ela é associada ao elemento da Água. Assim, é também utilizada em todos os tipos de encantamentos com água, inclusive os de amor e de trabalhos psíquicos.

Muitas Bruxas colecionam vassouras, e sem dúvida sua infindável variedade e os materiais exóticos utilizados em sua confecção tornam este um hobby interessante.

Se desejar fazer sua própria vassoura mágica, pode tentar a velha fórmula de utilizar um cabo de freixo, galhos de bétula amarrados.com ramos de salgueiro. O freixo é protetivo, a bétula purificante e o salgueiro é sagrado à Deusa.

Obviamente, um galho de qualquer árvore ou arbusto pode ser utilizado no lugar da vassoura (ao cortá-lo, agradeça à árvore pelo sacrifício, utilizando palavras como as contidas na seção "Um Guia Herbáceo" do Livro de Sombras das Pedras Erguidas, Seção III). Pode-se usar também uma pequena vassoura de folhinhas de pinho. Nos antigos casamentos escravos na América, assim como nas núpcias Ciganas, o casal geralmente pulava ritualmente por sobre uma vassoura para solenizar sua união. Tais casamentos eram comuns até tempos recentes, e ainda hoje casamentos Wiccanos e pagãos incluem um pulo por sobre uma vassoura.

Muitos encantamentos antigos envolvem a utilização de vassouras. Em geral, a vassoura é um instrumento purificador e de proteção, utilizado para limpar ritualisticamente a área de magia ou para proteger um lar ao ser colocada na entrada, sob a cama, em peitoris de janelas ou nas portas.

A vassoura utilizada em magia, como todos os instrumentos mágicos, deve ser reservada para esse único fim. Se desejar comprar uma vassoura, tente encontrar uma arredondada; as vassouras horizontais aparentemente não possuem o mesmo efeito.
Bastão

O bastão é um dos instrumentos mais importantes. Tem sido utilizado há milhares de anos em ritos mágicos e religiosos. É um instrumento de invocação. A Deusa e o Deus podem ser chamados para assistirem ao ritual por meio de palavras e de um bastão erguido. Também é por vezes utilizado para direcionar energia, para desenhar símbolos mágicos ou um círculo no solo, para indicar.a direção de perigo quando perfeitamente equilibrado na palma da mão ou no braço de um Bruxo, ou mesmo para mexer um preparado em um caldeirão. O bastão representa o elemento do Ar para alguns Wiccanos, e é sagrado para os Deuses.

Há madeiras tradicionais para a confecção de um bastão, dentre elas o salgueiro, o sabugueiro, o carvalho, a macieira, o pessegueiro, a avelã e a cerejeira. Alguns Wiccanos a cortam com o comprimento da ponta de seu cotovelo até a extremidade de seu indicador, mas isto não é necessário. Qualquer peça relativamente reta de madeira pode ser utilizada; até mesmo uma cavilha comprada em uma loja de ferramentas serve, e já vi bastões maravilhosamente esculpidos ou pintados feitos a partir destas.

A consciência (e o marketing) da Nova Era resgatou o destaque dos bastões. Criações maravilhosas de prata e com cristais de quartzo estão à sua disposição numa vasta gama de tamanhos e preços. Certamente, podem ser utilizados em rituais de Wicca, apesar de os de madeira possuírem uma história mais antiga.

A princípio, não se preocupe com a busca pelo bastão ideal; ele virá até você. Utilizei um pedaço de raiz de alcaçuz como bastão por algum tempo, e obtive bons resultados com ele.

Qualquer madeira que utilizar será imbuída com energia e poder. Encontre uma que lhe seja confortável, e pronto.
Incensário

O incensário é um queimador de incenso. Pode ser feito de metal, de forma complexa, como o utilizado pela igreja católica, ou uma simples concha do mar. O incensário é o suporte para o incenso aceso durante os rituais Wiccanos.

Se não conseguir obter um incensário apropriado, confeccione um você mesmo. Qualquer pote ou taça cheio até a metade com areia ou.sal funciona a contento. O sal ou a areia absorvem o calor do carvão ou incenso e evita que o pote se quebre. Varetas de incenso também podem ser insertas no sal, e pode-se ainda apoiar os cones em sua superfície.

A utilização de incenso em rituais e em magia é uma arte em si só e por si só. Quando nenhum incenso específico for necessário para rituais e encantamentos, use sua intuição e criatividade para determinar a combinação a ser feita.

Podem ser utilizados incensos em varetas, em cone ou em tijolinhos, mas a maioria dos Wiccanos prefere incenso cru ou granulado, do tipo que deve ser queimado sobre pedrinhas de carvão, disponíveis em fornecedores de artigos para ocultismo. Qualquer um serve. Na magia cerimonial, por vezes pede-se a aparição visual de "espíritos" por meio da fumaça que emana dos incensos. Mesmo não sendo isto uma característica da Wicca, a Deusa e o Deus podem eventualmente ser vistos na fumaça que se enrola. Sentar-se respirando lentamente enquanto se observa a fumaça pode induzir a estados de transe, que nos leva a estados alterados de consciência. Rituais Wiccanos, quando praticados no interior de prédios, não serão completos sem um incenso. Ao ar livre, uma fogueira pode substituí-lo, ou mesmo incensos de vareta afixados no solo. Portanto, o incensário é uma importante peça para rituais internos. Para alguns Wiccanos, o incensário representa o elemento do Ar. É geralmente posicionado diante das imagens das Deidades no altar, se houver.
Caldeirão

O caldeirão é o instrumento da Bruxa por excelência. É um antigo recipiente culinário, imbuído em mistério e tradição mágica. O.caldeirão é o recipiente no qual ocorrem as transformações mágicas; o cálice sagrado, a fonte santa, o mar da Criação Básica. A Wicca vê o caldeirão como um símbolo da Deusa, a essência manifesta da feminilidade e da fertilidade. É também um símbolo do elemento da Água, da reencarnação, da imortalidade e da inspiração. As lendas Celtas acerca do caldeirão de Kerridwen tiveram grande impacto na Wicca contemporânea.

O caldeirão é geralmente um ponto central dos rituais. Durante os ritos da primavera, é por vezes cheio com água fresca e flores; no inverno, acende-se fogo dentro do caldeirão para representar o retorno do calor e da luz do Sol (o Deus) vindo do caldeirão (a Deusa). Isto está ligado a mitos agrícolas nos quais o Deus nasce no inverno, atinge a maturidade no verão e morre após a última colheita (ver Capítulo 8. Dias de Poder).

Idealmente, o caldeirão deve ser feito de ferro, apoiando-se em três pés e com a boca menor do que sua parte mais bojuda. Pode ser difícil encontrar um caldeirão, mesmo os menores, mas uma busca cuidadosa em geral nos leva a algum tipo de caldeirão. Algumas lojas por catálogo possuem caldeirões, mas não regularmente. Aconselha-se investigar esses fornecedores.

Caldeirões podem ser encontrados em vários tamanhos, desde aqueles com alguns centímetros de diâmetro até monstros com raio de cerca de meio metro. Eu coleciono alguns, inclusive um antigo, reservado para fins rituais.

O caldeirão pode-se tornar um instrumento de scrying ("contemplação") ao ser cheio com água e ter seu fundo escuro observado. Pode também servir como um recipiente no qual preparar as famigeradas bebidas Wiccanas, mas tenha em mente que um fogo forte e muita paciência são necessários para ferver.líquidos em caldeirões grandes. A maioria dos Wiccanos utiliza fogões e panelas hoje.

Se tiver dificuldade em encontrar um caldeirão, persista e um acabará materializando-se. Certamente, não há mal em pedir para que a Deusa e o Deus ponham um em seu caminho.
Faca Mágica

A faca mágica (ou athame) possui uma antiga história. Não é utilizada como instrumento de corte na Wicca, mas sim para direcionar a energia gerada durante ritos e encantamentos.

Raramente é utilizada para invocar ou chamar as deidades, pois é um instrumento de comando e manipulação de poder. É melhor chamar pela Deusa e pelo Deus.

A faca é geralmente cega, normalmente de fio duplo e com um cabo preto ou escuro. O preto absorve poder. Quando utilizada em rituais (ver O Livro de Sombras das Pedras Erguidas) para direcionar energia, um pouco de seu poder é absorvido pelo cabo - apenas uma quantidade ínfima -, o qual pode ser evocado posteriormente. Do mesmo modo, por vezes a energia gerada em rituais Wiccanos é canalizada à faca para uso posterior. Estórias de espadas com poderes e nomes mágicos são bem comuns na literatura mítica, e espadas são simplesmente grandes facas.

Alguns Wiccanos entalham símbolos mágicos em suas facas, normalmente tirados da Chave de Salomão, mas isto não é necessário. Como em muitos instrumentos de magia, a faca se torna poderosa com seu toque e com sua utilização. Entretanto, se assim desejar, entalhe palavras, símbolos ou runas em sua lâmina ou cabo. Uma espada é por vezes utilizada em Wicca, pois possui todas as propriedades de uma faca, mas pode ser de difícil manuseio em rituais internos devido a seu tamanho..Graças ao simbolismo da faca, a qual é um instrumento que causa mudanças, é comumente associada ao elemento do Fogo. Sua natureza fálica a associa ao Deus.
Faca de Cabo Branco

A faca de cabo branco (por vezes chamada de Bolline) é simplesmente uma faca prática, de trabalho, ao contrário da puramente ritualística faca mágica. É utilizada para cortar galhos ou ervas sagradas, inscrever símbolos em velas ou na madeira, cera ou argila, e para cortar cordas a serem utilizadas em magia. Normalmente possui cabo branco para distingui-la da faca mágica. Algumas tradições Wiccanas rezam que a faca de cabo branco seja utilizada apenas dentro do círculo mágico. Isto, obviamente, limitaria sua utilidade. A mim parece que utilizá-la apenas para fins rituais (como colher flores no jardim para serem colocadas no altar durante rituais) confirma o aspecto sagrado desse instrumento e permite, assim, que seja utilizado fora do "espaço sagrado".
Bola de Cristal

Cristais de quartzo são extremamente populares hoje, mas a bola de cristal de quartzo é um antigo instrumento mágico. É extraordinariamente caro, variando de vinte a milhares de dólares, dependendo do tamanho. A maioria das bolas de cristal no mercado atualmente são de vidro, vidro temperado ou mesmo plástico. Bolas de cristal de quartzo genuínas podem ser identificadas por seu alto preço e por incrustações ou irregularidades.

O cristal vem há muito sendo utilizado na adivinhação contemplativa. O adivinho encara fixamente a bola até aflorarem as suas faculdades psíquicas, e imagens, vistas mentalmente ou projetadas no interior do cristal, revelam a informação necessária. Em rituais de Wicca, os cristais são por vezes posicionados no altar para representar a Deusa. Sua forma (esférica) simboliza a Deusa, assim como todos os círculos e circunferências, e sua temperatura fria (outro modo de detectar cristal genuíno) simboliza as profundezas do mar, o domínio da Deusa.

Assim, o cristal pode também ser utilizado para receber mensagens dos Deuses, ou para armazenar a energia gerada no ritual. Alguns Wiccanos olham fixamente para o cristal para atrair imagens da Deusa ou de vidas passadas. É um objeto mágico tocado pelo divino. Se encontrar uma, guarde-a com cuidado.

Sua exposição periódica à luz da lua, ou o ato de esfregar artemísia fresca em sua superfície, aumentará sua habilidade de ativar nossos poderes psíquicos. Bolas de cristal podem ser o centro de rituais da Lua Cheia.
O Cálice

O cálice é apenas um caldeirão apoiado num pé. Simboliza a Deusa e a fertilidade, e relaciona-se ao elemento da Água. Apesar de poder ser usado para conter água (a qual está constantemente presente no altar), pode também conter a bebida ritual a ser sorvida durante o ritual.

O cálice pode ser feito de praticamente qualquer material: prata, bronze, ouro, barro, pedra-sabão, alabastro, cristal e outros materiais.
Pentagrama

O pentagrama consiste, normalmente, em uma peça plana de latão, ouro, prata, madeira, cera ou cerâmica, com alguns símbolos inscritos. O mais comum, e sem dúvida o único necessário, é o próprio pentagrama, a estrela de cinco pontas que vem sendo utilizada em magia há milênios. O pentagrama foi "emprestado" da magia cerimonial. Nesta antiga arte, era geralmente usado como um instrumento de proteção, ou uma ferramenta para evocar espíritos. Na Wicca, o pentagrama representa o elemento da Terra e é um instrumento adequado à consagração ritual de amuletos, talismãs ou outros objetos. É por vezes utilizado para chamar pelos Deuses e pelas Deusas. Pentagramas também costumam ser pendurados sobre portas e janelas para agir como protetores, ou ser manipulados em rituais para atrair dinheiro devido à sua associação com a Terra.
O Livro de Sombras

O Livro de Sombras é um livro de exercícios da Wicca que contém invocações, padrões de rituais, encantamentos, runas, regras de magia, e assim por diante. Alguns Livros de Sombras são passados de um Wiccano a outro, normalmente na iniciação, mas a grande maioria dos Livros atualmente é criada pelo Wiccano individual. Não acredite nas estórias contidas em outros livros de Wicca acerca de um único Livro de Sombras que teria sido passado desde a antigüidade, pois aparentemente cada facção da Wicca declara ser o seu o original, e todos eles são diferentes.

Apesar de até recentemente um Livro de Sombras ser escrito à mão, atualmente versões datilografadas ou mesmo fotocopiadas são comuns. Alguns Wiccanos estão até mesmo informatizando seus livros - criando, como alguns amigos costumam dizer, os "Disquetes das Sombras".

Para elaborar seu próprio Livro das Sombras, adquira qualquer livro em branco - disponíveis em lojas de arte e livrarias. Se não conseguir encontrar um, um caderno pautado servirá. Simplesmente escreva nele todos os rituais, encantamentos, invocações e informações acerca da magia que deseja preservar..Lembre-se: todos os Livros de Sombras (inclusive o da Seção III) são sugestões para rituais, não "escrituras sagradas". Jamais sinta-se atado àquelas palavras. Na verdade, muitos bruxos utilizam pastas com ferragens, para permitir que alterem a ordem das páginas, acrescentando ou retirando informações de seus Livros das Sombras à vontade.

É aconselhável copiar seus encantamentos e ritos à mão. Isso não só assegura que você leia toda a obra, como também torna mais fácil a sua leitura à luz de velas. Teoricamente, todos os ritos são memorizados (nada é mais perturbador do que Ter de ler ou dar olhadelas constantes no livro) ou criados espontaneamente, mas se desejar ler seus ritos certifique-se de que as cópias são legíveis à luz bruxuleante do fogo.
Sino

O sino é um instrumento ritual de inestimável antigüidade. O toque de um sino libera vibrações com efeitos poderosos de acordo com seu volume, tom e material utilizado.

O sino é um símbolo feminino e, portanto, normalmente utilizado para invocar a Deusa em rituais. É também tocado para afastar encantamentos e espíritos malignos, para interromper tempestades ou para evocar energias positivas. Sobre estantes ou acima da porta, eles protegem a morada. Sinos são por vezes tocados em rituais para assinalar seções diversas ou marcar o início ou o fim de um encantamento.

Qualquer tipo de sino pode ser utilizado.

Estes são alguns dos instrumentos utilizados em rituais de Wicca. Utilizá-los, familiarizando-se com seus poderes e imbuindo-os com sua própria energia, faz com que sua utilização passe a ser natural. Encontrá-los pode ser um problema, mas podemos encarar isto como um teste sobre a seriedade de seu interesse pela Wicca..À medida que encontra cada instrumento, pode prepará-lo para rituais. Se forem velhos, você deve purgá-los de quaisquer associações e energias; você não sabe quem possuiu o instrumento, nem os propósitos com os quais teriam sido usados.

Para começar este processo, limpe o instrumento fisicamente, usando o método apropriado. Quando estiver limpo e seco, enterre-o (na Terra ou num vaso de terra, areia ou sal) por alguns dias, para que as energias se dispersem. Outro método consiste em mergulhar o objeto no mar, num rio ou lago, ou mesmo em sua banheira, após purificar a água com algumas pitadas de sal.

Não arruine uma peça de madeira molhando-a; do mesmo modo, não danifique o acabamento de outro objeto por seu contato com o sal. Use o método mais apropriado para cada instrumento. Após alguns dias, desenterre o instrumento, limpe-o e estará pronto para a magia. Se utilizar o método da água, deixe o objeto submerso por algumas horas e seque-o a seguir. Se desejar, repita até que o instrumento esteja limpo, fresco, novo. Cerimônias de consagração podem ser encontradas na Seção III, assim como ritos preparatórios na Seção Guia Herbáceo. Ambos são
opcionais; siga o que sua intuição indicar.



A Wicca atribui a diferença que percebemos entre o mundo físico e o não-físico às nossas limitações por sermos seres baseados em matéria. Alguns dos instrumentos utilizados na prática da religião são realmente não-físicos. Três dos mais eficazes dentre estes são a música, a dança e os gestos.

Tais técnicas são utilizadas para gerar poder, alterar a consciência e comungar com a Deusa e com o Deus - para atingir o êxtase. Estas técnicas normalmente são parte integrante de rituais, e seguramente os ritos mais eficazes e poderosos podem utilizar apenas esses instrumentos. (Um ritual totalmente composto por gestos pode ser encontrado na Seção III: O Livro de Sombras das Pedras Erguidas.)

A música e a dança estão entre os mais antigos atos religiosos e de magia. Nossos ancestrais provavelmente já se utilizavam da magia de sinais com as mãos e da postura corporal antes mesmo que a fala estivesse completamente desenvolvida. O simples gesto de apontar um dedo ainda possui fortes efeitos emocionais, desde a indicação de um réu como o culpado de um crime por uma testemunha até a seleção de um esperançoso candidato em um leilão cercado por um mar de concorrentes..A música é, tecnicamente, formada por ondas sonoras que podem ser mensuradas fisicamente. Entretanto, é impossível segurar a música com nossas mãos - apenas os instrumentos que a produzem. A primeira música foi provavelmente rítmica. Os humanos logo descobriram que podiam produzir ritmos e sons agradáveis ao bater em várias partes de seus corpos, notadamente as coxas e o peito. O bater de palmas cria um som distinto e claro, o qual ainda hoje é utilizado por Wiccanos para liberar o poder pessoal durante rituais de magia.

Instrumentos rítmicos como tambores de troncos foram posteriormente utilizados para produzir sons mais encorpados. Algumas pedras ressoam quando batidas, e assim nasceu outro tipo de instrumento. Bambus, ossos e algumas conchas produzem sons silvantes quando assopradas da forma correta. Sistemas xamânicos ainda vigentes utilizam tais instrumentos.

Rituais menos intelectualizados podem ser mais eficazes exatamente por evitar o consciente e falar diretamente à consciência profunda, psíquica. A música e a dança nos envolvem emocionalmente em ritos Wiccanos.

A idéia de dançar, cantar ou tocar música intimida alguns de nós. Isto é o resultado natural de nossa sociedade cada vez mais repressiva. Na Wicca, entretanto, a dança e a música ocorrem somente perante as Deidades. Você não estará diante de uma platéia, portanto não se preocupe se desafinar ou pisar em seu próprio pé. Eles não se importam, e ninguém precisa saber o que você faz diante dos Deuses em seus ritos.

Até mesmo pessoas sem a menor vocação musical são capazes de bater uma pedra contra outra, balançar um chocalho, bater palmas ou andar em círculos. Atualmente, alguns dos mais eficientes e.reconhecidos covens se utilizam de uma simples corrida ao redor do altar para gerar poder. Chega de rituais ricamente coreografados. Eis a seguir um pouco de fatos tradicionais sobre dança, música e gestos. Se lhe interessar, sinta-se à vontade para incorporá-los a seus rituais Wiccanos. Apenas uma sugestão: se sentir que seus rituais estão muito austeros e pouco satisfatórios, se eles não criam uma ligação com as deidades, talvez o problema seja uma falta de conteúdo emocional. A música e a dança podem conferir um envolvimento genuíno ao ritual, abrindo assim sua percepção acerca da Deusa e do Deus. Durante a magia, podem criar acessos mais livres ã energia.
Música

A música é simplesmente a reprodução dos sons da natureza. O vento nos galhos das árvores, o ribombar do oceano contra rochedos pontiagudos, o bater da chuva, o crepitar do fogo criado por um raio, o canto de pássaros e o rugir de animais são alguns dos "instrumentos" que criam a música da natureza.

Há muito os seres humanos integraram a música a rituais religiosos e de magia, devido a seus efeitos poderosos. Os xamãs usam uma batida constante de tambor para induzir transe, e um tambor pode ser utilizado para controlar o ritmo de uma dança mágica. Além disso, há muito credita-se à música a capacidade de acalmar animais ferozes - assim como humanos.

A Música pode ser parte das atividades da Wicca de hoje. Pode-se simplesmente encontrar peças adequadas, selecionadas da música clássica, étnica, folclórica ou contemporânea, para executá-las durante os rituais. Os Wiccanos com uma inclinação musical podem criá-la antes, durante ou após rituais.

Meus rituais mais gratificantes e vívidos geralmente envolvem música. Lembro-me de um dia, quando ocultei um pequeno gravador.atrás de uma árvore nas Montanhas Laguna. Estranhamente, a música não entrou em conflito com o cenário de flores silvestres, altos pinheiros e antigos carvalhos, mas sim enalteceu meu ritual solitário.

Se possuir intimidade com algum instrumento, use-o em seus rituais. Uma flauta, um violino, uma flauta doce, um violão, uma harpa tradicional e outros instrumentos pequenos podem facilmente ser incluídos em rituais, assim como tambores, chocalhos, sinos ou mesmo copos de água a serem tocados com uma faca. Outros instrumentos menos portáteis podem ser gravados para serem reproduzidos durante o ritual.

Tais interlúdios musicais podem ser utilizados imediatamente antes dos ritos para criar uma atmosfera; durante como uma oferenda à Deusa e ao Deus ou para gerar energia; e após como uma forma de celebração e prazer. Alguns Wiccanos compõem uma canção, a qual é em realidade um rito, incluindo nela desde a criação do espaço sagrado e a invocação das Deidades até o agradecimento por sua presença. A magia musical é aquilo que realmente se desejar fazer dela.

Quatro tipos distintos de instrumentos possuem poderes específicos. O tambor, o chocalho, o xilofone e todos os instrumentos de percussão (com exceção do sistro) são regidos pelo elemento Terra. Portanto, tais instrumentos podem ser utilizados para invocar fertilidade, atrair dinheiro, encontrar um emprego e assim por diante. Podem também ser utilizados para evocar a Deusa em rituais, ou para reunir, "a toque de caixa", a energia a ser enviada para a Terra.

A flauta, transversal ou doce, assim como todos os instrumentos de sopro, estão sob a regência do Ar, o elemento do intelecto, e assim podem ser utilizados para aumentar os poderes mentais ou as habilidades de visualização, para descobrir sabedoria ou.conhecimentos antigos, aumentar as faculdades psíquicas e atrair o Deus.

O Fogo rege os instrumentos de corda tais como a lira, a harpa (grande ou folclórica), o violão, o bandolim, o ukelele e outros. Tais instrumentos podem ser utilizados em encantamentos ou ritos que envolvam sexualidade, saúde e força física, paixão e força de vontade, mudanças, evolução, coragem e destruição de hábitos nocivos.

São também excelentes ferramentas a serem usadas antes dos rituais para purificar a área em questão, bem como o celebrante. Toque uma determinada canção, cante com o instrumento, ou simplesmente caminhe pela área num círculo no sentido horário até que o local esteja ecoando suas vibrações. As cordas também podem ser usadas para invocar o Deus.

O metal ressonante, como os pratos, o sistro, o sino e o gongo, simbolizam o elemento da Água. Uma vez que a água engloba a cura, a fertilidade, a amizade, os poderes psíquicos, o amor espiritual, a beleza, a compaixão, a felicidade e outras energias similares, sinos, gongos ou pratos podem ser incluídos em tais ritos. O sistro de Ísis nos assegura que o metal ressonante invoca a Deusa.

Encantamentos musicais (ao contrário dos puramente verbais) podem ser simples e eficazes. Precisa de dinheiro? Sente-se tranqüilamente vestido de verde e bata lentamente num tambor, visualizando-se rico enquanto invoca a Deusa em Seu aspecto de Fornecedora de Abundância.

Se estiver deprimido, encontre um sino com um tom agradável e toque-o ritualmente, sentindo as vibrações do som eliminando sua depressão e elevando seu ânimo. Ou então carregue um pequeno sino consigo..Quando tiver medo, toque um violão ou ouça música de violões enquanto vê a si mesmo como alguém confiante e valente. Invoque o Deus em seu aspecto Chifrudo, agressivo, protetor.

O canto, uma combinação de fala e música, pode ser prontamente integrado a rituais Wiccanos. Alguns Wiccanos adequam cantos e invocações a melodias, ou cantam quando assim o desejam durante rituais.

Muitos Wiccanos nunca exploraram o assunto da magia musical, simplesmente reproduzindo música gravada como fundo para seus rituais. Nada de errado, mas integrar uma música criada por nós mesmos (não importa o quão simples seja) aos nossos rituais pode ser mais eficaz, desde que aprecie a peça.

Atualmente, pode-se encontrar um grande número de fitas cassete Pagãs e de Wicca, ainda que sejam de qualidade variável. Algumas canções podem ser utilizadas em rituais, mas a maioria funciona melhor quando tocada durante os preparativos para o ritual, ou depois, como relaxamento.

Incorporar a música apropriada aos rituais pode melhorar e muito a experiência Wiccana.
Dança

A dança é certamente uma antiga prática ritual. É também um ato mágico, pois o movimento físico libera energia do corpo, a mesma energia utilizada em magia. Este "segredo" foi logo descoberto, e desta forma a dança foi incorporada em magia e rituais para gerar energia, alterar a consciência ou simplesmente honrar a Deusa e o Deus com performances rituais.

Danças em grupo, como a dança espiral, são normalmente executadas em trabalhos de covens. Em trabalhos individuais, entretanto, não há limitações por tradição ou passos coreografados..Sinta-se livre para mover-se do modo que desejar, não importa o quão infantil ou "selvagem" possa parecer.

Em magia, muitos Wiccanos praticam um pequeno encantamento ou manipulação ritual de alguma espécie (escrever runas, atar nós, desenhar figuras na areia ou em ervas em pó, entoando o nome de deidades) e em seguida praticam a verdadeira magia: gerar e canalizar a energia mágica. Em geral, eles movem-se num círculo no sentido horário, cada vez mais rápido, em torno do altar, seja solitariamente ou num coven, observando as velas acesas no altar, aspirando o incenso, liberando a si mesmos por meio de cantos e intensa visualização. Quando o praticante alcança um ponto sem retorno, no momento exato em que o corpo não pode mais gerar e canalizar energia, o poder é então liberado em direção ao objetivo mágico. Para tanto, alguns Wiccanos caem no solo, assinalando assim o final do que é peculiarmente conhecido como "A Dança". A dança é utilizada para gerar energia assim como para facilitar a sintonia com as Deidades da natureza. Dance como o vento; como o riacho descendo a montanha, como as chamas de uma árvore atingida por um raio, como grãos de areia tocados durante uma rajada, como flores revelando seu brilho numa ensolarada tarde de verão. Enquanto dança, usando os movimentos que desejar, abra-se para a Deusa e para o Deus.

Pense, por um instante, nos dervixes a girar, nas indomáveis danças ciganas da Europa, na sensual dança do ventre do Oriente Médio, na hula sagrada do antigo Havaí. A dança é um dos caminhos para o Divino.
Gestos

Os gestos são o contraponto silencioso às palavras. Gestos podem fortalecer rituais Wiccanos quando praticados juntamente a invocações e danças, ou podem ser utilizados individualmente por.seu verdadeiro poder. Apontar (como já mencionado), utilizar os dedos indicador e médio abertos formando um "v" e apresentar vulgarmente um dedo médio erguido demonstra a variedade de mensagens que podem ser enviadas pelos gestos, assim como a quantidade de respostas emocionais que eles suscitam. Em minha introdução à Wicca, alguns desses velhos gestos foram usados. Em 1971, vi algumas fotos de gestos protetivos como a mano figa (um punho fechado com o polegar entre o indicador e o médio) e a mano cornuta, um "v" formado pelo indicador e pelo mínimo, mostrados de cabeça para baixo. Há muito, ambos vêm sendo utilizados para afastar maus-olhados e negatividade, e o último é utilizado na Wicca, apontado para cima, para representar o Deus em seu aspecto Chifrudo.

Alguns dias mais tarde, em meu primeiro ano de colegial, fiz esses dois gestos para uma garota que acabara de conhecer. Não havia nenhuma razão lógica para isso; apenas parecia o certo. Ela olhou para mim, sorriu e perguntou se eu era um bruxo. Eu disse que não, mas gostaria de ser. Ela passou a me treinar.

O significado mágico dos gestos é complexo, e origina-se do poder das mãos. A mão pode curar ou matar, acariciar ou apunhalar. É um canal pelo qual as energias são enviadas do corpo ou recebidas de outros. Nossas mãos preparam altares mágicos, apanham bastões e athames e apagam as chamas das velas ao concluirmos ritos mágicos.

Mãos, enquanto meios por meio dos quais a maioria de nós ganha a vida, simbolizam o mundo físico. Mas em seus cinco dedos reside o pentagrama, o supremo símbolo de proteção; a soma dos quatro elementos associada a Akhasha, o poder espiritual do universo. As linhas em nossas mãos podem, para o iniciado, ser utilizadas para acessar o inconsciente profundo e revelar coisas dificilmente.captadas pelo consciente. O quiromante não interpreta essas linhas como ruas num mapa; são chaves para nossas almas, uma mandala de carne que revela nosso mais profundo interior.

As mãos foram utilizadas como os primeiros instrumentos de cálculo. Acreditava-se que possuíam qualidades e simbolismo tanto masculino como feminino, e imagens de mãos são usadas ao redor do mundo como amuletos.

Gestos em rituais Wiccanos podem facilmente tornar-se instintivos. Ao invocar a Deusa e o Deus, as mãos podem ser erguidas espalmadas para receber seu poder. A Deusa pode ser individualmente invocada com a mão esquerda, com o polegar e com o indicador erguidos em um semicírculo, enquanto o resto dos dedos se enrola sobre a palma. Este gesto representa a Lua crescente. O Deus é invocado com o indicador e com o médio erguidos, ou o indicador e o mínimo erguidos, enquanto o polegar segura os outros contra a palma, para representar chifres.

Os elementos podem ser invocados com gestos individuais quando próximos das quatro direções: uma mão espalmada paralela ao chão para invocar a Terra no norte; uma mão erguida, com os dedos bem abertos, para invocar o Ar no leste; um punho erguido no sul para convidar o Fogo, e uma mão em concha no oeste para invocar a Água. Dois gestos, juntamente a posturas, vêm há muito sendo usados para invocar a Deusa e o Deus, e receberam seus nomes. Assume-se a posição da Deusa ao separar os pés cerca de 20cm, erguendo as mãos com as palmas voltadas para cima, os cotovelos levemente dobrados. Esta posição pode ser utilizada para chamar a Deusa ou para sintonizar-se com Suas energias.

A posição do Deus consiste em manter os pés juntos no chão, o corpo rigidamente ereto, braços cruzados no peito (em geral o direito sobre o esquerdo), com as mãos fechadas em punhos..Instrumentos como o bastão e o punhal mágico (athame) podem eventualmente ser seguros nas mãos, ecoando a prática dos antigos faraós do Egito, que seguravam um cajado e um mangual de modo semelhante durante disputas.

Nos covens, a Alta Sacerdotisa e o Grande Sacerdote costumam assumir tais posições quando invocam a Deusa e o Deus. Em trabalhos individuais, podem ser utilizadas para identificarmo-nos com os aspectos da Deusa e do Deus em nós, e também durante ritos invocatórios separados.

Gestos também são utilizados em magia. Cada um dos dedos se relaciona a um planeta específico, assim como a uma antiga deidade. Uma vez que apontar é um ato mágico e é parte de muitos encantamentos, podemos escolher o dedo de acordo com seu simbolismo.

O polegar está ligado a Vênus e ao planeta Terra. Júpiter (tanto o deus quanto o planeta) rege o indicador. O dedo médio é regido pelo deus e pelo planeta Saturno, o anelar pelo Sol e por Apolo e o mínimo pelo planeta Mercúrio assim como pelo deus que lhe dá nome. Muitos encantamentos envolvem o apontar, com os dedos de Júpiter e Saturno, normalmente para um objeto a ser carregado ou imbuído em energia mágica. Visualiza-se o poder partindo dos dedos direto para o objeto.

Outros gestos rituais utilizados em ritos Wiccanos incluem o "cortar" de pentagramas nos quatro quartos ao desenhá-los no ar com o punhal mágico, o bastão ou o indicador. Isto é feito para, alternadamente, banir ou invocar os poderes elementais. É, obviamente, praticado com a visualização.

A mão pode ser vista como um caldeirão, uma vez que pode conter água; um athame, pois é utilizada para dirigir energia de magia; e um bastão, por também poder invocar..Gestos são instrumentos mágicos tão poderosos como quaisquer outros, os quais podemos levar sempre conosco, para utilizá-los quando necessário.



Defini ritual como "uma forma específica de movimento, manipulação de objetos ou séries de processos internos com o intuito de produzir efeitos desejados" (ver Glossário). Na Wicca, os rituais são cerimônias que celebram e fortalecem nosso relacionamento com a Deusa, o Deus e a Terra..Tais rituais não precisam ser pré-planejados, ensaiados ou tradicionais, tampouco deter-se servilmente a um determinado formato ou padrão. Na verdade, os Wiccanos com quem falei sobre este tópico concordam que rituais criados espontaneamente tendem a ser os mais eficazes e poderosos.

Um rito Wiccano pode consistir em um celebrante solitário que acende uma fogueira, entoa nomes sagrados e observa o surgir da lua. Ou pode envolver dez ou mais pessoas, algumas das quais assumem diversos papéis em peças míticas, ou recitam longos trechos em honra aos Deuses. O rito pode ser antigo ou recém-concebido. Sua forma externa não é importante, desde que consiga atingir a consciência das deidades dentro do Wiccano.

Rituais Wiccanos normalmente têm lugar nas noites de lua cheia e nos oito Dias de Poder, os antigos festivais sazonais e agriculturais da Europa. Rituais são em geral de natureza espiritual, mas podem também incluir trabalhos de magia.

Na Seção III encontra-se um livro completo de rituais, O Livro de Sombras das Pedras Erguidas. O melhor método para aprender Wicca é por meio de sua prática; deste modo, com o passar do tempo, ao praticar rituais como os presentes neste livro ou escritos por você mesmo, você obterá uma melhor compreensão acerca da verdadeira natureza da Wicca.

Muitas pessoas dizem que desejam praticar Wicca, mas permanecem inertes, convencendo a si próprias de que não podem honrar a Lua Cheia com um ritual por não serem iniciadas, não possuírem um instrutor ou não saberem o que fazer. Isto são meras desculpas. Se tiver interesse em praticar Wicca, simplesmente o faça.

Para o Wiccano solitário, a criação de novos rituais pode ser uma atividade estimulante. Noites são consumidas sobre textos de.referência, unindo fragmentos de rituais e invocações, ou simplesmente permitindo que o espírito do momento e a sabedoria das Deidades nos preencha com sua inspiração. Não importa como sejam criados, todos os rituais devem ser concebidos do prazer, e não da obrigação.

Se desejar, ajuste seus rituais às estações, aos dias festivos do paganismo e às fases da lua (para maiores informações sobre o assunto, ver Capítulo 8. Dias de Poder). Se se sente particularmente atraído a outros calendários sagrados, sinta-se à vontade para adaptá-los. Já houve adaptações altamente bem-sucedidas em Wicca do sistema religioso-mágico egípcio, indígena americano, havaiano, babilônico e outros. Apesar de a maior parte da Wicca ter tido, até recentemente, embasamento europeu e britânico, não precisamos limitar-nos a isso. Como Wiccanos solitários, estamos livres para fazer o que bem nos aprouver. Uma vez que os rituais sejam eficazes e satisfatórios, por que se preocupar?

O Capítulo 13 contém instruções para a criação de seus próprios rituais, mas algumas palavras acerca da preparação de rituais se fazem necessárias aqui.

Para começar, certifique-se de que não será interrompido durante seu rito religioso (ou mágico). Se estiver em casa, diga a sua família que estará ocupado e deseja não ser interrompido. Se estiver só, tire o fone do gancho, tranque as portas e feche as janelas, se assim desejar. É melhor assegurar-se de que estará só e sem distrações por algum tempo.

Um banho ritual é geralmente o próximo passo. Por algum tempo, praticamente não conseguia realizar um rito sem um rápido banho antes. Isto é em parte psicológico: se se sente limpo e purificado das preocupações diárias, você se sentirá melhor para contatar a Deusa e o Deus..A purificação ritual é uma característica comum a muitas religiões. Na Wicca, vemos a água como uma substância purificante que elimina as vibrações indesejadas das tensões rotineiras e nos permite contatar as deidades puros de corpo e mente.

Num nível mais profundo, a imersão em água nos remete à nossa mais primitiva memória. O ato de banhar-se numa banheira de água fresca e salgada é semelhante a caminhar nas ondas do sempre acolhedor oceano, o domínio da Deusa. Isso nos prepara física e espiritualmente (você nunca se sentiu diferente numa banheira?) para a experiência vindoura.

O banho normalmente se torna um ritual por si só. Pode-se acender velas no banheiro, além de incenso. Óleos perfumados e sachês de ervas podem ser colocados na água. Meu sachê de banho purificador preferido consiste em partes iguais de alecrim, erva-doce, lavanda, manjericão, tomilho, hissopo, verbena, menta, com um toque de raiz de valeriana moída. (Esta fórmula foi retirada de A Chave de Salomão.) Ponha estes ingredientes num pano, até as extremidades, para prender as ervas e mergulhe-o na água.

Rituais ao ar livre nas proximidades do oceano ou de um lago ou regato podem ser antecedidos com um rápido mergulho. Obviamente, é impossível tomar um banho antes de rituais espontâneos. Até mesmo a necessidade de banhos rituais é questionada por alguns. Se sentir-se confortável ao tomar banho, faça-o. Se achar que não é necessário, então não faça. Uma vez banhado, é hora de vestir-se para o ritual. Muitos Wiccanos hoje (em especial aqueles influenciados pelos textos e idéias de Gerald Gardner ou um de seus aprendizes - ver Bibliografia), a nudez é ideal para invocar as deidades da natureza. Certamente, é a condição mais natural em que o corpo humano pode ficar, mas a nudez ritual não é para qualquer um. A Igreja muito fez para criar sentimentos de culpa acerca de uma figura humana.desnuda. Tais emoções distorcidas, não naturais, perduram até hoje.

Muitas razões são dadas para esta insistência na nudez ritual. Alguns Wiccanos declaram que um corpo vestido não consegue emitir o poder pessoal tão eficientemente quanto um corpo nu, para em seguida dizer que, quando necessário, rituais vestidos praticados em ambientes fechados são tão eficazes quanto rituais nus ao ar livre.

Mesmo vestidos, os Wiccanos produzem magia tão eficaz quanto a produzida por Wiccanos nus. As vestimentas não constituem barreira para a transferência de poder. Mas nudez é sempre preferível.

Uma explicação mais convincente sobre a nudez ritual na Wicca é a de que ela é usada por seu valor simbólico: a nudez mental, espiritual e física diante da Deusa e do Deus simboliza a sinceridade e a abertura do Wiccano. A nudez ritual era prática de muitas religiões antigas e pode ser encontrada em áreas distintas do globo, portanto não é uma idéia nova, apenas para alguns ocidentais.

Apesar de muitos covens insistirem na nudez ritual, não é preciso preocupar-se com isso. Como praticante solitário, a escolha é sua. Se não se sentir bem quanto à nudez ritual, mesmo que privadamente, não a pratique. Existem muitas opções.

Vestes especiais, como robes e tabardos, são razoavelmente populares entre alguns Wiccanos. Várias são as razões para o uso de robes, uma das quais é a de que vestir-se com trajes utilizados apenas para a prática de magia confere uma atmosfera mística a tais rituais e altera sua consciência para os procedimentos que se seguem, promovendo, assim, a consciência ritual..As cores são também utilizadas por suas vibrações específicas. A lista a seguir é uma boa amostragem de cores para robes. Se estiver especialmente interessado em magia com ervas, ou praticar rituais concebidos para interromper a proliferação de usinas e armas nucleares, utilizo uma túnica verde para ligar meus rituais à energia da Terra. Robes específicos podem ser confeccionados e utilizados por pessoas habilidosas para certos encantamentos ou ciclos de encantamentos, de acordo com as descrições abaixo. Amarelo é uma cor excelente para aqueles envolvidos em adivinhação.

Roxo é favorável aos que trabalham com o poder divino puro (magos) ou que desejam aprofundar sua consciência espiritual acerca da Deusa e do Deus.

Azul é indicado para curandeiros e para os que trabalham com sua consciência psíquica ou para sintonizar-se com a Deusa em Seu aspecto oceânico.

Verde fortalece os herbalistas e os ecologistas mágicos.

Marrom é usado por aqueles com ligações com os animais ou que lançam encantamentos por eles.

Branco simboliza a purificação e a espiritualidade pura, sendo também perfeito para a meditação e rituais de purificação. É utilizado ainda em rituais da Lua Cheia, ou para acessar a Deusa.

Laranja ou Vermelho podem ser utilizados em Sabbats, para ritos de proteção ou sintonizar-se com o Deus em seu aspecto Solar.

Preto é uma cor popular. Ao contrário das crenças populares, o preto não simboliza o mal. É a ausência de cor. É uma matiz protetiva e simboliza a noite, o universo e a ausência de falsidade.

Quando um Wiccano veste um robe preto, ele está vestindo a.escuridão do espaço - simbolicamente, a fonte suprema de energia divina.

Se isto lhe parece muito complicado, simplesmente faça ou compre um robe e utilize-o em todos os rituais.

Podemos encontrar desde robes simples, como uma saída de banho, até alguns com gorros e bordados, como os de um monge, incluindo as mangas largas, o que garante que pegarão fogo se próximas demais a velas. Alguns Wiccanos vestem robes com gorros, para isolar interferências externas e controlar os estímulos sensoriais durante os rituais. É uma boa idéia para a magia e para a meditação, mas não para os ritos religiosos da Wicca, durante os quais devemos abrir-nos para a natureza, e não cortar nossas conexões com o mundo físico.

Se não desejar utilizar tais trajes, não é capaz de confeccionar um ou simplesmente não consegue encontrar ninguém que confeccione um para você, utilize apenas roupas limpas de fibras naturais, como algodão, lã ou seda. Desde que se sinta confortável com o que esteja (ou não) trajando, tudo bem. Por que não provar para ver o que lhe "cai" melhor?

Escolher e usar jóias rituais segue naturalmente a veste. Muitos Wiccanos têm coleções de peças exóticas com desenhos religiosos ou mágicos. Da mesma forma, amuletos e talismãs (objetos criados para afastar ou atrair poderes) costumam ser utilizados como joalheria ritual. Maravilhas como colares de âmbar e azeviche, braceletes de prata ou ouro, coroas de prata incrustadas com luas crescentes, anéis de esmeraldas e pérolas, até mesmo jarreteiras rituais, equipadas com pequenas fivelas de prata, normalmente fazem parte do aparato Wiccano.

Mas não é preciso adquirir ou confeccionar tais extravagâncias.

Seja simples. Se sentir-se bem usando uma ou duas peças de.joalheria durante rituais, tudo bem! Escolha desenhos com crescentes, ankhs, estrelas de cinco pontas (pentagramas) e assim por diante. Muitos fornecedores por correio vendem joalheria para ocultismo. Se desejar reservar seu uso para rituais, tudo bem. Muitos assim o fazem.

Sou constantemente perguntado se carrego sempre um bom amuleto, uma jóia ou outro objeto de poder comigo. A resposta é não.

Isto normalmente surpreende as pessoas, mas é parte de minha Filosofia em magia. Se determino que uma peça de joalheria (um anel, pingente, cristal etc.) é meu objeto de poder, meu elo com os Deuses, minha certeza de boa sorte, ficaria arrasado se me roubassem, se o perdesse, ou me separasse dele de algum modo. Poderia dizer que o poder abandonou o objeto, que era uma bobagem ou que teria sido tomado por seres superiores, ou que não estava tão alerta quanto imaginava. Mesmo assim, ficaria arrasado.

Não é muito sábio depositar nossas esperanças, sonhos e energia em objetos físicos. Isto representa uma limitação, um produto direto do materialismo incutido em nós durante toda a nossa vida. É muito fácil dizer: "Não consigo fazer nada desde que perdi meu colar de selenita da sorte." É tentador pensar: "Nada mais deu certo desde que meu anel do Deus Cornudo desapareceu." O que não é fácil de perceber é que todo o poder e sorte de que precisamos está no interior de nós mesmos. Não está contido em objetos externos, a não ser que assim o permitamos. Se fizermos isso, estaremos propensos a perder essa parte de nossa força pessoal e boa sorte, algo que não faria conscientemente.

Objetos de poder e jóias rituais podem sem dúvida simbolizar a Deusa e o Deus, assim como nossas próprias habilidades. Mas creio que não devemos deixar que sejam mais do que isso..Ainda assim, eu possuo algumas peças (um pentagrama de prata, uma imagem da Deusa, uma ankh egípcia, um anzol havaiano que simboliza o deus Maui) que por vezes uso em rituais. A utilização de tais objetos ativa nossa mente e produz o estado de consciência necessário para um ritual eficaz.

Não estou dizendo que o poder não deva ser enviado para objetos: na verdade, este é o modo pelo qual são feitos talismãs e amuletos com cargas mágicas. Simplesmente prefiro não fazer isso com jóias rituais e pessoais.

Certos objetos naturais, como cristais de quartzo, são usados para atrair sua energia para dentro de nós com a finalidade de efetuar mudanças específicas. Este tipo de "objeto de poder" é um bom auxílio à energia pessoal - mas é perigoso confiar exclusivamente nele.

Se o uso de certas peças cria um estado mágico, ou de uma imagem da Deusa ou um de Seus símbolos sagrados faz com que se sinta mais próximo d’Ela, tudo bem.

Seu objetivo, contudo, deverá ser a habilidade de sintonizar-se constantemente com o mundo oculto que nos rodeia e a realidade da Deusa e do Deus, mesmo em meio às mais devastadoras e aviltantes atitudes humanas.

Assim, agora já está banhado, vestido, enfeitado e pronto para o ritual. Mais alguma consideração? Sim, uma importante - companhia. Você deseja cultuar os Antigos Deuses da Wicca em particular, ou com outros? Se possuir amigos interessados, pode convidá-los para juntarem-se a você.

Em caso contrário, não há problema. Rituais solo são normais ao se iniciar nas tradições da Wicca. A presença de pessoas com idéias semelhantes é ótima, mas também pode ser inibitiva..Há certos rituais nos quais não deve haver outras pessoas. Uma inesperada visão da lua cheia por entre as nuvens pede por alguns momentos de silêncio e sintonia, uma invocação ou meditação. Estes são rituais compartilhados com a Deusa e com o Deus apenas. As Deidades não permanecem em cerimônias; são tão imprevisíveis e voláteis quanto a própria Natureza.

Se desejar unir-se a amigos para seus rituais, faça-o apenas com aqueles realmente sintonizados com suas concepções sobre a Wicca. Penetras e pensamentos fugidios nada acrescentarão ao seu progresso dentro da Wicca.

Acautele-se também quanto ao interesse por amor - o namorado ou namorada, marido ou esposa, que se interessam apenas porque você está interessado. Podem parecer genuínos, mas após algum tempo você perceberá que não estão contribuindo para os rituais.

Há muitos aspectos maravilhosos em trabalhos de covens: já os experimentei. Grande parte do que a Wicca tem de melhor pode ser encontrado num bom coven (e o que há de pior, num mau coven), mas a maioria das pessoas não consegue contatar um coven. Podem também não possuir amigos com o mesmo interesse de praticar Wicca com eles. Este é o motivo pelo qual escrevi este livro para praticantes solitários. Se desejar, continue buscando um instrutor ou coven com o qual treinar enquanto trabalha este e outros guias de Wicca. Quando encontrar alguém, será capaz de abordá-lo com um conhecimento prático da Wicca obtido por meio de sua própria experiência, e não meramente de livros.

Apesar da ênfase dada às iniciações e ao trabalho em grupo na maioria dos livros sobre Wicca, praticantes solitários não devem ser vistos como artigos de Segunda categoria. Há muito mais indivíduos cultuando Os Antigos hoje do que membros de covens, e um número surpreendente destes trabalha só por opção. Com.exceção de alguns encontros de grupo que freqüento anualmente, sou um deles.

Nunca se sinta inferior por não trabalhar sob a orientação de um instrutor ou coven estabelecido. Não se preocupe quanto a não ser reconhecido como um verdadeiro Wiccano. Tal reconhecimento é importante apenas perante os olhos dos que o recebem ou que o fazem; fora isso, não vale nada. Você só precisa se preocupar em satisfazer a si próprio e desenvolver um relacionamento com a Deusa e com o Deus. Esteja à vontade para elaborar seus próprios rituais. Livre-se das algemas do conformismo rígido e da noção de "livros revelados" que devem ser seguidos à exaustão. A Wicca é uma religião em desenvolvimento. O amor pela natureza, pela Deusa e pelo Deus é sua essência, e não tradições eternas e ritos antigos. Não estou dizendo que a Wicca tradicional não é boa. Longe disso. Na verdade, recebi iniciação em várias tradições Wiccanas, cada uma com seus próprios rituais de iniciação, Sabbats e Esbats (ver Capítulo 8. Dias de Poder), nomes para a Deusa e para o Deus, lendas e conhecimento de magia. Mas após receber tais "segredos" percebi que todos são iguais, e os maiores segredos de todos estavam à disposição de qualquer um que vê a natureza como uma manifestação da Deusa e do Deus.

Cada tradição (expressão) da Wicca, seja passada de mão em mão seja praticada intuitivamente, é semelhante à pétala de uma flor. Nenhuma pétala é a totalidade; todas são necessárias à existência da flor. A trilha solitária é tão parte da Wicca quanto qualquer outra.



O círculo, círculo mágico ou esfera é um templo bem definido, embora não-físico. Atualmente, na Wicca, rituais e trabalhos de magia acontecem dentro de tais construções de poder pessoal. O círculo mágico tem origem antiga. Versões dele eram utilizadas na velha magia babilônica. Magos cerimoniais da Idade Média e da Renascença também o utilizavam, bem como muitas tribos indígenas americanas, apesar de o fazerem, provavelmente, por motivos diferentes.

Há dois tipos principais de círculos mágicos. Aqueles utilizados por magos cerimoniais antigos (e atuais) são criados para proteger o mago das forças que ele gera. Na Wicca, o círculo é utilizado para criar um espaço sagrado no qual os humanos encontram a Deusa e o Deus. Na Europa pré-cristã, a maioria dos festivais religiosos do paganismo acontecia ao ar livre. Eram celebrações ao Sol, à Lua, às estrelas e à fertilidade da Terra. As pedras erguidas, círculos de pedras, bosques sagrados e fontes cultuadas da Europa são resquícios desses antigos dias.

Os ritos pagãos passaram ao ostracismo na época de sua proibição pela nova e poderosa igreja. Nunca mais os prados ouviram as vozes cantando os nomes dos deuses solares, e a lua passava sem adoração pelos céus noturnos.

Os pagãos tornaram-se reservados quanto a seus ritos. Alguns os praticavam ao ar livre somente sob a proteção da escuridão. Outros adaptaram-nos a ambientes fechados.

Infelizmente, a Wicca herdou esta última prática. Entre muitos Wiccanos, rituais a céu aberto constitui uma novidade, uma agradável ruptura com os rituais domésticos. Chamo a esta síndrome de "sala-de-estar de Wicca". Apesar de muitos Wiccanos praticarem sua religião em ambientes fechados, o ideal é executar os ritos ao ar livre, sob o Sol e a Lua, em locais silvestres e isolados, longe do assédio dos humanos.

Tais ritos Wiccanos são difíceis de praticar hoje. Os rituais tradicionais da Wicca são complexos e normalmente requerem um grande número de instrumentos. Privacidade é também algo difícil de obter, além do simples medo de ser visto. Por que ter medo? Há adultos tidos como responsáveis e inteligentes que nos prefeririam ver mortos do que praticando nossa religião. Tais "cristãos" são minoria, mas certamente existem, e mesmo hoje os Wiccanos são vítimas de agressões psicológicas e violência física nas mãos dos que não compreendem sua religião.

Não permita que isto o assuste. Os rituais podem ser praticados ao ar livre, se forem adaptados para atrair o mínimo de atenção..Vestir-se com um robe preto encapuzado, enquanto mexe um caldeirão e manuseia facas no ar no meio de um parque público não é o melhor meio de evitar ser notado.

Roupas comuns são aconselháveis em rituais ao ar livre em áreas onde possa ser visto. Podemos utilizar instrumentos, mas lembre-se de que estes são acessórios, não necessidades. Deixe-os em casa se sentir que podem trazer problemas.

Em 1987, numa viagem a Maui, acordei-me ao nascer do sol e caminhei até a praia. O Sol estava apenas nascendo por detrás de Haleakala, tingindo o oceano de rosa e vermelho. Caminhei pela areia coral até um ponto onde a água morna batia em rochas vulcânicas.

Lá, depositei uma pequena pedra na areia em honra às antigas deidades havaianas. Sentado diante dela, abri-me à presença das deusas e deuses ao meu redor. A seguir, caminhei pelo mar e atirei uma plumeria lei à água, oferecendo-a a Hina, Pele, Laka, Kane, Kanaloa e todos os seus semelhantes.

Não pronunciei longos textos nem ergui instrumentos ao ar. Ainda assim, as deidades lá estavam, por toda a parte, enquanto as ondas quebravam contra minhas pernas e a aurora rompia por completo sobre o antigo vulcão, tocando o mar com uma luz esmeralda. Rituais ao ar livre como este podem ser mil vezes mais eficazes por serem ao ar livre, e não numa sala repleta de aço e plástico e as engenhocas de nossa era tecnológica.

Quando não forem possíveis (o clima é certamente um fator), os Wiccanos transformam suas salas e quartos em locais de poder. Fazem-no ao criar um espaço sagrado, um ambiente mágico no qual as deidades são acolhidas e celebradas, e no qual os Wiccanos se dão conta dos aspectos da Deusa e do Deus interior. Pode-se.também praticar magia nesse espaço. Esse espaço sagrado é o círculo mágico.

É praticamente um pré-requisito para trabalhos em ambientes fechados. O círculo define a área ritual, retém o poder pessoal, isola energias perturbadoras - em suma, cria uma atmosfera apropriada para os ritos. Permanecer dentro de um círculo mágico, observando o brilho das velas no altar, aspirando o perfume do incenso e entoando antigos nomes é uma maravilhosa experiência evocativa. Quando corretamente formado e visualizado, o círculo mágico executa sua função de aproximar-nos da Deusa e do Deus.

O círculo é construído com poder pessoal o qual é sentido (e visualizado) saindo do corpo, através do punhal mágico (athame), e rumo ao ar. Quando completo, o círculo é uma esfera de energia que engloba toda a área de trabalho. A palavra círculo é equivocada: uma esfera de energia é o que realmente se cria. O círculo simplesmente assinala o anel onde a esfera toca a terra (ou o chão) e continua através dela para formar a outra metade.

Algum tipo de marcação é feito no solo para mostrar onde o círculo secciona a Terra. Pode ser um barbante que forme um círculo, um leve círculo riscado com giz, ou objetos depositados de modo a indicar seus limites. Estes podem ser flores (ideais para ritos de primavera e verão); ramos de pinho (festivais de inverno); pedras ou conchas; cristais de quartzo e até mesmo cartas de tarô. Use objetos que ativem sua imaginação e estejam em sintonia com o ritual. (Ver Capítulo 13. Planejamento de Rituais.)

O círculo tem normalmente nove pés de diâmetro, pois nove é o número da Deusa, se bem que qualquer medida confortável é aceita. Os pontos cardeais são em geral assinalados com velas ou com os instrumentos rituais a eles correspondentes..O pentagrama e um pote com sal ou terra podem ser colocados no Norte. Este é o domínio da terra, o elemento estabilizador, fértil e nutritivo que é a base dos outros três.
Deusa os Dois Deuses

Simbolização das áreas divinas de um altar

O incensário com incenso fumegante é atribuído ao Leste, lar do elemento intelectual, o Ar. Flores frescas ou incenso de varetas também podem ser usados. O Ar é o elemento da mente, da comunicação, do movimento, da adivinhação e da espiritualidade ascética.

Ao Sul, uma vela normalmente representa o Fogo, o elemento da transformação, da paixão e da mudança, do sucesso, da saúde e da força. Uma lâmpada a óleo ou um pedaço de lava vulcânica também pode ser utilizado.

Um cálice ou pote de água pode ser depositado no Oeste do círculo para representar a Água, o último dos quatro elementos. A Água é o domínio das emoções, da mente psíquica, do amor, da cura, da beleza e da espiritualidade emocional.

Alternativamente, esses quatro objetos podem ser depositados sobre o altar, em posições correspondentes às direções e aos seus atributos elementais.

Uma vez que o círculo esteja formado ao redor do espaço de trabalho, tem início o ritual. Durante os trabalhos de magia, o ar dentro do círculo pode ficar desconfortavelmente quente e fechado - o ar de fato fica diferente do mundo externo, carregado com a energia e vivo com o poder..O círculo é um produto da energia, uma construção palpável, a qual pode ser sentida e percebida com experiência. Não é meramente um anel de flores ou barbante, mas uma barreira sólida, viável. De acordo com a Wicca, o círculo representa a Deusa, os aspectos espirituais da natureza, fertilidade, infinidade, eternidade. Simboliza ainda a própria Terra.

O altar, com os instrumentos, fica no centro do círculo. Pode ser feito de qualquer material, apesar de a madeira ser melhor. Recomenda-se especialmente o carvalho, devido a seu poder e força, assim como o salgueiro, sagrado para a Deusa.

A Wicca não acredita que a Deusa e o Deus habitem o altar em si. É um local de poder e magia, mas não é sacrossanto. Apesar de o altar ser normalmente preparado e desmontado para cada ritual mágico, alguns Wiccanos também possuem altares permanentes. Seu altar pode tornar-se um desses.

O altar é por vezes redondo, para representar a Deusa e a espiritualidade, apesar de também poder ser quadrado, simbolizando os quatro elementos. Pode ser nada mais do que uma área no chão, uma caixa de papelão coberta com um pano, dois blocos com uma tábua sobre eles, uma mesa de café, um velho toco de uma ámore há muito cortada ou uma pedra grande e plana. Durante rituais a céu aberto, um fogo pode substituir o altar. Incenso em varetas pode ser utilizado para delinear o círculo. Os instrumentos usados são os poderes da mente.

Os instrumentos da Wicca são normalmente distribuídos sobre o altar num padrão agradável. Em geral, o altar é montado no centro do círculo, de frente para o Norte. O Norte é a direção do poder. É associado à Terra, e uma vez que esta é nossa morada podemo-nos sentir mais confortáveis com este alinhamento. Alguns Wiccanos.também montam seus altares voltados para o Leste, onde o Sol e a Lua surgem.

O lado esquerdo do altar é geralmente dedicado à Deusa. Seus instrumentos sagrados são ali depositados: o cálice, o pentagrama, o sino, os cristais e o caldeirão. Pode-se, ainda, colocar uma imagem da Deusa ali, e também apoiar uma vassoura no lado esquerdo do altar.

Se não conseguir encontrar uma imagem apropriada da Deusa (ou se simplesmente não o quiser), pode substituí-la por uma vela verde, prata ou branca. O caldeirão, por vezes, também é colocado no chão, ao lado do altar, se for grande demais para ficar em cima dele.

No lado direito, a ênfase é no Deus. Uma vela vermelha, amarela ou dourada, ou ainda uma figura apropriada é ali colocada, assim como o incensário, o bastão, o athame (punhal mágico) e o punhal de cabo branco.

Flores podem ser colocadas no meio, talvez num vaso ou num pequeno caldeirão. Outra possibilidade é colocar o incensário no centro, para que a fumaça seja oferecida tanto para a Deusa como para o Deus, e o pentagrama pode ser posicionado diante do incensário.

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Símbolo ou Vela da Deusa
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Os dois Símbolos ou vela do Deus
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Incensário
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Pote de Água Vela Vermelha Pote de Sal
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Taça Pentagrama Incenso
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Bastão Caldeirão ou material Punhal.para o encantamento (Athame)
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Sino Bolline

Disposição sugerida para o Altar

Alguns Wiccanos seguem um planejamento de altar mais primitivo, mais voltado para a natureza. Para representar a Deusa, uma pedra redonda (perfurada, se disponível), uma bonequinha de milho ou uma concha do mar funcionam a contento. Cones de pinho, pedras afiadas e bolotas de carvalho podem ser usados para representar o Deus. Use sua imaginação ao montar o altar.

Se estiver trabalhando magia dentro do círculo, leve todos os itens necessários para dentro dele antes de iniciar, no altar ou sob este. Nunca se esqueça de Ter fósforos à mão, bem como um pequeno recipiente no qual depositar os fósforos utilizados (não é adequado atirá-los no incensário ou no caldeirão).

Apesar de podermos colocar imagens da Deusa e do Deus, não somos idólatras. Não acreditamos que uma tal estátua ou pilha de pedras realmente seja a deidade representada. E, apesar de reverenciarmos a natureza, não cultuamos árvores ou pedras ou aves. Simplesmente nos deleitamos com as manifestações das forças criativas universais - a Deusa e o Deus.

O altar e o círculo mágico no qual ele fica é uma construção pessoal e deve ser de seu agrado. Meu primeiro mestre de Wicca preparava altares elaborados adequados à ocasião - se não pudéssemos praticar ao ar livre. Para um rito da Lua Cheia, ele cobriu o altar com cetim branco, colocou velas brancas em suportes de cristal, um cálice de prata, rosas brancas e folhagens brancas. Um incenso composto de rosas brancas, sândalo e gardênia flutuava pelo ar. O altar resplandecente inundava o ambiente com energias lunares.Nosso ritual aquela noite é algo a ser lembrado. Que assim seja o seu.
No passado, quando as pessoas viviam em conjunto com a natureza, o passar das estações e os ciclos lunares da lua tinham um profundo impacto em cerimônias religiosas. Por ser a Lua vista como um símbolo da Deusa, cerimônias de adoração e magia aconteciam sob sua luz. A chegada do inverno, as primeiras atividades da primavera, o quente verão e a entrada do outono também eram marcadas por rituais.

Os Wiccanos, herdeiros das religiões pré-cristãs da Europa, ainda celebram a Lua cheia e observam as mudanças das estações. 0 calendário religioso Wiccano possui treze celebrações de Lua Cheia (esbats) e oito Sabbats, ou dias de poder..Quatro desses dias (ou melhor, noites) são determinados pelos solstícios e equinócios, o início astronômico das estações. Traços deste antigo costume ainda são encontrados no Cristianismo. A Páscoa por exemplo é celebrada no Domingo que se segue à primeira lua cheia após o equinócio de primavera no hemisfério norte, uma maneira bem pagã de organizar ritos religiosos. Os outros quatro rituais baseiam-se em antigos festivais folclóricos (e, de certo modo, aqueles do Oriente Médio). Os rituais estruturam e ordenam o ano Wiccano, além de nos lembrar do infinito ciclo que perdurará muito depois que partirmos.

Quatro dos Sabbats - talvez os que há mais tempo são observados - eram provavelmente associados à agricultura e aos ciclos reprodutivos dos animais. São eles o Imbolc (2 de fevereiro), Beltane (30 de abril), Lughnasadh (1° de agosto) e Samhain (31 de outubro). Estes são nomes celtas, muito comuns entre os Wiccanos, apesar de existirem muitos outros. Essas datas referem-se ao hemisfério norte, no Hemisfério sul as datas são:

Lammas - 2 de fevereiro

Samahain - 30 de abril

Imbolc - 1 de agosto

Beltane - 31 de outubro

Quando a observação cuidadosa do céu levou a um conhecimento comum do ano astronômico, os solstícios e equinócios (por volta de 21 de março, 21 de junho, 21 de setembro e 21 de dezembro - as datas corretas variam de ano para ano) foram incorporados à estrutura religiosa.

Quem foram os primeiros a cultuar e gerar energia nesses períodos? Esta questão não pode ser respondida. Entretanto, esses dias e noites sagrados são a origem dos 21 rituais Wiccanos..Versões altamente cristianizadas dos Sabbats também foram preservadas pela igreja católica.

Os Sabbats são rituais solares, assinalando pontos no ciclo anual do Sol, e constituem apenas metade do ano ritual Wiccano. Os Esbats são as celebrações Wiccanas da Lua Cheia. Nesta data, nós nos reunimos para cultuar Aquela Que É. Não que os Wiccanos omitam o Deus nos Esbats - ambos são normalmente reverenciados em todas as ocasiões.

Anualmente, ocorrem 12 a 13 Luas cheias, ou uma a cada 28 1/4 dias. A Lua é um símbolo da Deusa, bem como uma fonte de energia. Assim, após os aspectos religiosos dos Esbats, os Wiccanos costumam praticar magia, desfrutando do maior poder energético que, crê-se, exista nesses períodos.

Alguns antigos festivais pagãos, desprovidos de suas qualidades sagradas pelo domínio do cristianismo, se degeneraram. O Samhain aparentemente pertence agora aos fabricantes de doces nos Estados Unidos, enquanto o Yule foi transformado de um dos sagrados dias pagãos num período de grosseiro comercial. Até mesmo os ecos do nascimento de um salvador cristão são co-audíveis diante do zumbido eletrônico das máquinas registradoras.

Mas a velha magia permanece nesses dias e noites, e os Wiccanos os celebram. Rituais variam enormemente, mas todos se relacionam à Deusa e ao Deus, e à nossa morada, a Terra. A maioria dos ritos acontecem à noite, por motivos práticos assim como para criar certo clima de mistério. Os Sabbats, sendo baseados no Sol, são mais normalmente celebrados ao meio-dia ou na aurora, mas hoje isto é raro.

Os Sabbats nos contam uma das estórias da Deusa e do Deus, de sua relação e de seus efeitos sobre a fertilidade da Terra. Muitas.são as variações destes mitos, mas eis aqui um relativamente comum, entrelaçado a descrições básicas dos Sabbats. As descrições dos Sabbats feitas a seguir, seguem o calendário do hemisfério norte, para nós que vivemos no hemisfério sul, as datas devem ser adaptadas ao ciclo da natureza no Sul.

A Deusa dá à luz um filho, o Deus, no Yule (por volta de 21 de dezembro). De modo algum isto é uma adaptação do cristianismo. O solstício de inverno é há muito visto como um período de nascimentos divinos. Diz-se que Mitras nasceu neste período. Os cristãos simplesmente o adotaram a seu uso em 273 E. C. (Era Comum).

O Yule é uma época de grande escuridão e este é o menor dia do ano. Povos antigos notaram tais fenômenos e suplicaram às forças da natureza que aumentassem os dias e diminuíssem as noites. Os Wiccanos ocasionalmente celebram o Yule pouco antes da aurora, e a seguir observam o nascer do sol como um final apropriado para seus esforços.

Uma vez que o Deus é também o Sol, isto assinala o ponto do ano no qual o Sol também renasce. Assim, os Wiccanos acendem fogueiras ou velas para saudar o retorno da luz do Sol. A Deusa, inativa durante o inverno de Sua gestação, repousa após o parto.

O Yule é remanescente de antigos rituais celebrados para acelerar o fim do inverno e a fartura da primavera, quando os alimentos voltavam a estar disponíveis. Para os Wiccanos contemporâneos, é um lembrete de que o produto final da morte é o renascimento, um pensamento reconfortante nestes dias de desassossego (ver Capítulo 9. A Espiral do Renascimento).

O Imbolc (2 de fevereiro) assinala a recuperação da Deusa após dar à luz o Deus. Os períodos mais longos de luz A despertam. O Deus é um jovem desejoso, mas Seu poder é mais sentido nos dias mais.longos. O calor fertiliza a terra (a Deusa), fazendo com que as sementes germinem e brotem. Assim ocorre o início da primavera. Este é um Sabbat de purificação pelas forças renovadoras do sol, após a vida reclusa do inverno. É também um festival de luz e fertilidade, antigamente marcado na Europa por grandes queimas, tochas e fogos de todas as formas. O fogo representa nossa própria iluminação e inspiração, assim como a luz e o calor. O Imbolc é também conhecido como festa das Tochas, Oimelc, Lupercalia, Festa de Pã, Festival do Floco de Neve, Festa da Luz Crescente, Dia de Brigit, e provavelmente muitos outros nomes.

Algumas Wiccanas seguem o antigo costume escandinavo de usar coroas com velas acesas, mas muitos outros usam velas em suas invocações.

Este é um dos períodos tradicionais para as iniciações em covens e rituais de autodedicação (como o descrito no Capítulo 12), que podem ser praticados ou renovados neste período.

Ostara (por volta de 21 de março), o Equinócio da Primavera, e também conhecido como Ritos da Primavera e Dia de Eostra, assinala o primeiro dia da real primavera. As energias da natureza mudam subitamente do repouso do inverno para a exuberante expansão da primavera. A Deusa cobre a terra com seu manto de fertilidade, despertada de Seu repouso, enquanto o Deus se desenvolve e amadurece. Ele caminha pelos campos a verdejar, e delicia-se com a abundância da natureza.

No Ostara, as horas do dia e da noite são as mesmas. A luz está ultrapassando a escuridão; a Deusa e o Deus impelem as criaturas selvagens da Terra a reproduzir-se.

Este é um período de iniciar, de agir, de plantar encantamentos para ganhos futuros, e de cuidar dos jardins rituais..O Beltane (30 de abril) marca a chegada da virilidade do jovem Deus. Agitado pelas energias em ação na natureza, Ele deseja a Deusa. Eles se apaixonam, deitam-se entre a relva e os botões de flores, e se unem. A Deusa fica grávida do Deus. Os Wiccanos celebram o símbolo da fertilidade da Deusa em ritual.

O Beltane é há muito , celebrado com rituais e festas. Os Maypoles (Mastros de Maio), ; símbolos fálicos supremos, eram o ponto central dos rituais das antigas vilas inglesas. Muitas pessoas acordavam na alvorada para colher flores e ramos verdes nos campos e jardins, usando-os para decorar os Maypoles, seus lares e a si mesmos.

As flores e folhas simbolizam a Deusa; o Maypole, o Deus. O Beltane marca o retorno da vitalidade, da paixão e da consumação das esperanças.

Os Maypoles são por vezes utilizados atualmente por Wiccanos durante rituais do Beltane, mas o caldeirão é um ponto central mais comum da cerimônia. Representa, obviamente, a Deusa - a essência da feminilidade, o objetivo de todo desejo, o igual mas oposto do Maypole, símbolo do Deus.

O Meio de Verão, o Solstício de Verão (por volta de 21 de junho), também conhecido como Litha, chega quando as forças da natureza alcançam seu ponto mais alto. A Terra está banhada pela fertilidade da Deusa e do Deus.

No passado, pulava-se sobre fogueiras para estimular a fertilidade, a purificação, a saúde e o amor. O fogo novamente representa o Sol, celebrado neste período de dias mais longos.

O Meio do Verão é uma época clássica para magia de todos os tipos. Lughnasadh (1° de agosto) é a época da primeira colheita, quando as plantas da primavera murcham e derrubam seus frutos ou sementes.para garantir nosso consumo e para assegurar futuras safras.

Misticamente, também o Deus perde Sua força enquanto 0 Sol nasce mais longe ao Sul a cada dia, e as noites tornam-se mais longas. A Deusa observa entre lamento e regozijo ao perceber que o Deus está morrendo, ao mesmo tempo que vive dentro d'Ela como Seu filho.

Lughnasadh, também conhecido como Véspera de Agosto, Festa do Pão, Lar da Colheita e Lammas, não é necessariamente observado neste dia. Originalmente, coincidia com a primeira ceifada. À medida que o verão passa, os Wiccanos recordam seu calor e fartura no alimento que comemos. Cada refeição é um ato de sintonia com a natureza, e somos lembrados de que nada no universo é constante.

O Mabon (por volta de 21 de setembro), o equinócio de outono, é a conclusão da colheita iniciada no Lughnasadh. Mais uma vez o dia e a noite têm a mesma duração, equilibrados enquanto 0 Deus se prepara para abandonar Seu corpo físico e iniciar a grande aventura rumo ao desconhecido, em direção à renovação e ao renascimento pela Deusa.

A natureza retrocede, recolhe sua fartura, preparando-se para o inverno e seu período de repouso. A Deusa curva-se diante do Sol que enfraquece, apesar do fogo que queima dentro de Seu útero. Ela sente a presença do Deus mesmo enquanto Ele enfraquece. No Samhain (31 de outubro), a Wicca se despede do Deus. É um adeus temporário. Ele não está envolto em trevas eternas, mas prepara-se para renascer pela Deusa no Yule.

Antigamente, o Samhain, também conhecido como Véspera de Novembro, Festa dos Mortos, Festa das Maçãs, e Todos os Santos, marcava um período de sacrifício. Em alguns lugares, esta era a época de sacrifícios animais para assegurar comida durante as.profundezas do inverno. O Deus - identificado com os animais - também tombava para garantir a continuidade de nossa existência. Os Wiccanos vegetarianos talvez não aprovem este aspecto do simbolismo do Samhain, mas é tradicional. Obviamente, não sacrificamos animais em rituais. É uma simbologia da morte do Deus.

O Samhain é um período de reflexão, de análise do ano que se finda, de ajustar contas com o fenômeno da vida sobre o qual não exercemos controle - a morte.

O wiccano sente que nesta noite a divisão entre as realidades físicas e espirituais é estreita. Eles recordam seus ancestrais e todos os que já se foram.

Após o Samhain, os Wiccanos celebram o Yule, completando assim o ciclo do ano.

Certamente, há muitos mistérios enterrados aqui. Por que é o Deus primeiro o filho e posteriormente o amante da Deusa? Isto não é incesto, mas simbolismo. Na estória da agricultura (um dentre muitos mitos Wiccanos), a constante alternância da fertilidade da Terra é representada pela Deusa e pelo Deus. Este mito fala dos mistérios do nascimento, da morte e do renascimento. Celebra os maravilhosos aspectos e belos efeitos do amor, e honra as mulheres que perpetuam nossa espécie. Também indica a grande dependência que os homens têm em relação à Terra, ao Sol e à Lua, e os efeitos das estações em nossa rotina.

Para povos agrícolas, o ponto principal deste ciclo mítico é a produção de alimentos por meio da união entre o Deus e a Deusa. 0 Alimento - sem o qual todos morreríamos - está intimamente ligado às deidades. Na verdade, os Wiccanos vêem a comida como mais uma manifestação da energia divina..Assim, ao observar os Sabbats, os Wiccanos sintonizam-se com a Terra e com as deidades. Eles reafirmam suas raízes na Terra. A prática de rituais nas noites de lua cheia também fortalece sua conexão com a Deusa em particular.

O Wiccano sábio celebra os Sabbats e os Esbats, por serem estes períodos de poder real e simbólico. Honrá-los de algum modo - talvez com ritos semelhantes aos sugeridos no Livro de Sombras das Pedras Erguidas - é parte integral da Wicca.


Aparentemente, a reencarnação é, na atualidade, um dos mais controversos tópicos da espiritualidade. Centenas de livros sobre o tema são publicados, como se o mundo ocidental tivesse apenas recentemente descoberto esta antiga doutrina. A reencarnação é uma das mais valiosas lições da Wicca. A ciência de que esta vida é apenas uma entre muitas, de que não deixamos.de existir quando o corpo físico morre, mas sim renascemos em outro corpo, responde a um grande número de perguntas, mas gera outras tantas.

Por quê? Por que reencarnamos? Assim como muitas outras religiões, a Wicca ensina que a reencarnação é o instrumento pelo qual nossas almas são aperfeiçoadas. Uma vida não basta para atingir tal objetivo; portanto, a consciência (alma) renasce inúmeras vezes, cada vida englobando um grupo diferente de lições, até que a perfeição seja atingida.

É impossível determinar quantas vidas são necessárias para tanto. Somos humanos e é fácil aderir a comportamentos não-evolucionários. A cobiça, a ira, os ciúmes, a obsessão e todas as nossas emoções negativas inibem nosso crescimento.

Na Wicca, buscamos fortalecer nossos corpos, mentes e almas. Certamente, vivemos vidas terrenas plenas e produtivas, mas tentamos fazê-lo sem prejudicar ninguém, numa antítese à competição, à intimidação e à busca pelo primeiro lugar.

A alma não tem idade, sexo ou físico, possuindo a centelha divina da Deusa e do Deus. Cada manifestação da alma (por exemplo, cada corpo que habita a Terra) é diferente. Não existem dois corpos ou vidas exatamente iguais. Não fosse assim, a alma estagnaria. Sexo, raça, local de nascimento, classe econômica e todas as outras individualidades da alma são determinadas por suas ações em vidas passadas e pelas lições necessárias à vida presente.

Isto é de suma importância para o pensamento Wiccano: nós decidimos o desenrolar de nossas vidas. Não há deus, maldição, força misteriosa ou destino sobre o qual possamos atirar a responsabilidade pelos fatos de nossas vidas. Nós decidimos o que precisamos aprender para evoluir e, então, espera-se, durante essa.reencarnação, trabalharmos em busca desse progresso. Caso contrário, regressamos às trevas.

Existe um fenômeno que atua como auxiliar no aprendizado das lições de cada existência, o qual é chamado de carma. O carma e geralmente mal-compreendido. Não é um sistema de recompensas e punições, mas sim um fenômeno que orienta a alma em direção a ações evolutivas. Destarte, se uma pessoa pratica ações negativas, receberá ações negativas em troca. O bem atrai o bem. Com isto em mente, sobram poucos motivos para praticar atos negativos.

Carma significa ação, e é desta forma que atua. Como uma ferramenta, não uma punição. Não há como "apagar" o carma, assim como nem todos os eventos aparentemente terríveis de nossas vidas são um subproduto do carma.

Só aprendemos com o carma quando temos ciência dele. Muitos buscam em suas vidas passadas a descoberta de seus erros, para solucionar os problemas que estão inibindo seu progresso nesta vida. Técnicas de transe e meditação podem ser úteis, mas o verdadeiro autoconhecimento é o melhor meio para atingir este fim.

A regressão a vidas passadas pode ser perigosa, pois envolve uma grande carga de autodesilusão. É impossível contabilizar quantas Cleópatras, Reis Artur, Merlins, Marias, Nefertitis e outras pessoas famosas do passado já encontrei por aí usando tênis e jeans. Nossas mentes conscientes, que buscam encarnações passadas, agarram-se facilmente a esses ideais românticos.

Se isto é um problema; se não deseja conhecer suas vidas passadas, ou não tem como fazê-lo, observe esta existência. Pode descobrir qualquer dado relevante sobre suas vidas passadas ao observar esta vida. Se solveu seus problemas em vidas passadas, estes não mais lhe dizem respeito. Caso contrário, os mesmos problemas ressurgirão; portanto, concentre-se nesta vida. À noite, analise seus atos do dia, atentando tanto para ações e pensamentos positivos, bem como para os negativos. Analise a seguir a semana que se passou, o ano, a década. Consulte agendas, diários ou antigas cartas em seu poder para refrescar sua memória. Você continuamente comete os mesmos erros? Em caso positivo, jure nunca mais repeti-los, num ritual concebido por você mesmo.

Em seu altar, você pode escrever tais erros num pedaço de papel.

Podem ser inclusas emoções negativas, medos, prazeres desmedidos, permissão que outros controlem sua vida, intermináveis obsessões amorosas para com homens/mulheres indiferentes a seus sentimentos. Enquanto escreve, visualize-se agindo dessa forma no passado, não no presente.

A seguir, acenda uma vela vermelha. Segure o papel sobre a chama e atire-o num caldeirão ou em outro recipiente a prova de fogo. Grite - ou simplesmente afirme para si mesmo - que tais ações do passado não fazem mais parte de você. Visualize sua vida futura livre de tais comportamentos nocivos, limitadores, inibidores. Repita o ritual enquanto for necessário, talvez em noites de lua minguante, para levar a cabo a destruição desses aspectos de sua vida.

Se ritualizar sua determinação em progredir nesta vida, seu juramento liberará sua força. Quando sentir-se tentado a reincidir em seus velhos modos de agir ou pensar, lembre-se do ritual e sobreponha essa necessidade com seu poder.

O que acontece após a morte? Apenas o corpo fenece. A alma sobrevive. Alguns Wiccanos dizem que ela viaja para um reino conhecido como Terra das Fadas, Terra Brilhante e Terra dos Jovens. Este reino não é nem o paraíso nem o Submundo.

Simplesmente, é - uma realidade não-física, muito menos densa que a nossa. Algumas tradições da Wicca o descrevem como a terra de verão eterno, com campos gramados e doces rios, talvez como a.terra antes do advento da raça humana. Outros o vem vagamente como um local sem formas, onde fluxos de energia coexistem com as energias maiores - a Deusa e o Deus em suas identidades celestiais.

Diz-se que a alma revê a última vida, talvez de um modo misterioso, com as deidades. Isto não é um julgamento, uma pesagem da alma de um dada pessoa, mas sim uma revisão encarnatória. Lança-se luz sobre as lições aprendidas ou ignoradas.

Após um período apropriado, quando as condições da Terra estiverem favoráveis, a alma reencarna e reinicia-se a vida.

A pergunta final: o que ocorre após a última encarnação? Os ensinamentos da Wicca foram sempre vagos quanto a isso.

Basicamente, os Wiccanos dizem que após subir a espiral da vida, morte e renascimento, as almas que atingiram a perfeição liberam-se para sempre desse ciclo e coabitam com a Deusa e com o Deus.

Nada é desperdiçado. A energia residente em nossas almas retorna à fonte divina da qual se originou.

Por aceitar a reencarnação, os Wiccanos não temem a morte como um mergulho no esquecimento, com seus dias de vida terrena para sempre perdidos no passado. A morte é vista como a porta para o nascimento. Portanto, nossas próprias vidas estão simbolicamente ligadas aos infindáveis ciclos das estações que moldam nosso planeta.

Não tente forçar-se a acreditar na reencarnação. Conhecer é muito superior a acreditar, pois o acreditar é próprio dos mal-informados.

Não é muito sábio aceitar uma doutrina importante como a reencarnação sem estudá-la para saber se ela realmente lhe atrai.

Além disso, apesar de poderem existir fortes conexões com os que amamos, acautele-se quanto à noção de almas companheiras, como, por exemplo, pessoas que tenha amado em outras vidas e que você.esteja destinado a amar novamente. Por mais sinceros que seus sentimentos e crenças possam ser, eles nem sempre se baseiam em fatos. Durante o desenrolar de sua vida você pode encontrar cinco ou seis pessoas com as quais sinta a mesma ligação, apesar de seu envolvimento atual. Será que todas são almas gêmeas? Uma das dificuldades deste conceito é a de que, se estamos todos intrinsecamente ligados às almas de outras pessoas, ao continuarmos a encarnar com elas não estaremos aprendendo absolutamente nada. Assim, anunciar que encontrou sua alma companheira tem o mesmo efeito de dizer que você não está progredindo na espiral encarnacional.

Um dia você saberá, e não só acreditará, que a reencarnação é tão real quanto uma planta que dá botões, floresce, espalha sua semente, seca e gera outra planta à sua imagem. A reencarnação foi provavelmente intuída pelos povos antigos quando estes observavam a natureza.

Até que tenha chegado a uma conclusão própria, você pode desejar refletir sobre e considerar a doutrina da reencarnação.



A maioria das religiões xamânicas e de magia utilizam algum tipo de cerimônia de iniciação pela qual uma pessoa se torna um membro reconhecido daquela religião, sociedade, grupo ou coven. Tais ritos indicam também a nova direção que a vida do iniciado está tomando. Muito tem sido feito, em público ou privativamente, sobre as iniciações Wiccanas. Cada tradição da Wicca utiliza suas próprias cerimônias de iniciação, as quais podem ou não ser reconhecidas por outros Wiccanos. Num ponto, contudo, a maioria dos iniciados concorda: uma pessoa só pode tornar-se um Wiccano se receber tal iniciação.

Isto gera uma interessante pergunta: Quem iniciou o primeiro Wiccano?

A maior parte das cerimônias de iniciação não passam de ritos que marcam a aceitação da pessoa por um coven, e sua dedicação à Deusa e ao Deus. Por vezes, o "poder é passado" do iniciador ao noviço.

Para um não-Wiccano, a iniciação pode parecer um ritual de conversão. Não é o caso. A Wicca não precisa de tais ritos. Não condenamos as deidades com as quais nos sintonizávamos antes de praticar a Wicca, nem precisamos voltar-lhes nossas costas. A cerimônia (ou cerimônias, pois muitos grupos praticam três ritos sucessivos) de iniciação são consideradas da mais alta importância pelos grupos que ainda praticam rituais secretos. Certamente, qualquer pessoa que deseje ingressar em um grupo do gênero deve passar por uma iniciação, parte da qual consiste em jurar jamais.revelar seus segredos. Faz sentido, e é parte da iniciação de muitos covens. Mas não é a essência da iniciação.

Muitas pessoas me disseram precisar urgentemente de iniciações em Wicca. Parecem crer que não se pode praticar a Wicca sem este selo de aprovação. Se você leu este livro até este ponto, já sabe que isso não é verdade.

A Wicca foi, até por volta da década passada, uma religião fechada, mas não o é mais. Os componentes internos da Wicca estão disponíveis a quem quiser ler e tiver o discernimento necessário para compreender o material. Os únicos segredos da Wicca são suas formas individuais de ritos, encantamentos, nomes das deidades e assim por diante.

Isto não lhe deve incomodar. Para cada ritual ou nome da Deusa secreto na Wicca, existem dezenas (se não centenas) de outros publicados e prontamente disponíveis. Atualmente, mais informações sobre Wicca vêm sendo publicadas do que em qualquer período anterior. Se a Wicca já foi uma religião secreta, atualmente é uma religião de poucos segredos.

Mesmo assim, muitos ainda se prendem à noção de que a iniciação é necessária, provavelmente acreditando que por esse ato mágico eles receberão os segredos do universo e os poderes secretos. Para piorar, alguns Wiccanos bitolados dizem que a Deusa e o Deus não darão ouvidos a alguém que não seja membro de um coven portando seu athame. Muitos pretensos Wiccanos pensam assim. Mas não é assim que funciona.

A iniciação real não é um ritual praticado por um ser humano sobre outro. Mesmo que aceite o conceito de que o iniciador esteja imbuído em divindade durante a iniciação, ainda assim é apenas um ritual..Alguns grupos simplesmente escrevem seus Livros das Sombras "secretos" e restringem o acesso a eles. Isto assegura, sem dúvida, que sejam secretos, mas não mais antigos ou melhores que quaisquer outros.

A iniciação é um processo, gradual ou instantâneo, de sintonia entre o indivíduo e a Deusa e o Deus. Muitos Wiccanos admitem prontamente que a iniciação ritual é apenas externa. A verdadeira iniciação ocorre, geralmente, semanas ou meses depois ou antes do ritual físico.

Sendo assim, a "verdadeira" iniciação Wiccana pode acontecer anos antes de o estudante contatar um mestre ou coven de wicca. Seria essa iniciação menos eficaz ou menos genuína porque tal pessoa não passou por um ritual formal controlado por outro ser humano?

Obviamente que não.

Tenha certeza de que é bem possível experimentar uma verdadeira iniciação Wiccana sem jamais Ter encontrado outra alma envolvida com a religião. Você pode até não Ter ciência disso. Sua vida pode mudar gradualmente de foco até que perceba estar notando as aves e as nuvens. Você pode contemplar a lua em noites solitárias e falar com plantas e animais. O pôr-do-sol pode gerar um período de silenciosa contemplação.

Ou você pode mudar conforme as estações, adaptando a energia de seu corpo à energia do mundo natural a seu redor. A deusa e o Deus podem cantar em sua mente, e você pode praticar rituais antes mesmo de se dar conta de que o está fazendo.

Quando os Modos Antigos tornarem-se parte de sua vida e sua relação com a Deusa e com o Deus estiverem fortes, quando estiver reunido seus instrumentos e praticado rituais e magia com prazer, você estará realmente no espírito e terá direito de chamar a si mesmo de "Wiccano"..Este pode ser seu objetivo, ou talvez deseje progredir mais, talvez prosseguindo em sua busca por um instrutor. Tudo bem. Mas, se nunca encontrar um, você terá a satisfação de saber que não ficou sentado esperando que os mistérios caíssem em seu colo. Terá sim desenvolvido as antigas magias e falado com a Deusa e com o Deus, reafirmando seu compromisso com a Terra em busca desenvolvimento espiritual, e transformado a falta de iniciação num estímulo positivo para mudar sua vida e seus conceitos. Se contatar um mestre ou coven, eles provavelmente o julgarão um estudante digno de aceitação. Mas se descobrir que não se adapta ao estilo de Wicca deles, ou se houver um confronto de personalidades, não desanime. Você ainda possui a sua própria Wicca para retornar e prosseguir em sua busca.

Este pode ser um caminho solitário, pois poucos de nós seguem os Modos Antigos. É desanimador passar seu tempo reverenciando a natureza e observar a Terra sendo sufocada por toneladas de concreto enquanto os outros parecem não se importar.

Para contatar outros de mentalidade semelhante, você pode assinar publicações Wiccanas e começar a se corresponder com outros Wiccanos. Prossiga lendo novos livros sobre Wicca e sobre a Deusa à medida que são publicados. Mantenha-se informado sobre o que ocorre no mundo da Wicca. Registre e escreva novos rituais e encantamentos. A Wicca não deve estagnar-se jamais.

Muitos desejam formalizar sua vida dentro da Wicca com uma cerimônia de auto-iniciação. Incluí uma na Seção II para os que sentem essa necessidade. Novamente, é apenas um dos modos de fazer isso. Improvise se desejar.

Se decidir convidar amigos e pessoas interessadas em unir-se em seus ritos, não permita que fiquem afastados e assistam enquanto você brinca de "sacerdotisa" ou "bruxa". Envolva-os. Torne-os parte.dos ritos e da magia. Use sua imaginação e sua experiência prática para integrá-los a seus rituais.

Quando sentir um incomensurável prazer ao observar o pôr-do-sol ou o surgir da lua, quando vir a Deusa e o Deus em árvores ao longo de montanhas ou em regatos correndo entre campos, quando sentir o pulsar das energias da Terra em meio a uma cidade barulhenta, você terá recebido a verdadeira iniciação e estará conectado aos antigos poderes e modos das deidades.

Alguns dizem: "Apenas um Wiccano pode criar um Wiccano." Eu digo que apenas a Deusa e o Deus podem criar um Wiccano. Quem está mais bem qualificado para tal?



Incluí este glossário para criar acesso fácil a definições de alguns dos termos mais obscuros utilizados neste livro..São, obviamente, definições pessoais, uma reflexão de meu envolvimento com a Wicca, e Wiccanos podem discordar em alguns pontos menores. Isto é esperado, devido à estrutura individualista de nossa religião. Entretanto, tentei fazer dele algo o mais universal e imparcial possível.

Termos em itálicos no corpo de cada explicação referem-se a outros verbetes relacionados neste glossário.

Adivinhação: a arte mágica de revelar o desconhecido por meio da interpretação de padrões ou símbolos aleatórios em instrumentos como nuvens, cartas de tarô, chamas, fumaça. A Adivinhação contata a Mente Psíquica ao enganar ou iludir a Mente Consciente mediante Rituais e a observação ou manipulação de instrumentos. A Adivinhação não é necessária aos que atingem facilmente comunicação com a mente psíquica, apesar de estes poderem praticá-la.

Akasha: o quinto elemento, o poder espiritual onipresente que permeia o universo. A energia que forma os elementos.

Amuleto: um objeto carregado magicamente que afasta energias específicas, normalmente negativas. Em geral, um objeto de proteção. (Compare a talismã.)

Antigos, Os: termo wiccano geralmente usado para englobar todos os aspectos da Deusa e do Deus. Usei-o neste contexto no Livro de Sombras das Pedras Erguidas. Alguns Wiccanos o vêem como uma alternativa para Os Poderosos.

Arte A: Wicca. Bruxaria. Magia Popular.

Athame: uma faca ritual Wiccana. Normalmente possui uma lâmina de dois fios e um cabo preto. O athame é utilizado para direcionar Poder Pessoal durante Rituais. É raramente (quando o é) usado para cortes reais, físicos. O termo é de origem obscura, possui muitas.variantes de grafia entre os Wiccanos e uma variedade ainda maior de pronúncias. Wiccanos da costa leste americana podem pronunciá-lo como "atâmi"; ouvi pela primeira vez como "átame" e depois "atáme". Por diversos motivos, hoje por mim desconhecidos, decidi substituir o termo "faca mágica" por athame no Livro de Sombras das Pedras Erguidas. Qualquer termo, ou apenas "faca" serve.

Banquete Simples, O: uma refeição Ritual compartilhada com a Deusa e com o Deus.

Beltane: festival Wiccano celebrado em 30 de abril ou 1° de maio no hemisfério norte e entre 29 de outubro e 1 de novembro no hemisfério sul (as tradições variam). É também conhecido como Maio, Roodmas, Noite de Valpíirgis, Cethsamhain. O Beltane celebra a união, o acasalamento ou o casamento simbólico da Deusa e do Deus, e é associado aos meses vindouros do verão.

Besom: vassoura.

Bolline: o punhal de cabo branco, usado em rituais Wiccanos e de magia com finalidade prática, como cortar ervas ou perfurar uma romã. Comparar com athame.

Bonequinha de Milho: uma figura, normalmente com formato humano, criada ao entrelaçar trigo ou outros grãos secos. Representa a fertilidade da Terra e a Deusa em antigos rituais agrícolas europeus e ainda é usada na Wicca. Bonequinhas de milho não são feitas de sabugos ou palha de milho. A palavra milho ("corn") originalmente referia-se a qualquer grão, e ainda o é, em muitos países de língua inglesa, com exceção dos Estados Unidos.

Bruxa: antigamente, um praticante europeu dos remanescentes da magia popular pré-cristã, especialmente a associada a ervas, cura, fontes, rios e pedras. Um praticante de Bruxaria. Depois, o significado deste termo foi deliberadamente alterado para designar seres dementes, perigosos, sobrenaturais que praticavam.magia destrutiva e ameaçavam o cristianismo. Esta foi uma mudança política, monetária e sexista por parte da religião organizada, e não uma alteração na prática das bruxas. Este equivocado significado posterior ainda é aceito por muitos não-bruxos. Além disso, é, surpreendentemente, usado por alguns membros da Wicca para designarem-se a si mesmos.

Bruxaria: a arte da Bruxa (Witchcraft = witch, "bruxa" + craft, "arte"). Magia, especialmente a que se utiliza do Poder Pessoal aliado às energias contidas em pedras, emas, cores e outros objetos naturais. Enquanto esta pode Ter nuances espirituais, a Bruxaria, por esta definição, não é uma religião. Contudo, alguns seguidores da Wicca usam este termo para designar sua religião.

Carregar: imbuir um objeto de Poder Pessoal. "Carregar é um ato de magia".

Círculo de Pedras: ver Círculo Mágico.

Círculo Mágico: uma esfera criada com Poder Pessoal, na qual são praticados rituais Wiccanos. O termo refere-se ao círculo que demarca a penetração da esfera no solo, pois esta se estende tanto acima como abaixo dele. Criado por meio da Visualização e da Magia.

Consciência Ritual: estado alterado de consciência específico, necessário para a prática bem-sucedida de magia. O mago o atinge por meio da visualização e do Ritual. Denota um estado no qual as mentes Consciente e Psíquica estão harmonizadas, o mago sente as energias, dá a elas propósito e as libera em direção ao objetivo mágico. É uma elevação dos sentidos, uma expansão da consciência para o mundo aparentemente não-físico, um elo com a natureza e com as forças por trás dos conceitos de Deidade.

Coven: grupo de Wiccanos, geralmente iniciático e dirigido por um ou dois líderes..Dias de Poder: Ver Sabhat.

Elementos, Os: Terra, Ar, Fogo, Água. Essas quatro essências são os alicerces do universo. Tudo que existe (ou que tem potencial para existir) contém uma ou mais dessas energias. Os elementos vibram em nosso interior e estão também "espalhados" pelo mundo. Podem ser utilizados para gerar mudanças por meio da Magia. Os quatro elementos foram formados a partir da essência ou poder fundamental - Alhasha.

Encantamento: Ritual mágico, normalmente de natureza não-religiosa e acompanhado de palavras vocalizadas.

Esbat: ritual wiccano, geralmente ocorrido na Lua Cheia.

Espíritos das Pedras, Os: energias elementais naturalmente inerentes às quatro direções do Círculo Mágico, personificadas na tradição das Pedras Erguidas como os "Espíritos das Pedras". Associados aos Elementos.

Evocação: chamar espíritos ou outras entidades não-físicas, seja para aparições visíveis ou invisíveis. Comparar com Invocação.

Fogueira: um fogo aceso com propósitos rituais, geralmente fora de casa. Fogueiras são comuns durante o Yule, o Beltane e o Meio de Verão.

Incensário: um recipiente à prova de fogo, no qual o incenso é queimado. Simboliza o Elemento do Ar.

Iniciação: processo pelo qual um indivíduo é apresentado ou admitido em um grupo, interesse, habilidade ou religião. Iniciações podem constituir ocasiões rituais mas também podem ocorrer espontaneamente.

Invocação: apelo ou pedido a uma força (ou forças) superior(es), como a Deusa e o Deus. Uma oração. A invocação é na verdade um.método para estabelecer elos conscientes com os aspectos da Deusa e do Deus existentes em nosso interior. Essencialmente, portanto, podemos fazer com que apareçam ou se façam notar por meio da tomada de consciência deles.

Imbolc: festival Wiccano celebrado em 2 de fevereiro no hemisfério norte e em 01 de agosto no hemisfério sul, também conhecido como Candelária, Lupercália, Festa de Pã, Festa das Tochas, Festa da Luz Crescente, Oimelc, Dia de Brigit e muitos outros nomes. O Imbolc celebra os primeiros sinais da primavera e a recuperação da Deusa após dar à luz o sol (o Deus) no Yule.

Kahuma: praticante do antigo sistema filosófico, científico e mágico do Havaí.

Livro de Sombras: um livro Wiccano de rituais, encantamentos e magia. Antes copiado à mão na iniciação, é atualmente fotocopiado ou datilografado em alguns covens. Não existe um Livro de Sombras "verdadeiro"; todos são relevantes para seus respectivos usuários.

Litha: o solstício de verão, geralmente em ou por volta de 21 de junho no hemisfério norte e 21 de dezembro no hemisfério sul. Um dos festivais Wiccanos e uma excelente noite para a prática de Magia. Assinala o ponto do ano no qual o sol está simbolicamente no ápice de seu poder, assim como o Deus. O dia mais longo do ano.

Lughnasadh: festival Wiccano celebrado em 1° de agosto, no hemisfério norte e em 02 de fevereiro no hemisfério sul, também conhecido como Véspera de Agosto, Lammas, Festa do Pão. Marca a primeira colheita, quando os frutos da terra são colhidos e armazenados para os meses escuros do inverno, e quando o Deus também misteriosamente enfraquece à medida que os dias encurtam.

Mabon: em ou por volta de 21 de setembro, no hemisfério norte e 21 de março no hemisfério sul no equinócio de outono, os Wiccanos.celebram a Segunda colheita. A natureza está se preparando para o inverno. Mabon é um vestígio de antigos festivais de colheita, os quais, de um modo ou outro, eram a um tempo praticamente universais entre os povos da Terra.

Magia: o movimento das energias naturais (como o poder pessoal para gerar as mudanças necessárias. A energia existe em todas as coisas - nós, plantas, pedras, cores, sons, movimentos. A magia é o processo de gerar ou aumentar essas energias, dando-lhes propósito e liberando-as. A magia é uma prática natural, e não sobrenatural, apesar de pouco compreendida.

Mal: aquilo que destrói a vida, é venenoso, destrutivo, ruim, perigoso.

Mão Projetiva, A: a mão geralmente usada em atividades manuais como escrever, descascar maçãs e discar telefones é simbolicamente considerada o ponto pelo qual o Poder Pessoal é enviado para fora do corpo. Em rituais, o poder pessoal é visualizado como jorrando da palma ou dos dedos da mão com diversos objetivos mágicos. É também a mão com a qual manuseamos instrumentos como o Athame. Pessoas ambidestras simplesmente escolhem que mão utilizar com este fim. Comparar com Mão Receptiva.

Mão Receptiva: a mão esquerda em pessoas destras, o inverso para canhotos. É a mão pela qual recebemos energia para nossos corpos. Comparar com Mão Projetiva.

Meditação: reflexão, contemplação, voltar-se para dentro de si ou na direção da Deidade ou da natureza. Período de quietude no qual o praticante pode fixar-se em símbolos e pensamentos em particular ou ainda permitir que estes surjam livremente.

Megalito: um enorme monumento ou estrutura de pedra. Stonehenge talvez seja o mais conhecido exemplo de construções megalíticas.

Menir: uma pedra erguida provavelmente por povos antigos com fins religiosos, espirituais ou mágicos.

Mente Consciente: a metade analítica, material e racional de nossa consciência. A mente que trabalha durante cálculos, enquanto teorizamos ou lutamos com as idéias. Comparar a Mente Psíquica.

Mente Psíquica: o subconsciente ou inconsciente, pelo qual recebemos impulsos psíquicos. A mente psíquica atua quando dormimos, sonhamos e meditamos. É nosso contato direto com a Deusa e com o Deus e o vasto mundo não-físico a nosso redor.

Outros termos correlatos: adivinhação é um processo ritual que se utiliza da Mente Consciente para contatar a mente psíquica. Intuição é um termo usado para descrever informações psíquicas que atingem inesperadamente a mente consciente.

Neo-Pagão: literalmente, novo pagão. Membro, seguidor ou simpatizante de uma das recentemente formadas religiões pagãs que se espalham ao redor do mundo. Todos os Wiccanos são Pagãos, mas nem todos os pagãos são Wiccanos.

Ostara: Ocorrendo no equinócio de primavera, por volta de 21 de março, no hemisfério norte e 21 de setembro no hemisfério sul Ostara assinala o início da verdadeira primavera, astronômica, quando o gelo e a neve abrem caminho ao verde. Assim, é um festival de fogo e fertilidade, celebrando o retorno do sol, do Deus e da fertilidade da Terra (a Deusa).

Pagão: do latim paganus, morador do campo. Usado nos dias atuais como termo genérico para os seguidores da Wicca e de outras religiões mágicas, xamanísticas e politeístas. Naturalmente, os cristãos têm sua própria definição para esta palavra. Pode ser substituída por neo pagão.

Pêndulo: aparelho divinatório que consiste em um cordão preso a um objeto pesado, como um cristal, uma raiz ou um anel. A ponta solta do cordão é segura com a mão, com o cotovelo apoiado em uma superfície plana e uma pergunta é lançada. O movimento do objeto pesado determina a resposta. Uma rotação indica sim, ou energia positiva. Um balançar de um lado a outro indica o oposto. (Há muitos métodos para decifrar os movimentos de um pêndulo; utilize os que se adequarem melhor.) É um instrumento que acessa a MentePsíquica.

Pentagrama: objeto ritual (geralmente uma peça redonda de madeira, metal, cerâmica etc.) com inscrição, pintura ou entalhe de uma estrela de cinco pontas (pentagrama). Representa o Elemento da Terra.

Poder da Terra: energia existente em pedras, ervas, chamas, vento e outras coisas naturais. É o Poder Divino manifesto e pode ser utilizado durante a Magia para originar as mudanças necessárias. Compare com Poder Pessoal.

Poder Divino: a energia pura, não-manifesta, existente na Deusa e no Deus. A força vital, a fonte primordial de todas as coisas. Comparar com Poder da Terra e Poder Pessoal.

Poderosos, Os: seres, deidades ou presenças comumente invocadas durante cerimônias Wiccanas para assistir ou proteger os rituais. Os Poderosos são considerados seres espiritualmente evoluídos, que já foram humanos, ou entidades espirituais criadas ou carregadas pela Deusa e pelo Deus para proteger a Terra e cuidar das quatro direções. Por vezes associados aos Elementos.

Poder Pessoal: energia que sustenta nossos corpos. Basicamente originada da Deusa e do Deus (ou melhor, do Poder por trás destes)..Primeiro a absorvemos por meio de nossas mães biológicas dentro do útero para, depois, obtemo-la a partir dos alimentos, da água, da lua e do sol e de outros objetos naturais. Liberamos poder pessoal durante o stress, exercícios, sexo, gravidez e parto. A magia é geralmente um movimento de poder pessoal para um Fim específico.

Polaridade: o conceito de energias iguais, opostas. O yin/yang oriental é um exemplo perfeito. Yin é frio, yang é quente. Outros exemplos de polaridades: Deusa/Deus, noite/dia, lua/sol, nascimento/morte, luz/trevas, Mente Psíquica/Mente Consciente. Equilíbrio universal.

Psiquismo: o ato de estar conscientemente psíquico, no qual a Mente Psíquica e o Consciente estão ligados e trabalhando em harmonia. A Consciência Ritual é uma forma de psiquismo.

Punhal de Cabo Branco: faca de corte normal, com lâmina afiada e cabo branco. Usada na Wicca para cortar ervas e frutas, fatiar pão no Banquete Simples e para outras funções - mas jamais para sacrifícios. Por vezes chamada de Bolline. Compare com Athame.

Punhal Mágico: ver Athame.

Ritual: cerimônia. Forma específica de movimentos, manipulação de objetos ou processos internos criados para produzir efeitos desejados. Na religião, rituais são praticados visando à união com o divino. Na Magia eles produzem um estado específico de consciência que permite ao mago mover energia em direção a objetivos necessários. Um Encantamento é um ritual de magia.

Runas: figuras em varetas, algumas das quais são remanescentes dos antigos alfabetos teutônicos. Outras são criptográficas. Esses símbolos estão outra vez sendo amplamente utilizados em Magia e Adivinhação.

Sabbat: um festival Wiccano. Ver Beltane, Imbolc, Lughnasadh, Mabon, Lith, Ostara, Samhain e Yule para descrições específicas.

Samhain: festival Wiccano celebrado em 31 de outubro, no hemisfério norte e fins de abril no hemisfério sul também conhecido como Véspera de Novembro, Halloween, Festa das Almas, Festa dos Mortos, Festa das Maçãs. O Samhain marca a morte simbólica do Deus Sol e Sua passagem para a "Terra dos Jovens", onde aguardará pelo renascimento da Deusa Mãe no Yule. Esta palavra celta é pronunciada pelos Wiccanos como "Sôuen" "Sú-uen"; "Sâm-háin"; "Sâmain", "Sávin" e outros modos (a pronúncia desta e de outras palavras tenta obedecer às regras de pronúncia da língua portuguesa, adaptadas aproximadamente pelo Tradutor). A primeira parece ser a preferida pela maioria dos Wiccanos.

Talismã: objeto, como uma ametista ou um cristal, ritualmente carregado com poder para atrair uma força ou uma energia específica a seu portador. Compare com Amuleto.

Tradição Wiccana: subgrupo específico da Wicca, organizado e estruturado, geralmente iniciático, com práticas rituais únicas. Muitas tradições possuem seus próprios Livros de Sombras e muitas podem não reconhecer membros de outras tradições como Wiccanos. A maioria das tradições é composta por um número de covens assim como por praticantes solitários.

Trilito: arco de pedra formado por duas pedras verticais com uma terceira apoiada sobre estas. Trilitos são encontrados em Stonehenge assim como na visualização do círculo no Livro de Sombras das Pedras Erguidas.

Visualização: processo de formação de imagens mentais. Visualização mágica consiste em formar imagens de objetivos desejados durante Rituais. A visualização também é utilizada para direcionar o Poder Pessoal e a energia natural durante a Magia com.várias finalidades, incluindo a carga e a formação do Círculo Mágico. É função da Mente Consciente.

Wicca: religião pagã contemporânea, com raízes espirituais no xamanismo e nas mais antigas expressões de reverência à natureza. Entre seus principais motivos temos: reverência à Deusa e ao Deus; reencarnação; magia; observação de rituais na Lua cheia, em fenômenos astronômicos e agrícolas; templos esferóides, criados com Poder Pessoal, em que ocorrem os rituais.

Xamã: homem ou mulher que obteve conhecimento das dimensões mais sutis da Terra, normalmente mediante períodos de estados alterados de consciência. Vários tipos de Rituais permitem ao xamã romper o véu que separa o mundo físico do espiritual e assim vivenciar o mundo das energias. Este conhecimento concede ao xamã o poder de alterar seu mundo por meio da Magia.

Xamanismo: a prática dos xamãs, normalmente de natureza ritualística ou mágica, por vezes religiosa.

Yule: um festival Wiccano celebrado em ou por volta de 21 de dezembro, no hemisfério norte e 21 de junho no hemisfério sul assinalando o renascimento do Deus Sol a partir da Deusa Terra. Período de alegria e celebração durante a privação do inverno. O Yule ocorre no solstício de inverno. No hemisfério norte ocorre perto do Natal cristão, que incorporou seus símbolos.

Scott Cunningham

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Wicca, A Bruxaria saindo das Sombras
Prefácio
A Bruxaria e a Wicca são uma realidade nos dias de hoje no Brasil e no mundo.
Cada vez mais, pessoas têm interesses em conhecê-las e saber seus mistérios.
A Wicca tem uma proposta relevante para a atualidade, pois a um só tempo
regata o papel da mulher e da natureza. Em sua maioria, as grandes religiões que
relegam à mulher um papel secundário, um anacronismo, se pensarmos que as mulheres
competem em pé de igualdade em todos os campos e, muitas vezes, são as verdadeiras
chefes de família. A natureza é algo a ser espoliado e usufruído; não somos mais uma
forma de vida, e sim, senhores, esta é uma visão muito destrutiva abalizadas por
religiões que vêem a matéria/natureza como fonte do “pecado”.
Outro lado da religião Wicca é seu caráter descentralizador, em que há varias
tradições e que qualquer pessoa dedicada pode vir a se tornar um sacerdote. * Isso faz a
religião mais acessível e humana. Este fato demonstra claramente que a distância entre
os praticantes e as divindades é menor. Os deuses participam do dia-a-dia das pessoas.
Tudo é sagrado! Sendo este outro diferencial das religiões de massa, em que a divindade
condena o mundo material, que é intrinsecamente mau, e os fiéis têm um intermediário
– padre, pastor, etc.
Wicca – A Bruxaria saindo das Sombras é um livro importante, que vem somar
e corroborar o crescimento da Wicca no Brasil, o qual, já por sua natureza, é um país
sincrético; nossa cultura popular é riquíssima e variada, o que a torna um solo fértil ao
desenvolvimento de religiões de enfoque natural.
MillenniuM, com sua grande experiência no campo da Bruxaria, conduzira o
leitor leigo ao entendimento dessa arte e o praticante a aprofundar os seus
conhecimentos, demonstrando, dessa forma, a força que a Bruxaria tem em terra
brasilis.
Creio que o leitor tem em suas mãos uma agradável e proveitosa leitura.
Sinceramente,
Marcos Torrigo
_______________________
* Uso essa nomenclatura no sentido de chefe religioso.
7
Introdução
Mais de 17 anos depois de minha primeira iniciação, muito estudo direcionado,
o solitário, acompanhado, e também como centenas de rituais e o estudo de mais de uma
centena de livros sérios sobre Wicca, celtismo, magia, e manifestações pagãs, ainda hoje
me pergunto o motivo para tanta especulação sobre o desenvolvimento de Gerald
Brosseau Gardner, a Bruxaria Moderna.
A Wicca é uma religião filosófica (com certeza), mas com fundamentos e bases
inegáveis e que, por desconhecimento de uma maioria (mesmo dos que professam a
religião), ainda não teve uma obra nacional que instrua de forma clara e prática essas
bases e fundamentos.
Esta obra e o seu ator não tem o intuito de professar verdades absolutas, mesmo
porque essas verdades são incoerentes com a filosofia, uma das características dessa
religião. Mas, sem dúvida alguma, o leitor terminará a obra com o conhecimento
necessário para buscar suas próprias verdades, com embasamento e conhecimento
fundamental sobre a beleza da religião Wicca.
Escrevi e reescrevi este livro por uma dezenas de vezes. Não acreditava que
fosse possível colocar em palavras parte dos meus pensamentos, minha visão particular
e tradicionalista de Gardner. Continuo achando que muito se tem a dizer sobre Wicca e
bruxaria. Estamos engatinhando mundialmente no mundo do “neopaganismo” e suas
doutrinas. Para nós, que não convivemos mais tão próximos da natureza como nossos
ancestrais, fica bem mais difícil a missão do resgate de todo o respeito e a compreensão
do todo que nos cerca, resgate fundamentado em uma inteligência única em que os seres
humanos são dotados. Por vezes, graças à vida moderna, chegamos mesmo a nos
esquecer de nossos Deuses e de toda a sua sabedoria e criação.
O mais importante nesse processo que se inicia, de descobrimento e
compreensão de uma religião, é a certeza de que seremos eternos aprendizes de que
nosso Universo será sempre do tamanho do nosso conhecimento. Durante esta obra,
muitas comparações surgirão, questionamentos e certezas, mas o mais importante será o
conhecimento adquirido. Esse conhecimento é um bem mais valioso do que o valor que
se gasta num livro ou mesmo em um curso.
Espero que você, leitor, aproveite a obra. Alem disso, estaremos indicando
contatos, sites da internet e endereços no capítulo final deste livro.
Desejo a todos as maiores bênçãos dos Antigos Deuses, na esperança de que
ressurjam com grandiosidade, trazendo mais uma vez a nossos corações o respeito pela
natureza, pelos seres vivos e principalmente o equilíbrio necessário à nossa manutenção
neste plano físico.
MillenniuM
O autor esclarece que, ao longo de toda essa obra,
vocábulos variantes da palavra Mágicka estarão
representados com a letra “K” (tais como mágicka e
mágickos). Isso se dará para que o leitor
compreenda a diferenciação entre a Magia, aqui
chamada de Mágicka, e a arte de prestidigitação ou
ilusionismo utilizado pelos mágicos de palco.
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Capítulo I – A Criação
No princípio, o TUDO era NADA.
A única energia existente era nossa Deusa, que vagava pelo vazio, solitária em
sua sabedoria infinita. Corria pelo infinito do NADA, sem tempo, sem razão, até
encarar-se no espelho formado por sua vontade única de existência, um espelho que
refletia apenas essa existência, e apaixonar-se pelo que descobriu. No espelho, nossa
Senhora viu sua parcela masculina, existente mesmo antes do tempo ser tempo e do
TUDO ser criado, a parcela que já existia dentro de si mesma.
E Ela o amou!
Desse amor, gerado espontaneamente, o maior de todos os amores, o amor que
todos devemos ter por nossa essência divina, nasceu nosso Senhor, o Deus. Parcela
masculina do TUDO, necessária a toda a criação. O amor verdadeiro, chamado por
muitos de Ágape, nasceu entre ambos instantaneamente e desse amor o TUDO é criado.
Primeiro, da união física de nosso Senhor e de nossa Senhora, da junção de seus corpos
frenéticos explode o FOGO, primeiro dos elementos formadores da existência, o
verdadeiro FOGO da paixão. E com o FOGO surge a LUZ. E com a LUZ, o CALOR,
uma das características doadoras de toda a vida.
Assim como o Deus e a Deusa, masculino e feminino, a escuridão inicial e a luz
explosiva, dos fluidos que emanaram de seus corpos excitados pelo FOGO, nasce o
contraponto. Surge então o elemento ÁGUA. Pois na criação, tudo há de ter sua parcela
contrária. E a ÁGUA era o contrário do FOGO. ÁGUA, doadora de vida, necessária,
fluida, fresca.
Como o FOGO e a ÁGUA eram incompatíveis, mesmo em sua forma mais
etérea, dotados de propriedades contrárias, eram os antagônicos. Do suspiro dos
amantes, exalado no êxtase do descobrimento, nasce o AR. O AR, elemento mediador
entre o FOGO e a ÁGUA, possuindo características de ambos os elementos
antagônicos. O AR toma então seu espaço, separando sutilmente FOGO e ÁGUA,
ganhando do primeiro o calor e de sua contraparte, a umidade.
Os corpos de nossos criadores se estremeceram no ápice do amor e liberaram a
energia material que, misturando-se aos três elementos iniciais, formou o elemento
TERRA. Com a TERRA, tudo o que antes era etéreo, impalpável, inodoro, incolor,
toda a criação tornou-se sólida. A TERRA, por ter sido criada a partir de energia do
êxtase, em conjunto com os três elementos principais, tornou-se o quarto elemento. Suas
características eram o agregado de todos os elementos anteriores e mais, com sua
característica principal, que dotava o TUDO de peso e matéria.
Nosso Senhor e nossa Senhora assim unidos tornaram-se o quinto elemento, o
verdadeiro ESPÍRITO e, admirando-se de toda sua criação sonharam com o espaço, os
planetas, as estrelas, o UNIVERSO. Em meio ao sonho UNIVERSAL, encontrava-se
nosso Planeta, a TERRA. Graças às suas cores vibrantes, nossos Deuses voltaram sua
atenção para esse grão perdido no Universo e nele começaram a brincar. Num primeiro
momento, nossa Deusa se ocupava dos Céus e dos Mares, enquanto nosso Deus
preocupava-se com a terra, sua vegetação, seus animais.
O planeta tomava forma, mas ainda faltava-lhe o espírito. Para abrigar o espírito,
parte viva mais sutil de nossos Deuses, fomos criados. Os seres humanos, feitos à
imagem de nosso Deus e de nossa Deusa, pois se assim como é em “cima”, será “em
baixo”. Nasciam de forma perfeita os antagônicos complementares, o feminino e
masculino, contendo dentro de si, não em carne, mas em espírito, a energia dos Deuses,
energia essa também com sua parcela masculina e feminina indivisíveis.
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E os Deuses sorriram diante de sua criação. Estavam exaustos pelo trabalho do
descobrimento e do amor por tudo que agora existia.
Então, os amantes divinos dotaram os seres humanos de uma fagulha de
inteligência e de seu livre arbítrio, seu direito à escolha própria. E assim como pais que
têm a certeza da criação de seus filhos, tranqüilos se puseram a descansar.
Fechando seus olhos, abraçados em puro amor, nossos Deuses continuam a
descansar.
Adaptação do Mito da criação pela tradição O’Reilly.
Esse mito tem início, mostrando-nos a criação por meio da Deusa. Mas é
importante perceber que, mesmo sendo a deidade feminina considerada a criadora,
também habitava dentro de si própria o princípio masculino, sendo o mesmo, sendo
parte da divindade completa. Eram antagônicos, porém, complementares.
Ao longo desta obra, estaremos explicando o que pretendia Gardner ao colocar a
figura do DIVINO FEMININO como foco principal da religiosidade, ao menos
inicialmente.
O leitor percebe que no mito surgem as explicações para o aparecimento do
Universo a partir da criação dos elementos. Não é à toa que as diversas vertentes
religiosas acabam sendo análogas quanto a essa criação. O primeiro dos elementos
etéreos é o FOGO.
Podemos perceber igualdades na forma da criação do Universo mesmo nas
doutrinas hebraica e cristã:
Gênesis 1
“E disse Deus: Haja luz; e houve luz.”
A luz é obtida pelo Fogo. Existem diversas analogias ao Fogo como o primeiro
dos elementos, como é o caso das lendas das culturas orientais, africanas e mesmo
doutrinas Ocidentais, como a Wicca aqui destacada.
A teoria dos antagônicos é facilmente comprovada em física pela lei que diz:
“As cargas opostas se atraem e as cargas iguais se repelem.”
A explicação científica se dá levando-se em conta que, para designar essas
atrações e repulsões, convencionou-se dizer que as partículas possuem algo chamado
carga elétrica, que produz campos de força. Os elétrons possuem carga elétrica negativa
e os prótons, positiva. As cargas opostas se atraem e as cargas iguais se repelem.
Vemos então que, se não tivéssemos o Ar, o elemento mediador, o Caos reinaria
e a destruição seria certa devido à repulsão dos dois primeiros elementos básicos da
criação. O Ar, na verdade, não seria mais um elemento da criação, mas um elemento
formado a partir das qualidades do Fogo e da Água, e por isso mesmo seria NEUTRO,
podendo transitar entre esses elementos antagônicos e mesmo mediá-los.
Das qualidades dos três primeiros, unidas, surge a Terra, e antes dela, nada
existia no plano físico. Para muitos ocultistas, a Terra seria o elemento
QUADRIPOLAR, justamente por combinar todos os elementos anteriores e mais, dotar
todos de uma identidade física.
Por último, como em todas as doutrinas que possuem uma ou mais divindades
principais, cria-se a figura humana como obra perfeita da imagem e semelhança desse
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deidade. Na verdade, mitos e lendas servem-nos para uma compreensão mais simplista
dos conceitos imprescindíveis aos seres humanos. Eu preferia dizer ao contrário do
antigo dito que afirma que somos feitos à imagem e semelhança de nossos deuses:
“Nossos Deuses são criados à nossa imagem e semelhança.”
Perceba que o panteão (conjunto de deidades arquetípicas de cada cultura) terá
sempre as mesmas características da sociedade que o criou. Na África, os Deuses
(Orixás) são negros; no Oriente, serão orientais. Em determinada cultura com uma
sociedade predominante branca e ruiva, os deuses também assim serão representados.
Isso em grande parte deve-se à importância da maioria das sociedades tribais do passado
que viam suas divindades. Não é raro encontrarmos nas mais diversas culturas a crença
de deidades presentes no mundo dos humanos, levando uma vida normal, e mesmo
gerando. Daí a importância do conceito de ancestralidade. Encontramos um bom
exemplo mitológico na história dos Tuatha dé Dannan, povo lendário que teria
colonizado a Irlanda.
“Conta-nos a lenda que Nuada tornou-se rei dos Tuatha. Segundo ainda a
narrativa, Nuada era filho de pai Fomor e mãe Tuatha Dé Dannan; e que
teria se casado com Brighit (Bright), filha e DAGDA (O Bom Deus), devido
a uma aliança de dinastias.”
Continua o mito afirmando que os Deuses dotaram os humanos de sua fagulha
divina, nesse caso o espírito. E depois, de seu livre arbítrio e, portanto, descansaram. O
mito deixa-nos claro que as deidades estão presentes, porém, sem influência direta nas
açoes humanas. De que serviria o livre arbítrio se nossas açoes forem permeadas pelo
desejo dos Deuses?
Lendas e Mitos têm sua morfologia em temas que não perdem sua importância
com o tempo. A cada dia vemos que a ciência vem a avalizar a religiosidade e viceversa.
E que lendas e mitos permanecem sempre atuantes em nossos corações.
11
Capítulo II – Gerald Brosseau Gardner
Será extremamente fora de propósito tentar compreender uma religião como a
Wicca sem entender os processos que levaram à sua formação. Dentro desse
pensamento, a história da vida do homem, que modernizou e adaptou o antigo culto
mágicko da bruxaria, tem uma enorme importância. Esse homem foi Gerald Gardner:
Gerald Brosseau Gardner, funcionário público inglês, responsável pelo
ressurgimento e modernização da Bruxaria no mundo ocidental. Nascido na cidade de
Blundellands, perto de Lancashire na Inglaterra, na data de 13 de junho de 1884.
O jovem Gardner sofreu muito em decorrência de asma durante sua vida, o que
obrigou seus pais a permitirem que viajasse durante a infância e adolescência com sua
enfermeira judia, Josephine (“Com”) McCombie pela Europa, sempre buscando o clima
mais propício ao pequeno Gerald. Devido às suas incapacidades físicas decorrentes da
asma, o jovem Gardner encontrou bastante tempo para a leitura e pesquisa, uma vez que
apenas retornava à Inglaterra no verão. Cremos ainda, segundo relatos de pessoas que
conviveram com Gardner, que sua enfermeira era negligente quanto à sua educação,
tendo assim Gardner tornado-se praticamente autodidata. Josephine mudou-se para o
Ceilão após se casar e levou o pequeno Gerald com ela. Durante sua adolescência,
Gardner trabalhou no Ceilão, Bornéu e Malásia em diversas atividades simples. Devido
ao seu contato com as classes trabalhadores, mais comumente ligadas à religiosidade
popular, Gardner acabou encontrando-se muito mais com as doutrinas de origem
oriental do que particularmente com o Cristianismo.
Entre os anos de 1923 e 1936, Gerald Gardner foi contratado como funcionário
público pelo governo Britânico no Extremo Oriente. Exercia as funções de inspetor de
plantações de borracha, oficial de alfândega e inspetor de estabelecimentos de ópio.
Gardner, sem dúvida, ganhou bastante dinheiro nessa época, podendo então mais tarde
se dedicar à sua paixão: arqueologia.
Em decorrência de seu amor pela arqueologia, Gardner, após pesquisas e
escavações, assume a descoberta da localização da antiga cidade de Cingapura.
No ano de 1927, Gardner casa-se com a inglesa Dorothea Frances Rosedale,
mais conhecida como Donna, seu nome teatral em experiências como atriz. Donna
nunca se interessou profundamente pela bruxaria, graças à sua criação rígida por ser
filha de um clérigo cristão. Gardner fixa residência na Inglaterra, na famosa casa de
Malew Street em Castletown, mas continua a passar maior parte do seu tempo em
viagens arqueológicas através da Europa e Ásia Menor.
No Chipre, Gardner colhe informações que serviriam de cenário para o seu A
Goddess Arrives (1939). Tratava-se sobre um romance sobre o culto à Deusa Afrodite
no ano de 1450 d.C.
Antes do início da Segunda Guerra Mundial, Gerald Gardner conhece na região
de New Forest o grupo denominado Sociedade de Crotona. A Sociedade de Crotona
era um grupo oculto de membros ocultistas com participações importantes como Mrs.
Besant Scott, filha da teosofista Annie Besant, da Sociedade Teosófica. Gardner ajudou
a fundar junto com outros membros da Sociedade o “Primeiro Teatro Rosacrusiano
da Inglaterra”, que apresentava peças cujos temas se baseavam no ocultismo. É certo
que nessa época, a única maneira segura de falar-se sobre temas ligados ao ocultismo
eram as artes como o teatro e o romances. Isso porque até o ano de 1951 permanecia
ativa a lei anti-bruxaria na Inglaterra, a qual poderia levar à forca os infratores. Falavase
sobre esses temas com o amparo legal, salvo contrário, o governo Britânico teria de
expurgar grandes nomes da literatura como Kipling, Edgar Allan Poe e mesmo
Shakespeare, que em suas obram exploravam temas do oculto.
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Ligado à Sociedade de Crotona, de New Forest, existia outro grupo secreto que
aceitou Gerald Gardner como membro de confiança. Os seus membros alegavam serem
Bruxos e Bruxas hereditários, pois suas famílias mantiveram a prática da Velha Religião
sem interrupções, resistindo à Inquisição.
Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial no ano de 1939, Gardner foi
tradicionalmente iniciado na Arte da Bruxaria pela Suma Sacerdotisa Old Dorothy
Clutterbuck (Dorothy St. Quintin). Por anos a fio, mesmo depois da sua morte,
Gardner teve sua iniciação tradicional contestada por diversos de seus opositores, vindo
então a depois ser provada a existência real de Old Dorothy por Doreen Valiente, * que
mais tarde teria um papel fundamental na escritura do BOS (Book of Shadows)
Gardneriano. Valiente encontra no sepulcro de Old Dorothy (suas cinzas) no cemitério
de Highcliffe, junto a seu marido Rupert Oswald Fordham, marcado por uma lápide em
forma de cruz celta.
Vários bruxos ingleses, incluindo Gardner, juntaram-se no Sul da Inglaterra na
noite de 31 de julho (Noite de Lammas), do ano de 1940, para fazer um ritual que tinha
como objetivo evitar que as forças de Hitler invadissem a Inglaterra (nessa época o
último bastião de resistência focalizada na Europa em guerra). Tratava-se do Cone do
Poder (vide capítulo sobre práticas de magia). Gardner e os demais bruxos ingleses
gostavam de comentar sobre o ocorrido, afirmando que, em decorrência da ritualística,
teria Hitler se decidido por atacar a Rússia.
No ano de 1946, por intermédio de Arold Crowther, membro do grupo de
Gardner, Gerald conhece Aleister Crowley. ¹ Aleister era um homem prodigiosamente
inteligente e mesmo “diabólico”. Tinha poderes excepcionais; podia apagar uma vela
apenas com o pensamento a mais de 10 metros. Exercia verdadeira fascinação nas
mulheres, que se tornavam verdadeiras escravas de seu poder. Dizem mesmo que
Crowley teria influenciado algumas idéias de Hitler, mesmo sem JAMAIS ter mantido
contato com o mesmo.
Crowley tornou Gardner membro honorário da Ordo Templi Orientis (O.T.O.),
uma ordem mágicka que Crowley teve a liderança.
Patrícia C. Crowther, esposa de Arold Crowther, afirma que Gardner
admirava e que chegou a sofrer influências filosóficas de Crowley, mas que o mesmo
jamais teria usado nenhum de seus escritos na formação da Wicca. Uma boa prova
desse fato pode ser encontrada no livro A Bruxaria Hoje, ² no qual vemos Gardner
admitir que:
“(...) O único homem que conheço que poderia ter inventado ritos ( N.A. –
sobre magia) é o saudoso Aleister Crowley. (...) Mas as práticas das bruxas
eram inteiramente diferentes em método de qualquer tipo de magia sobre a
qual ele tinha escrito – e ele escreveu sobre muitos tipos.”
Gardner publicou em 1949 uma novela sobre feitiçaria com o pseudônimo de
Scire (a lei contra a bruxaria perdurava até 1951 e a perseguição poderia ser tremenda);
High Magic’s Aid. Esse trabalho incluía antigos rituais de bruxaria, nudez ritual e uma
cerimônia de flagelação, os quais ele aprendeu com Old Dorothy.
_______________________
1. Para conhecer mais sobre Crowley, o homem que se auto-titulava “A Besta”, leia Rituais de Aleister Crowley – A
Magia da Besta 666 (Marcos Torrigo – Madras Editora)
2. A Bruxaria Hoje – A Origem da Wicca, lançado pela Madras Editora.
13
No ano de 1951, Gardner deixou o grupo de Old Dorothy, fundando um novo.
Nesse mesmo ano, Gardner decide-se por mudar-se para a famosa Isle of Men, onde
existia o Museu de Magia e Feitiçaria, fundado por Cecil Williamson. Gardner tornouse
o “Feiticeiro residente” do Museu, e juntou a esse sua coleção de objetos rituais e
artefatos, tornando-se depois, dono do museu.
Em 1953, Gardner iniciou Doreen Valiente no seu grupo de prática. Juntamente
com Valiente, Gardner começou a modernizar seus rituais incluindo trabalhos seus e
decorrentes de seu profundo conhecimento graças à passagens por ordens iniciáticas,
dentre elas a OTO e a Maçonaria. Gardner e Valiente escreveram entre 1954 e 1957
todo o material ritualístico, textos sagrados e filosofias da Wicca, tendo culminado esse
trabalho no famoso BOS, Book of Shadows (Livro das Sombras), que viria a ser o
único livro de instruções da religião, um verdadeiro manual prático da Wicca.
Gardner publica seu primeiro ensaio sobre Feitiçaria, chamado A Bruxaria Hoje,
no ano de 1954, agora já sem a obscuridade ocasionada pela lei, devidamente revogada
em 1951. Esse livro atesta as teorias da antropóloga inglesa Margaret A. Murray, de que
a Feitiçaria moderna não seria mais do que fragmentos que sobreviveram da
organização religiosa, outrora chamada Bruxaria pela inquisição cristã.
Em 1959, Gardner publica o seu último livro, The Meaning of Witchcraft.
Em 1960, no Palácio de Buckingham, Gardner é reconhecido pelos serviços
prestados à nação no Extremo Oriente. Queremos crer que graças ao grande sucesso de
seus livros, os dirigentes do palácio acharam por bem condecorar Gerald, como ato de
amizade. Esse fato se dá graças às crenças pagãs de Gardner que poderiam ganhar força
indo de encontro com o tradicionalismo cristão da monarquia inglesa. Ainda no ano de
1960 morre Donna, sua esposa, causando em Gardner uma piora de saúde.
No inverno de 63, pouco antes de viajar para o Líbano, Gardner conhece
Raymond Buckland, um inglês, que vivia na América. Buckland foi iniciado pela
Suma Sacerdotisa de Gardner, Monique Wilson, (Lady Olwen) e Jack Bracelin no
coven de St. Albans. Buckland muda-se para os EUA, sendo o grande responsável pela
divulgação da Wicca na América. Desconhecemos os reais motivos pelos quais
Buckland desiste da tradição Gardneriana, vindo fundar sua própria (Sex Wicca).
Queremos crer que, se tratando de uma tradição contrária aos princípios de Gardner,
tradição que admitia uma iniciação sem a intervenção de um Sacerdote de terceiro grau,
na verdade sem nenhum sacerdote, a dita auto-iniciação (vide capítulo IX), sua
intenção seria a da venda de livros, e obtenção de algum tipo de continuidade nas
publicações, uma vez que não seria viável a venda de seus livros que professam uma
religião na qual não fosse possível ingressar, salvo por intermédio de um bruxo (a)
iniciado (a). E bruxos devidamente iniciados eram bem raros naquele novo país.
Gerald Brosseau Gardner morreu a bordo do SS Scottish Prince quando
regressava ao Líbano, na manhã de 12 de fevereiro de 1964. Foi enterrado em Tunes, no
dia seguinte.
Algumas curiosidades podem ser analisadas quanto ao testamento de Gardner.
Ele deixa o seu Museu, os seus objetos ritualísticos, apontamentos e direitos de autor a
Monique Wilson. Outros beneficiários do testamento foram Patricia Crowther e Jack
Bracelin, que escreveria mais tarde uma biografia de Gerald com o título Gerald
Gardner: Witch (Octagon Press, 1960). Monique e seu marido mantiveram o seu Museu
aberto por pouco tempo, quando então foi fechado e a maior parte dos seus artefatos
vendidos a uma organização com o nome de Ripley, a qual depositou os objetos a
outros museus (a Ripley é responsável pelo famoso programa de TV Ripley’s belive it
or Not; com o título de Acredite se Quiser no Brasil, era apresentado pelo ator Jack
Palance). Percebemos também que Gardner nada deixou a Valiente, sua parceira na
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escrita do BOS, isso provavelmente a uma briga entre os dois. Valiente provavelmente
desagradou a Gardner com tendências a desvirtuar seus pensamentos, voltando-se não a
um resgate do divino feminino e sim a um culto de cunho feminista, em que os mesmos
erros nas doutrinas paternalistas apenas seriam invertidos numa figura central feminina.
Além disso, segundo informações de pesquisa junto a alguns amigos Gardnerianos,
entre eles a Sacerdotisa Rowan Fairgrove (COG – Covenant of the Goddess – vide
lista de sites indicados), que nos deu sua opinião:
“Em meu entendimento, GBG (n.a. – Gardner era chamado assim pelos que
possuíam maior intimidade) acreditava que a Arte estava morrendo e pior isso,
tencionava auxiliar sua vivificação com o auxílio de publicidade.”
Doreen acreditava ser a publicidade ser um malefício às práticas da Arte, assim,
ela e mais alguns membros do Coven, decidiram por separar-se de Gardner e fundava
um novo grupo, continuando assim, suas práticas com mais privacidade.
Foi nessa época, com a saída de Valiente, que uma mulher chamada Davonis
assumiu o Coven como Alta Sacerdotisa de Gardner. Eu tive a sorte particular de
conhecer Davonis por intermédio de Don (n.a. – Don Frew é um dos mais respeitados
Gardnerianos nos EUA e atualmente é o coordenador da Wicca junto ao URI – United
Religions Initiative – vide lista de sites indicados). E posso atestar que Davonis é uma
mulher ADORÁVEL. Nessa época, ela me pareceu muito satisfeita com os resultados e
com o sucesso da vivificação proposta por Gardner, assim como seus métodos.
Para conhecer melhor o pensamento de Valiente, indico seu livro “Rebirth
of Witchcraft” (não publicado no Brasil).
Alguns dos objetivos de Gardner ao desenvolver a Wicca por meio da
modernização do antigo culto denominado Bruxaria:
— Atrair jovens ao interesse das práticas pagãs e da magia, práticas que, graças
às facilidades modernas, acabaram por tornar-se obsoletas aos olhares dos
jovens. Só assim a tradição seria mantida, salvo contrário, a bruxaria
morreria com aqueles que ainda a cultuavam.
— Encontrar, como a maioria das religiões orientais, um equilíbrio por meio do
culto a deidades masculinas e femininas (vide capítulo V).
— Resgatar práticas pagãs perdidas ao longo dos séculos devido à perseguições
e quebra das tradições.
Gerald Gardner jamais será esquecido por aqueles que cultuam a bruxaria
moderna. Seu legado, ademais das mais diversas tradições que se afastam gradualmente
de seus ideais, serve ainda de base e fundamentos para as práticas de redescobrimento
da bruxaria e do paganismo.
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Capítulo III – Origens daWicca
Todo magista que conheça a palavra Wicca sabe que a doutrina foi vivificada
por Gardner. Mas essa vivificação foi fundamentada em que exatamente?
Gardner apoiava sua modernização da bruxaria clássica nos argumentos da
antropóloga Margaret A. Murray. Simplificando as teorias dessa autora, queremos crer
que Margaret acreditava que práticas de um culto com duas deidades principais, uma
Deusa e um Deus, representando os divinos feminino e masculino, descendiam de
cultos fundamentados e desenvolvidos por sociedades tribais desde o período
paleolítico.
Período Paleolítico
O Paleolítico é o primeiro e mais extenso período que conhecemos da história da
humanidade. É naquele período que provavelmente surgem algumas respostas quanto às
mais antigas práticas de magia no planeta.
Como seres humanos, esses homens do paleolítico dependiam extremamente da
luz solar para desenvolver suas atividades. Não tinham conhecimento cientifico que lhes
proporcionasse as respostas, mesmo as que nos parecem mais simples atualmente. Ao
escurecer (com o pôr-do-sol), esses homens viam-se privados de seu maior sentido em
uso, a visão. Eram provavelmente tomados pelo pavor da noite e sua escuridão, sem
nem ao certo saberem se o Sol voltaria novamente a brilhar. Outro sentido largamente
utilizados nessas sociedades e o trazemos até hoje arraigado em nossos costumes, o que
a neurolingüística já explica cientificamente;
– Posso ver? – perguntamos
Mas não nos basta ver, temos de tocar. Pedimos para ver algo que nos chama a
atenção, algo depositado sobre uma mesa, mas não nos basta apenas ver, temos de tocar.
Assim também era com essas sociedades, e, por meio do toque e da visão, elas
começaram a descobrir essas coisas básicas do mundo, como o fogo que queima, a
consistência da água, a dureza da rocha, etc.
Mas quais eram os maiores mistérios que podiam ser detectados por essas
civilizações? O que podia ser visto, que chamava sua atenção, mas jamais era tocado? O
que dava o poder de ver, dominando a claridade dos dias e o que comandava a escuridão
das noites?
A Lua e o Sol. Assim, provavelmente deverá ter surgido o primeiro culto do
homem paleolítico, um culto a duas deidades principais, que se tornam deidades por
serem intocáveis e comandarem os dois estágios primários da vida dessas sociedades: o
dia e a noite.
Passado o susto inicial em que as sociedades peleolíticas acreditavam que a noite
seria eterna, surge uma segunda prioridade na vida destes seres: o conceito de tempo.
O Sol tornava-se um evento corriqueiro na vida dessas sociedades, nascia e
morria diariamente (faz-se aqui uma alusão aos mitos solares de nascimento, morte,
ressurreição), mas a Lua, assim como a escuridão, representava o terror e o mistério a
essas sociedades; sua senhora a Lua era tão misteriosa quanto aos seus domínios
escuros. Mutante, por vezes se apresentava no céu, por vezes se escondia, dentro dos
ciclos que atualmente conhecemos como fases da Lua.
Uma das sociedades tribais mais antigas, ainda vivendo sobre a face da terra, é a
dos índios note-americanos. Quem não se lembra do pele-vermelha dizendo:
16
– Cara Pálida, em cinco Luas atacaremos o forte!
Pois bem, essas sociedades do Paleolítico começam a voltar sua atenção aos
ciclos da Lua, demonstrando assim a criação da primeira forma de controle de tempo
em escala maior do que o simples “claro e escuro” de um dia.
Talvez a comprovação da importância da figura feminina aliada à Lua e a um
controle de tempo sejam manifestações como a antiga escultura da Deusa de Laussel
(nomeada graças ao sítio arqueológico onde foi encontrada), em que uma figura
feminina (provavelmente um estereótipo da Lua pelas razões que apresentaremos à
seguir) segura em suas mãos um chifre de bisão, com treze marcações referentes aos
treze meses do calendário lunar e datada em torno de 20.000 a.C.
Vênus de Laussel
Essas sociedades observavam as fases da Lua, que
mostrava sua forma como apenas um filete de luz no céu,
começava a crescer em decorrência dos dias claros e das noites
escuras chagava ao clímax na figura celeste de um disco e,
posteriormente, diminuía até novamente desaparecer. Essa foi a
analogia necessária com o ciclo da gravidez das fêmeas, únicas da
espécie, capazes de gerar uma nova vida (um dos grandes
mistérios do Paleolítico), que elevou o sexo feminino à posição de
recipiendário do conhecimento e da espiritualidade.
Existia, então uma divisão de trabalho extremamente
simples. Como essas sociedades tribais não possuíam conhecimentos científicos, eram
sociedades nômades (que se deslocavam constantemente), extrativistas, caçadoras, e
coletoras. Os homens do Paleolítico ainda não produziam seus alimentos, isto é, não
cultivavam plantas nem criavam animais. Consumiam os alimentos que encontravam na
natureza. Coletavam frutos, grãos e raízes. Caçavam e pescavam. Quando se esgotavam
os alimentos da região que habitavam, mudavam-se para outra. As fêmeas eram
responsáveis pela manutenção das tribos, assim por como sua parte espiritual, enquanto
os homens pela caça, pesca e defesa de seus iguais. No período final do Peleolítico, o
homem já havia aperfeiçoado várias técnicas para se defender das fortes mudanças
climáticas que vinham ocorrendo na Terra. Construía abrigos e produzia roupas com
pele de animais. Além disso, havia aprimorado os utensílios de pedra e os instrumentos
de caça e pesca.
Por meio da cooperação os homens conseguiam, por exemplo, caçar um
animal feroz, construir um abrigo em menor tempo e obter maior
quantidade de alimentos.
Assim, os homens começaram a se organizar socialmente. A vida em grupo
evoluiu, então, para a forma de clã (conjunto de famílias cujo membros descendiam dos
mesmos antepassados). Nos clãs havia uma divisão simples do trabalho, de acordo com
o sexo. Acredita-se que a mulher tenha desenvolvido um papel importante nesse
período, pois era responsável pela igual distribuição de tarefas, bem como pela
espiritualidade dos clãs. Os membros dos clãs trabalhavam apenas para garantir a
sobrevivência. Não tinham a preocupação de acumular alimentos para trocar com outros
clãs.
17
O produto obtido com o trabalho era comunitário, isto é, repartido entre os
membros do clã.
Os clãs baseavam-se também na propriedade coletiva dos bens. Os instrumentos,
as ferramentas e os utensílios pertenciam a todos os seus membros, não havendo posse
individual.
Durante os longos períodos de caça esses homens eram acometidos dos maiores
problemas e a mortandade era gigantesca. Novas doenças em decorrência do longo
distanciamento da tribo, encontro com outros grupos que defendiam o seu território,
animais ferozes, fome, e mesmo a falta de amparo espiritual, uma vez que as mulheres
não os acompanhavam na caça. A falta do amparo espiritual ocasionou a necessidade da
criação também de uma forma de sacerdócio masculino, fundamentada nos mistérios
inerentes aos homens. Enquanto as mulheres eram capazes de gerar uma nova vida (já
nesse período final do Peleolítico o homem já era capaz de compreender sua
necessidade nessa geração); os homens eram mais fortes, tinham mais pêlos, não
sangravam mensalmente e principalmente tinham um aparelho genital diferente, doador,
ativo, enquanto o das mulheres era receptivo. Surgem então os mistérios masculinos, e
com eles, a necessidade de uma deidade. Nesse momento o estereótipo masculino do
Sol ressurge na figura de um Deus de chifres. Chifres de caça, simbolizando exatamente
as atividades que eram inerentes apenas aos homens.
Ritos de passagens sociais também foram criados e trazemos tais ritos
incrustados em nossa essência até os tempos modernos. Estão presentes na mudança do
estado de adolescente com a primeira menstruação passa do status de criança para o de
mulher, capaz de gerar. Também estão presentes nas cerimônias de casamento das
diversas religiões ou mesmo nas cerimônias sociais mais simples. Ritos de passagem
sempre foram a forma de denotar uma mudança no status do indivíduo. Prenunciam
uma mudança radical de regime ontológico e estatuto social dos indivíduo.
Segundo Gardner em seu livro “A Bruxaria Hoje”, Madras Editora:
“(...) quase todos os povos primitivos tinham cerimônias de iniciação e
algumas eram iniciações a sacerdócios, a poderes mágickos, a sociedades
secretas e a mistérios. Eles eram usualmente vistos como necessários para o
bem-estar da tribo, assim como para o indivíduo. Incluíam normalmente a
purificação e alguns testes de coragem e força – frequentemente severos e
dolorosos –, aterrorização, instrução em sabedoria tribal, em conhecimento
sexual, na realização de encantamentos e assuntos gerais ligados à magia e à
religião e, freqüentemente, a um ritual de morte e ressurreição.”
Talvez a forma mais presente de rituais e práticas mágickas existentes no
Paleolítico tenham sido as pinturas rupestres. Tais pinturas por anos foram consideradas
por antropólogos como a descrição de eventos de importância, geralmente ligados à
obtenção de alimento pela caça dessas sociedades. Atualmente, aventa-se a
possibilidade de serem na verdade rituais mágickos com o intuito de dominar os
espíritos da caça anteriormente ao evento presente.
Período Neolítico
O Neolítico foi o período em que a pedra recebeu uma nova forma de
tratamento. A pedra, que antes era lascada, passou a ser polida, melhorando o seu corte.
Por esse motivo, aquele período também é conhecido como Idade da Pedra Polida.
18
Embora o período Neolítico tenha sido relativamente curto em relação ao
Paleolítico, considera-se que ele forneceu a base para a formação do mundo atual. No
Neolítico, teve início um modo inteiramente novo de relacionamento entre o homem e a
natureza. Ele passou a interferir ativamente no meio ambiente, cultivando plantas,
domesticando e criando animais. Começou, assim, a produzir sua própria alimentação.
Essa mudança de comportamento representou uma das mais extraordinárias revoluções
culturais já ocorridas na História.
Entretanto, essa revolução neolítica (a agricultura e criação de animais) não
ocorreu de uma só vez. Foi um processo lento. As comunidades continuaram utilizando
a coleta de frutos, a caça e a pesca para obter alimentos. E, mesmo conhecendo a
agricultura e a criação de animais, nem todas as comunidades abandonavam a vida
nômade.A vida sedentária foi sendo adotada aos poucos, à medida que as atividades
agrícolas e pastorais se consolidavam. Surge então a modificação do Deus de chifres,
que perde seus chifres idênticos aos dos animais de caça e recebe chifres baseados nos
animais domésticos como o touro, o cabrito, etc. é também naquele período que surgem
as lendas solares como a da Roda do Ano. Em suma, a Roda agregava os fatores
necessários para que essas civilizações instruíssem verbalmente sobre crenças
religiosas, as tradições, ensinamento, e principalmente a forma certa de lidar com a terra
e seus animais (a época certa de arar, a de plantar, colher, a época do acasalamento de
animais, etc.).
Dominando as técnicas agrícolas e pastorais, as comunidades neolíticas,
puderam, então, produzir mais alimentos do que o necessário ao consumo imediato.
Assim, passaram a fazer estoques de alimentos. Esse aumento de produção acabou
impulsionando o crescimento da população. Não mais se morria de fome, não mais se
deslocavam constantemente, assim como não mais estariam predispostos a se depararem
com novas enfermidades.
Com o crescimento da produção, as sociedades passam à primeira forma de
comércio conhecido pelos seres humanos, o escambo. Com esse escambo agrícola,
também encontraremos, conseqüentemente, a troca de informações ou uma
miscigenação de raças e mesmo de culturas. Assim, falando-se do que atualmente
conhecemos como Europa, houve uma unificação na morfologia na forma de culto, com
diferentes panteões, diferentes práticas, mas essencialmente parecidas nos fundamentos.
Contamos todos esses aspectos antropológicos e religiosos no intuito de que o
leitor compreenda que, por vezes, a explanação da religião Wicca torna-se um pouco
confusa. Existem grupos que insistem em dizer que a Wicca é a religião mais antiga do
mundo. Outros bradam ser ela uma das mais novas, visto que Gardner a teria
desenvolvido na década de 50. De quem é a razão?
Acredito que ambas as vertentes detêm certa razão. A Wicca é realmente a
religiosidade que se fundamenta nos ciclos naturais da Terra. Uma tentativa do resgate,
mesmo que em novos moldes, da consciência pagã de outrora. A palavra pagão é
advinda do latim Paganu, que em suma, significa “do campo”. Assim, a Wicca tem seus
rituais e filosofia fundamentados nas práticas agrícolas, pastoris e de respeito à terra
iniciadas no Paleolítico e Neolítico. Tem seu sistema social baseado em ritos de
passagem, iniciações e sacerdócio. Mas não devemos esquecer que é uma vivificação,
uma modernização inteligente de Gardner que, percebendo tratar-se de práticas
fragmentadas, esquecidas, e mesmo impossíveis ao homem urbano, decide-se por
resgatá-las devidamente adaptadas à realidade moderna.
Muitos acusam a Bruxaria de ser a negação ao Cristianismo. Não concordo.
Particularmente, por crer nas teorias acima representadas, demonstrando assim que não
19
se pode ser contrário ao que se desconhece. As práticas de Wicca são baseadas em
tempos muito anteriores a qualquer forma de religiosidade sobre a face da Terra. E
assim sendo, não é a negação de nenhum tipo de religiosidade, mas a aceitação da
Natureza do homem, assim como sua intimidade com a Terra e todos os seres vivos.
E quanto à era Medieval? É obvio que a Bruxaria atual chamada de Wicca,
carrega em seus conceitos uma carga também dessa bruxaria dita MEDIEVAL. Isso nos
fica claro com a adoção de cristais e seu poder anímico de práticas divinatórias como o
Tarô (apesar de considerar tal prática um caminho de iniciação e não apenas uma prática
de divinação), feito por um modesto artesão chamado Jacquemin Gringonneur em
1932, que desenhou a pedido do Rei Carlos I. Todo trabalho manualmente
desenvolvido, com folhas de ouro, tintas apropriadamente preparadas e estilo
inconfundível, fez do tarô de Gringonneur uma peça valiosíssima, que pode ser ainda
hoje encontrada no Museu da Biblioteca Municipal de Paris, restando apenas 17
Arcanos. Alguns membros de Wicca ainda tentam negar esses aspectos medievais na
bruxaria moderna, preferindo referir-se apenas às práticas pré-históricas completamente
desvinculadas de qualquer influência de uma religiosidade atual.
Na verdade, creio que nem Gardner ou Valiente tivessem conhecimento do
significado de algumas dessas práticas. Um bom exemplo disso é a chamada “Runa das
Bruxas” ou “O Antigo Chamado”, um dos textos ditos “sagrados” do Livro das
Sombras escrito para ser o “guia” da nova vertente religiosa resgatada por ambos. Nesse
cântico, constantemente repetido por Wiccanianos em quase todas as cerimônias,
atentamos para uma parte em especial que é dito:
Eko, Eko Azarak, Eko, Eko Zomelak!
Apesar de ser conhecido por muito poucos, muito poucos mesmo (vivo
escutando a besteira de que tais palavras não teriam tradução), informamos aqui a
interpretação das palavras:
Eko – Nada mais é do que uma evocação. Poderíamos traduzir do
hebraico/Arábico como “Venha a mim” ou coisa que o valha. Eko é
largamente utilizado na Kabbalah, que pra mim, simplificar é um método
prático para compreensão do mundo superior e da fonte de nossa experiência
enquanto ainda vivos neste mundo, desenvolvido pelo povo Judeu.
Azarak e Zomelak são também, por incrível que possa parecer, ANJOS
Caídos, também ligados à Kabbalah.
Anjos, em Wicca? Parece-me provado com esses cânticos que mesmo Gardner e
Valiente não tinham conhecimento da origem cabalística desses termos, ou mesmo que
estavam lidando com conceitos dessa doutrina.
O que me assusta é que muita gente que afirma seguir a WICCA pura,
independentemente de outras doutrinas, mas desconhecem a própria doutrina que
afirmam cultuar. Não que o uso de práticas ligadas a outras religiões, que não a
religiosidade pré-histórica, desmereça a “idéia” base da Wicca: a de um resgate do
divino feminino e posterior resgate do divino masculino sem a impregnação de
conceitos de machismo e feminismo, tal como era visto e sentido por nossos ancestrais
distantes.
Como a Wicca não é uma religião de LIVROS SAGRADOS, verdadeiros
manuais de instruções, escritos pelos próprios Deuses, ou mesmo ditados por espíritos
iluminados, entendemos tratar-se de uma doutrina filosófica, com suas bases múltiplas
20
perdidas devido à morte de seus criadores. Sejamos então felizes, seguindo um dos
poucos escritos fiéis de Gardner em apenas oito palavras:
“Na it harm, Do as Ye Will”
(Do inglês arcaico: Sem prejudicar a ninguém, faça o que quiser).
CERNUNNOS
Cernunnos (Ker-noo-nos) – Conhecido em todas as regiões Celtas, Deus da Natureza e
de todas as coisas selvagens. Deus da virilidade, fertilidade, animais, amor físico,
natureza, encarnação, encruzilhadas, riqueza, comércio e guerreiros.
21
Capítulo IV – Perseguições Atuais
Dedicamos este capítulo não àqueles que desejam seguir a Religião Wicca, mas
a seus pais, parentes, maridos, esposas, filhos, e amigos que, por pura falta de
conhecimento, permitem-se aceitar preconceitos. Assim, damos um espaço para uma
prova de inteligência.
Sempre admirei pessoas inteligentes. Independentemente de raça, cor, status
social, e mesmo idade. Uma boa forma de definir alguém como inteligente é a
capacidade que demonstra em informar-se, independentemente de o assunto lhe ser
agradável, ou não. Só assim será capaz de evitar chegar a impressões que não as suas
próprias. Afinal, uma força divina nos dotou de cérebro e milhares de neurônios que
deverão servir para uma boa avaliação do meio que nos circunda. Eu mesmo sempre
repito:
“Meu Universo é do tamanho do meu conhecimento”.
Para esses que são preocupados com as atividades religiosas ou mesmo sociais
de seus entes queridos, proponho aqui um acordo: “Esvazie sua xícara para que possa
ser capaz de provar do meu chá”. Isso significa que deverá ler as próximas linhas
completamente avesso a preceitos criados pela sociedade ou por qualquer tipo de
religiosidade. Fazendo isso, estará dando uma prova de inteligência a seus entes
queridos e principalmente a você mesmo.
O primeiro erro que quero combater é a crença (normalmente por cristãos, uma
vez que são os que crêem em mal absoluto) de que Wiccanianos adoram o DIABO.
Como vimos nos capítulos anteriores, a Wicca tem suas crenças firmadas com
práticas agrícolas e de criação de animais, fundamentadas e desenvolvidas para uma
conexão com o divino por intermédios de ritos de fertilidade, nascimento, morte e
ressurreição. Por se tratar de práticas que remontam aos períodos Paleolítico e Neolítico,
muito anteriores ao Cristianismo (afinal, estamos em 2003 d.C.), a incongruência de
crer que possamos adorar a uma entidade que surge em uma religião maniqueísta é no
mínimo um disparate.
Mas o que é Maniqueísmo?
Segundo a enciclopédia Britannica, maniqueísmo é a doutrina religiosa
caracterizada pela concepção dualista do mundo, em que espírito e matéria representam
respectivamente o bem e o mal. Pregada pelo persa Mani, Manes ou Maniqueu, no
século III.
Considerado muito tempo uma heresia cristã, possivelmente por sua influência
sobre alguma delas, o maniqueísmo foi uma religião que, pela decorrência da doutrina e
a rigidez das instituições, manteve firme unidade e identidade ao longo de sua história.
Sua principal característica é a concepção dualista do mundo como fusão de espírito e
matéria, que representam, respectivamente, o bem e o mal.
Simplificando, bastaria dizer que conceitos maniqueístas estão presentes em
qualquer religião que pregue uma eterna luta de valores entre o Bem e o Mal, na figura
de entidades deificadas, ou seja, o BEM e o MAL ABSOLUTOS.
Agora, a você que se considera uma pessoa inteligente:
Defina BEM e MAL ABSOLUTOS!
Uma missão extremamente difícil. Chegaremos à conclusão de que o Bem ou o
Mal, como entendemos, são fortemente permeados de conceitos próprios,
22
independentemente de religiosidade, sociedades e mesmo de leis. Comentemos aqui o
caso do atentado às Torres Gêmeas, o World Trade Center, em Nova York. Enquanto o
mundo ocidental chorava pelas perdas e pela brutalidade do ataque, com conseqüências
mundiais, no Islã Radical, pessoas festejavam como se Alá, sua divindade, os tivesse
vingado.A verdade é que nada é bom ou mal absolutamente e, principalmente, durante
todo o tempo. O que pode ser bom para alguns, fatalmente será péssimo para outros. O
grande problema é que as práticas pagãs sempre foram feitas de acordo com a
necessidade de uma maioria. Se tal prática servia para aumentar as colheitas, em
determinada época era bem vista; em outra, esse aumento de colheitas poderia acarretar
em uma baixa no preço da mercadoria, e assim, tornava-se mal vista pela sociedade que
outrora os abençoara.
No caso do Diabo, essa entidade torna-se importante a parir da do aparecimento
da figura de Jesus. Sem ele, não haveria parâmetros ou mesmo pecados, instrumento
coercitivo e de controle religioso. Pois bem, não seria o diabo o próprio “anticristo?” Se
pagãos não crêem na figura de Cristo como a figura do próprio Deus, como poderiam os
pagãos crer em sua contraparte? Pagãos não crêem em Diabos, não acreditam em Karma
transcendental, reconhecem que, por exemplo, alguém que nasce sem braço é fruto de
algum erro genético durante a gestação. Se assim não fosse, teríamos de crer que o
animal que também nasce sem pata teria sido extremamente mau e pecador em uma
outra existência. O mesmo com o legume que nasce atrofiado, provavelmente teria de
ter causado uma grande indigestão em alguém para que novamente brotasse atrofiado.
Assim, pagãos crêem em processos reencarnatórios, mas sem a transcendência do
karma. Abordaremos esse tema na explicação do Caminho de Wicca e da Lei Tríplice
(vide capítulo XI).
Uso ainda este espaço para esclarecer que Wiccanianos não oram ou fazem
homenagem ao Diabo (nem o reconhecem como existente). Nada é recitado de trás pra
frente, não cuspimos em cruzes, não rasgamos imagens de Jesus (aliás, conheço alguns
bons Wiccanianos que mantém um grande respeito pela figura mística do Cristo,
considerando-o até como um grande iniciado), tampouco utilizamos a hóstia sagrada aos
cristãos em nossos rituais. Assim, como a lenda de que matávamos bebês não-batizados
para rituais macabros cai por terra ao perguntarmo-nos o motivo de não haver milhares
de registros nos órgãos policiais com referencia ao desaparecimento dessas crianças.
Também seria bem conhecido o relato de centenas de igrejas reclamando de hóstias
consagradas sendo furtadas. Pior que isso seria existir um padre católico participando de
Sabbaths de bruxas, apenas para consagrar hóstias para rituais satânicos.
Percebe agora como boatos infundados caem por terra quando começamos
a usar nosso dom da inteligência?
Outra teoria alegada pelos que não compreendem a bruxaria, e que sempre me
assusta, é a chamada MAGIA NEGRA. Devemos compreender que magia é na verdade
a capacidade de provocar mudanças físicas por meio da vontade. Essa mudança ou o
fortalecimento da vontade pode ser conseguida com ritos, religiões, simpatias, ou
qualquer outro tipo de subsídio que seja relevante ao praticante. Mas, na verdade,
simplificando, sabemos que TUDO é energia. Nossos corpos são espaços ocos
preenchidos por essa energia, assim como todo o resto do Universo. Queremos entender
então que a magia seria a arte de manipular essa energia em prol dos nossos desejos. Se
assim for, pergunto:
23
Energia tem cor?
Não seria correto dizer que a mesma energia usada para movimentar um desejo,
de acordo com o ponto de vista individual, pode ser vista como BOA ou MÁ? Não é
exatamente o mesmo caso exemplificado anteriormente na parte sobre o maniqueísmo?
Se em estado de necessidade acabo por, em pura legítima defesa, matar um assaltante,
do ponto de vista social, não terei cometido um BOM ato? E para a família e entes
queridos desse assaltante, em primeira instância, não terei eu cometido um dos maiores
males? Nesse momento, não importará o comportamento social ou legal do indivíduo,
demonstrando assim que, ademais de sermos seres sociais, preocupamo-nos sempre em
primeiro lugar com nossos próprios interesses. Assim, magia será sempre incolor,
inodora e (em alguns casos) invisível. Magia é energia, assim como uma arma pode ter
um bom ou mau uso, dependendo de quem a empunha. Cá entre nós, bruxos
Wiccanianos estão muito mais preocupados com assuntos como espiritualização, paz,
natureza e descobrimento do que fazer mal a seu próximo, pode acreditar nisso!
Mas voltando a você que é Cristão, mais precisamente católico. Aqui vão alguns
questionamentos íntimos:
1 – Você utiliza meio contraceptivo ou apenas tem suas atividades sexuais
com o intuito de gerar uma nova vida?
2 – Você jamais leu seu horóscopo no periódico predileto?
3 – Nunca pensou mal a seu próximo?
Pois bem, todas essas atividades foram severamente proibidas pela igreja
católica, mas você continua a sua prática. Sempre haverá o sacerdote católico para livralo
do peso de seus próprios erros. Mas lembre-se:
O próprio Papa João Paulo II, no dia 12 de março de 2002, emitiu um pedido
público de desculpas abrangente pelos erros passados da Igreja católica. Esse
documento foi formulado por 28 teólogos e acadêmicos sob a orientação do cardeal
Joseph Ratzinger, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, a moderna sucessora
da Inquisição, tendo sido lido em voz alta pelo Papa em uma “cerimônia solene” em
Roma.
Volto a perguntar: você, como católico, será contra o pontífice que é a
própria representação de Cristo na Terra? Não estaria “pecando” com essa
atitude?
Você está disposto a repetir os mesmos erros do passado, fundamentados numa
necessidade de obtenção de poder e lucros, assim como fez a igreja na Inquisição? Você
é realmente aquele que pode levantar sua mão completamente pura para atiçar a lenha
das fogueiras que nos queimarão? Ou você prefere ser inteligente, buscar compreender,
e mesmo se desculpar, aceitando que nem tudo é diferente do seu culto tem de ser mau?
Conheço padres cristãos que são acusados de pedofilia, conheço sacerdotes afro
que também o são. Conheço ainda, casos de rabinos que foram presos por roubarem
aqueles que o seguem. Não quero com isso, dizer que todas as formas de sacerdócio, ou
mesmo que todas as religiões sejam más, pelo contrário. Reconheço toda a forma de
Religião. A palavra tem sua origem etimológica do latim religione e quer dizer “religarse
aos Deuses” ou “Deus”. Reconheço este tipo de expressão social como maravilhosa,
mas também reconheço que os homens insistem em deturpá-las e estragá-las.
24
Discute-se muito sobre a crise da Igreja Católica no Brasil e no mundo. Mas a
verdade é que está havendo uma crise mundial de religiões. O Budismo e o Hinduísmo
encontram-se em regressão. Igrejas cristãs pouco conservadoras em relação ao
catolicismo começam a surgir em qualquer esquina, espalhando sua visão deturpada ao
“amor de Cristo”. Os islamitas se defrontam com graves problemas internos. Por toda a
parte, atualmente, existe crise de consciências, de estruturas, de ensino, de disciplina.
Mais grave ainda, até mesmo uma crise de fé. Por quê? O que se passa com os homens e
as igrejas? Será possível superar tal crise?
Não quero aqui cometer os mesmos erros da Inquisição católica contra judeus e
pagãos (houve uma época em que eram colocados num saco só), as mais perseguidas
religiosidades da história do homem, afinal eram as principais religiões no Ocidente que
não aceitavam a figura de Jesus, causando assim sérios problemas à nova religião em
expansão. Seria um grande erro tentar inverter a figura estereotipada da bruxa velha e
má dos contos infantis. Alguns tentam fazê-lo, afirmando que bruxos são todos bons e
não praticam erros. Uma coisa meio de “sonho cor de rosa”. A verdade é que bruxos são
naturais, praguejam, erram, ficam com ódio e raiva, mas também amam, acariciam,
ajudam. Somos pessoas normais, que apenas vivem a vida natural. Sem pressões de uma
religiosidade que nos impele a sermos bons não porque queremos ou compreendemos o
que é ser bom, mas sim por padrões criados pela mesma, como se fôssemos todos
absolutamente iguais. E viva a diferença!
Falarei mais sobre a Inquisição e perseguições em outra obra, o intuito deste
capítulo é alertá-lo. Alertá-lo antes que seja tarde demais. Alertá-lo para a violência
mundial e particularmente em nosso país, violência gerada não por pagãos, mas por
desigualdades sociais e por descrédito nas autoridades. Alertá-lo para o perigo das
drogas, que levam as nossas crianças a um caminho de onde poucos voltam. Alertá-lo
para os que se dizem religiosos e cometem atos contra as religiões e não sobre uma
religião em particular. E esse alerta vem na forma de INFORMAÇÃO.
A primeira vez que me sentei diante de um microcomputador e tive entrada na
Internet foi há mais de dez anos. E que experiência. Sempre considerei que
conhecimento fosse poder, e por alguns minutos me senti o homem mais poderoso do
mundo. Todo o conhecimento à minha frente, na forma de uma rede que interligava o
mundo em um mundo de informações. Aquele que tem informação tem o poder,
principalmente o poder de argumentar com fundamentos, de forma clara, de construir
suas certezas. Já aquele que emite opiniões sem o embasamento de conhecimentos será
simplesmente um hipócrita ou um leviano em suas palavras. Você que tem parentes que
se interessam pela Wicca ou qualquer vertente de religiosidade (afinal, aqui falamos de
religiosidade), informe-se.monte a sua própria opinião fundamentada em conhecimento.
Não se permita ser apenas mais um ignorante que nem ao menos sabe o que fala ou
ataca. Garanto-lhe que ganhará muito mais respeito de seu ente querido.
Quanto aos que têm medo da magia como sendo algo maligno, vale aqui repetir
as palavras de Phillip Bonewits em seu livro Real Magic (não editado no Brasil):
“A magia é uma ciência e uma arte que compreende um sistema de
conceitos e métodos para a construção da emoção humana, que altera o
equilíbrio eletroquímico do metabolismo, utilizando diversas técnicas e
instrumentos associados para concentrar e focalizar essa energia
emocional, modulando dessa forma a energia espalhada pelo corpo
humano, em geral para afetar outros padrões de energia, animados ou
inanimados, embora ocasionalmente afete padrões energéticos pessoais”.
25
É impressionante como o assunto perde seu caráter maligno e deturpado quando
explanado com inteligência.
Por último. A Wicca não é favorável ao prosetilismo. Ou seja, não saímos pelas
ruas gritando que nossa religião é melhor que a dos outros. Com isso, nunca buscamos
quantidade e sim, qualidade. Essa qualidade se resume em devoção e principalmente
conhecimento das filosofias da religião. Assim, não pense que existe um bruxo atrás de
cada árvore em busca de novos adeptos. Pelo contrário, sempre digo aos que me
procuram:
“Eu sou aquele que quer te impedir de se tornar um Wiccaniano”.
Assim, se seu ente querido se passar pelo crivo de um bom sacerdote e for
dedicado em sua prática, com certeza será um bom religioso.
26
Capítulo V – Nossos Deuses
Carl Gustaf Jung dizia em 1942:
“Os arquétipos não são apenas impregnações de experiências típicas,
incessantemente repetidas, mas também se comportam empiricamente como
forças ou tendências à repetição das mesmas experiências. Cada vez que um
arquétipo aparece em um sonho, na fantasia ou na vida, ele traz consigo
uma “influência” específica ou uma força que lhe confere um efeito
luminoso e fascinante ou impele à ação”.
A figura dos arquétipos divinos foi largamente utilizada pelas sociedades tribais
ao longo da história. Esse fato é possivelmente devido à falta de uma forma escrita bem
desenvolvida por essas sociedades. Os arquétipos evocavam nas lendas características
humanas das deidades ou mesmo divina nos mortais. Por meio das lendas e mitos (vide
capítulo XII) os homens buscavam passar sua história, conceitos sociais, legais e
mesmo político às gerações posteriores. É conhecido o legado de Hermes, o três vezes
mago, ao mundo religioso e mesmo científico:
Princípio da Correspondência:
“O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é
como o que está em cima”.
Princípio da Polaridade:
“Tudo é duplo; tudo tem pólos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual
são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas são diferentes
em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades;
todos os paradoxos podem ser reconciliados”.
Princípio de Gênero:
“O Gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e seu princípio
feminino; o Gênero se manifesta em todos os planos”.
Analisando e combinando os três princípios acima, fica-nos mais simples
compreender os objetivos de um culto a duas deidades principais que simbolizam os
arquétipos do Divino Feminino e do Divino Masculino. Compreendemos também os
motivos pelos quais nossa Deusa divide-se, trazendo à vida sua parcela que sempre
existiu, o Deus. Entenderemos que todas as coisas manifestas no gênero masculino
possuem também um gênero feminino e todas as coisas e do gênero feminino contêm
também parcelas do gênero masculino.
Compreendemos assim que não necessitamos da busca do outro princípio, pois
tudo está imanente em nós, manifestado na forma do gênero. A compreensão desse
princípio nos leva à plenitude e à realização interior, a espiritualização.
Gostaria aqui, antes de entrar no assunto deusa e deus tríplice, de finalmente
definir um conceito que percebo ser deturpado numa grande maioria de obras, a
diferença entre ALMA e ESPÍRITO.
Leio por várias vezes autores que se equivocam em seus pensamentos, referindose
à ALMA, quando na verdade desejavam comentar sobre o ESPÍRITO. Fato é que, em
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grande parte das religiões (retiro a católica da lista por motivos amplamente conhecidos
na referida doutrina), a grande busca seria a da ESPIRITUALIZAÇÃO, e não uma
“ALMALIZAÇÃO”.
Mas quais as diferenças entre as palavras e conceitos?
Alma
Segundo ocultistas e estudiosos das religiões como Eliphas Levi, Papus,
Agripa, Huston Smith, Robert Bellah, Joseph Brown, Sam Gill, Charles Long e
muitos outros, a palavra ALMA tem sua origem no latim anima. Esse conceito teria
sido criado por religiosos cristãos que consideram que a alma seria formada no
momento do nascimento do corpo e, estando presa a matéria, estaria limitada. Assim,
caberia à alma o nome de Ego, nossos gostos, o que chamamos de nós mesmos e dos
que nos cercam, nossos conceitos sociais, políticos, etc. Mas essa alma não “nasceria”
com o corpo físico, mas ganharia a “vida eterna” após a morte do corpo.
Já numa visão dos espiritualistas, nossas almas seriam vistas como nosso ego,
que também teria sorte igual à do corpo físico que morre e se decompõe. Daí a teoria
dos reencarnacionistas por uma falta de lembrança espontânea (na maioria dos casos) de
nossas vidas passadas.
Espírito
Segundo as mesmas fontes mencionadas acima, espírito faz ressaltar o aspecto
espiritual do homem contido no(s) próprio(s) Deus(es). Seria a fagulha divina que nos
anima. A parte mais etérea do ser. A palavra Espírito tem sua origem etimológica do
latim spiritu, que, pasmem, tem exatamente o mesmo sentido do hebraico “ruach” e do
grego “pneuma”. Esta palavra pode ser usada para falar do aspecto espiritual do
homem. O espírito seria a parte que nos liga a uma energia divina, que possui a essência
de(os) Deus(es), e que nos faz ver o quanto de(os) Deus(es) temos dentro de nós e de
Deus(es) é(são) imortal(is) nós também somos, devido ao nosso espírito que nos liga a
Ele(s). Relembra-nos a expressão “vida eterna” tem sentido, pois o espírito nunca
morre, e sim transcende a morte física, permanecendo vivo, pois se junta à sua essência,
transcendendo ao que chamamos de morte. Assim, tornamo-nos seres imortais.
Enquanto as palavras “alma” e “espírito” são erroneamente por vezes
intercambiáveis, o correto seria que sempre se fizesse a distinção. “Alma”
sendo associada mais comumente à vida física, enquanto “espírito”
relacionado mais com o aspecto etéreo e eterno do homem. A vida física é
tirada do homem quando o espírito é separado de seu corpo e sua alma se
deteriora. Mas esse mesmo espírito será sempre eterno. Daí a busca por
espiritualização e não por uma “almalização” sem sentido, visto que o
trabalho seria perdido, junto com a morte do corpo físico.
Depois de esclarecermos o que seria alma e espírito, somos capazes de
compreender o motivo da grande busca da religião Wicca:
Espiritualização
Mas como alcançá-la? Gardner certa vez disse:
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“Ninguém chega ao Deus, se não pela Deusa”.
Infelizmente, muito poucos conseguem interpretar toda uma obra por apenas
uma frase. Talvez dessa frase tenham saído as grandes deturpações sexistas da Wicca
atual. As tradições fundamentadas em feminismo, que buscam um resgate do feminino
social e não do real DIVINO FEMININO. Na verdade, Gardner tentava nos alertar que:
em vista dos milênios de deturpação dos conceitos divinos também por religiões
sexistas, só que paternalistas, tanto a figura do Divino Feminino como a do Masculino
(deidades, e não humanos) foram incrivelmente deturpadas. Se o Divino Masculino é
posto numa maioria das religiões num patamar de superioridade, assim como num
processo natural de desequilíbrio, o Divino Feminino será relegado à uma posição
extremamente inferior, ou mesmo inexistente. Assim, só poderemos conhecer a
realidade das divindades uma vez que busquemos pelo equilíbrio dos Divinos. E o que
será mais correto?
— Resgatar o Divino Feminino, fortalecê-lo, devolver-lhe seu lugar de
equilíbrio no processo, e só assim chegar ao real Divino Masculino?
— Ou tentar romper com esses milênios de patriarcado, entrando em franca e
severa luta contra conceitos que se encontram fortalecidos pelo culto de
milhares, para posteriormente tentar devolver o lugar de direito do Divino
Feminino?
Eu prefiro continuar confiando nas teorias de Gardner e seu conhecimento. Em
outra passagem do seu BOS, “Old Lews”, podemos ler claramente, em língua
originalmente escrita:
(Nota do Editor: este trecho do livro possui um parágrafo equivalente de nove
linhas escrito em inglês. Julgamos não ser preciso a digitalização desse parágrafo ao
estudante).
— Tradução para o nosso idioma:
“(...)E a Alta Sacerdotisa dirigirá o seu Coven como uma representação da
Deusa, e o Alto Sacerdote que representará o Deus será escolhido pela Alta Sacerdotisa
por sua livre vontade, desde que tenha alcançado uma hierárquica (N.doT.:
conhecimento iniciático) para isso. Pois o próprio Deus beijou Seus pés em fervorosa
saudação e depositou seu poder aos pés da Deusa, graças a sua juventude e beleza,
doçura e gentileza, sabedoria e Justiça, humildade e generosidade. Assim, ele renunciou
a seus domínios em seu favor. Mas a Sacerdotisa deve ter em mente que todo poder
deriva dele e é apenas legado quando usado sábia e justamente (...)”.
Fica-nos clara a mensagem de Gardner. A necessidade inicial desse resgate do
Divino Feminino para compreensão do Divino Masculino, tão ou mais deturpado ao
longo dos séculos. Só por meio do resgate conseguimos finalmente chegar ao
entendimento do que é Espiritualização para os seguidores de Wicca.
Tentativas de deturpações do que seria a Wicca (uma doutrina equilibrada) com
a criação de verdadeiras IGREJAS UNIVERSAIS DO REINO DA DEUSA, ou mesmo
cultos estritamente feministas, seriam, em minha opinião, a inversão pura e simples do
desequilíbrio encontrado nas religiões patriarcais ou machistas.
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Para uma maior compreensão desses que velam por nossos caminhos, segundo a
filosofia de Gardner, seguimos com as duas deidades principais do nosso culto: a Deusa
e o Deus tríplice.
A Deusa Tríplice
Para os Wiccanianos existe um Princípio inefável e está além de todas as
definições. Esse princípio seria formado de toda a ENERGIA criadora e latente, com
suas parcelas de masculino e feminino, de luz e escuridão.
Da divisão desse princípio inefável surge a grande energia que dá origem ao
Universo e a todas as formas de vida. O DIVINO PRINCÍPIO FEMININO OU
GRANDE MÃE e, posteriormente, da mãe surge o DIVINO MASCULINO.
A Grande Mãe representa a Energia Criadora, o Útero de Toda a Criação. É
associada aos mistérios da Lua, da Intuição, da Noite, da Escuridão e da Passividade. É
o inconsciente, a parte obscura da mente que deve ser desvendada.
A Lua nos mostra sempre uma face nova a cada uma de suas fases, mas nunca
morre (ao contrário do Sol), assim, seria a Senhora dos Vivos e de tudo que possa ser
representado nos mistérios da Vida Eterna. Em Wicca, a Deusa se mostra com três fases
principais: a Virgem ou Donzela, a Mãe e a Velha Sábia, sendo que essa última fase é
mais relacionada ao estereótipo da bruxa no imaginário popular.
A Deusa é a mãe universal. Nossa Deusa é fonte de fertilidade e de infinita
sabedoria.
A palavra Deusa denota um ser Divino Feminino. Ao longo de milhares de anos,
nossos antepassados adoraram uma Divina Mãe, a Deusa poderosa. Ela foi honrada
como a Mãe de toda a vida. Arqueólogos modernos descobriram muitas estátuas e
artefatos que demonstram essa adoração a antigas deidades femininas.
Para os Wiccanianos, a Deusa é a morte, mas também é a vida; Ela é o mistério.
Ela é a Anciã que passa pelos portais da morte, Ela nos doa paz e liberdade e nos reúne
com todos que já se foram. Tudo procede da Deusa e a Ela tudo retorna. Ela cria vida
através do amor. Esse é o maior dos mistérios da Deusa – amor divino e incondicional.
Ela também nos ensina a amar incondicionalmente e a termos compaixão por nossos
irmãos e irmãs. Somos todos as Crianças da Deusa, Ela é a batida única do coração
entre os seres. Sua essência completa é o amor. Mas a Deusa é o Deus, e o Deus é a
Deusa. Um não existe sem o outro, um completa o outro.
Já dizia Hermes, o três vezes mago, em sua tábula esmeraldina:
“Tudo há de ter sua parcela feminina e sua parcela masculina”.
Historicamente, existem milhares de Deusas e Deuses diferentes nas mais
variadas culturas; cada região tinha a própria versão dessas divindades. As Deusas mãe
são universais. Vemos a deidade feminina em Wicca como uma deidade tripla,
comumente chamada como criação que permanece nutrindo, e a Anciã, que representa
sabedoria, a transição da magia e responsabilidade. Todos os aspectos da Tríplice Deusa
representam tipos diferentes de cura e crescimento. Ela já foi descrita como a Deusa
Gaea (Gaia), cujo corpo é a própria Terra.
Talvez sua maior representação arquetípica seja encontrada nas diferentes fases
da lua. Fazendo uma alusão aos aspectos femininos da deidade, presente nas mulheres
das sociedades tribais. Seja com qual representação se apresente, para os Wiccanianos, a
Deusa é a fiandeira da rede da vida, a eterna mãe que carrega o peso de sua cria, a anciã
que caminha pelas encruzilhadas acompanhada de cães fantasmas, mas antes de tudo,
ela é eterna.
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Luas da Deusa
Respeitando a sabedoria de nossos ancestrais, lembramos que sua observação
aos ciclos lunares remonta à crença de que esses ciclos exercem considerável força
sobre o ser humano e toda a natureza. Os sacerdotes, médicos, xamãs e pajés que foram
nossos ancestrais agiram e curavam conscientes de que não somos máquinas, afinal,
somos muito mais do que um conjunto de ossos, nervos, músculo e carne, unidos pelo
acaso. Corpo e mente se acham ligados entre si e com o todo (outras pessoas, natureza,
até mesmo as estrelas). Hipócrates, considerado o pai da medicina, nascido na ilha de
Cós, 460 anos a.C. dizia que:
“Quem pratica a medicina sem levar em conta o movimento das estrelas é
um palhaço”.
Cada curador e agricultor sabe os perigos de ignorar as influências rítmicas da
natureza. Suas conseqüências serão gravíssimas. Assim, descobrimos que numerosos
fenômenos naturais (maré alta e baixa, nascimento, mudanças climáticas, o ciclo
feminino e muito mais) têm fundamental ligação com as fases lunares.
Encontraremos em Wicca cinco fases lunares de trabalho mágicko: crescente,
cheia, minguante, nova e a chamada Lua Negra.
Lua Crescente
Novamente a Lua começa a germinar e luta para se manifestar em toda
plenitude. Tudo sob influência compete entre si. Os projetos iniciados na Lua Nova
começam a ser energizados pela luz solar e se solidificam. Não é um bom momento
para principiar nada, ao contrário do que muitos acham, graças à nomenclatura de
crescente. Existe extrema competição pela energia luminosa que renasce. É o momento
propício para estruturar e tornar prático o que antes era apenas um sonho. Não é hora de
desistir, hesitar, duvidar. É preciso determinação e objetividade para realizar seus
planos, pois a força da resistência é tão grande e a competição, maior ainda. A energia
vital luta para tomar forma na matéria.
— Tudo brota e cresce, disputando o espaço.
O consciente e o racional começam a ganhar luz. O momento é de concentrar
forças, evitar dissipação e dispersão.
A lua crescente é o momento favorável para:
— Cortar o cabelo, quando se quer acelerar o seu crescimento, embora cresça
mais fino;
— Apresentar projetos publicamente;
— Engordar;
— Exercitar-se fisicamente, pois há aumento do vigor;
— Assinar papéis importantes;
— Viajar, comunicar-se, escrever;
— Começar trabalhos, mas com muita determinação;
— Fazer acordo e parcerias comerciais.
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Face Donzela: Esse é o aspecto virginal da Deusa. A cada dia dessa fase, a
Deusa cresce e fica mais forte até atingir o plenilúnio, em que ela se converte para o
aspecto de mãe, explicado mais adiante. Ela é cheia de energia, pura e independente. É
tempo de descobrir o sangramento da vida. Ela está descobrindo o mundo, testando seus
limites. A Donzela se maravilha com a Existência que Ela acaba de descobrir. Nessa
fase, a Deusa muitas vezes é identificada como uma Caçadora. Duas Deusas que
representam bem esses aspectos são a Blodewedd celta e a Perséfone greco-romana.
Lua Cheia
A Lua Cheia é o ápice da irradiação de poder lunar à Terra. Ela se manifesta das
formas mais estranhas: “lunáticos” começam a andar durante o sono, feridas sangram
mais do que o normal, ervas colhidas têm mais força e a quantidade de acidentes e
crimes aumenta.
Não se pode expandir e brilhar mais do que agora, a luz não vai crescer além
desse ponto. Sucesso e fracasso serão revelados, em toda sua intensidade. Se os
obstáculos surgidos na lua crescente foram enfrentados e se todas as etapas próprias do
processo de crescimento foram cumpridas satisfatoriamente, essa fase será de
realização, sucesso e triunfo merecidos. Caso contrário, a sensação desse momento será
de frustração, conflito e muita ansiedade.
A proximidade e a gravidade da Lua Cheia influenciam líquidos que circulam
por todo o planeta, assim como em nosso corpo, elevando-os e interferindo nos níveis
de pressão sangüínea. O humor e o estado de espírito também se encontram alterados.
As reações emocionais se tornam muito mais intensas e podem desequilibrar facilmente.
Em compensação, a sensibilidade e o romantismo estarão no máximo de suas
possibilidades. É o momento de encontrar um grande amor e equilíbrio para o futuro,
afinal, Sol e Lua estão do mesmo lado visual no céu.
A Lua Cheia é o momento favorável para:
— Conseguir impressionar seus semelhantes;
— Exercitar o magnetismo pessoal;
— Sair e se divertir;
— Acelerar o amadurecimento de plantas e legumes;
— Colher ervas curativas;
— Buscar prosperidade.
Face Mãe: A Mãe é associada à Lua Cheia, representando as colheitas, a
fertilidade das mulheres e dos animais. Devemos evocar esse aspecto da Deusa quando
relativo à maternidade, proteção, casamento; adquirir paz interior; desenvolvimento
espiritual, intuição e dons psíquicos.
LuaMinguante
Essa é a fase conhecida por muitos como a “disseminadora”. Nesse período é
aconselhável dispersar a energia acumulada, relaxando. É a época certa para dividir com
outras pessoas o sucesso que foi alcançado durante a Lua Cheia (frutos aqui
compartilhados se multiplicarão).
O que não aconteceu até agora não terá mais força para acontecer. Não se deve
gastar energias com preocupações, portanto não procure solucionar situações não
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resolvidas. É o tempo para uma avaliação do que foi realizado, de síntese, é o descanso
merecido.
Os últimos dias da Lua Minguante ganharam um lindo nome dos astrólogos: lua
balsâmica. É uma época de cura, restauração, rejuvenescimento. Não é hora de iniciar
coisa alguma, mas de descansar e aproveitar o momento para relaxar.
É também a fase ideal para banirmos tudo o que não mais nos interessa de
nossas vidas.
A Lua Minguante é o momento favorável para:
— Emagrecer e fazer dietas;
— Feitiços de banimento;
— Desintoxicar-se com ervas;
— Fazer reformas;
— Cirurgias de pequeno porte;
— Arrumar a casa;
— Consertar roupas;
— Cortar despesas;
— Terminar relacionamentos;
— Preparar conservas de frutas e legumes.
Face Anciã: Esse é o tempo da Mulher Sábia, aquela que não mais sangra, mas
guarda o poder do sangue para si. É a Deusa em sua face Anciã, esbanjando sabedoria,
paciência e os poderes da condutora e da mestra na magia. O único conhecimento que
lhe falta é o da morte, mas esse, ela alcança por meio do Deus.
Lua Nova
A Lua se esconde por detrás do Sol e somente ele brilha em total esplendor. A
noite escura aguarda em silencio, como um útero, a semente que fará germinar a força
da vida, assim como nossa Deusa a partir de Ostara. É a época certa para plantar,
apostar no futuro, iniciar projetos e relacionamentos. A fertilidade está no seu nível
máximo. Tudo pode acontecer, nada tem forma definida, qualquer direção pode nos
atrair agora.
O instinto está muito aguçado e aflora com toda intensidade. O Espírito acha-se
mergulhado no inconsciente, nutrindo-se dos nossos desejos mais primordiais. Estamos
em contato com a parte mais profunda do nosso ser. Seguimos a verdade de nossas
vozes internas, difíceis de serem ouvidas quando o nosso lado racional domina. A
ousadia nos fascina, transpiramos o vigor dos novos começos.
A Lua Nova é o momento favorável para:
— Iniciar um novo emprego;
— Preparar projeto;
— Conhecer alguém especial;
— Conceber uma criança, a fertilidade está em alta;
— Fazer reformas ou começar uma obra;
— Artes em geral;
— Engordar;
— Fazer cirurgias;
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— Contratar empregados domésticos, ou não;
— Começar novos estudos.
Esta fase é associada tanto à face Donzela como à Anciã de nossa Deusa.
Lua Negra
A Lua Negra é reconhecida nas três noites de escuridão lunar, quando ela é
invisível do céu, dada a sua proximidade com o sol. Período mais propício para banir
e/ou neutralizar sortilégios, tanto como para realizá-los. Também é a época propicia
para o trabalho de introspecção e autodescobrimento de nosso lado SOMBRA.
O autodescobrimento se dará a partir do trabalho com as Deusas Negras,
senhoras das luas escuras que têm muitos atributos, entre eles:
São Deusas ma morte e ressurreição, portadoras da foice que ceifa nossas vidas.
Também as Deusas da magia, uma vez que os portais da magia somente serão abertos
quando passamos a conhecê-las.
Ao trabalharmos com as Deusas Negras estamos tratando exatamente do
conceito se SOMBRA, ou seja, tudo o que nossa personalidade consciente rejeita para
formar o SELF que se apresenta aos demais e a nós mesmos. O redescobrimento da
Sombra pode ser bem utilizado ao compreendermos que a mesma é permeada de
atributos contrários, os quais não carregamos em nossa Faceta Luz. Com esse
conhecimento podemos por vezes adequar comportamentos. Se em sua faceta luminosa,
diária, você é tímido, em sua sombra será atirado. Se for covarde, sua coragem reside na
sombra. Mas ela também faz parte do seu todo, assim sendo, poderá ser aproveitada no
cotidiano.
Como redescobrir essas qualidades? Nada simples, o início correto é o trabalho
com as Deusas Negras, procurando alinhar-se com essas energias, sem culpa, sem tabus.
Encarar a sombra “de frente” é sempre o melhor caminho para o nosso encontro. Os que
insistem em considerar a Wicca, ou qualquer trabalho mágicko como algo apenas
“positivista”, sem “maldade”, acabam por se distanciar a cada dia desse
autodescobrimento.
Quando a lua estiver negra (os três primeiros dias de lua nova) realiza-se o
ESBBATH DE LUA NEGRA. Esse é um Ritual que celebramos a Face Escura da
Deusa. Nesse aspecto, a Deusa pode ser caótica, zangada, petulante e até libertinamente
sexual, a Tentadora.
Esse é o momento que se pode realizar um trabalho muito forte de proteção e
defesa. É também uma ocasião para olharmos dentro de nós mesmos, entrando em
contato com os elementos mais escuros e básicos da psique, hora de reconhecermos e
lidarmos com agressões, ira ou medo. A
Senhora Escura: Está em todas as coisas, “onde há Luz, há Trevas”...
A verdade é que não é possível compreender a Wicca sem conhecer a Deusa
como a Anciã da morte e como a iniciadora, a deusa negra.
Conhecendo as Deusas Negras
Por vezes somos levados a responder à pergunta:
“Existiria sentido na Luz se não houvesse trevas anteriores?”
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É certo dizer que só se dá o devido valor a Luz a partir do conhecimento iniciático
às Trevas. E que trevas seriam essas?
Consideramos que o nosso dia-a-dia é permeado de conceitos fundamentados
exatamente na forma de conduta social a qual estamos inseridos. Devemos seguir as leis
de comportamento, de conduta legal e mesmo sociais. Graças também a leis
fundamentadas em conceitos religiosos (cristãos em sua maioria), faz-se crer que o ideal
comportamento seria o do BOM e retilíneo “vizinho”. Aquele que não deseja o MAL
(maniqueísmo) a seu próximo, apenas com isso gerando o total desconhecimento de
suas capacidades e potencialidades.
Aqui não aconselho que tenhamos atitudes contraproducentes a conceitos
sociais. Mas o simples e puro RECONHECIMENTO de nosso lado sombra.
Quanto são os que tomam atitudes “impensadas” e acabam por arrepender ou
mesmo por desconhecer os motivos ou a motivação que os levou a tomar essas atitudes.
Devemos compreender que só seremos completos com o recebimento dessa parcela que,
pelos conceitos sociais comentados anteriormente, acaba por se tornar espúria mesmo
em nossos pensamentos. Tabus sexuais, autoflagelo psíquico e traumas, muitas das
vezes são gerados única e exclusivamente por essa tentativa de “camuflar” também
nossa parte obscura.
Assim como acontece com a Lua, nosso ícone no resgate tão necessário do
Divino Feminino (uma parte também colocada num canto) para que nosso ser se torne
completo, necessitamos da compreensão dessa faceta chamada de SOMBRA.
O Deus Tríplice
Conectar-se diretamente com o Deus é de suma importância no resgate de
qualidades humanas esquecidas no tempo.
A exemplo da importância do número 3, o Deus também apresenta seu tríplice
aspecto, cada qual com sua importância em relação à formação do homem social.
Passemos a Eles:
O Cornífero
Frequentemente chamado de o Doador da Vida, Mestre da Morte e Ressurreição,
Deus das Sementes, Deus da Fertilidade.
Pode ser reconhecido como Cernunnos, Pã, Adônis e Osíris. Ele também é o
Inefável. Retratado incontáveis vezes em paredes de cavernas que datam do Paleolítico,
bem como em expressões artísticas e religiosas das mais diversas civilizações, o
Cornífero sempre foi o símbolo maior do Divino Masculino.
Os Chifres sempre foram o sinal pagão de algo Divino. Na Babilônia, por
exemplo, o grau de importância dos Deuses era entendido ao número de chifres a Ele
atribuídos. Alexandre, o Grande, declarou-se Deus ao tomar o trono do Egito tendo
encomendado uma pintura sua ornada de chifres. O Alcorão faz menção ao a Alexandre
como “Inskander Dh’l Karnain”, que significa “Alexandre dos Dois Chifres”. Uma
alusão ao seu nome é preservada até hoje em tradição Alexandrina, na qual, Deus é
chamado de Karnayana.
A interação com a Fauna mostra-se uma vez que o Deus Cornífero não é só o
aspecto do Caçador, mas também é visto como sendo a própria caça. Nesse aspecto ele
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deve ser reconhecido como o animal do sacrifício, sacrificado para que possamos
sobreviver durante os períodos de Samhain. Nessa faceta, o Deus também apresenta um
lado mais obscuro. Um outro nome dado ao Deus Cornífero é “O Caçador”. O Grande
Deus não só é um símbolo doador da vida, mas na sua retirada também, onde podemos
perceber o eterno ciclo de nascimento, morte e renascimento. Ele às vezes é
representado carregando um arco de caça.
Durante a expansão do cristianismo, cristãos adotaram a imagem do Deus
Cornífero para a representação do seu diabo, cuja descrição física incluía os pés de
animal e os chifres. Com essa atitude, a Igreja Cristã tentava demonstrar ao pagão que
sua fé no paganismo era ruim, má. Porem, o diabo é a representação do Mal Absoluto,
enquanto o Deus Cornífero não é visto dessa forma. O Cornífero é uma força da
natureza, não completamente beneficente ou maleficente. No seu papel de Pai, Ele dá a
vida. Já em sua morfologia de Caçador, Ele a toma, em forma de sacrifício necessário
para a continuidade da raça.
Os primeiros clãs humanos sobreviveram graças, em grande parte aos caçadores
e guerreiros. Caçava-se o gamo, que fornecia o alimento, agasalho e instrumentos
confeccionados com chifres e cascos. O alce de tornou um símbolo de previsões, e na
sua natureza de líder e protetor da amada, os caçadores primitivos identificaram algo
próprio do clã. A rivalidade entre os machos pelas fêmeas, era, em muitos aspectos,
simbólica das paixões com que os próprios homens lutavam. Resgatar a face cornífera
do Deus é um resgate dos Mistérios Masculinos.
Já escrevia o grande mitólogo Joseph Campbell em seu trabalho “Primitive
Mythology”:
“Para os primitivos povos caçadores, os animais selvagens eram
manifestações do desconhecido. A fonte de perigo e sobrevivência foi
associada psicologicamente à tarefa de compartilhar o mundo silvestre com
esses seres. Ocorreu uma identificação inconsciente, que se manifestou nos
místicos totens meio humanos, meio animais das antigas tribos. Os animais
tornaram-se tutores da humanidade. Por meio de imitações, as naturezas
separadas de humanos e animais foram derrubadas e criou-se a União. O
mesmo é verdade acerca das posteriores comunidades agrícolas, que viram
os ciclos de vida e morte dos humanos refletidos nos ciclos das colheitas”.
O Green Man
Quando adentramos nas sombras da floresta mística, encontramos um rosto que
olha fixamente para nós: o Green Man, mascarado com folhagens e galhos que formam
seu rosto e saem de sua boca. O Green Man é um símbolo pré-cristão encontrado
gravado na madeira e na pedra de templos e sepulturas pagãs, de igrejas e de catedrais
medievais, e usado como ícone arquitetural da era Vitoriana, em uma área que se
estende da Irlanda até o Leste da Rússia. Embora encontrado geralmente como um
antigo símbolo celta, na verdade, suas origens e o significado original são encobertos no
mistério. O nome data de 1939, quando a senhora Raglan (folclorista) encontra uma
conexão entre as caras folhadas das igrejas inglesas e os contos do homem verde (ou
“Jack, o verde”) do folclore irlandês.
Ele é o Mestre da Colheita e de toda a Natureza cultivada. Está relacionado aos
grãos e ao desenvolvimento da agricultura. É o dominador da vida e do crescimento das
plantas. Ele é nossa parcela do sátiro que nos traz alegria, a felicidade. Esta associado
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aos excessos e ao êxtase provocado pelo vinho, tão sagrado pelas culturas primitivas.
Nessa face, Ele assume vários papeis, principalmente o de Filho, e Amante da Deusa.
Diversas deidades ao longo da história humana representaram bem as
características do Green Man. Abaixo, demonstramos algumas delas:
Dionísio
Deus do vinho e da vegetação, que mostrou aos mortais como cultivar as
videiras e fazer vinho. Foi identificado como o romano Baco.
Filho de Zeus, Dionísio normalmente é caracterizado como um deus da
vegetação especificamente das arvores frutíferas, - frequentemente, representado em
vasos bebendo em um chifre com ramos de videira.
Ele eventualmente tornou-se o popular deus do vinho e da alegria, e milagres do
vinho eram reputadamente representados em certos festivais de teatro em sua
homenagem. Dionísio também é caracterizado como uma divindade cujos mistérios
inspiram a adoração ao êxtase e o culto às orgias. Estas celebrações frenéticas, que
provavelmente se originaram com festivais primaveris, ocasionalmente, traziam
libertinagem e intoxicações. Essa foi uma forma de adoração pela qual Dionísio tornouse
popular no séc. 11 a.C., na Itália, onde os mistérios dionisíacos eram chamados de
Bacanália e, posteriormente, bacanais (os quais hoje, são sinônimo de orgias). As
indulgências das Bacanálias se tornaram extremas e as celebrações foram proibidas pelo
Senado romano em 186 a.C. Entretanto, no séc. I d.C., os mistérios dionisíacos eram
ainda populares.
Sileno
O sátiro Sileno era um seguidor fiel de Dionísio. Gordo, feio e beberrão, Sileno
era extremamente sábio e passou grande parte de sua sabedoria ao deus. Nos festejos,
costumava estar bêbado demais e recebia ajuda de alguns sátiros, ou seguia no lombo de
um asno. Seus homônimos, os silenos, eram seres com aspectos de sátiros.
O Ancião
O Ancião é a ultima das faces do Deus e personifica a fonte máxima do
conhecimento. É o senhor da Magia e da Morte. É ele que conduz os espíritos dos
homens a Summerland. Está relacionado ao princípios dos tempos quando tudo era
“escuridão”. Conhece todos os segredos do Universo. Está relacionado ao renascimento
e à ligação com os outros mundos. É a face ancião que reverenciamos em Samhain.
Nessa época, com sua sabedoria infinita reconhecemos a importância da Morte como
decorrência da vida. Segura em suas mãos o cajado, o elo de ligação entre a terra e o
céu. Entre o sólido e o etéreo. Mede seus passos com o cuidade do conhecedor dos
caminhos e de como podem ser traiçoeiros.
Devido ao aspecto idoso, é a personificação que representa o conhecimento de
todos os mistérios que só a experiência pode proporcionais. É o Deus da Sabedoria, do
bem e do mal não-absolutos. É a ele quem devemos recorrer e reverenciar nos
momentos de dificuldade e anulação de qualquer tipo de malefício. Ele é o Deus da paz
e do caos. Da harmonia e da desarmonia. O Ancião já passou pela jovialidade e energia
do Cornífero, e pela maturidade, entusiasmo e força animal do Green Man. Acumulou
toda a experiência que só o tempo pode proporcionar e distribuir a sabedoria por todo o
mundo.
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Alguns Deuses podem ser associados ao Ancião:
DAGDA: O “Deus Eficaz” é o nome pelo qual era chamado o deus-chefe
Eochaid Ollathair. Dagda era uma deidade: dos magos é o primeiro e o mais
poderoso, grande guerreiro, habilidoso artífice, e o mais esperto de todos que
possuem a vida e a morte.
TEUTATES: O Deus da intuição e do conhecimento celta.
Conhecer e, principalmente, alinhar-se à energia da Deusa e do Deus,
representados em seus aspectos tríplices, é um desenvolvimento fundamental a qualquer
um que queira sentir e principalmente compreender a Wicca.
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Capítulo VI – Elementos, Altar e Espaços Mágickos
Dedicamos este capítulo a esclarecer alguns assuntos diretamente ligados à
magia Wiccaniana, corrigindo assim, alguns conceitos erroneamente abordados em
diversos textos.
A Wicca é uma religião que prega a liberdade. Nem por isso devemos confundir
liberdade com falta de regras. Alguns insistem em confirmar que não possuem dogmas.
Mas o que seriam dogmas?
DOGMA – do lat. Dogma, s. m., ponto fundamental e indiscutível de uma
crença religiosa.
Querer aceitar que a Wicca não possui pontos fundamentais e indiscutíveis será
a negação dos conhecimentos básicos da religiosidade e da própria magia.
— Não existe Wicca sem crença em Deidades;
— Não existe Wicca sem crença na reencarnação;
— Não existe Wicca sem aceitação da Lei Tríplice;
— Não existe Wicca sem aceitação da Rede Wicca;
— Não existe Wicca sem a crença nos elementos.
A Wicca possui sim, dogmas e conceitos dogmáticos, sem os quais não haveria
fundamentação da crença Wiccaniana, mas acho que já consegui demonstrar meu ponto
de vista.Esclarecemos alguns pontos principais para o culto de Wicca.
Os Cinco Elementos
Os cinco elementos são Terra, Ar, Fogo, Água e Espírito. De acordo com o
filósofo grego Empédocles, que viveu no séc. V a.C., todas as coisas animadas e
inanimadas são permeadas por esses elementos ou por sua combinação. Isso era aceito
quase como um fato cientifico nos tempos antigos. A teoria de Empédocles continua a
fazer sentido aos Wiccanianos que sentem e trabalham com o auxilio desses elementos.
Os cinco elementos governam os quadrantes e o centro do círculo mágicko, e são
evocados para a criação desse espaço mágicko a cada ritual.
A ar não pode ser visto. O fogo pode ser visto, mas não tocado. A água pode ser
tocada, mas não contida pelas mãos humanas. A Terra pode ser contida por essas mãos.
O espírito é a parte mais etérea dos seres, a própria energia dos Deuses. Todo-poderoso
quando consciente. Cada elementos possui características próprias (vide tabela na parte
de magia), assim como seu Senhor. Esses senhores são conhecidos por alguns como “os
guardiões das torres de observação”. Pontos de controle nos portais abertos a esses
mundos elementais. Seriam esses senhores (algumas vezes representados como
membros do Coven) que controlariam a saída e entrada da energia elemental de cada
quadrante dos espaços mágickos. Para a Terra, teríamos Bóreas; para o Ar, Eurius;
para o Fogo Notus e para a Água, Zephyrus. Já o espírito seria a fagulha divina,
manifestada com a presença do praticante em contato com suas divindades e que
algumas tradições chamam de Dryghten, palavra anglo-saxã que significa algo como
poderoso/senhor.
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São os elementos que possibilitam a geração do “poder” manifestado nos
círculos. Como tudo é formado por esses elementos (tanto física como etéricamente),
obtendo-se um alinhamento e integração a esses elementos, o bruxo consegue
manifestar seus desejos. Um bruxo sabe que não deve tentar controlar os elementos, e
sim alinhar-se a eles. Afinal, como controlar algo de que somos criados?
Existem ainda os elementos conhecidos como “familiares”. São, na verdade,
elementais criados a partir do elemento natural, dotados de vida e “acoplados’ a animais
que se tornam mágickos. Eu mesmo possuo dois desses animais. Toth, meu gato persa
negro, e Sushi, meu cão akita. Ambos possuidores de uma inteligência quase humana.
Daí o motivo das bruxas sempre serem vistas na companhia de gatos, pássaros negros e
outros animais. É claro que muitas apenas gostam desses animais; eu, de minha parte,
amo meus companheiros, mas também aproveito de sua existência para auxílio dos
trabalhos de magia.
Altar e Instrumentos
Um altar é, antes d tudo, o ponto de conexão ou adoração a seu egrégora. Não
que esse egrégora não possa ser acessado sem a existência do altar, mas fundamentalmente
o trabalho será extremamente simplificado com ele.
Esse altar deverá ser o ponto onde residirão seus instrumentos mágickos. Como
qualquer altar, para que mantenha essa conexão ativa com esse egrégora, dependerá de
dois fatores:
— Culto
— Oferenda
Por meio do culto, considerando esse espaço um espaço REAL de conexão com
as deidades, estaremos doando a importante matéria da energia psíquica. Nossos deuses
compreendem a linguagem da emoção, e como tal, o altar deverá ser o ponto de envio e
recepção dessas mensagens emocionais.
Já as oferendas doam a matéria etérea (ectoplasma) tão necessárias as
manifestações físicas que desejamos com a magia. Em absolutamente uma maioria de
religiões, as oferendas são a forma de permuta e agradecimento pelas “graças”
recebidas. Conheça bem seu panteão de culto e seus gostos. Gardner dizia:
“Pois em magia nada se consegue sem que algo seja dado em troca!”.
Oferendas são sempre essa moeda de troca.
O principais instrumentos do altar serão:
— Athame: Adaga ritual de lâmina dupla (representando a dualidade presente
em todas as coisas) utilizada como direcionador das energias necessárias
para a criação do círculo mágicko, desenhos de símbolos de energia e o corte
de qualquer tipo de matéria etérea. Jamais física. Ao contrario do que
pensam alguns, jamais é utilizada para o corte de algo físico, muito menos
para sacrifícios. Tradicionalmente ligado ao elemento Ar.
— Bolline: Foice ou adaga ritual parecida com o athame, mas com uma
diferenciação qualquer (normalmente de cabo branco), que será utilizada
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para o corte de substâncias físicas. Entalhes de velas, corte de ervas, etc.
Ligado ao elemento Ar.
— Caldeirão: Símbolo do útero da Deusa. Feito em metal negro (afinal, metal
conduz energia e o negro simboliza a Deusa, que já existia antes de todas as
coisas). Nele, assim como no útero feminino, são promovidas as grandes
metamorfoses (poções, queimas, etc.). Possui tradicionalmente três pequenos
pés, cada um representando uma face da Deusa tríplice (Donzela, Mãe e
Anciã). Ligado ao elemento Água.
— Pentagrama: Peça geralmente de metal (conduz energia). Ponto central do
altar. Vide mais explicações na parte sobre os pentáculos desta obra.
Normalmente ligado ao elemento Terra.
— Cálice: Peça normalmente de metal (latão, estanho, ouro ou prata). Também
representa o útero da Deusa, poder divino do Feminino. Também propicia a
alquimia de seu conteúdo nas práticas do “grande Rito” simbólico (vide
Grande Rito no final deste capítulo). Ligado ao elemento Água.
— Turíbulo: utilizado para a queimas de ervas e incenso. Representa o
elemento Ar.
— Varinha Mágicka: Feita de metal ou madeira, tem as mesmas finalidades do
athame, sendo que tem sua representatividade ligada ao elemento Fogo.
Pode ser normalmente substituída por uma vela de sete dias colocada ao sul
do altar.
— Vassoura: Instrumento que agrega ambos os gêneros, representados no cabo
(falo) e nas palhas (vagina). Usada para limpeza das áreas onde se
procederão os rituais. Nos tempos antigos existiam cerimônias de fertilidade
em que o bruxo acreditava que, estando com as vassouras entre as pernas
(local onde se encontram os órgãos da criação), com palhas voltadas para
frente, correndo entre os campos semeados e pulando, quanto mais alto fosse
o seu pulo e as palhas alcançassem, mais altas seriam suas plantações e, por
esse motivo, mais farta na sua colheita. Daí a crença de que bruxos voavam
em vassouras.
Alguns outros itens podem compor o seu altar, como velas, representações para
a Deusa (conchas, uma pintura, etc.) e para o Deus (chifres, falos de pedra, obeliscos,
etc.), assim como para os elementos (penas, plantas, etc.). Use sua criatividade, afinal o
altar será o seu ponto de conexão com as deidades.
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Montagem do Altar
N
1 2 3
4 5 6
O L
7 8 9
10
S
· 1 – Vela Negra (representação da Deusa)
· 2 – Vela Vermelha (símbolo da Arte e do Fogo, homenagem aos que morreram
em nome da Arte)
· 3 – Vela Branca (símbolo do Deus)
· 4 – Pote com Sal (representação da Terra)
· 5 – Pentagrama (símbolo do macro e microcosmos bem como dos cinco
elementos)
· 6 – Incenso (representação do Ar)
· 7 – Cálice (água)
· 8 – Caldeirão (o útero)
· 9 – Athame (Ar)
· 10 – Varinha (fogo) ou Vela de sete dias
Consagrando os Instrumentos Mágickos
Toda matéria é facilmente impregnada por energias. Um simples toque,
carregado de carga emocional e psíquica, é o bastante para a impregnação de um objeto.
Assim, não aconselhamos que coloque diretamente um objeto comprado em seu altar.
Você poderá estar colocando energias não muito saudáveis em contato direto com seu
egrégora ou em seu ponto de conexão e culto com a mesma. O mesmo em seus
trabalhos de magia. Todo e qualquer objeto que fará parte de seu culto e prática deverá
se consagrado e purificado, possibilitando assim que as energias anteriormente
impregnadas sejam purificadas e substituídas por sua energia pessoal.
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Ritual de Consagração
Se tiver consagrado todos os instrumentos mágickos pela primeira vez, arrume
seu altar conforme indicado anteriormente.
Um erro freqüentemente cometido seria o de afirmar ser necessária a criação de
um espaço mágicko (círculo) para a consagração de instrumentos. Veremos adiante que
a principal função de um círculo é a de tornar determinado espaço extrafísico
compatível para a recepção das energias dos Deuses. Num ato de consagração não
teremos a necessidade de evocar as energias divinas. Além do que, já se perguntou
como poderia abrir esse espaço sem suas ferramentas devidamente consagradas? Um
paradoxo!
Altar pronto com vela do sul acesa, incensos queimando, um pote com água e
sal. Pegue o instrumento, nesse caso com seu athame, enterre a ponta da lâmina no pote
e diga:
“Eu te consagro e abençôo pelo místico e antigo elemento terra. Para que
obtenhas dele Suas características de firmeza, materialização e resistência.
Que possa ser capaz de direcionar as energias evocadas com fertilidade!”
Proceda da mesma forma com cada um dos elementos na ordem: Terra, Ar, Fogo
e Água. Apenas lembre-se de desejar para cada instrumento suas características
próprias, bem como as características do próprio elemento.
Terminada essa parte, pegue o instrumento, concentre-se no desejo de
purificação do mesmo e sopre três vezes sobre ele (sopro frio, normal) para purificação.
Mais adiante nesta obra explicaremos a diferença do que chamamos de respiração ódica,
entre o sopro frio e o sopro quente.
Seus instrumentos estarão consagrados. Lembre-se de sempre reconsagrá-los
caso uma pessoa toque nos mesmos. Mas não devemos nos tornar “hipomagíackos”
(hipocondríacos de magia). Se seu gato ou seu filho tocarem esses instrumentos, não
existe a necessidade de uma reconsagração.
CírculoMágicko
A Wicca é uma religião diferente da grande maioria. Por seu caráter iniciático e
sacerdotal, possibilita assim ao praticante uma conexão com o divino sem o intermédio
de outrem, ou seja, sem o intermédio de Mestres ou “Papas”. Também não possui
templos sagrados, construídos com pedras pelas mãos do homem ou de qualquer outro
material. Nosso grande templo sagrado seria o Universo, sendo nossa casa o Planeta
Terra. Mas nossos Deuses não se manifestam em qualquer espaço.
Assim, Gardner, por meio da Wicca, dotou o praticante da possibilidade de
exercer seu culto tanto na Natureza (e é uma delícia) como dentro de nossos quartos em
apartamentos, isso sem a perda de qualquer tipo de quantificação de energias. Para isso,
devemos preparar o ambiente, a energia por onde os Deuses se manifestam. Somos
capazes de criar nossos próprios templos energéticos, chamados de círculos mágickos.
Talvez a primeira finalidade de um espaço mágicko, indicada por diversos
praticantes, seja a de PROTEÇÃO contra energias intrusas. Um grave erro. Tal erro é
advindo das antigas práticas de magia cerimonial, em que o magista, em busca de
poderes e favores, evocava entidades conhecidas como demônios ou mesmo elementais
e espíritos, tendo assim, a necessidade de mantê-los fora de seu alcance, em proteção.
Em Wicca, não nos preocupamos com tais práticas, uma vez que nossos espaços
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manuseamos energia, sem a crença em demônios ou entidades malévolas que possam
vir a nos dotar de algum poder. Não fazemos pactos com o diabo (nem cremos nele).
Assim, nossos círculos têm por finalidade a recepção saudável de nossos Deuses, assim
como são espaços para a maior concentração de energias, sem as quais seriam
impossíveis práticas como o CONE DO PODER.
Montar um espaço mágicko não depende da coreografias, rituais escritos ou
mesmo beleza. O mais importante, como em qualquer forma de prática mágicka, será a
emoção gerada para a construção desse círculo. Devemos ter em mente que o círculo é
nosso templo, preparado corretamente para a recepção de energias de nossos Deuses.
O círculo é chamado de “espaço entre os mundos”. Assim, nesse espaço
extrafísico, não importarão tempo, espaço ou matéria. O círculo é o único espaço onde
os cinco elementos, e sua morfologia é mais etérea.
Alguns vêem o círculo como uma barreira energética que se estende até o
infinito, partindo do chão. Outro grave erro. Talvez um nome mais apropriado fosse
“esfera mágicka”, uma vez que se manifestará como um grande globo de energia que
nos cerca, tanto por sobre nossas cabeças como sob nossos pés. Dentro de um círculo,
estaremos como dentro de uma bola, com sua metade do chão para nossa cabeça e a
outra por debaixo do solo.
Esse espaço “entre os mundos” é construído energeticamente. Posteriormente,
são evocados os elementos, um a um, abrindo assim “portais” com os mundos
elementais, trazendo sua energia para permear o espaço.
Toda energia se move em forma de espiral. Quando evocada/invocada, esse
movimento será no sentido horário e quando “banida”, no sentido inverso. Assim,
normalmente dentro de um espaço mágicko nos movemos no sentido horário, salvo nas
questões de banimento de energias indesejáveis ou mesmo em ritualísticas especiais,
mas sempre com o intuito de banimento.
Montando um EspaçoMágicko
Aqui darei a explicação da montagem de um espaço mágicko real. Gostaria de
alertar que, em se tratando de um livro de Bruxaria Moderna ou Wicca, sentir-me-ia
enganando os leitores se suprimisse essa parte do trabalho mágicko. Mas fica o alerta:
Magia não é brinquedo! Espaços mágickos geram uma energia incrível. Assim,
aconselho ao leitor que não tente essa operação até que tenha participado de uma
ritualística dirigida por verdadeiros sacerdotes experientes. A pena pela banalização
de processos mágickos ou mesmo pela inexperiência será sempre a perda de magia.
Lembro ainda que todas as evocações e invocações aqui apresentadas são sugeridas e
sempre que o praticante desejar, poderá adaptá-las de forma a gerar maior carga
emocional ao rito.
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Antes de começar tenha a certeza de que preparou a área ritualística (seu quarto,
quintal, qualquer lugar que deseje) levando para essa área todos os instrumentos
necessários. Não se incomode se sua cama ficar meio dentro ou meio fora do círculo.
Lembre-se de que esse é um espaço extrafísico, ou seja, paredes e móveis não
atrapalham na montagem do espaço.
Limpe a área da ritualística (você pode usar a queima de ervas ou cânfora, ou
mesmo varrer a área com sua vassoura mágicka, sem tocar as cerdas no chão). Tranque
as portas ou garanta que não será incomodado durante a ritualística. Lembre-se, a
emoção é a chave de toda a magia. Qualquer incômodo quebrará a concentração e, por
sua vez, a carga emocional cessará. Retire todas jóias e adereços (de metal) não
consagrados.
Coloque o seu altar com os instrumentos voltado para o Norte, isto é, de pé em
frente ao altar, você deverá também estar voltado ao Norte. O Norte é o quadrante da
terra. Como antes da criação do elemento terra tudo era etéreo, voltamo-nos para esse
quadrante a fim de materializarmos como concretas nossas aspirações. A Terra também
é um grande símbolo da Deusa Mãe.
Agora que já está tudo pronto, faça um banimento simples das energias que
possam estar presentes no pote com água colocado em seu altar:
“Eu consagro e purifico esta água, para que como símbolo fecundo da vida,
sirva aos propósitos dos Deuses.”
Saúde o elemento terra presente no pote com sal que também se encontra em seu
altar:
“Eu saúdo o elemento terra presente neste sal. Que suas características
possam manifestar-se para a grandeza dos Deuses.”
Pegue três pitadas do sal e jogue dentro da água. Mexa com seu athame por nove
voltas no sentido horário, a fim de promover a perfeita mistura dos elementos.
Damos algumas explicações sobre os pontos de poder (chakras) nesta parte; mais
informações poderão ser encontradas no capítulo XVI.
Toque o sino, banindo com as badalas todo e qualquer resto de energias nãodesejadas
de seu espaço. Pegue seu athame, beije-o em reverência e, andando sempre
em sentido horário, dirija-se ao quadrante Norte (que poderá ou não estar marcado com
uma vela simples ou da cor representante de cada elemento). Chegando ao quadrante
Norte, apóie o cabo do seu athame sobre o chakra do PLEXO (responsável pela
obtenção de energia de prana, vital) ou sobre o chakra SACRO (responsável pela
energia de criação) e comece a imaginar (receber) uma energia (dourada ou prateada)
que entra por seu chakra coronário (responsável pela conexão com o espiritual) e venha
descendo até o ponto onde o cabo do athame encontra-se apoiado, quando então começa
a direcionado pelo chão, onde a ponta do athame marca.
Vá circulando (em sentido horário) e a cada quadrante (Leste, Sul e Oeste), vá
visualizando a parede de energia que forma sua esfera (se não for dotado de vidência,
use a sua imaginação) até que chegue novamente ao Norte, tendo completado a esfera.
Saiba que essa prática não deverá desvitalizá-lo, uma vez que a energia utilizada não
será a pessoal e sim a de sua ligação com o espiritual.
Feito o giro completo, retorne ao seu altar. É hora de abrir os portais “entre os
mundos” e convocar os elementos a participarem e consagrarem esse espaço. Apanhe
seu pote com sal e dirija-se (sempre no sentido horário) até o quadrante Norte.
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Eleve o pote com sal de forma respeitosa e diga:
“Salve, ó guardião da Torre de Observação do Norte. Senhor do antigo e
místico elemento Terra. Eu evoco sua presença para que possa dotar este
espaço de todas as características sagradas ao seu elemento, peso, forma,
gravidade e profundidade.”
Visualize o portal se abrindo e em sua extremidade a figura do guardião da torre
assentindo a sua evocação. Agradeça a sua presença e o saúde mais uma vez elevando o
pote com sal. Circule o perímetro do círculo (sem interrupções) jogando pitadas desse
sal, que representará a energia da terra sendo trazida ao seu espaço.
É importante ressaltar que, nesse momento, enquanto apresenta ao círculo
qualquer um dos elementos, você deverá se concentrar proferindo alguns dos textos
sagrados como um MANTRA, a fim de manter a concentração.
Feito o giro ritualístico, apresente mais uma vez o pote com sal ao quadrante
Norte (dessa vez reverenciando a presença do guardião) e retorne ao seu altar.
Pegue o incensário ou turíbulo e dirija-se ao quadrante Leste. Como deve andar
em sentido horário, passará mais uma vez pelo quadrante Norte, onde deverá apresentar
de forma ritualística o instrumento, solicitando a licença do guardião desse quadrante
para passar por seu domínio com outro tipo de representação elementar. Repita a
operação anterior ao chegar ao elemento Ar e assim por diante com cada um dos
elementos.
Lembre-se sempre de saudar o guardião do elemento pelo qual está passando no
momento. Isso é extremamente importante para a manutenção do elo psíquico e
emocional que permitirá que esse quadrante continue “aberto” e com sua energia
presente. Ao terminar de abrir todos os quadrantes e apresentar/trazer a energia elemental,
profira em voz alta:
“O Círculo está traçado! Dele nenhum mal sairá, nem um mal será capaz de
entrar!”
É hora de EVOCAR e não INVOCAR (supondo que ainda não tenha sido
iniciado) o poder dos Deuses.
Coloque-se na posição de Deusa (Pentáculo), com braços estendidos e abertos,
perna também abertas, formando um “X”.
Nesse momento, você poderá proferir uma das evocações à Deusa, ou mesmo
criar uma evocação vinda do seu coração (o que quantificará muito mais sua emoção).
Quando sentir a presença da Deusa no seu espaço, acenda a vela negra do seu
altar, representando assim essa presença.
Você agora deverá repetir o procedimento acima, colocando-se na posição de
Deus (também conhecida como posição de Osíris ressurecto). Pernas levemente
separadas e braços cruzados com as mãos espalmadas sobre os ombros, formando um
“X” sobre o peito.
Ao sentir a presença do Deus, acenda a vela branca do seu altar.
Pronto! Seu espaço mágicko estará montado. Proceda a ritualística desejada e
finalize a cerimônia despedindo-se dos Deuses, apagando suas velas, despedindo-se de
cada guardião, fechando cada portal elemental e posteriormente destraçando o círculo
(ainda no sentido horário, uma vez que deseja reutilizar essa energia numa próxima
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ritualística e não bani-la sem a opção de reutilização). Imagine (estando ao Norte) que a
mesma energia retorna por seu athame enquanto circula o perímetro do círculo, e que
retorna ao cosmos por meio do seu chakra coronário.
Terminando o procedimento, repita em voz alta:
“O Círculo está destraçado, mas jamais quebrado. Que sua energia retorne
ao cosmos e manifeste-se sempre que necessário.”
O Grande Rito
O grande Rito é o termo criado por Gardner para denotar a união (simbólica ou
prática) do Deus e da Deusa durante uma ritualística. Essa ritualística é provavelmente
advinda da chamada Missa de Gnóstica em que é procedida a união do Pão da Águia
Branca com o Sangue do Leão Vermelho. Também pode ter tido suas raízes no Heiros
Gamos: o Matrimônio Sagrado que é a parte dos Mistérios de Eleuses. Dentro da
cosmologia de Wicca, é a representação ritual da criação do Universo por meio da união
do Deus e da Deusa (vide o Mito da Criação).
A cerimônia do Grande Rito exteriormente envolve uma união do macho e da
fêmea, o Deus e a Deusa. O simbolismo interno é a união do iniciado com o animus e o
anima. O matrimônio sagrado é exteriormente uma união de duas pessoas, mas
interiormente é um matrimônio dos dois gêneros dentro dessa pessoa. O enfoque ritual
do Grande Rito deve ser a união e a integração dos egos internos. É a abertura do portal
ao útero da Deusa por onde o Espírito renasce – afinal, nós nascemos de uma união
sexual.
Como tal, o ritual tem que envolver a união do masculino e do feminino, seja de
forma ritualística ou simbólica.
Normalmente, a cerimônia consiste no ato de o Sacerdote empunhar o athame,
recebendo energia pelo seu chakra coronário e direcionando-a à ponta do athame,
enquanto a sacerdotisa empunha o cálice procedendo da mesma forma com a energia.
Ela evoca pela força masculina, enquanto ele evoca pela feminina, para que se unam. A
lâmina é então, introduzida no cálice, permitindo assim o encontro das energias ,
transmutação do líquido em elixir (fertilidade, prosperidade, etc.) e complementação da
Grande Obra dos gêneros, a criação.
Alguns Covens praticam o Grande Rito de forma literal, ou seja, por meio do
sexo real. Mas normalmente apenas entre o Sacerdote e a Sacerdotisa que, geralmente,
são casados ou mantém algum tipo de união amorosa. E jamais aos olhos dos demais do
Coven, sempre em particular. A Deusa diz:
“Todo o ato de amor e prazer será um de meus rituais.”
Alguns perguntam:
“A nudez ritualística é mesmo necessária?”
O famoso termo criado por Gardner, “vestido de céu”, ou seja, a nudez, a meu
ver, será necessária desde que o praticante sinta-se bem com ela (não falo aqui de rituais
iniciáticos). Se você se sente bem com ela, vá em frente (praticantes solitários sempre se
sentem bem com essa prática), caso contrário, vista-se como desejar. Roupas coloridas e
vibrantes evocam sempre a alegria, sentimento comum entre bruxos e bruxas. Roupas
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negras têm sua finalidade, mas não deverão jamais ser confundidas com um estereótipo
de um UNIFORME de bruxo. Caso deseje praticar em um grupo, e nesse grupo estiver
algo fora de suas crenças, não se obrigue a mudá-las, afinal, existem muitos outros que
podem compactuar com suas ideologias. Informe-se sempre sobre a forma de
procedimento do grupo ao qual deseja pertencer.

Eventos 2013



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